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Buraco negro gigantesco acorda ‘esfomeado’ após ‘soneca’ de décadas

Um artigo publicado nesta sexta-feira (11) na revista Nature Astronomy relata a detecção de um fenômeno cósmico inusitado: um buraco negro supermassivo “acordou esfomeado” após décadas adormecido. 

Localizado no centro de uma galáxia comum chamada SDSS1335+0728, a cerca de 300 milhões de anos-luz da Terra, ele começou a emitir luz intensa e flashes de raios-X – comportamento típico de um buraco negro em atividade.

Em poucas palavras:

  • Astrônomos observaram que um buraco negro chamado Ansky voltou a emitir sinais após décadas inativo;
  • Esse titã cósmico está no centro de uma galáxia comum, que fica a cerca de 300 milhões de anos-luz da Terra;
  • O buraco negro começou a brilhar e liberar rajadas de raios-X – sinal de que voltou a “se alimentar” de matéria;
  • Em 2024, cientistas detectaram explosões periódicas vindas dele, conhecidas como QPEs;
  • Essas explosões são raras, intensas e ainda pouco compreendidas pela ciência;
  • Uma possível causa seria um objeto pequeno cruzando repetidamente o disco de matéria ao redor do buraco negro;
  • Observar Ansky em tempo real pode ajudar a entender esses fenômenos e até sua relação com ondas gravitacionais.
Concepção artística de um buraco negro de massa estelar. Crédito: Agência Espacial Europeia, NASA e Felix Mirabel (Comissão Francesa de Energia Atômica e Instituto de Astronomia e Física Espacial/Conicet da Argentina)

Buracos negros permanecem longos períodos em “hibernação”

Embora se saiba que a maioria das galáxias abriga buracos negros gigantescos em seus centros, eles nem sempre estão “devorando” matéria. Muitas vezes, passam longos períodos inativos, como se estivessem em “hibernação”. Só se tornam visíveis quando voltam a atrair gás e poeira em sua direção, liberando energia em forma de radiação.

Esse é o caso do buraco negro apelidado de Ansky, localizado na constelação de Virgem. Por décadas, ele permaneceu praticamente invisível. No entanto, no fim de 2019, a galáxia onde ele se encontra começou a brilhar inesperadamente, chamando a atenção de astrônomos ao redor do mundo.

Cientistas passaram a observar a galáxia com diferentes telescópios espaciais, como o Swift, da NASA, e o russo-alemão eROSITA, que detecta raios-X. Na época, não encontraram evidências claras de que o buraco negro estivesse ativo. Só anos depois, em fevereiro de 2024, o cenário mudou radicalmente.

Foi quando uma equipe liderada por Lorena Hernández-García, da Universidade de Valparaíso, no Chile, detectou explosões de raios-X vindas de Ansky. As erupções eram periódicas, ocorrendo em intervalos quase regulares. Esse padrão foi identificado como um fenômeno raro chamado erupção quasiperiódica (QPE, na sigla em inglês).

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Pesquisadores estavam diante de uma oportunidade única

As QPEs são breves explosões de raios-X que surgem e desaparecem em questão de horas ou dias. Esse fenômeno foi observado pela primeira vez em 2019 e ainda é mal compreendido. Até hoje, os astrônomos conseguiram detectar apenas alguns casos semelhantes. Ver isso ocorrer em tempo real é considerado uma oportunidade única.

No artigo, a equipe descreve essas erupções como as mais longas e brilhantes já registradas. Segundo os pesquisadores, cada rajada de Ansky libera até cem vezes mais energia do que as observadas em outros buracos negros que apresentaram QPEs no passado.

“É a primeira vez que vemos esse tipo de evento em um buraco negro que parece estar despertando”, afirma Hernández-García em um comunicado. Ela explica que, ao contrário do que muitos imaginam, buracos negros podem passar longos períodos em silêncio, até que algum fator externo provoque sua reativação.

Uma das explicações mais aceitas para as QPEs envolve a presença de um disco de acreção – uma espécie de “anel” de matéria que gira ao redor do buraco negro. Esse disco é formado por gás, poeira ou até restos de estrelas que foram puxados pela gravidade extrema. Ao girar rapidamente, esse material aquece e emite radiação.

