Segundo informações divulgadas pela Reuters, a ByteDance, dona do TikTok, está planejando investir em um data center no Brasil. O projeto aproveitaria a vasta quantidade de energia eólica na costa nordeste brasileira.
Para tanto, a empresa chinesa estaria negociando parceria com a geradora de energia renovável Casa dos Ventos visando a construção de instalação no complexo portuário do Pecém, localizado no Ceará.
A proposta da ByteDance vem em momento no qual o Brasil quer se consolidar como centro global de data centers. Isso pode ser visto no plano da Scala Data Center, que consiste em construir verdadeira “cidade data center” no sul do País.
Empresa chinesa pode transformar Brasil em seu pilar de suas operações no Hemisfério Ocidental (Imagem: Ascannio/Shutterstock)
Características do possível data center brasileiro do TikTok
Segundo a agência de notícias, as negociações iniciais visam um data center de 300 MW, podendo ser expandido para 900 MW em uma eventual segunda fase;
Contudo, a demanda total do projeto poderá chegar a quase 1 GW;
Caso isso se concretize, o Brasil será um pilar das operações da ByteDance no Hemisfério Ocidental;
E não é só o País que está na mira da chinesa: em fevereiro, ela anunciou que deve investir US$ 8,8 bilhões (R$ 50,01 bilhões, na conversão direta) em data centers na Tailândia durante cinco anos.
Pecém é um ponto estratégico para data centers, pois é onde existem estações de aterrissagem de cabos submarinos próximas e possui concentração de energia renovável.
A Casa dos Ventos tem parceria, desde 2022, com a TotalEnergies. A geradora de energia renovável já solicitou conexão à rede para criação de projeto de data center justamente em Pecém.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a princípio, não aceitou o pedido por preocupações com a estabilidade da rede, pois as instalações da região demandam muita energia.
Dessa forma, o Ministério de Minas e Energia (MME) estaria avaliando aumentar a capacidade de rede para projetos de data center em Pecém e em outras áreas.
O que dizem os citados
Nem MME, nem TikTok responderam aos pedidos de contato da Reuters. A agência de notícias não conseguiu contato com a ByteDance. Contudo, a Casa dos Ventos enviou um comunicado oficial, se esquivando de sua suposta relação com a ByteDance, afirmando apenas que está “comprometida em transformar o porto do Pecém em um polo de inovação tecnológica e transição energética“.
Projeto da controladora do TikTok pode consolidar o Brasil como polo de data centers (Imagem: Nomad_Soul/Shutterstock)
“A empresa está desenvolvendo o maior data center e projeto de hidrogênio verde do país, que será alimentado por energia renovável de seu portfólio. No desenvolvimento de ambos os projetos, está avaliando oportunidades de parceria com empresas que possam apoiar sua implementação”, concluiu.
O Olhar Digital entrou em contato com a Pasta, com a rede social, com sua controladora e com a Casa dos Ventos e aguarda retorno.
O portal Repórter Brasil trouxe informações sobre o desejo de uma empresa de tecnologia de construir verdadeira “cidade data center” em Eldorado do Sul (RS), um ano após a enchente que devastou o Estado.
Com o forte crescimento da inteligência artificial (IA) nos últimos anos, a demanda por data centers específicos vem aumentado no mundo todo. Sendo assim, as empresas que operam no setor estão construindo grandes complexos voltados para a tecnologia.
Um exemplo é a xAI, que construiu um supercomputador em Abilene, Texas (EUA) no ano passado, mas que enfrentou resistência local por conta do consumo de recursos locais, que poderiam prejudicar a população que vive nos arredores.
No Brasil, a Scala Data Centers está se preparando para construir um complexo de data centers no município gaúcho, que promete ser o maior complexo de infraestrutura digital da América Latina. Eldorado do Sul foi uma das cidades rio-grandenses-do-sul devastadas pelas chuvas que deixaram o Rio Grande do Sul debaixo d’água e que tenta se reerguer.
