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Mulheres na tecnologia em 2025: Será que avançamos?

O setor de tecnologia sempre foi um termômetro do progresso. Em suas inovações, ressoam as transformações da sociedade. Ele molda mercados, revoluciona a economia e redefine a maneira como vivemos. No entanto, quando falamos sobre a participação das mulheres nesse universo, a pergunta se impõe: será que, de fato, avançamos?

Em 2025, a realidade é paradoxal. De um lado, iniciativas de inclusão se multiplicam e há um crescimento notável na presença feminina em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Segundo a pesquisa Diversidade de Gênero no Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação, em 2023, a representação feminina atingiu um crescimento anual de 7,7% entre 2020 e 2023, superando em 1,5% o crescimento do mesmo índice para os homens. Essa expansão indica uma maior inserção de mulheres na base da indústria, mas é suficiente para equilibrar a disparidade histórica?

Por outro lado, os desafios persistem. O viés de gênero nas contratações e promoções continua a ser uma barreira invisível. Uma pesquisa conduzida pela empresa de recrutamento executivo Plongê revelou uma desigualdade gritante: diretoras de Tecnologia da Informação (TI) ganham, em média, 48% menos que seus colegas do sexo masculino, mesmo desempenhando funções equivalentes. O assédio e a cultura de exclusão seguem como problemas estruturais. Dados do Women in Tech Report 2024 indicam que 50% das mulheres que atuam na tecnologia consideram mudar de carreira devido a ambientes hostis.

IA e a desigualdade

A aceleração da Inteligência Artificial também levanta questões sobre a perpetuação dos vieses de gênero. Algoritmos treinados em bases de dados historicamente excludentes reproduzem desigualdades em larga escala.

O avanço da IA traz benefícios, mas também exige atenção: sem diversidade na construção dos algoritmos, corremos o risco de automatizar antigos preconceitos (Imagem: Jacob Lund/Shutterstock)

Um estudo da MIT Technology Review revelou que mulheres têm 30% menos chances de serem recomendadas para cargos de liderança por sistemas de recrutamento baseados em IA. A ironia é evidente: a tecnologia, que deveria ser um agente de mudança e inclusão, muitas vezes reforça os mesmos padrões discriminatórios do passado. O futuro está sendo programado, mas por quem?

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No entanto, existem razões para acreditar em avanços concretos. O crescimento das comunidades femininas no setor, como o Women Who Code e o PrograMaria, fortalece redes de apoio e mentorias, ampliando oportunidades para mulheres ingressarem e se desenvolverem na tecnologia.

Diversidade no mercado

Empresas que adotam políticas mais agressivas de diversidade têm mostrado impacto positivo: a implementação de metas de inclusão aumentou a retenção feminina em 35% nas empresas de tecnologia que adotaram a estratégia. Essas ações começam a transformar a cultura corporativa, promovendo ambientes mais equitativos e inovadores.

Empoderamento feminino no corporativo.
Empresas que investem em inclusão não só promovem justiça, como também impulsionam inovação (Imagem: Jono Erasmus/Shutterstock)

Além disso, a presença feminina na liderança de startups de base tecnológica está crescendo. Em 2024, um levantamento do Crunchbase indicou que empresas fundadas por mulheres receberam 17% a mais de investimentos em comparação ao ano anterior, mostrando um movimento, ainda que sutil, de reconhecimento do potencial feminino na inovação e no empreendedorismo.

Assim, a resposta à nossa pergunta inicial é ambígua. Sim, avançamos. Mas não o suficiente. Em 2025, a presença feminina na tecnologia não é mais um debate sobre potencial, mas sobre estrutura. A discussão vai além do acesso: trata-se de permanência, crescimento e liderança. Um caminho de resistência e reformulação de paradigmas. Afinal, não basta inserir mulheres na tecnologia. É preciso garantir que elas fiquem, prosperem e lidem menos com o peso da luta e mais com a liberdade da criação.