Um “cisco” pode ter despertado o monstro cósmico adormecido

Em alguns casos, acredita-se que objetos menores, como estrelas ou pequenos buracos negros, interajam com esse disco e provoquem instabilidades que resultam nas explosões de raios-X. No entanto, não há evidência de que Ansky tenha destruído uma estrela recentemente, o que levanta outras possibilidades.

Uma hipótese é que o disco de Ansky esteja sendo alimentado apenas por gás do ambiente ao redor. Nesse cenário, as explosões poderiam ser causadas por um pequeno objeto (talvez um planeta ou estrela anã) que cruza repetidamente o disco, provocando choques violentos no material em rotação.

Joheen Chakraborty, estudante de doutorado do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e coautor do estudo, afirma que as explosões de Ansky duram dez vezes mais e são dez vezes mais luminosas do que as das QPEs típicas. Isso desafia os modelos atuais que tentam explicar como esses flashes de raios-X são produzidos.

“Cada rajada de Ansky está nos forçando a repensar tudo o que sabíamos sobre esse tipo de evento. A cadência de 4,5 dias entre uma explosão e outra também é a mais longa já registrada. É como se o buraco negro tivesse acordado com apetite e estivesse nos mostrando um novo comportamento”, diz Chakraborty.

Para os astrônomos, acompanhar essa transformação em tempo real é uma chance de ouro. Eles esperam que as observações de Ansky ajudem a entender melhor a evolução dos buracos negros e as forças envolvidas nos eventos mais energéticos do Universo.

Ilustração mostrando dois buracos negros se fundindo e criando ondulações no tecido do espaço-tempo. Crédito: ESA

Erwan Quintin, astrônomo da Agência Espacial Europeia (ESA), ressalta que ainda há mais perguntas do que respostas. “Temos muitas teorias sobre as causas das QPEs, mas poucos dados. Ansky está nos oferecendo uma nova peça do quebra-cabeça e pode até estar relacionado à emissão de ondas gravitacionais”.

Essas ondas são distorções no tecido do espaço-tempo, causadas por eventos extremamente violentos, como colisões de buracos negros. A futura missão “Antena Espacial por Interferômetro Laser” (LISA), da ESA, poderá detectar essas ondas – e talvez identificar uma conexão com fenômenos como os de Ansky.

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Buracos negros podem ser usados como fontes de energia?

Buracos negros são regiões do espaço com gravidade tão intensa que nem a luz consegue escapar. Eles são cercados por uma fronteira invisível, chamada horizonte de eventos, que impede qualquer observação direta do que ocorre em seu interior. Lá dentro, as leis da física conhecidas simplesmente deixam de funcionar. Apesar de invisíveis, esses objetos cósmicos são capazes de gerar os fenômenos mais energéticos do Universo.

Em poucas palavras:

  • Buracos negros são regiões do espaço com gravidade extrema, de onde nem a luz consegue escapar;
  • Um estudo recente propõe aproveitar a energia da rotação desses titãs cósmicos;
  • Quasares e microquasares já mostram que essa energia pode ser liberada em forma de radiação e jatos;
  • A técnica sugerida envolve lançar partículas contra o giro do buraco negro para extrair energia;
  • Embora não haja tecnologia para realizá-la hoje, a ideia inspira a ciência.
Representação artística de um buraco negro ativo lançando poderosos jatos de radiação. Crédito: ESO/L. Calçada

Físicos avaliam há décadas como aproveitar a energia dos buracos negros

Um novo estudo disponível no repositório online arXiv, ainda à espera de revisão por pares, discute a possibilidade de extrair energia de buracos negros rotativos. O trabalho é assinado por Jorge Pinochet, físico da Universidade Metropolitana de Ciências da Educação, no Chile. Embora pareça ficção científica, a ideia se baseia em teorias desenvolvidas desde os anos 1960 por cientistas renomados, como Roger Penrose, ganhador do Prêmio Nobel em 2020.