Em outubro passado, o governo estadual fechou parceria com a empresa para a realização do projeto. À época, o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado, Ernani Polo (PP), disse que o contrato “é oportunidade de transformar o Rio Grande do Sul no novo Vale do Silício no Brasil“.
Acordo foi selado no fim de 2024 (Imagem: Maurício Tonetto/Secom)
Scala AI City: a primeira “cidade data center” do Brasil
O empreendimento é chamado de Scala AI City. Confira mais informações do projeto, segundo dados do governo do Estado do Rio Grande do Sul:
O investimento inicial é de cerca de R$ 3 bilhões, com espaço total de mais de 7 milhões de metros quadrados;
Contudo, as empresas que utilizarão as instalações injetarão mais R$ 4 bilhões, podendo passar dos R$ 600 bilhões no projeto total;
A título de comparação, o maior investimento do Estado realizado até hoje é de R$ 24 bilhões — a ampliação da CMPC, fábrica de celulose chilena, em 2024;
Mais de três mil empregos diretos e indiretos deverão ser gerados;
Quanto à capacidade inicial de TI do data center, serão 54 MW, podendo chegar a 4,75 GW;
O governo estadual afirma que a região escolhida tem segurança comprovada contra desastres naturais, grande oferta de energia elétrica e capacidade imobiliária;
O data center será ligado a outro do mesmo tipo, que se encontra em Porto Alegre (RS). Futuramente, ele será conectado ao cabo submarino Malbec, que liga São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires.
A primeira etapa do empreendimento deverá entrar em operação em até dois anos e, inicialmente, será híbrido, ou seja, servirá para cloud e IA.
Questões ambientais
Porém, há preocupações com relação ao meio ambiente. Uma lei municipal aprovada exclusivamente para o projeto aponta que o licenciamento da obra “se dará de forma simplificada e autodeclaratória“. Nesse sentido, vale lembrar que, nem ao nível estadual, nem ao nível local, há uma regulação para licenciamento ambiental de data centers, lembra o Repórter Brasil.
Isso porque os data centers demandam muita energia e água para alimentar seu hardware e resfriamento, sem contar o lixo eletrônico gerado. Os 4,75 GW anunciados pela Scala servirá para funcionamento dos servidores e para o resfriamento deles, explica, ao Repórter Brasil, o professor Ricardo Soares, coordenador do mestrado em ciência do meio ambiente da Universidade de Veiga de Almeida e servidor do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro.
“Os 4,75 GW dizem respeito à demanda de energia elétrica que o complexo de data centers deverá consumir em seu pico operacional, e não à sua ‘capacidade de processamento de dados’ propriamente dita”, continua.
Uma comparação do portal mostra que a “cidade data center” brasileira terá consumo maior do que a quantidade de energia gerada de duas usinas: a Jirau, que abastece 40 milhões de pessoas e se encontra em Rondônia, e a de Santo Antônio, que abastece 39 milhões de usuários: respectivamente, as usinas geram 3,8 GW e 3,6 GW, segundo dados do EPE – Plano Nacional de Energia 2030.
Mas este não é o primeiro caso de data centers questionados pela comunidade local, tampouco o mega computador da xAI. Nesta reportagem do Olhar Digital, você confere mais exemplos.
No Brasil, há outro caso bem famoso de construção tecnológica que causou polêmica. Trata-se da usina de dessalinização que o governo do Ceará deseja construir na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE), mas que enfrentava resistência das empresas de internet, cujo receio era o de que as obras pudessem afetar cabos submarinos que passam na região.
Em nota encaminhada ao site, a Scala garante que a operação do data center “não teria qualquer efeito no abastecimento elétrico da cidade ou de municípios vizinhos”, além de que a “energia utilizada será 100% renovável e certificada, com fornecimento garantido por parcerias estratégicas”, mas não cita de onde será obtida a energia demandada.
