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Amazônia esconde um mundo perdido no topo das árvores

A Amazônia é um dos biomas com maior diversidade de animais do mundo – e os insetos têm grande importância nisso. Só no Brasil, eles são 73% das espécies nacionais catalogadas. Ainda assim, alguns dos insetos da Floresta Amazônica são pouco conhecidos pela ciência… principalmente aqueles que vivem no topo das árvores.

Parte disso acontece pela dificuldade em acessar e capturar esses animais para estudo, criando uma verdadeiro mundo perdido muitos metros acima do solo.

Duas iniciativas pretendem mudar isso, com uma expedição de seis dias e mais de 30 pesquisadores na Amazônia Central, voltada justamente para coletar e estudar os insetos.

(Imagem: O.Kemppainen/Shutterstock)

Insetos vivem em um mundo perdido na Amazônia

Apesar da grande diversidade de insetos na Amazônia, eles ainda são pouco conhecidos pela ciência. Os que vivem no dossel, a copa das árvores, ficam ainda mais difíceis de estudar.

Segundo o biólogo Dalton de Sousa Amorim, pesquisador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um dos projetos, isso acontece pela falta de acesso a esses animais e pela inexistência de técnicas de coleta ideais. Ele conversou com o Jornal da USP.

É aí que entram os projetos BioInsecta (coordenado por Amorim) e BioDossel. A ideia é monitorar espécies de insetos em uma área de 10 mil hectares da floresta, ajudando na conservação.

Para isso, uma equipe de 34 pesquisadores passou seis dias durante o final de novembro de 2024 na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, também conhecida como Reserva ZF2 do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a cerca de 80 km de Manaus. A expedição foi formada exclusivamente por entomólogos (especialistas em insetos).

Além da coleta no topo das árvores, os pesquisadores realizaram a amostragem detalhada de insetos em outros habitats específicos da Amazônia, como corpos d’água e troncos.

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Projetos coletaram mais de 1.400 amostras de insetos (Imagem: Curioso.Photography / Shutterstock)

Como os pesquisadores coletaram os insetos

  • Os pesquisadores combinaram uma diversidade de mais de 30 técnicas, que resultaram na coleta de mais de 1.400 amostras de insetos;
  • Algumas delas coletaram exemplares um a um. Já outras permitiam a coleta de milhares de exemplares ao mesmo tempo. Cada uma era pensada considerando o micro-habitat e as ordens dos insetos (como besouros, abelhas e formigas);
  • Uma delas foi a armadilha em cascata, a principal técnica utilizada em ambos os projetos. Ela consiste em um sistema de cinco armadilhas integradas em cascata, içadas até a copa das árvores, e que ficam montadas durante 14 meses;
  • Outra, utilizada por Simeão de Souza Moraes, pesquisador de pós-doutorado da Fapesp na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), usou armadilhas de luz em lençóis para atrair especificamente mariposas no dossel;
  • O trabalho aconteceu nos períodos diurno e noturno, com revezamento entre equipes. A intenção era encontrar insetos com diferentes hábitos.

Depois da coleta, os exemplares foram levados até um alojamento improvisado em campo para análise, registro fotográfico e conservação para análise posterior do DNA.

De acordo com José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa e coordenador do projeto BioDossel, também ao Jornal da USP, a amostragem das espécies coletadas deve demorar um pouco, mas é previsto o estudo do DNA de cerca de 500 mil exemplares. Estima-se que metade deles ainda sejam desconhecidos.

Armadilha em cascata para capturar os insetos (Foto: Larissa Queiroz/Jornal da USP/Reprodução)

Monitoramento dos insetos da Amazônia é um desafio

Revelar a dimensão do número de espécies que vivem na Amazônia, desde o solo até o topo das árvores, é considerado pelos coordenadores dos projetos um dos grandes desafios das florestas tropicais.

Para Rafael, além da importância em revelar a biodiversidade da Floresta Amazônia, a expedição vai criar um banco de dados que será muito útil no futuro, quando precisarmos analisar o impacto das mudanças climáticas na natureza.

