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O que é a Escala de Planck e como isso se relaciona à ciência?

A física moderna é repleta de conceitos fascinantes que desafiam nossa compreensão do Universo. Um desses conceitos é a Escala de Planck, uma referência fundamental na física teórica.

Essa escala define os menores valores possíveis para grandezas físicas como comprimento, tempo e energia, estabelecendo um limite além do qual as leis da física clássica deixam de fazer sentido.

Criada a partir das constantes fundamentais da natureza, como a constante de Planck, a velocidade da luz e a constante gravitacional, a Escala de Planck marca a fronteira entre a mecânica quântica e a relatividade geral.

Mas por que essa escala é tão importante? Como ela influencia as pesquisas em cosmologia, física de partículas e teoria das cordas? Entenda o conceito da Escala de Planck, seu impacto na ciência e os desafios que ela impõe à compreensão da realidade.

O que é a Escala de Planck?

A Escala de Planck é um conjunto de valores físicos obtidos a partir de constantes fundamentais do Universo. Essas constantes incluem:

  • Constante de Planck (h): regula as interações quânticas.
  • Velocidade da luz (c): define o limite máximo para a propagação da informação.
  • Constante gravitacional (G): mede a intensidade da gravidade.

A partir dessas constantes, foram definidos parâmetros mínimos para diferentes grandezas físicas:

  • Comprimento de Planck: cerca de 1,616 x 10⁻³⁵ metros.
  • Tempo de Planck: aproximadamente 5,39 x 10⁻⁴⁴ segundos.
  • Energia de Planck: em torno de 1,22 x 10¹⁹ GeV.
Átomo/Sergey Nivens/Shutterstock

Esses valores representam limites fundamentais. Se tentarmos medir algo menor que o comprimento de Planck ou mais rápido que o tempo de Planck, as equações da física deixam de funcionar. Esse é o território onde a gravidade quântica, ainda não compreendida completamente, precisa ser considerada.

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A relação entre a Escala de Planck e a física quântica

A mecânica quântica descreve o comportamento das partículas subatômicas, enquanto a relatividade geral trata da gravidade e do cosmos em grande escala. No entanto, essas duas teorias não se encaixam bem quando tentamos aplicá-las simultaneamente. A Escala de Planck representa justamente o ponto onde essas discrepâncias se tornam evidentes.

Quando tentamos observar partículas em escalas menores que o comprimento de Planck, a influência da gravidade se torna tão intensa que distorce o espaço-tempo de maneira imprevisível. Isso sugere que uma nova teoria – chamada de gravidade quântica – é necessária para descrever esses fenômenos.

A Escala de Planck e o Big Bang

A Escala de Planck é crucial para entender os primeiros instantes do universo. Logo após o Big Bang, o Universo era incrivelmente quente e denso, com condições extremas que só podem ser descritas em termos quânticos. Esse período, conhecido como tempo de Planck, ocorreu em menos de 10⁻⁴³ segundos após o Big Bang.

Teoria do Big Bang continua sendo a mais aceita para a origem do Universo. Imagem: Quality Stock Arts – Shutterstock

Os físicos acreditam que, nesse momento, todas as forças fundamentais (gravidade, eletromagnetismo, força nuclear forte e fraca) eram unificadas. No entanto, as teorias atuais não conseguem descrever precisamente o que aconteceu nesse intervalo de tempo. A busca por uma teoria que combine a mecânica quântica com a gravidade é essencial para avançarmos na compreensão do cosmos.

A teoria das cordas e a Escala de Planck

Uma das abordagens mais promissoras para unificar a gravidade e a mecânica quântica é a teoria das cordas. Essa teoria propõe que as partículas fundamentais não são pontos, mas sim pequenas cordas vibrantes. As diferentes vibrações dessas cordas determinam as propriedades das partículas, como massa e carga.

Na teoria das cordas, a Escala de Planck define o tamanho das cordas fundamentais. Isso significa que, para testar experimentalmente essa teoria, precisaríamos de tecnologias extremamente avançadas, capazes de observar fenômenos na ordem de 10⁻³⁵ metros – algo ainda fora do alcance dos experimentos atuais.