O governo estadual, por sua vez, afirma que, “com o auxílio do clima mais ameno do sul do Brasil, os data centers serão mais eficientes“, com eficiência energética e de água zerados, “ou seja, não utilizarão troca de água em seus sistemas de refrigeração”.
Já o hidrólogo Iporã Brito Possantti ressalta a necessidade de estudo sobre quais os possíveis impactos ao meio ambiente que esse tipo de projeto pode causar.
“Esse tipo de impacto precisa ser previsto no licenciamento. É importante que não haja isenção desses estudos para qualquer empreendimento, porque, depois, quem vai precisar pagar para corrigir e mitigar os impactos é a sociedade, os governos. É uma questão de economia e de justiça“, afirma.
Possantti criou, com colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) um site abastecido com dados e mapas relacionados às enchentes de 2024, que assolaram o Rio Grande do Sul, para auxiliar os gestores públicos no enfrentamento do problema.
“Não podemos simplesmente achar que uma inovação tecnológica, que é bem-vinda e necessária, está desprovida de impacto”, pontua ao Repórter Brasil o professor Ricardo Soares.
Mas a dona do empreendimento frisa que o Scala AI City será dotado dos “mais altos padrões de sustentabilidade, inovação e governança” durante sua construção e prossegue, dizendo que “cumpre rigorosamente todos os requisitos legais em todos os seus empreendimentos“. A companhia enfatiza ainda que o licenciamento seguirá a mesma conduta.
Sobre a capacidade energética, a Scala aponta que os 4,75 GW de processamento de dados a ser alcançado quando a “cidade data center” estiver funcionando a pleno vapor a transformará “em um dos maiores polos de processamento de dados do mundo“.
Dona do empreendimento frisa que o Scala AI City será dotado dos “mais altos padrões de sustentabilidade, inovação e governança” durante sua construção (Imagem: Nomad_Soul/Shutterstock)
Só que a quantidade de gigawatts anunciada é superlativa, já que, hoje, o Brasil tem capacidade total de 777 MW, tendo capacidade real de 54 MW. Ao colunista Renan Setti, do jornal O Globo, o CEO e cofundador da Scala, Marcos Peigo, comentou mais sobre as questões de capacidade da futura Scala AI City:
O sonho é construir uma cidade. O plano eventual é ter até 4.750 MW, com consumo equivalente ao de todo o estado do Rio. No mundo, não há nada parecido; o maior de que tenho notícia é um projeto com cerca de 1.500 MW anunciados… Exigiria um investimento nosso da ordem de US$ 50 bilhões, e seria um trabalho para dez, 20 anos…
Marcos Peigo, CEO e cofundador da Scala, em entrevista ao jornal O Globo
Enquanto isso, a prefeita de Eldorado do Sul, Juliana Carvalho (PSDB), ressalta que vai “olhar para todos os detalhes do empreendimento“, mesmo que a lei municipal deixe o licenciamento ambiental mais simples. “Qualquer intervenção tem algum impacto. O trabalho da prefeitura tem que ser amenizar isso de alguma forma, mas sem prejudicar o investimento e o desenvolvimento do município“, prossegue.
A Scala justifica a escolha da região para construir sua “cidade data center” não só pelas condições citadas no começo desta reportagem, mas, também, por fatores ligados ao “maior desafio para o setor, especialmente com a ascensão da IA“, sem contar que o município tem “robusta estrutura de transmissão, com uma subestação de capacidade de até 5 GW — a esmagadora maioria não utilizada”.
O governo do Estado também ressalta o clima ameno do sul do Brasil, que contribui para a que a Scala AI City seja construída na região, pois, teoricamente, temperaturas mais baixas favorecem o resfriamento dos servidores, que demandariam menos energia elétrica para isso.