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Efeito fotoelétrico e o Nobel de Einstein

No dia 14 de março comemoramos o aniversário de um grande físico: Albert Einstein, um dos cientistas mais icônicos e populares da história. Sinônimo de genialidade, ele revolucionou nossa compreensão do Universo com a Teoria da Relatividade, mostrando que o espaço e o tempo são relativos, que a gravidade é uma curvatura do espaço-tempo e que E=mc². Entretanto, curiosamente, não foi por isso que ele recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1921. O reconhecimento veio por um trabalho menos famoso que a Relatividade e que sua língua – mas igualmente revolucionário: a explicação do Efeito Fotoelétrico. Mas afinal, o que é esse efeito? E por que ele foi tão importante para a ciência?

A famosa foto de Albert Einstein feita em 1951 – Créditos: Arthur Sasse

O Efeito Fotoelétrico, em termos simples, ocorre quando a luz incide sobre um material e “arranca” elétrons dele. Podemos ver esse efeito em ação nas células de um painel solar, que transformam a luz do Sol em eletricidade. “Quando a luz incide sobre as células solares, ela arranca elétrons e gera uma corrente elétrica. Simples, não é? Só que esse fenômeno, observado pela primeira vez em 1887 pelo físico alemão Heinrich Hertz, escondia um mistério. Por décadas, os cientistas tentaram entender como ele funcionava, mas até o final do século XIX, ninguém conseguiu explicar.

O problema é que naquela época, a luz era entendida apenas como uma onda eletromagnética, e as teorias da física clássica não conseguiam explicar o Efeito Fotoelétrico. Os cientistas esperavam que, quanto mais intensa fosse a luz (mais energia), mais elétrons seriam arrancados e com maior velocidade. Mas os experimentos mostravam o contrário! Apenas algumas cores específicas, ou seja, certas frequências do espectro, conseguiam arrancar elétrons, independentemente da intensidade da luz. E esse comportamento, a física clássica não explicava.

Representação esquemática do efeito fotoelétrico: fótons arrancando elétrons de uma chapa metálica – Créditos: Ponor / wikimedia.org

O enigma só foi resolvido em 1905, por um jovem físico de 26 anos que, longe dos grandes laboratórios e universidades, trabalhava como escriturário em um escritório de patentes na Suíça. Seu nome? Albert Einstein! Em seu artigo, Einstein propôs uma ideia revolucionária: a luz não era apenas uma onda, mas também se comportava como se fosse composta por pequenos “pacotes” de energia, chamados de quanta (ou fótons, como seriam chamados mais tarde).

Cada fóton carrega uma quantidade específica de energia, que é proporcional à sua frequência (cor). Se essa energia for suficiente, o elétron é ejetado. Mas se não for, aumentar a intensidade da luz não faz diferença alguma — uma descoberta que contrariava tudo o que se esperava da física clássica! O efeito fotoelétrico é como uma festa, onde o que faz as pessoas levantarem e dançarem não é o volume da música, e sim o ritmo em que ela toca! 

E Einstein descreveu de forma brilhante essa relação com uma equação simples e elegante:

E = hf − ɸ

Onde E representa a energia do fotoelétron, h é a constante de Planck, f é a frequência da luz e ɸ é a energia mínima necessária para arrancar um elétron do material.

Era a prova definitiva da dupla natureza da luz: às vezes, ela se comporta como uma onda; outras vezes, como uma partícula!

A descoberta de Einstein foi um marco na história da física. Ela não apenas explicou o Efeito Fotoelétrico, mas também lançou as bases da física quântica, revolucionando nossa compreensão da luz e da matéria. A ideia de que a luz pode se comportar tanto como partícula quanto como onda — a chamada dualidade onda-partícula — tornou-se um dos pilares da física moderna.