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Esse será um banco de dados muito útil para daqui a seis, dez anos, fazermos novas coletas e vermos qual o impacto do aumento da temperatura, da diminuição de chuvas e das queimadas na população dos insetos.

José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa e coordenador do projeto BioDossel

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Raio-x da Amazônia revela antiga cidade perdida

Pesquisadores brasileiros encontraram vestígios da cidade colonial de Lamego, construída no século 18, que permaneceu encoberta pela floresta amazônica por mais de 200 anos. A redescoberta foi possível graças ao uso de sensores LiDAR, tecnologia que permite mapear o relevo mesmo sob densa vegetação.

O achado foi liderado pelo arqueólogo Carlos Zimpel Neto, da Universidade Federal de Rondônia, e revelou uma complexa estrutura urbana composta por estradas, canais e construções de pedra. O sítio fica próximo à Fortaleza Real Príncipe da Beira, na fronteira entre Brasil e Bolívia, e altera a compreensão sobre a ocupação histórica da região. A descoberta foi apresentada em uma reportagem do The Washington Post.

A expedição ocorreu no começo de 2024, em plena estação chuvosa na Amazônia. Guiado por um tablet com imagens detalhadas geradas a partir de dados de varredura a laser, Carlos Zimpel avançou por uma região remota de floresta densa. O local guarda os vestígios da antiga cidade portuguesa de Lamego, uma colônia do século 18 cujos rastros estavam desaparecidos havia mais de um século.

O interesse pelo sítio remonta a 1913, quando foi redescoberta a Fortaleza Real Príncipe da Beira, mas os registros históricos indicavam a existência de uma estrutura urbana muito maior. A localização exata de Lamego e de suas construções — como igrejas, vilas e sistemas defensivos — permanecia um mistério até agora.

A Fortaleza Real Príncipe da Beira é considerada patrimônio nacional e o monumento mais antigo do Estado de Rondônia (Imagem: Governo do Estado de Rondônia)

Como o LiDAR mudou a arqueologia da Amazônia

  • A tecnologia LiDAR, ou Detecção e Alcance de Luz, tem desempenhado papel central em descobertas arqueológicas recentes.
  • O sensor emite pulsos de laser que atravessam a cobertura vegetal e retornam ao equipamento, permitindo a geração de mapas topográficos altamente precisos.
  • Com o auxílio dessa tecnologia, pesquisadores conseguem identificar estruturas encobertas pela vegetação densa, como muros, estradas e edificações antigas.
  • Em Rondônia, o uso do LiDAR revelou um intricado sistema urbano que inclui canais de drenagem, vias planejadas e bases de construções feitas de pedra.
  • Segundo Zimpel, o material coletado mostra que a ocupação portuguesa se sobrepôs a uma sociedade indígena anterior, que já havia deixado geoglifos circulares e fragmentos cerâmicos datados entre 1.200 e 2.000 anos.

Indícios de urbanização indígena pré-colonial

Além das estruturas coloniais, o levantamento expôs vestígios de uma sociedade indígena altamente organizada. Fragmentos de cerâmica e marcas no solo revelaram a existência de assentamentos complexos anteriores à chegada dos europeus. Para Zimpel, os povos originários que habitavam a região podem ter sido os autores das grandes figuras geométricas no solo amazônico, hoje visíveis apenas com tecnologia aérea.

Essa descoberta reforça a visão de que sociedades amazônicas do passado possuíam alto grau de organização e planejamento, contrariando teorias anteriores que apontavam o solo da floresta como incapaz de sustentar populações numerosas e estáveis.

A origem da pesquisa e a parceria com comunidades quilombolas

A trajetória de Zimpel com a localidade começou em 2016, quando visitou a fortaleza como turista. Na região, conheceu a comunidade quilombola local e ouviu de Elvis Pessoa, então presidente da associação comunitária, relatos sobre estruturas misteriosas na mata, conhecidas como “o labirinto”. A curiosidade levou Zimpel a explorar o local com apoio dos próprios moradores.