O problema é que o cenário de frio e clima ameno da região sul vem mudando ano a ano. Por exemplo: Porto Alegre, em fevereiro, bateu recordes de calor duas vezes e virou a capital brasileira mais quente nesse período. No mês passado, ela chegou a registrar 7,3 °C acima das médias históricas. Detalhe: a capital do Rio Grande do Sul está há apenas 12 quilômetros de Eldorado do Sul.
Soma-se a este fato que o Estado é o segundo colocado no ranking de ocorrências de estiagens e secas no Brasil — à frente, só a Bahia. Neste ano, 307 municípios gaúchos (61% do total) decretaram emergência dada a ausência de chuvas.
O The Guardian rememora que a combinação de data centers e crise hídrica já causou protestos. Isso aconteceu em 2023, no Uruguai, relacionado a um complexo tecnológico do Google no país. Os protestos aconteceram, pois, durante a crise, a população foi obrigada a ser abastecida com água salgada.
“Data centers consomem muita água. Isso é um problema porque a escassez de água está se tornando uma das principais razões de conflitos no mundo”, aponta Golestan Radwan, diretora digital do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
A Scala alega usar “tecnologias de resfriamento sem desperdício de água no resfriamento” e que não há “necessidade de reposição, mas apenas uma carga inicial no sistema”. Ao Repórter Brasil, contudo, não indicou a carga prevista para Eldorado do Sul.
Brasil: futuro antro de data centers
Essa matriz energética (limpa) que o Brasil tem graças ao grande peso das hidrelétricas está transformando o País em destino potencial para a instalação de data centers. Mas as mudanças climáticas que mundo enfrenta deixa todo mundo de sobreaviso.
Isso é observável no anuário da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, que deixa bem claro: “em 2021, o país atravessou a pior seca dos últimos noventa anos” e “o ano de 2023 foi de clima mais quente e seco“.
A Reuters trouxe, para ilustração, uma pesquisa do Morgan Stanley, indicando que os data centers emitem parcela significativa de gases do efeito estufa. Boa parte dessas emissões vem de geradores de energia movios a óleo diesel, costumeiramente acionados quando há crise hídrica.
Já o Banco Mundial produziu relatório no qual alerta para o aumento do uso de energia por tais infraestruturas com a presença de enchentes. Segundo a EBC, em 2024, o município da futura cidade data center teve toda a área urbana afetada pela enchente, que segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é consequência da crise climática que o planeta enfrenta.
Em contrapartida, o terreno no qual o empreendimento será erguido ficou intacto. No início deste mês, várias escavadeiras estavam removendo centenas de pés de eucalipto distribuídos pelos 535 hectares de terra da Scala, segundo o Repórter Brasil. Antes de a empresa adquirir o espaço, esses eucaliptos eram utilizados para fabricar lenha.
O portal também conversou com um dos operadores das escavadeiras, que frisa que “temos que terminar até o fim do mês [abril] para entregar definitivamente para o novo dono”.
Estado foi bastante afetado por enchentes em 2024 (Imagem: Bruno Peres/Agência Brasil)
E o licenciamento ambiental?
Como dito antes, não há um consenso quanto a regras de licenciamento ambiental para data centers ao nível estadual e federal. Contudo, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul (Fepam) sugeriu a criação do “ramo data center” no ordenamento legal de licenciamento.
“Isso vai regrar e alinhar o enquadramento e deixar clara a competência municipal e estadual em relação ao licenciamento dos empreendimentos”, disse a instituição, em nota enviada ao site. Todavia, não se sabe quando o processo será concluído.
Quanto ao governo federal, foi apresentado o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028, que pede o investimento de R$ 5 bilhões ao eixo “infraestrutura e desenvolvimento de IA“. O governo também editou o marco legal para os data centers, mas ainda não o publicou.