Einstein em 1904, no escritório de patentes suíco que trabalhou – Créditos: Lucien Chavan

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Além de sua importância teórica, o Efeito Fotoelétrico impulsionou avanços tecnológicos que fazem parte do nosso cotidiano. As células fotovoltaicas, que convertem a luz solar em eletricidade, são baseadas nesse fenômeno. Sensores de câmeras de celulares e telescópios espaciais, fotocélulas usadas em portas automáticas, leitores de código de barras e muitos outros dispositivos também operam sob esse princípio.

Embora Einstein seja mais lembrado por sua Teoria da Relatividade, foi sua explicação do Efeito Fotoelétrico que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física em 1921. Essa descoberta — que em 2025 completa 120 anos — nos lembra que a ciência está em constante evolução e que até as descobertas mais inesperadas podem abrir caminho para verdadeiras revoluções científicas e tecnológicas.

Então, no aniversário de Einstein, celebremos não apenas sua genialidade, mas também o poder da ciência de desvendar os mistérios do universo e transformar nossa visão do cosmos. Graças ao Efeito Fotoelétrico, podemos enxergar a luz das estrelas como um fluxo de partículas cruzando a vastidão do espaço até alcançar a Terra, energizando sensores e revelando a beleza e a grandiosidade do universo. O legado de Albert Einstein, assim como a luz, continua a iluminar os caminhos da ciência e da humanidade.

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Dois pontos de vista do mesmo eclipse nas Imagens Astronômicas da Semana

Toda semana, no Programa Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos duas imagens que representam dois pontos de vista do mesmo eclipse. Confiram:

Eclipse lunar visto da Terra

Crédito: Nyêrdson Ferreira

A primeira imagem traz um fantástico registro do eclipse da madrugada desta sexta, 14 de março. Durante um eclipse lunar total, a Lua passa entre a Terra e o Sol e, da perspectiva da Terra, é possível ver a sombra do nosso planeta sendo projetada na Lua, como podemos ver nessa foto feita de São José de Piranhas, PB. Durante um eclipse, a Lua ganha tonalidade avermelhada porque uma pequena parte da luz vermelha do Sol é refratada na atmosfera da Terra e atinge nossa vizinha cósmica, tingindo sua superfície temporariamente.

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Eclipse solar visto da Lua

Crédito: Firefly Aerospace

Podemos ver um pouco deste fenômeno na segunda imagem desta semana. Enquanto está acontecendo um eclipse lunar total por aqui, lá  na Lua, é a Terra que bloqueia o disco solar, formando uma espécie de “Eclipse Solar Terrestre”. E foi justamente esse fenômeno que foi registrado pela primeira vez hoje pela Blueghost, da empresa Firefly, atualmente pousada no Mare Crisium. Na imagem, é possível notar o anel de luz que se forma em torno da Terra momentos antes do início da totalidade do eclipse. Esse anel é justamente a visão da luz do Sol refratada na atmosfera da Terra. É essa luz, tênue e avermelhada que pinta a Lua durante um eclipse.

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Ciclo de Saros: o código secreto dos eclipses

Na antiguidade, o mistério e a aparente imprevisibilidade dos eclipses intrigavam a humanidade. Sua natureza desconhecida levou as primeiras civilizações a desenvolverem interpretações místicas do fenômeno, associando-o a monstros cósmicos devorando a Lua ou a manifestações divinas de repreensão. Mas, se hoje podemos aguardar ansiosamente o espetáculo do eclipse lunar de 14 de março, é porque, há muito tempo, nossos ancestrais desvendaram um código secreto dos eclipses — um padrão “oculto” que lhes permitiu prever esses eventos com precisão. Esse padrão é conhecido como o Ciclo de Saros. 

Atualmente, sabemos que os eclipses ocorrem quando o Sol, a Terra e a Lua se alinham no espaço. Quando a Lua está entre a Terra e o Sol, ela oculta temporariamente o astro-rei, provocando um eclipse solar. Já quando a Terra fica entre o Sol e a Lua, sua sombra se projeta sobre a superfície lunar, criando um eclipse lunar. Mas, sem o conhecimento astronômico que temos hoje, nossos antepassados recorreram a explicações míticas e sobrenaturais para interpretar esses fenômenos.