As primeiras escavações revelaram muros de pedra com até cinco metros de altura, arcos de entrada e fundações retangulares. Com o tempo, os mapas coloniais portugueses e espanhóis começaram a coincidir com o que era visto no terreno, fortalecendo a hipótese de que se tratava de Lamego.

Em 2022, o professor Eduardo Neves, da Universidade de São Paulo, conseguiu financiamento da National Geographic Society para utilizar LiDAR na região. Neves coordena o consórcio acadêmico Amazon Revealed, que busca mapear ao menos 50 sítios arqueológicos na floresta. Zimpel rapidamente indicou Lamego como uma das prioridades.

Após dez dias de sobrevoos, as imagens captadas pelo sensor confirmaram a presença de estruturas compatíveis com os registros históricos do século 18. “Encontramos a cidade perdida”, afirmou Zimpel ao comparar os mapas antigos com os dados de varredura a laser.

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A ameaça do desmatamento

Apesar da descoberta, a preservação do sítio arqueológico enfrenta uma ameaça imediata: a destruição florestal. A região está inserida no chamado arco do desmatamento, faixa do sul da Amazônia onde se concentram os maiores índices de degradação ambiental. Em 2023, incêndios atingiram 80% da vegetação que cercava as ruínas.

Moradores quilombolas suspeitam que as queimadas tenham sido provocadas para abrir espaço para a expansão de fazendas e plantações. Nucicleide da Paz Pinheiro, que assumiu a presidência da comunidade após a morte de Elvis Pessoa, disse que o fogo nunca havia chegado tão perto.

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Incêndios na Amazônia ameaçaram danificar as estruturas descobertas (Imagem: Toa55 / Shutterstock.com)

Em janeiro deste ano, Zimpel retornou à floresta para avaliar os danos e identificar novas estruturas. Mesmo diante de uma paisagem marcada por cinzas e árvores calcinadas, ele encontrou edifícios de pedra intactos, preservados da ação do fogo. As imagens de LiDAR continuam indicando a existência de múltiplas estruturas residenciais e defensivas que ainda não foram escavadas.

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Brasil perdeu duas cidades de SP em superfície de água

O Brasil registrou uma redução alarmante de 400 mil hectares na superfície de água em 2024, área equivalente a mais de duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo. De acordo com dados atualizados do MapBiomas Água, divulgados na sexta-feira (21), o território nacional coberto por corpos hídricos e reservatórios ficou em 17,9 milhões de hectares, uma queda de 2% em relação aos 18,3 milhões registrados em 2023. A tendência de diminuição se intensificou na última década, marcada por oito dos anos mais secos desde o início da série histórica em 1985.

A Amazônia, responsável por 61% da superfície hídrica do Brasil, foi fortemente impactada. O bioma perdeu 1,1 milhão de hectares de água em relação a 2023 e 4,5 milhões em comparação a 2022, afetado por secas extremas consecutivas. Sub-bacias importantes, como as do Rio Negro e do Tapajós, registraram perdas significativas.

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No Pantanal, a situação é ainda mais crítica: o bioma alcançou apenas 366 mil hectares de água em 2024, representando uma redução de 4,1% em relação ao ano anterior e acumulando uma perda de 61% desde 1985. Enquanto isso, outros biomas apresentaram cenários mistos. A Caatinga teve um saldo positivo, consolidando um ciclo de cheias iniciado em 2018, mas áreas vulneráveis, como a bacia do São Francisco, continuam enfrentando secas recorrentes.

No Pampa, após estiagens severas no início do ano, ocorreu uma cheia extrema em maio, a maior registrada nos últimos 40 anos. Já o Cerrado experimentou uma transformação preocupante: corpos hídricos naturais, como rios e lagos, cederam espaço para reservatórios artificiais, que agora respondem por 60% da superfície hídrica do bioma.