Soares defende que o ramo de data centers não deve se restringir ao Rio Grande do Sul, devendo ser expandido para todo o território nacional. “São muitas lacunas. Não podemos desburocratizar aqui para acelerar o desenvolvimento sem olhar para os impactos“, prossegue.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul diz que “o Estado já levou ao governo federal a pauta que visa criar ambiente regulatório favorável aos data centers e às questões ligadas à inteligência artificial. Caso se efetive, será uma conquista que beneficiaria todo o País“, não citando informações sobre riscos e impactos ambientais.
Em setembro, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), defendeu a celeridade do processo no Brasil. “Se não construirmos imediatamente este ambiente favorável, corremos o risco de ver a transição energética acontecer em outros países, deixando-nos para trás. Agir agora é crucial para garantir que o Brasil não fique no final da fila nesta importante transformação global”, pontuou.
Ainda naquele mês, o PNUMA recomendou que os países padronizassem procedimentos visando medir o impacto da IA. Nessa medição, se inclui a extração de minérios para construção dos projetos e o treinamento da tecnologia, bem como o consumo de água e energia elétrica.
“Atualmente, cada um mede e quantifica [os impactos] da forma que acha melhor e adota as medidas que considera adequadas. Mas é muito difícil avaliar a eficácia dessas medidas, porque não existe um método consensual”, reforça Radwan, da ONU. “Devemos falar sobre como garantir que a transformação digital seja ambientalmente sustentável“, completa.
O que dizem os citados
O Olhar Digital entrou em contato com as fontes citadas na reportagem e atualizará o espaço tão logo receba as respostas.
Lasers são conhecidos por aquecer materiais com precisão, mas uma nova aplicação dessa tecnologia pode mudar drasticamente o modo como lidamos com o superaquecimento em data centers.
A Sandia Labs, uma empresa de pesquisa em tecnologia de energia e defesa dos EUA, financiada pelo governo federal, com apoio da startup Maxwell Labs e colaboração da Universidade do Novo México, está desenvolvendo uma tecnologia promissora chamada resfriamento fotônico baseado em laser.
O foco está em resolver um dos maiores desafios da computação moderna: o excesso de calor gerado pelos chips em servidores.
Como a tecnologia deve agir
Hoje, cerca de 30% a 40% da energia consumida por data centers é destinada apenas ao resfriamento, o que aumenta os custos operacionais e o impacto ambiental.
A nova abordagem substitui (ou complementa) os tradicionais sistemas de refrigeração por água, utilizando lasers ajustados para resfriar áreas microscópicas em chips, como regiões de centenas de mícrons.
A ideia é criar placas frias fotônicas, feitas com arsenieto de gálio, capazes de redirecionar calor com extrema precisão, sem partes móveis nem líquidos.
Embora os lasers sejam usados com mais frequência para aquecer objetos, eles também podem resfriar certos elementos quando direcionados precisamente a uma área minúscula – Imagem: Maxwell Labs
Além de economizar energia, o resfriamento a laser pode melhorar o desempenho dos chips, evitando o “estrangulamento térmico” que os força a reduzir sua velocidade para evitar superaquecimento. Isso pode significar servidores mais rápidos, eficientes e sustentáveis.
Jacob Balma, CEO da Maxwell Labs, acredita que a tecnologia pode mudar completamente os limites de projeto de chips, ampliando o poder de processamento e permitindo soluções para problemas antes inviáveis com a tecnologia atual.
Lasers podem ser a solução para data centers mais eficientes (Imagem: quantic69/iStock)
A Agência Internacional de Energia estima que, nos próximos dois anos, os data centers deverão consumir entre 620 e 1.050 terawatts-hora (TWh) de energia globalmente. Esse número é consequência do aumento expressivo do uso da inteligência artificial. Como forma de atrair investimentos e financiar a transição energética, o governo discute o marco legal dos data centers no Brasil. Mas o país está preparado para uma demanda cada vez maior por energia “verde” nesse setor?
O Olhar Digital conversou com Fernanda Spinardi, líder de gerenciamento de soluções para clientes da AWS no Brasil. A especialista comentou sobre os investimentos da Amazon em data centers “verdes” e como a empresa entende a nova política do setor.
