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Árvore desafia a morte e cresce mais poderosa após ser atingida por raios

Um estudo publicado na revista New Phytologist revelou que algumas árvores tropicais não apenas sobrevivem a raios, como podem até se beneficiar desses eventos. Liderada por Evan Gora, ecologista do Instituto Cary de Estudos de Ecossistemas, nos EUA, a pesquisa analisou o impacto dos raios na floresta tropical do Panamá e encontrou uma espécie que se destaca: a Dipteryx oleifera.

Quando um raio atinge uma árvore nos trópicos, a descarga pode eletrocutar dezenas de árvores ao redor, formando um círculo de destruição. Em poucos meses, essa área pode secar completamente. No entanto, enquanto a maioria das árvores morre, algumas resistem e parecem prosperar. Esse fenômeno intrigou os cientistas, que buscaram entender como certas árvores conseguem se beneficiar de um evento tão violento.

O estudo foi realizado no Monumento Natural Barro Colorado, um dos locais mais pesquisados sobre ecossistemas tropicais. No início, Gora subia nas árvores para procurar marcas de raios, mas esse método era lento e ineficiente. Além disso, abelhas frequentemente atacavam os pesquisadores, dificultando o trabalho. Para resolver a questão, a equipe desenvolveu um sistema que detecta sinais eletromagnéticos emitidos pelos raios, permitindo localizar rapidamente as árvores atingidas.

A Dipteryx oleifera emergiu como uma espécie de para-raios arbóreo nas florestas tropicais do Panamá. Crédito: Evan Gora / Instituto Cary de Estudos Ecossistêmicos

Árvore funciona como para-raios vivo

Entre 2014 e 2019, os pesquisadores registraram 94 raios atingindo árvores na floresta. Eles identificaram 85 espécies afetadas, das quais apenas sete sobreviveram. A Dipteryx oleifera se destacou por sua resistência: foi atingida nove vezes, incluindo um exemplar que sobreviveu a dois impactos e parecia mais saudável depois. Isso sugere que essa espécie, além de resistir às descargas elétricas, pode até tirar vantagem delas.

A explicação pode estar nas características da Dipteryx oleifera. Essas árvores são cerca de 30% mais altas que as demais e possuem copas 50% maiores. Esse tamanho avantajado pode torná-las alvos naturais para descargas elétricas, funcionando como verdadeiros para-raios vivos. Mas, diferentemente de outras espécies, elas parecem lidar bem com os impactos, continuando a crescer e prosperar.

Os efeitos dos raios na floresta foram impressionantes. Enquanto todas as Dipteryx oleifera atingidas sobreviveram, 64% das outras espécies morreram em até dois anos. Além disso, árvores próximas a uma D. oleifera atingida tinham 48% mais chances de morrer. Em um caso, um único raio matou 57 árvores ao redor, enquanto a D. oleifera central permaneceu ilesa.

Outro efeito observado foi a destruição de trepadeiras parasitas que cresciam nas D. oleifera. Com a eliminação dessas plantas, as árvores atingidas ganharam mais espaço para crescer e produzir mais sementes. Isso significa que ser atingida por raios pode tornar essa árvore mais competitiva dentro da floresta.

Os pesquisadores utilizaram modelos de computador para entender como os raios poderiam influenciar a longevidade dessas árvores. Os cálculos indicam que ser atingida várias vezes pode prolongar a vida útil de uma D. oleifera em até 300 anos. Isso mostra que, paradoxalmente, algo que seria fatal para a maioria das espécies pode ser um fator de sucesso para essa árvore.

Uma árvore Dipteryx oleifera logo após ser atingida por um raio em 2019. Crédito: Evan Gora / Instituto Cary de Estudos Ecossistêmicos

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Descargas elétricas oferecem vantagens ecológicas

Antes desse estudo, a ideia de que um raio poderia beneficiar uma árvore parecia improvável. No entanto, as evidências mostram que, pelo menos para algumas espécies, as descargas elétricas podem oferecer vantagens ecológicas. “As árvores competem constantemente entre si, e qualquer vantagem pode ser decisiva”, afirmou Gabriel Arellano, ecologista da Universidade de Michigan, que não participou da pesquisa, ao jornal The New York Times.