A proposta é ousada: aproveitar a energia cinética que faz o buraco negro girar, uma força imensa que surge quando matéria em rotação é atraída para dentro desse abismo cósmico. Buracos negros rotativos – conhecidos como buracos negros de Kerr – são diferentes de outros corpos que também giram, como planetas ou estrelas, porque podem atingir velocidades próximas à da luz, sem fragmentar.

Essa rotação gera um efeito chamado “arrasto de quadros”, previsto por Albert Einstein e mais tarde detalhado pelos físicos Josef Lense e Hans Thirring. Nessa condição extrema, o próprio espaço ao redor do buraco negro é arrastado com ele. Isso significa que qualquer objeto nas redondezas também será puxado, participando da rotação mesmo sem querer.

Segundo Pinochet, essa rotação intensa gera energia cinética, que pode ser transmitida aos objetos ao redor do buraco negro. É o mesmo tipo de energia associada ao movimento, que aprendemos na escola. A questão é: como a natureza aproveita essa energia? A resposta está nos quasares, buracos negros supermassivos com discos de matéria girando ao seu redor.

Esses discos de gás e poeira (denominados discos de acreção) aquecem até milhões de graus devido ao atrito entre suas camadas. O resultado é uma intensa emissão de radiação. Parte desse material cai no buraco negro, mas outra parte é lançada para o espaço em jatos de altíssima velocidade, chamados jatos relativísticos, que saem dos polos do buraco negro.

Esse mesmo mecanismo é visto em menor escala nos microquasares, que envolvem buracos negros com massa de 10 a 100 vezes a do Sol. O processo de ejeção de matéria, nesse caso, também depende da energia rotacional do buraco negro, canalizada por campos magnéticos poderosos. 

A energia que alimenta esses fenômenos colossais é finita. À medida que transfere energia para o ambiente, o buraco negro rotativo perde velocidade. Quando para de girar, transforma-se em um buraco negro estático, conhecido como buraco negro de Schwarzschild. Esse tipo é descrito apenas por sua massa, diferentemente dos buracos negros de Kerr, que também têm rotação.

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Ideia está na captação da radiação emitida

Mas, e se pudéssemos fazer o mesmo que a natureza e construir “baterias de buracos negros”? Em teoria, seria possível – mas estamos longe disso na prática. Em entrevista ao site Space.com, Pinochet diz que a forma mais simples de aproveitar a energia seria captar a radiação emitida, como fazemos com a luz solar. Isso, no entanto, não extrai diretamente a energia rotacional do buraco negro.

Para isso, seria necessário usar um método proposto por Penrose em 1969. Ele sugeriu que se lançássemos uma partícula contra o sentido de rotação de um buraco negro, parte dessa partícula poderia retornar com mais energia do que tinha originalmente. O excesso de energia viria da rotação do buraco negro, que giraria um pouco mais devagar depois disso.

Representação artística de um microquasar – buraco negro com massa de 10 a 100 vezes a do Sol. Crédito: NASA

Pinochet compara essa ideia a um carrossel girando por inércia. Se alguém joga uma bola contra ele, a bola pode quicar com mais velocidade do que tinha antes, roubando um pouco da energia rotacional do brinquedo. A analogia é simples, mas ajuda a entender como se poderia extrair energia cinética do buraco negro, sem cair dentro dele.

No entanto, há um obstáculo prático gigantesco para essa teoria: não temos como fazer isso com a tecnologia atual. Segundo a escala de Kardashev, que mede o nível tecnológico de uma civilização, ainda estamos no nível 0,7. Para lidar com a energia de um microquasar, precisaríamos ser uma civilização Tipo II. Para mexer com quasares, precisaríamos ser Tipo III – algo absolutamente fora da nossa realidade atual.

Outro problema é a distância. O buraco negro mais próximo de nós, chamado Gaia BH1, está a cerca de 1.560 anos-luz da Terra. Já o buraco negro supermassivo mais próximo é Sagitário A*, localizado no centro da Via Láctea, a 26 mil anos-luz. Ou seja, mesmo viajando a uma fração da velocidade da luz, essas viagens durariam milhares de anos.