Quase 45% de toda a matriz energética brasileira vem de fontes renováveis, se levarmos em conta apenas energia elétrica, isso chega a cerca de 84%, segundo dados da ANEEL. Nesse sentido, Fernanda considera que o Brasil pode se tornar referência no setor de data centers “verdes”. “Temos um potencial enorme de se tornar esse polo de processamento”, disse na entrevista.
Inteligência artificial: empresas, como a Amazon, investem continuamente em infraestrutura para suportar essa tecnologia em expansão (Imagem: Reprodução/YouTube/Amazon)
A IDC estima que o consumo global de eletricidade de data center vai mais que dobrar entre 2023 e 2028. Segundo a especialista, isso gera oportunidades. “Países como o Brasil, onde a gente tem essa matriz enérgica, passam a ser um ponto focal importante”, destacou.
Como a Amazon trabalha para ter data centers sustentáveis?
Um dos pontos esperados para o novo marco dos data centers, é a exigência de que eles sejam “verdes”, ou seja, que tenham um impacto ambiental reduzido. Segundo Fernanda, a Amazon já atingiu esse objetivo em julho de 2024, quando conseguiu equiparar 100% da utilização de energia com contratos de geração de energia renovável.
Fernanda Spinardi (Imagem: Divulgação)
Para isso a empresa conta com iniciativas no Brasil, como um parque solar de 122MW, com investimento de R$ 2 milhões em programas de proteção ambiental durante as fases de construção. Além de um parque eólico de 49,5MW, localizado dentro do Complexo Eólico Seridó, no interior do Rio Grande do Norte.
A líder de gerenciamento mencionou ainda como a Amazon usa IA para otimizar esses projetos. “A gente usa aqui no Brasil uma IA em parceria com uma climate tech para calcular o consumo de água nas comunidades do entorno do rio Tietê e dessa forma a gente ajuda os produtores agrícolas a economizarem o uso de água. Com esse projeto a gente tem a expectativa de devolver 200 milhões de litros de água”.
O marco dos data centers pode mudar o jogo da IA no Brasil?
Como mencionamos, a IA é a principal demanda para o aumento do uso dos data centers atualmente. O Gartner prevê que 40% dos data centers de IA existentes serão operacionalmente limitados pela disponibilidade de energia até 2027. O que limitará o crescimento de novos data centers para GenAI e outros usos a partir de 2026.
A própria Amazon cita clientes que usam data centers com IA no Brasil, como o C6 Bank, que usa a tecnologia da AWS para atender o cliente final, o Pagbank, que trabalha com IA para os donos das maquininhas e até a Natura, que usa a tecnologia para melhorar a busca no e-commerce.
De acordo com a especialista, as iniciativas do governo, se concretizadas, podem ser importantes. “A gente apoia essas discussões de regulamentação e uso responsável de IA e tudo mais. É necessário regular e é necessário que essa regulação seja responsável”, finaliza.
Empresas como Amazon, Microsoft e Google estão operando e construindo centros de dados em algumas das regiões mais secas do mundo, segundo uma investigação conjunta da organização SourceMaterial e do jornal The Guardian. A expansão ocorre em meio a uma crescente demanda por armazenamento em nuvem e inteligência artificial (IA), mas levanta preocupações sobre o impacto nos recursos hídricos de populações já afetadas pela escassez.
Com apoio declarado de Donald Trump, as big techs planejam centenas de novos data centers nos Estados Unidos e em outros continentes, mesmo em locais que enfrentam estresse hídrico. “A questão da água vai se tornar crucial”, alertou Lorena Jaume-Palasí, fundadora da Ethical Tech Society, ao The Guardian. Segundo ela, será difícil garantir resiliência hídrica nessas comunidades à medida que a expansão avança.
