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O homem que se isolou numa caverna e criou uma nova ciência

Em 1962, um jovem geólogo francês decidiu se isolar por dois meses no fundo de uma caverna nos Alpes. Sem relógio, sem luz do sol, sem qualquer noção do tempo. O que começou como uma missão científica virou um experimento radical — e acabou revelando algo inesperado: o corpo humano tem um relógio interno, capaz de funcionar por conta própria. Nascia ali, sem querer, a cronobiologia.

Michel Siffre viveu 63 dias a 130 metros de profundidade, em um ambiente úmido, escuro e congelante. Sem contato com o mundo externo, anotou tudo em um diário. Aos poucos, seus ciclos de sono se desregularam e o tempo perdeu o sentido. Em testes, contar até 120 levava cinco minutos. Quando o experimento terminou, ele acreditava estar em agosto — mas já era setembro.

A princípio, muitos duvidaram. Com o tempo, porém, a experiência chamou a atenção da NASA e de militares franceses, interessados em entender como o corpo reage sem referências temporais. A façanha rendeu novos estudos, mais imersões e a criação de um campo científico inteiro. A história completa foi publicada pelo site IFLScience.

Quando o tempo perde o sentido

A grande descoberta de Siffre foi que o corpo humano não depende do Sol para marcar as horas. Livre de qualquer referência externa, o organismo cria seu próprio tempo — e ele pode ser bem diferente do ciclo de 24 horas. O experimento abriu espaço para uma pergunta nova (e estranha): quanto tempo dura um dia, se ninguém disser que ele acabou?

Sem sol ou relógio, o corpo cria seu próprio tempo — e ele nem sempre dura 24 horas.

Nos anos seguintes, outros voluntários se juntaram à pesquisa. Alguns passaram a viver dias com 25 horas, seguidos por noites de 12. Outros, mais extremos, chegaram a ficar acordados por três dias seguidos — e só então desabavam. Um deles dormiu por 33 horas ininterruptas, deixando os cientistas em pânico.

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Esses desvios mostraram que o “relógio biológico” é mais flexível — e caótico — do que se pensava. A cronobiologia passou a investigar como o cérebro lida com a passagem do tempo, e o que acontece quando ele é deixado por conta própria. O isolamento em cavernas virou laboratório. O que antes era visto como maluquice virou ciência séria.

Do fundo da caverna para o mundo

Nem todo mundo ficou impressionado com os feitos de Siffre. Na época, ele foi acusado de buscar fama com experimentos arriscados e pouco convencionais. Ambientalistas temiam que suas idas ao subsolo prejudicassem ecossistemas frágeis, sensíveis à presença humana. E, para alguns cientistas, o fato de ele não ser biólogo colocava em dúvida a validade de tudo aquilo.

Homem isolado na caverna.
Sem sol ou relógio, o corpo cria seu próprio tempo — e ele nem sempre dura 24 horas (Imagem: Smit/Shutterstock)

Mas o tempo — esse mesmo que ele ajudou a desconstruir — provou que estavam errados. A cronobiologia, campo que Siffre ajudou a fundar, hoje investiga desde o jet lag até a relação entre o relógio interno e o câncer. Seu trabalho também chamou a atenção de forças armadas e agências espaciais.

Hoje, dificilmente alguém repetiria seus experimentos na mesma intensidade — e com tanto risco físico e mental. Mas o impacto continua. Seu legado é a prova de que, mesmo nas profundezas da Terra, é possível fazer descobertas que iluminam a ciência.

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Cavernas fluorescentes guardam segredos sobre vida extraterrestre

Um estudo inovador, apresentado na reunião de primavera da Sociedade Química Americana (ACS), revelou que cavernas fluorescentes na Terra podem conter pistas valiosas sobre a possibilidade de vida alienígena em outros planetas e luas do nosso sistema solar.

A pesquisa, liderada pelo astrobiólogo Joshua Sebree, da Universidade do Norte de Iowa, explora a Caverna do Vento, em Dakota do Sul, um local com características químicas surpreendentemente semelhantes à lua Europa, de Júpiter — e considerada a sexta caverna mais longa do mundo.

Mistério e conexão com Júpiter

O estudo se concentrou na análise de minerais fluorescentes encontrados nas profundezas da Caverna do Vento. Ao expor as rochas à luz ultravioleta, os pesquisadores observaram que elas emitiam um brilho intenso em tons de rosa, azul e verde.

Segundo Sebree, essas cores vibrantes são causadas por impurezas presas nas rochas ao longo de milhões de anos, atuando como “fósseis químicos” que revelam a presença de compostos orgânicos e inorgânicos.