De qualquer modo, pensar sobre essas possibilidades não é perda de tempo. Para Pinochet, esse tipo de especulação estimula a criatividade e o raciocínio científico. “Estudar buracos negros instiga a humildade e o fascínio diante do Universo. É esse tipo de curiosidade que forma os cientistas do futuro”.

Por enquanto, a ideia de aproveitar a energia de um buraco negro continua no campo da teoria. Mas ela serve como uma poderosa ferramenta educacional e um convite para refletirmos sobre o que é possível no futuro. Pinochet já planeja novas investigações nessa linha, incluindo o trabalho de Stephen Hawking, um dos maiores nomes da física moderna.

“Um artigo será publicado em breve na revista The Physics Teacher no qual apresento uma derivação matemática elementar da maior descoberta de Hawking, que o gênio britânico resumiu dizendo: ‘os buracos negros não são tão negros’. O que ele descobriu é que os buracos negros têm uma temperatura que depende inversamente de sua massa”, disse Pinochet. “Quanto maior a massa, menor a temperatura, o que significa que esses objetos emitem radiação e, com o tempo, evaporam”.

Segundo Pinochet, em última análise, a motivação central de seu trabalho é “trazer os principais temas da física contemporânea para o público mais amplo possível”.

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Como nascem os buracos negros e seus jatos?

Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (4) (que você confere aqui) teve como tema os buracos negros supermassivos, como eles se formam e qual o futuro da astronomia em relação à pesquisa desses fenômenos fundamentais para o nascimento das galáxias.

O programa contou com a presença da astrofísica Thaisa Storchi e da cientista cidadã Sara Gabriele. Em entrevista ao apresentador Marcelo Zurita, as pesquisadoras falaram sobre o que são os buracos negros, sua formação, qual sua importância para as galáxias e quais os projetos atuais mais promissores para entendê-los. 

Além disso, em um especial do Mês das Mulheres, o Olhar Espacial reservou um momento para que as entrevistadas pudessem contar como é sua experiência sendo uma mulher na ciência.

Marcelo Zurita com as entrevistadas Thaisa Storchi e Sara Gabriele. (Imagem: Olhar Digital)

Thaisa disse que sempre gostou de ciência e que decidiu seguir no estudo da astrofísica quando já estava na universidade. Quem a estimulou na área foi um professor de mecânica apaixonado por astronomia, com o qual ela trabalhou em projetos de pesquisa e em observatórios. 

No entanto, a mulher que mais a inspira na área é a astrônoma Miriani Pastoriza, pioneira no estudo de galáxias. Por incentivo dela, Thaisa começou a estudar “galáxias peculiares”, aquelas onde o núcleo é um buraco negro em atividade. “Pastoriza era uma pessoa muito entusiasmada e não via empecilhos”, disse Storchi.

Para Sara Gabriele, a principal inspiração é a astrônoma Duília de Mello. Ela também disse que sua família sempre a incentivou e que também é uma grande referência. “Inspiração de vida são as mulheres da minha família. Por causa da mesma questão: não desistir e perseverar apesar de tudo”, disse Gabriele

Como os buracos negros se formam?

O buraco negro é uma consequência da gravidade. Nele, a matéria fica dentro do Raio de Schwarzschild, uma delimitação imaginaria de onde nada escapa, sendo a velocidade de escape igual à velocidade da luz.

Eles nascem da implosão de estrelas, segundo explica Storchi. Quando uma formação estelar evolui muito rápido e não consegue manter suas reações nucleares no centro, as camadas externas caem sobre o núcleo e o compactam, criando um objeto supermassivo que entra no Raio de Schwarzschild e torna-se assim um buraco negro

“Esse tipo de buraco negro foi o primeiro a ser encontrado no universo pelos astrônomos”, comentou a doutora.

Observações do Telescópio Espacial James Webb colaboram para o estudo de buracos negros. (Imagem: KennBrown/Estúdios Mondolithic/Scientific American)

E qual a origem dos supermassivos?