Desafios e futuras pesquisas

A Escala de Planck é um dos maiores desafios da física teórica. Para compreendê-la melhor, os cientistas buscam:

  • Detectar evidências da gravidade quântica: experimentos como o LIGO e o Observatório de Ondas Gravitacionais tentam identificar efeitos quânticos na estrutura do espaço-tempo.
  • Explorar buracos negros: regiões do universo onde as leis da física são levadas ao extremo.
  • Desenvolver novos aceleradores de partículas: equipamentos mais potentes que o Grande Colisor de Hádrons (LHC) poderiam fornecer pistas sobre a física além do Modelo Padrão.

A Escala de Planck representa a fronteira entre o conhecido e o desconhecido na física. Ela nos mostra que existem limites para nossa capacidade de medir e entender a realidade com as teorias atuais. Com o avanço da ciência, novas descobertas podem revelar segredos fundamentais do Universo, aproximando-nos cada vez mais da teoria unificada que os físicos tanto buscam.

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Como surgiu o termo “Big Bang”?

Desde cedo, na escola, aprendemos que o Universo surgiu a partir do Big Bang, uma explosão gigantesca que provocou a expansão dos cosmos. A teoria é consenso entre cientistas atualmente, mas o nome “Big Bang” nem sempre agradou a todos.

O termo surgiu na década de 1950 e, por muitos anos, foi alvo de polêmicas. O criador foi Fred Hoyle, um astrônomo britânico que ficou conhecido por explicar eventos complexos de forma simplificada.

Vamos voltar na história para entender o caso.

Universo está expandindo até hoje

Na década de 1910, Albert Einstein publicou a chamada teoria geral da relatividade, que revolucionou o entendimento sobre o espaço, tempo e gravidade.

Teoria da relatividade de Einstein inspirou hipótese do Big Bang (Imagem: Parent/Pixabay)

Muitos cientistas ficaram fascinados pela teoria e chegaram a suas próprias conclusões. O padre católico e físico belga Georges Lemaître descobriu que as propostas de Einstein significavam que o Universo estava se expandindo.

Ele não foi o único. O matemático russo Aleksandr Fridman e o astrônomo americano Edwin Hubble (que dá nome ao telescópio da NASA) também concordaram com isso.

Porém, se o Universo está se expandindo, onde tudo começou? Ele teria que partir de algum ponto menor antes de ficar maior, certo? Pensando nisso, na década de 1930, Lemaître criou a “hipótese do átomo primordial”, que dizia que o Universo surgiu a partir de um único átomo. Em seguida, esse evento teria gerado radiação no cosmos.

Até aí tudo bem. Em 1948, o astrofísico soviético-americano George Gamow e os colegas Ralph Alpher e Robert Herman apresentaram uma nova versão sobre a expansão desse átomo. Eles diziam que a criação do Universo foi resultado de um clarão de energia a partir de um gás primordial muito denso, que teria “cozinhado” as partículas básicas em elementos químicos.

No mesmo ano, o astrônomo britânico Fred Hoyle e seus amigos, o astrofísico Thomas Gold e o matemático Hermann Bondi, tiveram outra ideia. Eles especularam que o Universo não tinha nem início, nem fim, mas se expandia conforme fosse reabastecido com matéria nova. Se isso estivesse certo, a matéria poderia ser criada continuamente no tempo e no espaço, o que significaria que o Universo teria que se expandir para acomodá-la.

Teoria do Big Bang continua sendo a mais aceita para a origem do Universo (Imagem: Quality Stock Arts – Shutterstock)

Big Bang alimentou rivalidade

Até aí, ninguém ainda tinha se referido ao início de tudo como “Big Bang”. Foi só em 1949, quando Hoyle foi convidado a dar uma palestra sobre sua teoria, que ele proferiu essas palavras.

Após explicar sua hipótese e a a teoria de Gamow, ele disse o seguinte:

Essas teorias se baseiam na hipótese de que toda a matéria do Universo foi criada em um grande estrondo em um momento específico do passado remoto.

Fred Hoyle

O “grande estrondo”, em inglês, fica “big bang”.

Inicialmente, ele não tinha intenção de cunhar o termo. Foi apenas uma explicação simplificada, pelas quais ele era conhecido.

No início, a expressão não chamou muita atenção para a ciência. O termo foi impresso na revista The Listener, da BBC, que reportou sobre a palestra, e em transcrições de outras palestras de Hoyle, mas ficou limitado à imprensa.

Segundo o historiador da ciência dinamarquês Helge Kragh, à BBC, físicos e astrônomos ignoraram o termo. Alguns deles, como o próprio Gamow, não gostaram da descrição: “não gosto da palavra big bang; nunca chamo de big bang porque é meio clichê”, disse ao historiador de ciência Charles Weiner, em 1968.