A pesquisa ganha relevância ao estabelecer paralelos entre as condições químicas da Caverna do Vento e a lua Europa, de Júpiter. Europa é um dos principais alvos na busca por vida extraterrestre, pois há indícios de que abriga um oceano subterrâneo, um ambiente potencialmente habitável.

A descoberta de água rica em minerais nas cavernas terrestres, semelhante à que se acredita existir em Europa, abre novas possibilidades para a compreensão de como a vida pode surgir e persistir em ambientes extremos.

Parte da Caverna do Vento de Dakota do Sul vista sob luz branca normal (à esquerda) se transforma em quando colocada sob luz UV. (Créditos da imagem: Reprodução/Joshua Sebree)

Para analisar os minerais sem remover amostras das rochas, a equipe de Sebree utilizou um espectrômetro portátil, que coleta dados da composição química diretamente na caverna. A exploração das cavernas, no entanto, não é tarefa fácil. Os pesquisadores enfrentaram condições extremas, como temperaturas congelantes e passagens estreitas, para realizar a coleta de dados.

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Implicações para a astrobiologia

  • O estudo das cavernas fluorescentes na Terra tem o potencial de revolucionar a astrobiologia, fornecendo informações cruciais sobre a habitabilidade de outros mundos.
  • Além disso, os dados coletados na Caverna do Vento podem auxiliar no desenvolvimento de tecnologias para futuras missões espaciais, como espectrômetros automatizados para análise de amostras em outros planetas.
  • Paralelamente, estudantes de graduação dedicam-se à criação de um banco de dados de “impressões digitais” de fluorescência mineral.
  • Essa iniciativa pode revolucionar o mapeamento de cavernas e a compreensão de sua história e formação.
  • As “assinaturas químicas” reveladas pela fluorescência mineral podem fornecer um panorama detalhado dos processos geológicos que moldaram as cavernas ao longo de milênios.

Com informações do Interesting Engineering.

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Esqueleto de criança de 29 mil anos pode reescrever história humana

Um achado arqueológico feito em uma caverna remota dentro do Parque Nacional Khao Sam Roi Yot, na Tailândia, pode mudar a história como a conhecemos. No local, foi encontrado o esqueleto humano mais antigo já achado na região.

Segundo os pesquisadores, a localização dos restos mortais pode alterar a linha do tempo da ocupação humana na região em dezenas de milhares de anos. Os ossos são de uma criança e foram apelidados de “Pangpond”, em homenagem a um popular personagem de desenho animado tailandês.

Análise do esqueleto revelou descobertas impressionantes

O Departamento de Belas Artes (FAD) anunciou a descoberta, detalhando a escavação meticulosa que revelou o enterro da criança que tinha entre 6 e 8 anos no momento da morte. Os restos morais foram encontrados com a cabeça orientada para sudoeste, sugerindo um enterro deliberado e ritualístico.

O posicionamento dos membros, com os dedos dos pés se tocando, sugere que o corpo pode ter sido enrolado ou amarrado antes de ser enterrado. Segundo os pesquisadores, análises indicaram que o esqueleto teria mais de 29 mil anos.

Caverna na Tailândia onde foi encontrado o esqueleto (Imagem: Departamento de Belas Artes)

Isso é significativamente anterior aos restos humanos mais antigos já descobertos na Tailândia. Em outras palavras, significa que os primeiros humanos podem ter habitado o Sudeste Asiático muito antes do que se pensava.

Naquela época, explicam os cientistas, o nível do mar era significativamente mais baixo, formando uma massa de terra conhecida como Sundaland que conectava grande parte do Sudeste Asiático. As descobertas na Caverna Din fornecem evidências cruciais da adaptação e sobrevivência humana nesta região.

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Pinturas rupestres localizadas na caverna (Imagem: Departamento de Belas Artes)

Caverna Din: local abriga evidências da ocupação humana

  • A Caverna Din, localizada a 125 metros acima do nível do mar, tem sido um foco de interesse arqueológico desde a descoberta de pinturas rupestres pré-históricas em 1996.
  • O local em si revela uma longa história de ocupação humana, abrangendo desde as sociedades de caçadores-coletores até as comunidades agrícolas do período Holoceno.
  • Isso fica evidenciado pela descoberta de fragmentos de cerâmica e de ferramentas polidas encontradas nas camadas superiores da caverna
  • Outras pesquisas ainda revelaram uma rede de câmaras adornadas com representações vermelhas de figuras humanas, animais e desenhos abstratos, sugerindo uma rica herança cultural.

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