Os supermassivos seguem caminhos diferentes. A comunidade cientifica ainda está buscando entendê-los, mas algumas hipóteses principais têm sido debatidas e o Telescópio Espacial James Webb (JWST) está colaborando para as novas pesquisas. “Essa é uma questão que ainda a gente está estudando e o James Webb está ajudando a entender”, disse Storchi. 

O JWST consegue observar o passado do Universo com seus potentes sensores de infravermelho. Como os astros vão pendendo para uma cor avermelhada ao se distanciarem do observador – fenômeno conhecido como desvio para o vermelho – poder captar comprimentos de onda cada vez maiores está gerando novos dados e imagens para os astrônomos.

Simulação em 3D de dois buracos negros em fusão
Ilustração da fusão de dois buracos negros (Imagem: reprodução/YouTube – NASA Goddard)

Dentre essas novidades, estão as Little Red Dots (LRD), pontos avermelhados que os cientistas acreditam ser buracos negros de galáxias jovens da infância do cosmos. Thaisa Storchi pesquisa esse fenômeno atualmente. “Eles parecem ser buracos negros crescendo rapidamente lá no início do universo”, explicou a pesquisadora.

Com esses dados, surgiram hipóteses sobre a formação dos supermassivos. Uma delas é a de que diversas estrelas podem ter se juntado e colapsado para formar um objeto de massa extrema. Ou, buracos negros menores podem ter se fundido em um maior. Ainda assim, mais pesquisas são necessárias para que uma teoria se consolide, segundo disse Storchi.

Jatos e ventos inibiram a formação de estrelas

Ao redor do buraco negro se forma o disco de acreção, um sistema onde a matéria sugada por ele fica orbitando o centro até ser engolida. Lá, o plasma também faz um movimento circular, que chega a ser tão forte que gera um campo magnético intenso que joga as partículas para longe numa velocidade próxima a da luz, formando os jatos de plasma.

Há também os ventos galácticos, que diferem dos jatos por serem mais lentos. Eles são resultados da pressão do disco de acreção, que empurra o gás de uma galáxia para fora em alta velocidade.

Na fase da história do Universo em que os quasares –  núcleos galácticos ativos e extremamente brilhantes, formados por um buraco negro supermassivo – dominavam, a formação de estrelas diminuiu. Storchi explicou que as galáxias poderiam ser maiores se isso não tivesse ocorrido.

“Na fase dos quasares, quando a atividade era alta, havia muita ejeção de matéria e isso afetou a evolução das galáxias. Eles dominavam quando o Universo tinha na ordem de 3 bilhões de anos. Sem eles, as galáxias seriam muito maiores, pois foi ejetada boa parte do gás da região central e elas não conseguiram formar tantas estrelas quanto poderiam”, disse a astrofísica.

Representação artística de um quasar supermassivo. (Imagem: NASA / JPL – Caltech)

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O que esperar do futuro da astronomia?

No fim, Zurita perguntou quais os projetos futuros dentro da astronomia. Storchi destacou que o James Webb tem feito um ótimo trabalho nas novidades espaciais e que as LRDs são um objeto de pesquisa com potencial gigantesco para novas descobertas sobre a formação das galáxias.

A professora também destacou o projeto Legacy Survey of Space and Time. Ele é um programa do Observatório Vera Rubin, que tem seu nome dado em homenagem a uma pesquisadora notável na astronomia.

O observatório fica em Cerro Pachón, uma montanha no Chile. O foco do projeto é mapear o céu noturno ao longo de dez anos, tirando fotos e produzindo um filme com as mudanças dos astros no decorrer do tempo. 

“Com ele, vamos descobrir milhões de asteroides, milhões de galáxias ativas, estrelas capturadas por buracos negros, milhões de supernovas… Esse projeto é muito bacana e está começando este ano. Estou bem entusiasmada”, concluiu Storchi.

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Saiba tudo sobre buracos negros supermassivos no Programa Olhar Espacial

No coração da maioria das galáxias, incluindo a nossa Via Láctea, residem monstros cósmicos com milhões ou até bilhões de vezes a massa do Sol: os buracos negros supermassivos. 