Naquela época, o nome era o de menos. O que inspirou a rivalidade de Gamow e Hoyle foram suas convicções opostas sobre o início de tudo.

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Hoyle gerou polêmicas até a morte

Basicamente, Hoyle e Gamow tinham teorias opostas – e ambos falavam publicamente sobre isso. A rivalidade se tornou natural.

Hoyle até chegou a se aprofundar em sua teoria:

  • Ele desenvolveu a ideia de nucleossíntese, dizendo que, no interior das estrelas, sob altas pressões e temperaturas, núcleos de hidrogênio se fundiram para formar núcleos de hélio. Depois, se combinaram para formar berílio. Depois, para formar carbono, oxigênio, ferro… e aí por diante;
  • Essa hipótese só estaria certa se, nas mesmas estrelas, houvesse carbono em um estado muito especial que ainda não havia sido observado;
  • Ele insistiu na teoria, até que se uniu ao físico americano William Fowler e acabaram encontrando esse carbono.

Houve um problema: em 1964, os astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson detectaram radiofrequência no céu (que fiaria conhecida como radiação cósmica) e confirmaram de vez a hipótese do Big Bang. Em 1965, o jornal The New York Times publicou na primeira página: “Sinais sugerem ‘Big Bang’ do Universo”.

Curiosamente, isso não significou que a teoria da nucleossíntese estava errada. Posteriormente, ela foi incorporada à explicação do Big Bang.

Fred Hoyle foi eternizado em estátua no Instituto de Astronomia de Cambridge (Imagem: Wikimedia Commons)

Anos depois, na década de 1980, o colega de Fred Hoyle, Fowler, recebeu o Prêmio Nobel de Física por sua pesquisa sobre a origem dos elementos que compõem o Universo. E não dividiu o prêmio com Hoyle.

No final das contas, Hoyle nunca se retratou sobre suas opiniões quanto ao Big Bang e, inclusive, levantou novas teorias. Por exemplo, ele disse que as moléculas que deram origem à vida foram transportadas por outras partes do cosmos (algo que é estudado até hoje).

Outra teoria associou a passagem de meteoros com as epidemias na Terra. Essa teoria foi considerada fictícia e rapidamente descartada. Mas não foi à toa: Hoyle se tornou autor de 19 romances de ficção científica, além de peças de teatro e roteiros para TV.

Apesar de ter uma carreira extensa, Fred Hoyle é até hoje lembrado como o homem que criou o termo Big Bang. Ele faleceu em 2001.

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Novo modelo do Universo? Energia escura pode mudar a história do cosmos

A energia escura é um dos componentes do Universo que intriga a comunidade científica há décadas, sendo um dos responsáveis pela expansão do cosmos. Uma nova pesquisa realizada por uma equipe do Arizona, mostrou que o Universo pode ser diferente do que se pensava e a misteriosa energia tem uma função essencial nesse novo modelo.

O episódio do Olhar Espacial da última sexta-feira (28) – que você confere aqui – falou sobre os mistérios da matéria escura e como dados inéditos do Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI) no Observatório Nacional de Kitt Peak, no Arizona (EUA), podem mudar o que a ciência sabe sobre a expansão universal.

O programa contou com a presença do físico Roberto Pena. Em um bate-papo com o apresentador Marcelo Zurita, o convidado explicou como os cientistas modelam o cosmos, qual a importância do James Webb no estudo da energia escura e como as novas informações do DESI impactam a astronomia.

Roberto ‘Pena’ Spinelli é físico pela Universidade de São Paulo (USP), com especialidade em Machine Learning pela Universidade de Stanford, nos EUA, e colunista do Olhar Digital News (Imagem: Olhar Espacial)

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Constante cosmológica pode não ser uma constante

O DESI fez uma varredura que abrange, aproximadamente, 15 milhões de galáxias e outros objetos celestes, mapeando 11 bilhões de anos de história cósmica e construiu um mapa em 3D. Com isso, os cientistas puderam medir a distância entre as galáxias e descobrir mais sobre como os espaços vazios e a origem do Universo estão ligados. 

Após o Big Bang, o cosmos tinha uma energia muito concentrada e as partículas se chocavam em alta velocidade. Esse cenário gerava um movimento acústico, em que as ondas sonoras reverberaram. Onde as ondulações se juntavam, a matéria se concentrava e onde se anulavam, havia baixa densidade de matéria.