Superfície de água no Brasil em 2024 (% do total):

  • Amazônia: 10,9 milhões de hectares (61%)
  • Mata Atlântica: 2,2 milhões de hectares (13%)
  • Pampa: 1,8 milhão de hectares (10%)
  • Cerrado: 1,6 milhão de hectares (9%)
  • Caatinga: 981 mil hectares (5%)
  • Pantanal: 366 mil hectares (2%)

O Brasil mais seco

No geral, o Brasil viu um aumento histórico de superfícies artificiais de água, com acréscimo de 1,5 milhão de hectares desde 1985. Esse crescimento, concentrado principalmente na Mata Atlântica e no Cerrado, reflete a expansão de reservatórios e hidrelétricas. Contudo, os corpos d’água naturais encolheram 15% no mesmo período, restando apenas 77% da cobertura total.

Para especialistas, a combinação de eventos climáticos extremos e mudanças no uso da terra está tornando o Brasil mais seco. Os dados servem como um alerta para a necessidade urgente de políticas públicas e estratégias de gestão hídrica que revertam essa tendência preocupante.

Via Agência Brasil

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Mineração de ouro na Amazônia está destruindo depósitos naturais de carbono

Pesquisadores avaliaram em novo estudo os impactos da mineração artesanal de ouro no sul da Amazônia peruana. O grupo descobriu que essa prática está levando ao aumento maciço da destruição de turfeiras, que são acúmulos de restos de plantas responsáveis por estocar carbono. Constataram que a atividade destruiu mais turfas nos últimos dois anos do que nas três décadas anteriores combinadas.

Cerca de 70% da exploração de ouro em pequena escala no Peru acontece na região de Madre de Dios. Lá, os sedimentos dos rios têm abundância desse metal precioso, tanto que é possível ver o brilho por satélite

É estimado que a atividade gere emprego para mais de 30 mil pessoas. O número tem crescido desde a crise econômica de 2008.

Poços de prospecção de ouro ao lado do rio Inambari, no Peru
Poços de prospecção de ouro ao lado do rio Inambari, no Peru. (Imagem: NASA Earth Observatory)

A mineração na área é ilegal e considerada o principal fator que contribui para o desmatamento. Os cientistas descobriram uma nova camada dessa destruição ao estudarem o impacto da operação nas turfeiras amazônicas.

Elas são ecossistemas pantanosos e alagados, compostos por material vegetal em decomposição que atuam como reservatórios de carbono. São responsáveis por sequestrar CO2 sete vezes mais do que as árvores da região.

Grandes áreas desse terreno estão sendo desenterradas e destruídas por garimpeiros. Isso está liberando quantidades alarmantes de carbono na atmosfera, contribuindo para a crise climática.

Descoberta e destruição em uma década

O grupo de cientistas analisou mais de 35 anos de dados dos satélites Landsat da NASA e descobriu que mais de 550 hectares de turfeiras foram destruídos. Esse desmatamento liberou entre 0,2 e 0,7 milhões de toneladas de carbono na atmosfera e mais da metade disso ocorreu somente nos últimos dois anos.

“Se não desacelerarmos a destruição, os danos às turfeiras da Amazônia podem ser permanentes, com sérios impactos ambientais, sociais e econômicos no futuro”, disse o Dr. John Householder, um dos autores do estudo do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe, na Alemanha, em um comunicado.

A comunidade científica descobriu esses terrenos pantanosos no sul do Peru somente em 2012. Uma década depois, o mesmo grupo de pesquisadores que estudou originalmente essas formações agora está descrevendo a sua extinção.

Turfeiras na Indonesia
Turfeiras tropicais em Jambi, na Indonésia. (Imagem: Eka Dana Kristanto / Shutterstock)

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Cerca de 9% da mineração em Madre de Dios ocorre em turfeiras atualmente, mas espera-se que esse número cresça nos próximos anos. Se as tendências continuarem, a atividade mineradora em turfas deverá corresponder a 25% do total da mineração da região. Os cientistas alertam que isso poderia liberar mais de 14,5 milhões de toneladas de carbono.

“O que nosso artigo mostra é que, mesmo dentro de uma geração humana, é bem possível que grandes depósitos de turfa desapareçam da paisagem, antes que a ciência tenha a chance de descrevê-los. Para aqueles depósitos de turfa que já são conhecidos, essas descobertas da pesquisa são um chamado para protegê-los”, conclui o Dr. Householder.

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