Esses objetos fascinantes, com uma força gravitacional tão intensa que nem a luz consegue escapar, exercem uma influência profunda na evolução das galáxias que os hospedam.

Mas, como esses titãs se formam e crescem? Como interagem com o gás, as estrelas e a poeira ao seu redor? E qual o seu papel na formação e na evolução das estruturas galácticas que observamos no Universo?

Buracos negros supermassivos habitam o centro da maioria das galáxias. Crédito:
Tranding art – Shutterstock

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No Programa Olhar Espacial desta sexta-feira (4), vamos mergulhar no universo extremo dos buracos negros supermassivos e explorar os segredos desses objetos enigmáticos. Vamos descobrir como a ciência tem desvendado a natureza e a influência dos buracos negros supermassivos nas galáxias, desde os jatos de matéria e energia que eles emitem até os processos de acreção que alimentam seu crescimento descomunal.

E esta edição conta com duas convidadas muito especiais. A renomada astrofísica Thaisa Storchi Bergmann, professora do Departamento de Astronomia do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é Pesquisadora 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), membro da Academia Brasileira de Ciências desde 2009 e presidente da Comissão X1 da União Astronômica Internacional. 

Ela também presta assessoria científica ao Laboratório Nacional de Astrofísica e agências internacionais e brasileiras de fomento à pesquisa científica, bem como a diversas publicações científicas internacionais na área de astrofísica. Tem sido membro de comitês de alocação de tempo em telescópios ópticos como os do Observatório Gemini, Observatório Europeu do SUL (ESO), Space Telescope Science Institute (STScI) e Atacama Large Millimeter Array (ALMA).

As convidadas desta noite são a astrofísica Thaisa Storchi Bergmann e a estudante Sara Gabriele. Créditos: Arquivo Pessoal

O programa também recebe a jovem astrônoma amadora Sara Gabriele, que, com apenas 14 anos, é cientista cidadã da Colaboração Internacional de Pesquisa Astronômica (IASC), da NASA e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ela é membro dos clubes de astronomia InSpace Group e Nicolinha Kids.

Como assistir ao Programa Olhar Espacial

Apresentado por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros – BRAMON e coordenador nacional do Asteroid Day Brasil, o programa é transmitido ao vivo, todas às sextas-feiras, às 21h (horário de Brasília), pelos canais oficiais do veículo no YouTubeFacebookInstagramX (antigo Twitter)LinkedIn e TikTok.

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Universo estaria preso dentro de um buraco negro?

Desde que começou a operar em 2022, o Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, tem transformado nossa compreensão do Universo primitivo. Agora, as observações mais recentes sugerem algo inesperado: a possibilidade de que o próprio Universo esteja dentro de um buraco negro.

O JWST, um projeto de US$10 bilhões, descobriu que a maioria das galáxias distantes giram na mesma direção. Aproximadamente dois terços delas giram no sentido horário, enquanto a fração restante gira para o lado oposto. Em um Universo aleatório, os astrônomos esperariam uma distribuição de 50% para cada lado, o que sugere uma orientação preferencial na rotação galáctica.

As observações fazem parte do programa JADES (sigla em inglês para Pesquisa Extragaláctica Profunda Avançada do JWST), que analisou 263 galáxias. Os resultados levantam dúvidas sobre a natureza do Universo e indicam que talvez ele tenha nascido girando. Essa ideia se encaixa na teoria de que o cosmos pode ser o interior de um grande buraco negro.

Galáxias observadas pelo JWST com aquelas girando em uma direção circuladas em vermelho, aquelas girando na outra wat circuladas em azul. Crédito da imagem: Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (2025)

Um Universo dentro de outro

A hipótese, chamada de “cosmologia dos buracos negros” ou “cosmologia de Schwarzschild”, sugere que nosso Universo faz parte de um buraco negro dentro de outro Universo maior. O conceito foi originalmente proposto pelos cientistas Raj Kumar Pathria e I. J. Good e ganhou força com pesquisas mais recentes.