“Se você bater num tambor e colocar grãos de areia por cima, naturalmente esses grãos vão ficar concentrados em alguns pontos do instrumento”, explica Pena.

A imagem revela flutuações de temperatura de 13,77 bilhões de anos (mostradas como diferenças de cor) que correspondem aos aglomerados de matéria que cresceram para se tornarem as galáxias.
A imagem revela flutuações de temperatura de 13,77 bilhões de anos (mostradas como diferenças de cor). Elas correspondem aos aglomerados de matéria que cresceram para se tornarem as galáxias. (Imagem: NASA / WMAP Science Team)

Esse momento ficou conhecido como a Era da Recombinação. A partir dela, a matéria se formou e então as nebulosas, estrelas, planetas e todos os astros.

Nos mapas feitos na década de 1980 da radiação cosmológica de fundo já era possível observar que a posição das galáxias retrata essas flutuações das ondas. Porém, com o novo mapeamento do DESI, os astrônomos se surpreenderam ao constatar que a taxa de expansão do Universo, mostrada pela posição dos astros, pode não ser constante.

“A gente tava com o modelo Lambda-CDM, Big Bang, tudo bem encaixadinho. E agora a gente tá tendo que mexer os nossos primeiros fiozinhos”, comenta o físico.

Energia Escura está enfraquecendo? Universo pode colapsar!

Desde a descoberta da energia escura, ela tem sido considerada o fator constante que impulsiona o afastamento cada vez mais acelerado das galáxias. Ela é essencial para se entender a taxa em que o cosmos se expande.

Esse alargamento poderia resultar em um futuro onde o Universo se expandiria eternamente. Isso causaria o seu esfriamento e geraria um final conhecido como “big freeze”, em que as estrelas deixariam de se formar e as atuais morreriam aos poucos.

Contudo, os novos dados do DESI sugerem uma realidade alternativa: a energia escura pode ter atingido seu pico quando o Universo tinha cerca de 70% da sua idade atual e, desde então, vem perdendo força — atualmente, cerca de 10% mais fraca.

Após observarem o novo mapa do DESI, os cientistas constataram que é possível a constante cosmológica ser, na verdade, variável. Isso faria do Universo mais dinâmico e complexo do que o imaginado.

Essa descoberta também levanta a possibilidade de que, num futuro distante, a aceleração possa cessar, estabilizando a expansão ou até a revertendo, em um colapso final conhecido como “big crunch”.

“Se a variável virar negativa, o Universo pode se juntar e colapsar”, diz Pena.

Novo modelo ainda precisa de análises profundas

Zurita e Pena comentam que a descoberta ainda passará pela revisão da comunidade cientifica. Outras equipes de pesquisa ainda terão que fazer observações para a novidade se consolidar.

“Por enquanto a gente ainda tá muito no começo. Não dá para dizer que vai zerar ou diminuir, só estamos vendo que a constante não é mais constante”, explica o físico. 

Eles comentam que até mesmo Einstein foi questionado sobre seu modelo cosmológico. O grupo do DESI passará pelas mesmas suspeitas e seu trabalho poderá ser mais uma hipótese ou uma grande descoberta capaz de mudar a astronomia

“Para mim, é uma pesquisa incrível, que mostra que ainda temos muita coisa para descobrir”, conclui Pena.

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Evidências sugerem que energia escura pode estar mudando e redefinindo destino do Universo

Um conjunto de dados recentes e meticulosos, obtidos por meio do Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI) no Observatório Nacional de Kitt Peak, no Arizona (EUA), aponta para a possibilidade de que a energia escura — a misteriosa força responsável pela aceleração da expansão do Universonão seja uma constante imutável, como se acreditava até então, mas, sim, um fenômeno dinâmico que varia ao longo do tempo cósmico.

Instrumento Espectroscópico de Energia Escura tem cinco mil fibras ópticas, e cada uma atua como mini-telescópios (Imagem: DESI)

Revolução no modelo cosmológico com a energia escura?

Desde sua descoberta, na década de 1990, a energia escura tem sido considerada fator constante que impulsiona o afastamento cada vez mais acelerado das galáxias, resultando em futuro onde o Universo se expandiria eternamente, num cenário conhecido como “big freeze”.

