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ChatGPT cria Studio Ghibli-verso, mas será que deveria?

A arte de Hayao Miyazaki, co-fundador do Studio Ghibli, leva tempo para vir ao mundo. São anos de trabalho para suas animações chegarem às telas. Já o estilo do artista… bom, isso você emula em segundos no ChatGPT. Milhares de pessoas tentaram. E os resultados são assustadoramente coerentes.

Após a OpenAI atualizar a geração de imagens na sua plataforma de inteligência artificial (IA), uma espécie de Studio Ghibli-verso tomou conta das redes sociais. A trend começou fofa. Logo depois, ficou sombria.

Como costuma acontecer em redes sociais, muitas discussões começaram a pipocar. Enquanto uns se divertiam ao criar versões Ghibli de fotos (pessoais, históricas), outros apontavam questões preocupantes (violação de direitos autorais, desrespeito ao trabalho artesanal humano, “lixo de IA” etc).

Trend do Studio Ghibli-verso criado pelo ChatGPT começou fofa, aí ficou sombria

Na parte “do bem” da trend, imagens geradas pelo ChatGPT no estilo Ghibli eram memes, selfies e fotos de família, de pets. Confira abaixo alguns exemplos:

(Imagem: Reprodução/Redes sociais)
Captura de tela de postagem no X com imagens geradas pelo ChatGPT no estilo Studio Ghibli de memes famosos
(Imagem: Reprodução/Redes sociais)
Captura de tela de postagem no X com imagem gerada pelo ChatGPT no estilo Studio Ghibli de cena de filme
(Imagem: Reprodução/Redes sociais)

Até o CEO da OpenAI, Sam Altman, entrou na brincadeira. Após trocar sua foto de perfil no X para uma imagem no estilo Miyazaki de desenhar, Altman postou: “mudei minha foto de perfil mas talvez alguém faça uma melhor para mim” (em tradução livre e respeitando o jeito como ele escreveu).

Montagem com imagem de perfil do CEO da OpenAI, Sam Altman, feita no ChatGPT no estilo Studio Ghibli ao lado de postagem dele sobre isso
(Imagem: Reprodução/Redes sociais)

Então, a brincadeira ficou sombria. Começaram a circular imagens geradas pelo ChatGPT no estilo Studio Ghibli das Torres Gêmeas no 11 de setembro, do assassinato de JFK, do testemunho de Altman no Congresso. Até o perfil da Casa Branca no X entrou na trend.

Captura de tela de postagem da Casa Branca no X de imagem gerada pelo ChatGPT no estilo Studio Ghibli de foto de pessoa sendo deportada
(Imagem: Reprodução/Redes sociais)

Questões por trás do Studio Ghibli-verso criado pelo ChatGPT

Conforme plataformas de IA evoluem, cada vez mais pessoas de áreas criativas expressam frustrações e preocupações. Entram aqui, por exemplo: escritores, atores, músicos, artistas visuais.

Ilustração de inteligência artificial filtrando informações
Pessoas que trabalham com criatividade se preocupam com avanço de IAs que geram imagens (Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital)

Um grupo com mais de 10 mil atores e músicos assinou uma carta aberta, em 2024, na qual criticava o “uso não licenciado de obras criativas” para treinar modelos de IA, como o ChatGPT. Entre os membros deste grupo, estão incluindo o músico Thom Yorke (Radiohead), a atriz Julianne Moore (Hannibal) e escritor Kazuo Ishiguro.

O que a OpenAI disse

“Nossa meta é oferecer aos usuários a maior liberdade criativa possível”, disse Taya Christianson, porta-voz da OpenAI, em declaração enviada à imprensa (via The Verge).

“Continuamos a impedir gerações [de imagens] no estilo de artistas individuais vivos, mas permitimos estilos de estúdios mais amplos — que as pessoas usaram para gerar e compartilhar algumas criações originais de fãs verdadeiramente encantadoras e inspiradas.”