Essa percepção começou a mudar graças à invenção da escrita pelos sumérios, mais de três mil anos antes de Cristo. Exímios observadores do céu, eles registraram a ocorrência de eclipses em tablets de argila por vários séculos, descrevendo com detalhes a data, a hora, a posição no céu e as características de cada fenômeno.

Tablets de argila da Suméria, que registra a ocorrência de eclipses – Créditos: Museu Britânico

Foi analisando esses registros que, por volta do ano 600 a.C., astrônomos babilônios identificaram, provavelmente pela primeira vez, um padrão oculto nos eclipses. Eles perceberam que eventos com características semelhantes se repetiam em intervalos regulares de 223 meses sinódicos — o tempo entre duas Luas Novas consecutivas. Esse período equivale a 6.585,32 dias, ou aproximadamente 18 anos, 11 dias e 8 horas. A descoberta permitiu aos babilônios prever eclipses, um conhecimento crucial para sua organização social e religiosa. Por lá, durante um eclipse, era comum coroar temporariamente um rei substituto, que depois era sacrificado, para que ele herdasse toda a má sorte que o fenômeno supostamente traria ao verdadeiro governante.

Esse conhecimento, uma verdadeira joia da astronomia antiga, foi transmitido a outras culturas, e os gregos souberam aproveitá-lo de maneira brilhante. O Mecanismo de Anticítera, um verdadeiro computador astronômico construído pelos gregos entre 150 e 100 anos antes de Cristo, era capaz de prever os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas no céu com uma precisão impressionante. O mecanismo conta com um conjunto de engrenagens que reproduz o período de 223 meses sinódicos, permitindo a previsão de eclipses. 

Fragmento Mecanismo de Anticítera, um antigo computador astronômico construído pelos gregos entre 150 e 100 a.C – Fonte: wikimedia.org

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Mas o Mecanismo de Anticítera revelou que os gregos possuíam um conhecimento ainda mais refinado, permitindo-lhes decifrar o mistério do Ciclo de Saros.

Naquela época, acreditava-se que a Terra era o centro do Universo e que todos os astros do firmamento giravam ao seu redor. Na Grécia antiga, os astrônomos perceberam que o Sol percorria seu caminho viajando entre as constelações em uma linha imaginária que recebeu o nome de eclíptica, porque é sobre ela que acontecem os eclipses. O caminho da Lua no céu tem uma inclinação de cerca de 5° em relação à eclíptica. Devido a essa inclinação, os eclipses não ocorrem todos os meses, apenas quando a Lua cruza a linha da eclíptica no momento em que está aproximadamente na direção do Sol ou na direção oposta a ele. 

Isso acontece apenas duas vezes por ano, em um período chamado temporada de eclipses, no qual podem ocorrer até três eclipses, sejam eles lunares ou solares. Mas para saber quando e como esse alinhamento vai acontecer, é preciso conhecer alguns conceitos um pouco mais complexos. A chave está na dança celestial entre a Terra, a Lua e o Sol. Ao identificar com precisão os passos dessa dança, os gregos desvendaram a mecânica por trás do Ciclo de Saros. 

Em seu movimento ao redor da Terra, a Lua apresenta alguns ciclos que caracterizam seu movimento:

  • mês sinódico, é o período de 29,53 dias entre duas luas novas consecutivas, 
  • mês dracônico, de 27,21 dias, que é o tempo que ela leva para cruzar a eclíptica no mesmo ponto de sua órbita, 
  • mês sideral, de 27,32 dias, definido pelo tempo em que a Lua leva para retornar ao mesmo ponto no céu em relação às estrelas, e
  • mês anomalístico, que é o período de  27,55 dias entre duas passagens consecutivas da Lua por seu perigeu. 