Contudo, os novos dados do DESI sugerem realidade alternativa: a energia escura pode ter atingido seu pico quando o Universo tinha cerca de 70% da sua idade atual e, desde então, vem perdendo força — atualmente, cerca de 10% mais fraca.

Essa descoberta levanta a possibilidade de que, num futuro distante, a aceleração possa cessar, estabilizando a expansão ou até a revertendo, em um colapso final, o temido “big crunch”.

Papel do DESI e outras observações

  • O DESI, equipado com cinco mil fibras ópticas robotizadas, realizou varredura que abrange, aproximadamente, 15 milhões de galáxias e outros objetos celestes, mapeando 11 bilhões de anos de história cósmica com precisão sem precedentes;
  • A análise desses dados, conduzida por colaboração internacional de mais de 900 pesquisadores de instituições renomadas, tem provocado intenso debate na comunidade científica;
  • Enquanto os resultados do DESI apontam para evolução na intensidade da energia escura em épocas mais recentes, outras observações — como as imagens detalhadas do fundo cósmico de micro-ondas, capturadas pelo Atacama Cosmology Telescope, no Chile — confirmam que, no Universo primordial, os parâmetros do modelo padrão da cosmologia se comportavam conforme o esperado;
  • Essa dualidade evidencia que o mistério pode residir na evolução da energia escura depois dos primeiros instantes após o Big Bang, quando o Universo estava com apenas 380 mil anos.

Implicações para o destino do Universo

Os cenários futuros do Universo, até então pautados pelo modelo com energia escura constante, podem sofrer reavaliação profunda. Se a energia escura continuar a enfraquecer, há duas grandes possibilidades:

  • Estabilização da Expansão: uma redução gradual na força da energia escura poderia levar o Universo a estado de equilíbrio, evitando tanto a aceleração eterna quanto um eventual colapso;
  • Big Crunch: em cenário mais dramático, se a energia escura diminuir a ponto de se tornar negativa, ela poderia se somar à gravidade, invertendo o processo de expansão e provocando o colapso do Universo em “big crunch”, possivelmente abrindo caminho para novo ciclo cosmológico.

Essa reinterpretação do destino cósmico revisita questões fundamentais sobre a natureza da energia escura, a qual, apesar de representar cerca de 70% do conteúdo total do Universo, continua sendo uma das maiores incógnitas da ciência moderna.

Bob Stupak, à esquerda, supervisor de manutenção eletrônica, e Matthew Evatt, gerente de engenharia mecânica, trabalhando na sala de espectrógrafo do DESI
Bob Stupak, à esquerda, supervisor de manutenção eletrônica, e Matthew Evatt, gerente de engenharia mecânica, trabalhando na sala de espectrógrafo do DESI (Imagem: Marilyn Sargent/Laboratório de Berkeley)

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Debate entre os cientistas

Enquanto alguns pesquisadores, como o Prof. Carlos Frenk, da Universidade de Durham (Reino Unido), e o Prof. Alexie Leauthaud-Harnett, da Universidade da Califórnia, Santa Cruz (EUA), defendem a robustez dos dados e veem neles o início de nova era na cosmologia, outros, como o Prof. George Efstathiou, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), permanecem cautelosos, ressaltando que os resultados ainda não alcançaram o limiar estatístico de cinco sigma, considerado indispensável para uma descoberta definitiva.

Mesmo os céticos reconhecem que o acúmulo de evidências tem estimulado debates e incentivado a comunidade a repensar os fundamentos que, há décadas, sustentavam o modelo cosmológico. “Se esses resultados forem confirmados, teremos de encontrar novo mecanismo que explique a variação na energia escura — e isso pode significar reformulação radical de nossa compreensão do Universo”, afirmou o Prof. Ofer Lahav, do University College London (Inglaterra), ao The Guardian.

Perspectivas futuras

A busca por respostas continua, com o DESI previsto para coletar dados por mais um ano, visando mapear cerca de 50 milhões de galáxias e objetos luminosos.

Em paralelo, outras missões e instrumentos, como o telescópio espacial Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), o Observatório Vera C. Rubin e o Roman Space Telescope, da NASA, prometem fornecer observações ainda mais detalhadas, contribuindo para desvendar os segredos da energia escura.

Andrei Cuceu, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, à BBC, afirma que “estamos, literalmente, deixando o Universo nos contar como ele funciona. Pode ser que ele seja muito mais complexo do que imaginávamos.