Torres de resfriamento de um data center (Imagem: WaitForLight / Shutterstock.com)
Instalações de data centers em áreas críticas e consumo elevado pelas big techs
A análise da SourceMaterial identificou 38 centros de dados ativos e 24 em construção em áreas com escassez hídrica.
As empresas não divulgam os locais com facilidade — tratam-se, muitas vezes, de informações protegidas por sigilo comercial.
Ainda assim, a organização mapeou 632 centros pertencentes à Amazon, Microsoft e Google, o que representa um aumento de 78% no número total de instalações dessas empresas ao redor do mundo.
Boa parte desses centros está sendo erguida em regiões áridas, pois precisam ser construídos longe do mar — a baixa umidade reduz a corrosão dos componentes metálicos, ao contrário da água salgada.
O problema é que essas estruturas demandam grande volume de água para resfriamento dos servidores.
Segundo a própria Microsoft, 42% da água que utiliza provém de áreas com estresse hídrico. A Google declarou 15%. A Amazon não apresentou números globais.
Caso na Espanha evidencia disputa por recursos
Na região de Aragón, no norte da Espanha, a Amazon planeja construir três novos centros de dados próximos a unidades já existentes. Juntas, essas instalações têm licença para consumir 755 mil m³ de água por ano — volume suficiente para irrigar cerca de 233 hectares de milho, uma das principais culturas locais. O cálculo não inclui a água usada para gerar a eletricidade que alimentará os centros.
A empresa também solicitou ao governo regional aumento de 48% no consumo de água das unidades já existentes. A medida provocou reações, com críticas sobre a tentativa de aprovação durante o período natalino. Para a campanha Tu Nube Seca Mi Río (“Sua nuvem está secando meu rio”), a expansão deveria ser suspensa diante da crise hídrica. “Estão usando água demais. Estão usando energia demais”, a porta-voz do movimento, Aurora Gómez, afirmou à reportagem investigativa.
Agricultores também manifestam preocupação. Chechu Sánchez, que cultiva no norte de Aragón, diz temer que a água destinada às plantações seja desviada para os centros de dados. “Eles consomem água — de onde tiram? De você, claro”, disse.
Compensação de água não é compensação de carbono
Diante das críticas, as big techs têm prometido se tornar “water positive” até 2030 — ou seja, devolver à natureza mais água do que consomem. No caso da Amazon, a empresa afirma já compensar 41% de sua utilização em áreas consideradas insustentáveis. No entanto, o modelo é questionado por especialistas, que apontam a diferença entre a lógica do carbono e da água: o impacto hídrico é local e não global, logo não pode ser anulado em outra região.
Nathan Wangusi, ex-gerente de sustentabilidade hídrica da Amazon, deixou a empresa após se posicionar contra esse modelo. “Levantei a questão nos lugares certos: isso não é ético”, declarou. Ele defende que a companhia apoie projetos de acesso à água por princípio, não como estratégia de marketing.
Expansão também atinge o sudoeste dos EUA
Nos Estados Unidos, onde estão localizados o maior número de centros de dados do mundo, o Google lidera a construção em regiões áridas. A empresa tem sete centros ativos em áreas com escassez de água e constrói mais seis. Em Mesa, Arizona, a empresa possui licença para usar até 5,5 milhões de m³ de água por ano, o equivalente ao consumo de 23 mil habitantes. A cidade, que abriga outros centros da Meta e da Microsoft, enfrenta seca extrema.
Vista aérea de East Mesa, no Arizona, um dos estados mais secos dos Estados Unidos (Imagem: Tim Roberts Photography / Shutterstock.com)
“Temos que ser muito protetores em relação ao crescimento de grandes consumidores de água”, alertou a vereadora de Mesa, Jenn Duff. Kathryn Sorensen, professora da Universidade Estadual do Arizona, questionou se o aumento na arrecadação e a geração de empregos justificam o uso intensivo de água. “Cabe aos conselhos municipais analisar cuidadosamente os riscos e benefícios”, disse.