O Ciclo de Saros é a combinação entre esses quatro períodos. A duração de 18 anos, 11 dias e 8 horas é um múltiplo comum entre eles, equivalentes a aproximadamente 223 meses sinódicos, 242 meses dracônicos, 241 meses siderais e 239 meses anormalísticos. A cada Ciclo de Saros, a Terra, a Lua e o Sol retornam às mesmas posições relativas no espaço, e por isso esse período é o mesmo que separa dois eclipses com as mesmas características.

O mais impressionante é que todos esses ciclos lunares estavam representados com precisão no Mecanismo de Anticítera, evidenciando que os gregos não apenas os compreendiam, mas também conseguiram reproduzi-los mecanicamente, revelando a complexidade da dança cósmica que rege os eclipses. 

Reconstrução virtual do Mecanismo de Anticítera, capaz de prever com precisão a ocorrência de eclipses – Créditos: Tony Freeth

O Ciclo de Saros permitiu as primeiras previsões precisas de eclipses na história da astronomia e, surpreendentemente, ainda é usado pelos astrônomos modernos! Claro que, com os avanços da ciência e da tecnologia, as previsões de eclipses hoje são feitas com uma precisão muito maior, levando em conta fatores como a forma da Terra, a influência gravitacional dos planetas e até mesmo os efeitos da relatividade.

Os eclipses que ocorrem em um mesmo Ciclo de Saros fazem parte da mesma “família de eclipses”, mas variações sutis nos períodos lunares fazem com que uma família de eclipses se encerre após 1200 anos, aproximadamente. Cada eclipse de uma mesma família apresenta características semelhantes, como duração e o quão profundamente a Lua adentra a sombra da Terra, por exemplo.

O eclipse lunar total de 14 de março de 2025 pertence ao Ciclo de Saros 123, o 53º membro de uma família de eclipses que ocorrem desde o ano 1087. O último membro dessa família ocorreu em 3 de março de 2007 e, antes dele, em 20 de fevereiro de 1989. Em 25 de março de 2043 haverá outro eclipse semelhante a este e assim por diante, até o ano 2367, quando o último eclipse do Saros 123 se despedirá da humanidade.

Eclipse Lunar de 3 de março de 2007 registrado em Cambridge, Inglaterra – Fonte: wikimedia.org

Os eclipses, esses encontros cósmicos entre a Terra, a Lua e o Sol, são eventos raros e fascinantes, que nos conectam com a beleza do Universo e nos ajudam a compreender a mecânica celeste dos astros. O Ciclo de Saros, uma descoberta genial dos astrônomos babilônios, nos mostra como o conhecimento ancestral e a ciência moderna se complementam, nos permitindo desvendar os segredos do Cosmos e nos maravilhar com sua grandiosa dança celestial. Não perca o eclipse de 14 de março! Para nós, brasileiros, vale lembrar que o próximo eclipse lunar total visível por aqui só acontecerá em 2029.

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Fracasso e Sucesso nas Imagens Astronômicas da Semana

Toda semana, no Programa Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos duas imagens que marcaram a semana da astronautica. Confiram:

Tombou em solo

Sonda Athena tomab ao pousar na Lua. Crédito: Intuitive Machines

A primeira imagem mostra a selfie de despedida do lander Athena IM-2 da Intuitive Machines após um pouso mal sucedido ocorrido no último dia 6 de março. Na imagem, que não deixa de ser espetacular, o módulo lunar é visto deitado de lado, mostrando que algo deu errado em sua tentativa de pousar em uma cratera do Polo Sul da Lua. Pouco depois de chegar à superfície lunar, a Athena coletou alguns dados para a NASA antes de anunciar o fim antecipado da missão nesta sexta-feira. Sem ter como “se levantar”, o módulo não terá como ajustar seus paineis solares para captar energia solar na Lua, e por isso, a missão foi encurtada.

Original em: https://www.nasa.gov/wp-content/uploads/2025/03/im-2-lander-on-moon.png 

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Pegou no ar!