Leia mais:

O que Hayao Miyazaki disse

Não demorou para resgatarem um trecho de um documentário produzido em 2016. Nele, um estagiário de produção mostra ao artista um take criado por meio de um modelo de aprendizagem profunda.

Estou completamente enojado. Se você realmente quer criar coisas assustadoras, pode fazer isso. Mas eu nunca desejaria incorporar essa tecnologia ao meu trabalho. Sinto fortemente que isso é um insulto à própria vida.

Hayao Miyazaki, artista, cineasta e co-fundador do Studio Ghibli, em documentário de 2016

Seria a trend do Studio Ghibli no ChatGPT um insulto ao trabalho de Miyazaki? As discussões continuam. Talvez, para sempre.

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Quadro feito com IA é leiloado por mais de R$ 1 milhão

A obra “Machine Hallucinations – ISS Dreams – A“, de Refik Anadol, foi vendida por US$ 227,2 mil (aproximadamente R$ 1,3 milhão) num leilão on-line da Christie’s encerrado na quarta-feira (05). Este foi o primeiro inteiramente dedicado a obras de arte criadas com inteligência artificial (IA).

O quadro de Anadol foi o que arrematou o maior valor no leilão, realizado entre 20 de fevereiro e 5 de março. O valor ficou acima das expectativas da casa de leilões, mas foi um ponto fora da curva. “Emerging Faces”, de Pindar Van Arman, era outra obra de destaque do leilão. E esta não recebeu um lance sequer.

Leilão de obras feitas com IA angaria mais de US$ 700 mil – e gera polêmica

No total, o leilão angariou aproximadamente US$ 729 mil (R$ 4,2 milhões), segundo a página dedicada a ele no site da Christie’s. O valor ficou acima da expectativa (US$ 600 mil). Mas 14 dos 34 lotes não receberam lances suficientes ou foram vendidos por valores abaixo das estimativas da Christie’s.

14 dos 34 lotes com obras feitas com IA não receberam lances suficientes ou foram leiloados por valores abaixo das estimativas (Imagem: Reprodução/Christie’s)

“Com este projeto, nosso objetivo era destacar as brilhantes vozes criativas que estão empurrando os limites da tecnologia e da arte“, disse Nicole Sales Giles, uma das responsáveis pelas vendas, em comunicado (via The Art Newspaper).

“Também esperávamos que os colecionadores e a comunidade em geral reconhecessem sua influência e importância no cenário artístico atual”, acrescentou. “Os resultados deste leilão confirmaram que isso ocorreu.”

Leilão polêmico

O leilão de obras feitas com IA foi polêmico. Uma carta aberta publicada online em 8 de fevereiro, que obteve quase 6.500 assinaturas, pediu que a Christie’s cancelasse o leilão – o que não ocorreu.

Captura de tela de quadros feitos com IA vendidos em leilão
Obras feitas com IA angariaram mais dinheiro do que as expectativas da casa de leilões (Imagem: Reprodução/Christie’s)

Muitas das obras de arte que vocês planejam leiloar foram criadas com modelos de IA que são conhecidos por serem treinados com obras protegidas por direitos autorais sem licença“, afirma a carta, endereçada a Nicole e Sebastian Sanchez, outro responsável pelas vendas.

“Esses modelos e as empresas por trás deles exploram artistas humanos, usando seus trabalhos sem permissão ou pagamento para criar produtos comerciais de IA que competem com eles”, acrescenta a carta.

Leia mais:

Um porta-voz da casa de leilões disse o seguinte ao The Art Newspaper: “Os artistas representados neste leilão têm práticas artísticas multidisciplinares fortes e estabelecidas, algumas reconhecidas nas principais coleções de museus. As obras deste leilão utilizam inteligência artificial para aprimorar seus corpos de trabalho.”

Aparentemente, há quem pague alguns milhares de dólares para ter esse tipo de trabalho exposto (ou guardado) por aí.

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