A ideia se baseia no “raio de Schwarzschild”, também conhecido como “horizonte de eventos” – a fronteira além da qual nada pode escapar de um buraco negro. Se isso for verdade, o horizonte de eventos do nosso Universo poderia ser equivalente ao limite de um buraco negro dentro de um “Universo pai”.

Isso poderia significar também que cada buraco negro dentro do nosso Universo pode ser uma passagem para um “Universo bebê”. Esses Universos seriam invisíveis para nós, pois estariam separados por seus próprios horizontes de eventos, impossibilitando a troca de informações entre eles.

Essa possibilidade foi defendida pelo físico teórico polonês Nikodem Poplawski, da Universidade de New Haven, nos EUA. Segundo ele, os buracos negros não se tornam singularidades infinitamente densas, mas sim pontos de transição para novas realidades.

Galáxias espirais vistas pelo JWST. Enquanto as galáxias circuladas em azul giram na direção oposta à da Via Láctea, as de vermelho giram da mesma direção da nossa galáxia. Crédito da imagem: Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (2025)

Como os buracos negros criariam novos Universos?

Buracos negros se formam quando o núcleo de uma estrela massiva colapsa. A matéria em seu interior atinge densidades extremas, muito superiores às encontradas no restante do cosmos.

Na teoria de Poplawski, quando essa densidade atinge um limite crítico, um mecanismo associado à torção e à rotação do espaço-tempo impede que a matéria continue colapsando. Em vez disso, ocorre um efeito de “salto”, como uma mola comprimida que se expande de forma abrupta.

Essa expansão rápida poderia ser a origem do nosso próprio Universo. Isso explicaria o Big Bang e a rápida inflação cósmica que se seguiu, resultando na aparência homogênea e isotrópica do cosmos em grande escala.

Segundo Poplawski, esse processo cria uma ponte Einstein-Rosen, popularmente chamada de “buraco de minhoca“, conectando o Universo bebê ao Universo pai. Isso significa que nosso Universo poderia ser simplesmente um novo ciclo dentro de uma cadeia infinita de realidades geradas por buracos negros.

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Universo giratório ou erro de medição?

A teoria de Poplawski sugere que os buracos negros possuem rotação e que essa rotação pode ser herdada pelos Universos que nascem dentro deles. Se nosso Universo surgiu a partir de um buraco negro giratório, isso explicaria por que há uma direção preferida para a rotação das galáxias.

O JWST observou um alinhamento na rotação das galáxias que pode ser uma evidência desse fenômeno. Segundo Poplawski, essa descoberta pode indicar que nosso Universo realmente surgiu dentro de um buraco negro maior, cuja rotação influenciou a dinâmica das galáxias em nosso próprio cosmos.

“A torção do espaço-tempo fornece o mecanismo mais natural para evitar a formação de uma singularidade em um buraco negro e, em vez disso, criar um Universo fechado”, explicou Poplawski em um comunicado, acrescentando que um eixo preferencial de rotação no Universo poderia ser um traço herdado do buraco negro do qual surgiu.

Embora a hipótese de que o Universo está dentro de um buraco negro seja intrigante, há uma explicação alternativa para os dados do JWST.

Alguns cientistas sugerem que a rotação da própria Via Láctea pode ter influenciado as observações. No passado, a rotação da nossa galáxia era considerada lenta demais para impactar medições tão distantes. No entanto, se esse efeito for significativo, pode ser necessário recalibrar as medições de distância no Universo.

Uma recalibração afetaria a compreensão de fenômenos fundamentais, como a taxa de expansão do Universo e a idade de galáxias distantes que hoje parecem mais velhas do que o próprio Universo.

Se o JWST realmente identificou um padrão de rotação que aponta para a origem do Universo dentro de um buraco negro, isso poderia revolucionar a cosmologia. A ideia de que cada buraco negro pode dar origem a um novo Universo sugeriria um modelo cíclico, no qual novos cosmos surgem continuamente.

A pesquisa foi publicada no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e ainda precisa ser confirmada por estudos adicionais. Se for validada, pode mudar completamente nossa concepção sobre o que realmente é o Universo.

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