Pouso do propoulsor Super Heavy na plataforma durante 8º voo de teste do megafoguete Starship, da SpaceX. Crédito: SpaceX

Já a segunda imagem traz um registro fantástico do espetacular pouso do foguete Super-Heavy da SpaceX, depois de levar a Starship até os limites do espaço no oitavo voo de teste do conjunto. Mais uma vez, a Starship teve problemas e o sistema de interrupção de voo foi acionado, mas antes disso, todos que acompanhavam o lançamento, puderam se extasiar com a precisão e a beleza do retorno do primeiro estágio, sendo agarrado no ar pelos braços mecânicos do Mechazilla, na base de lançamento em Boca Chica, no Texas. É a terceira vez que a SpaceX realiza esse feito extraordinário, que até pouco tempo atrás, muitos achavam que seria impossível.

Original em: https://x.com/SpaceX/status/1897841723851645064/photo/4

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O eclipse lunar na visão das antigas civilizações

Estamos nos aproximando do evento astronômico mais aguardado do ano: no próximo dia 14 de março, a Lua mergulhará na sombra da Terra, dando origem a um fascinante espetáculo celeste – um Eclipse Lunar Total. Para nós, uma exibição astronômica de encher os olhos e extasiar a alma. Mas, e se estivéssemos em outra época, sob o céu de uma civilização antiga? Para nossos ancestrais, esse mesmo evento poderia ser um presságio sombrio, um sinal de ira divina ou até mesmo uma batalha cósmica. Então, que tal embarcar em uma viagem no tempo para descobrir como diferentes culturas enxergavam esse enigmático “apagão” da Lua?

A humanidade iniciou sua jornada sobre este planeta sem nenhum tipo de conhecimento prévio, sem nenhum manual e nenhum “irmão mais velho” que pudesse orientar nossos primeiros passos e explicar os mistérios da Terra e do céu. Todo conhecimento que acumulamos ao longo de milhares de anos, partiu do nada e foi construído pouco a pouco, baseado em nossas observações e naquilo que conseguíamos transmitir de geração em geração. Sem o conhecimento astronômico que temos hoje, fenômenos celestes eram geralmente vistos como manifestações divinas, sinais diretos dos deuses.

Assim como o Sol e a Lua, em várias culturas, eram vistos como divindades, os eclipses lunares eram frequentemente entendidos como uma mudança de humor destes deuses. E todo mundo sabe que um deus irritado pode não ser muito agradável! Por isso, nossos antepassados temiam os eclipses, imaginando que poderiam ser o prenúncio de alguma catástrofe iminente. Para uns, o fim do mundo estava próximo. Para outros, era preciso agir rápido para salvar a Lua dos monstros que a devoravam.

Eclipse lunar total de 31 de janeiro de 2018, registrado em Chiricahua Mountains, Arizona. Crédito: Fred Espenak (MrEclipse.com)

Na antiga Mesopotâmia, os eclipses lunares eram considerados maus presságios, especialmente para o rei. Os astrônomos babilônicos, que já possuíam grande conhecimento sobre os ciclos celestes, registravam cuidadosamente os eclipses e os interpretavam como sinais de um perigo iminente. Para proteger o rei das possíveis tragédias anunciadas pelo eclipse, um ritual curioso era realizado: o ritual do rei substituto. 

Neste ritual, o rei abdicava de seu trono e se escondia por um período de até 100 dias. Durante esse tempo, um rei substituto era escolhido, geralmente um prisioneiro, um adversário político, ou algum súdito muito devoto. Embora não tivesse muito poder, o rei substituto desfrutava das mordomias da côrte, das riquezas e do prestígio real. Enquanto isso, o rei afastado era submetido a exorcismos para se livrar de toda a má sorte, ou melhor, transferir a má sorte para aquele que estava em seu lugar. Então, quando enfim acreditava que estava fora de perigo, o verdadeiro rei retomava o trono e o substituto, bem… era sacrificado. 

É… os antigos babilônios eram mesmo criativos e, talvez, um pouco drásticos, não acham?