O telescópio espacial Euclid da Europa
Obra de arte: o telescópio espacial Euclid da Europa também coletará dados sobre o comportamento da Energia Escura (Imagem: ESA)

A possibilidade de que a energia escura não seja uma constante, mas um fenômeno em evolução, coloca a cosmologia à beira de potencial revolução teórica.

Se esses achados se confirmarem, as consequências serão profundas não apenas para a compreensão do passado e presente do Universo, mas, também, para as previsões sobre seu futuro.

A comunidade científica, com suas variadas opiniões e abordagens, se prepara para um período de intensa investigação, no qual o Universo pode, finalmente, revelar novos segredos que desafiarão os paradigmas estabelecidos há quase um século.

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Cientistas sugerem: a água é quase tão antiga quanto o Universo

E se a água for quase tão antiga quanto o Universo? Simulações indicam que ela pode ter surgido apenas 100 milhões de anos após o Big Bang. As primeiras estrelas, ao explodirem como supernovas, liberaram os elementos necessários para a formação das primeiras moléculas de H₂O. Isso significa que a água pode ter existido muito antes do que se imaginava.

Pesquisadores modelaram essas explosões para entender como os primeiros elementos pesados, como oxigênio, foram gerados e reagiram com o hidrogênio. No resfriamento dos gases, moléculas de água se formaram em meio aos destroços estelares. O estudo sugere que esse processo aconteceu muito antes do que se pensava, tornando a água um composto comum desde o início do cosmos.

Se confirmada, essa descoberta muda a visão sobre a origem da vida. Se a água já era abundante, planetas com condições propícias podem ter surgido muito antes do esperado. Além disso, a quantidade de água no Universo primitivo pode ter sido comparável à da Via Láctea atual, ampliando as possibilidades de mundos habitáveis desde os primeiros tempos.

Simulações revelam pistas sobre a origem da água no cosmos

Daniel Whalen e sua equipe, da Universidade de Portsmouth, simularam explosões de estrelas primordiais para entender como os primeiros elementos pesados interagiram no Universo jovem.

Os modelos mostraram que, ao resfriarem, os gases expelidos permitiram a formação de moléculas de H₂O muito antes do esperado. Além disso, essas supernovas liberaram oxigênio suficiente para reagir com o hidrogênio e gerar água nos primeiros 100 milhões de anos após o Big Bang.

Supernovas destroem estrelas, mas também espalham elementos essenciais para a vida (Imagem: muratart/Shutterstock)

O estudo, publicado na Nature Astronomy, indica que a água já existia em galáxias primitivas em quantidades consideráveis. As simulações também sugerem que regiões ricas em metais favoreceram a formação de planetas rochosos ao redor de estrelas de baixa massa. Assim, se confirmada, essa descoberta reforça a possibilidade de que planetas com água surgiram muito antes do que a ciência estimava.

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Por fim, Whalen destaca que esses achados podem mudar a forma como enxergamos a evolução do Universo. Se a água já era abundante desde o início, a busca por vida extraterrestre pode ganhar um novo rumo. Em vez de focar apenas em sistemas mais recentes, astrônomos podem investigar vestígios de planetas habitáveis em algumas das galáxias mais antigas conhecidas.

Água e os blocos de construção do cosmos

  • As simulações de Whalen e sua equipe sugerem que a água não apenas surgiu cedo no Universo, mas, também, desempenhou papel fundamental na formação de planetas e estrelas ricas em metais pesados;
  • Os remanescentes densos das supernovas criaram regiões propícias para novos sistemas estelares, onde discos protoplanetários poderiam gerar asteroides primitivos com água, ampliando as chances de ambientes favoráveis à vida;
  • Além disso, os cientistas apontam que explosões sucessivas de supernovas na mesma região podem ter acelerado esse processo;
  • Em áreas mais densas, os choques das explosões teriam criado núcleos compactos, aumentando a retenção de água;
  • Já em regiões com menos gás, a radiação poderia ter destruído parte dessas moléculas, reduzindo sua preservação.

Os cálculos indicam que as primeiras galáxias produziram quase tanta água quanto a Via Láctea, com uma diferença de apenas dez vezes menos. Isso sugere que um dos principais ingredientes da vida sempre foi abundante e que planetas com água podem ter se formado muito antes do que imaginamos.

Carbono, oxigênio, ferro… os blocos fundamentais da vida vieram das estrelas (Imagem: Jacques Dayan – Shutterstock

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