Ainda não se sabe exatamente quais mecanismos físicos ajudam essas árvores a suportar raios tão intensos. Gora sugere que algumas podem ter estruturas internas mais condutoras ou formatos que minimizam os danos. “Precisamos entender melhor como essas árvores lidam com esse tipo de estresse”.

Embora a pesquisa tenha sido realizada no Panamá, padrões semelhantes já foram observados em outras florestas tropicais. Adriane Esquivel Muelbert, ecologista da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, reforça que esse fenômeno não é raro. “É um padrão claro e recorrente”.

Com as mudanças climáticas, tempestades tropicais devem se tornar mais frequentes e intensas. Nesse cenário, algumas árvores parecem estar mais preparadas para um futuro repleto de raios e trovoadas. A Dipteryx oleifera pode ser uma das grandes vencedoras nesse novo equilíbrio da floresta tropical.

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Árvores milenares com crescimento lento encantam cientistas

Na última quinta-feira (20), pesquisadores fizeram uma descoberta surpreendente nas florestas tropicais das Montanhas Udzungwa, na Tanzânia: uma nova espécie de árvore, batizada de Tessmannia princeps, que pode chegar a três mil anos de vida.

Com alturas que variam entre 35 e 40 metros e troncos que chegam a 2,7 metros de diâmetro, essas imponentes árvores passaram despercebidas pela comunidade científica até o recente achado.

Detalhes morfológicos da Tessmannia princeps: A – Contrafortes; B – Casca com numerosas lenticelas; C – Padrão de ramificação (Imagem: Andrea Bianchi)

Durante expedições na região, a equipe de pesquisadores identificou a espécie, cujo nome “princeps” – que, em latim, significa “o mais eminente” – faz alusão ao seu destaque na densa floresta.

Uma análise detalhada de um tronco caído revelou a presença de apenas 12 a 15 anéis de crescimento por centímetro, indicando ritmo de desenvolvimento extraordinariamente lento, comparável ao de algumas das árvores mais antigas conhecidas no planeta.

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Árvores que vivem milênios!

  • Apesar do fascínio que a descoberta desperta, a sobrevivência da Tessmannia princeps está sob ameaça;
  • Estima-se que existam apenas cerca de 100 exemplares maduros, concentrados em área muito limitada. Por esse motivo, a espécie já é considerada “vulnerável” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês);
  • A continuidade de um projeto de restauração florestal, que visa preservar o habitat natural dessas árvores, é essencial. Sem essa proteção, corre-se o risco de que a espécie seja reclassificada como “criticamente ameaçada“, devido à iminente perda de seu ambiente natural;
  • Outro aspecto que torna a Tessmannia princeps única é sua forma de disseminação de sementes. Diferentemente de muitas árvores que dependem do vento ou de animais para espalhar suas sementes, essa espécie adota mecanismo chamado deiscência explosiva;
  • Esse método possibilita que as vagens se abram de maneira abrupta, lançando as sementes a distâncias significativas e garantindo a continuidade da espécie em seu habitat.

A descoberta das árvores milenares na Tanzânia ressalta o quão vasto e ainda inexplorado é o universo da biodiversidade.

Publicado na revista científica Phytotaxa, o estudo não só amplia o conhecimento sobre as espécies de árvores gigantes, como, também, reforça a importância de iniciativas de conservação para proteger essas relíquias naturais e seus ecossistemas.

Detalhes morfológicos e hábito geral da árvore Tessmannia princeps
Detalhes morfológicos e hábito geral da Tessmannia princeps; A – Close de uma flor, observe a inflorescência densa e flor gasta, presumivelmente polinizada à esquerda com vagem jovem e bicuda iniciando seu longo processo de maturação; B – Raminho florido, com folhas naturalmente reflexas; C – Lâmina adaxial, observe vagem madura no canto superior direito; D – Lâmina abaxial. E – Indivíduo maduro de T. princeps emerge em copa fechada e densa de Parinari excelsa; F – Copa de T. princeps vista do chão da floresta; nem todos os indivíduos mostram timidez de copa como este espécime (Imagem: Andrea Bianchi)

Esta nova espécie, com sua impressionante longevidade e métodos peculiares de propagação, representa verdadeiro tesouro científico e lembrete da riqueza que ainda aguarda ser desvendada em nosso planeta.

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