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Na China, a explicação para os eclipses lunares era igualmente criativa. Acreditava-se que um dragão celestial devorava a Lua durante o eclipse, fazendo-a desaparecer pouco a pouco no céu noturno. Eles também acreditavam que aquilo seria sinal de má sorte para o império e, principalmente, para o imperador. Então, para espantar o monstro e trazer a Lua de volta, as pessoas batiam tambores, faziam barulho e lançavam flechas em direção ao céu – uma demonstração de coragem e união contra a ameaça cósmica. Um ritual bem mais saudável que o dos babilônios… desde que ninguém fosse atingido por uma flecha perdida!

Arqueiro chinês atirando flechas no dragão que estaria causando um eclipse – Autor desconhecido, fonte: “The New Year Painting of Zhang Xian”

Os maias, que habitaram a América Central, eram conhecidos por seus avançados conhecimentos astronômicos, mas também temiam os eclipses lunares. Para eles, um jaguar celestial atacava ferozmente a Lua, ferindo-a e tingindo-a de sangue. Mulheres grávidas eram protegidas durante o eclipse, pois acreditava-se que o evento poderia causar malformações nos bebês. Apesar do medo, os maias desenvolveram um calendário lunar tão preciso que lhes permitia prever a ocorrência de eclipses – e, para alguns, até mesmo o fim do mundo!

Já os incas não tinham a capacidade de prever eclipses, mas também acreditavam que a Lua estava sendo atacada por um jaguar cósmico. A Lua, chamada de Mama Quilla, era uma deusa protetora, venerada pelas mulheres, e esposa do Sol. E para salvar a Mama Quilla daquele ataque voraz, os incas recorriam a uma técnica, um tanto rudimentar: eles atiçavam os cachorros, batiam tambores e faziam uma imensa algazarra pelas ruas, na tentativa de espantar o felino cósmico, antes que ele resolvesse descer até a Terra para comer todo mundo.

Povo inca tentando espantar o “jaguar que devora a Lua” durante um eclipse lunar. Créditos: Leonard de Selva

Os vikings, povo nórdico famoso por suas lendas e mitos, acreditavam que os eclipses lunares eram causados pelos lobos Sköll e Hati, que perseguiam o Sol e a Lua pelo céu. Quando um deles finalmente alcançava sua presa, a Lua desaparecia no céu. Assim como os chineses e os incas, os bravos vikings se esforçavam para espantar o algoz lunar com gritaria, estrondos e o soar de suas armas, numa tentativa de salvar o astro do ataque.

Com o tempo, a observação cuidadosa do céu e o desenvolvimento do pensamento científico levaram a uma compreensão mais precisa dos eclipses. Os gregos começaram a entender a natureza do fenômeno, percebendo que a Terra se interpunha entre o Sol e a Lua, projetando sua sombra sobre a Lua e causando o eclipse. Com base nessa compreensão, Aristarco de Samos calculou o tamanho e a distância da Lua a partir da observação dos eclipses lunares, demonstrando como a astronomia podia revelar os segredos do cosmos.

Hoje, com os avanços da astronomia, sabemos que os eclipses lunares são eventos perfeitamente previsíveis, calculados com precisão de segundos. Graças à ciência, não precisamos mais temer a ira dos deuses e podemos simplesmente admirar o esplendor de um eclipse, sem imaginar que a Lua está sendo devorada por lobos, dragões ou jaguares. Mas, mesmo com todo o nosso conhecimento científico, os eclipses lunares ainda nos fascinam, nos conectando com a beleza e o mistério do universo.

Na madrugada de 14 de março de 2025, teremos a oportunidade de apreciar um eclipse Total da Lua. Um evento raro e espetacular, que nos convida a olhar para o céu com o mesmo fascínio dos nossos ancestrais, e festejar, não para espantar o jaguar, mas para celebrar o conhecimento astronômico acumulado por inúmeras gerações. Então, não percam essa oportunidade! Porque o próximo eclipse total da Lua visível do Brasil só acontecerá em 2029.

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