O Google afirma que seus centros de dados em Mesa usarão sistemas de resfriamento por ar, que consomem menos água. A empresa diz adotar uma estratégia chamada “resfriamento consciente do clima”, que busca equilibrar o uso de energia livre de carbono com fontes de água sustentáveis.
Em janeiro, na Casa Branca, Trump anunciou o “Projeto Stargate”, descrito como o maior projeto de infraestrutura de IA da história. O investimento de US$ 500 bilhões reunirá empresas como OpenAI, Oracle, SoftBank e o fundo MGX, com início no Texas. Nenhum detalhe foi divulgado sobre o uso de água nos centros previstos.
Projeto Stargate foi anunciado em janeiro deste ano (Imagem: Robert Way / Shutterstock.com)
Na véspera, a chinesa DeepSeek anunciou um modelo de IA desenvolvido com menor uso de energia e água, em contraste com rivais ocidentais. Já a Microsoft publicou planos para um centro de dados com uso zero de água, enquanto o Google também promete reduzir consumo, embora sem detalhes técnicos sobre o funcionamento dos novos sistemas.
“Vou acreditar quando vir”, afirmou Jaume-Palasí. Segundo ela, a maioria dos centros hoje está migrando do resfriamento por ar para o líquido, mais eficiente no processamento de cargas de IA. “Nem pessoas nem dados sobrevivem sem água”, disse Aurora Gómez. “Mas a vida humana é essencial. Os dados, não.”
As big techs precisam de data centers para desenvolver inteligência artificial e alimentar sistemas em nuvem (além de outros serviços tecnológicos). Os data centers precisam de energia elétrica para funcionar. As concessionárias fornecem essa energia. Há um problema nesse ciclo: as empresas querem expandir seus data centers, mas as concessionárias não conseguem mais dar conta da crescente demanda.
Uma pesquisa da Reuters analisou 13 grandes empresas de energia elétrica dos EUA e descobriu que quase metade delas recebeu pedidos que excederiam sua capacidade de geração. As big techs estão em busca de alguém que as atenda – mas isso pode não ser possível.
Big techs prometeram investir em data centers. Mas será? (Imagem: Ascannio/Shutterstock)
Big techs precisam de data centers, mas podem ficar sem
Como explicamos acima, as big techs precisam dos data centers. Essa infraestrutura funciona como a ‘fábrica’ que alimenta a inteligência artificial, os sistemas em nuvem e, basicamente, tudo no mundo online. Mas toda essa operação requer muita energia.
As empresas querem avançar cada vez mais no desenvolvimento de tecnologia e, para isso, já anunciaram bilhões de dólares para a construção de data centers. Microsoft e OpenAI são algumas delas. Ou seja, mais energia será necessária.
As big techs têm o dinheiro para viabilizar esse aumento na ‘produção’. Porém, na prática, as concessionárias de energia elétrica dos Estados Unidos não conseguirão dar conta da demanda de necessária para concretizar a expansão.
Foi o que mostrou o estudo da Reuters. Das 13 grandes concessionárias de energia elétrica analisadas, quase metade recebeu consultas de empresas de data centers pedindo quantidades de energia que excederiam muito a capacidade de geração atual – e até mesmo a capacidade máxima.
Para você ter uma ideia:
A Sempra disse que sua subsidiária de energia no Texas, a Oncor Electric, que atende a região de Dallas, recebeu solicitações para gerar 119 gigawatts adicionais. Esse número é quatro vezes a capacidade máxima do sistema;
Já a PPL, da Pensilvânia, recebeu solicitações para data centers com mais de 50 gigawatts. A capacidade de geração atual é de 7,2 gigawatt.
Energia elétrica nos EUA pode não dar conta do recado (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
O problema é ainda maior
Para piorar a situação, as big techs estão abordando várias empresas de energia elétrica no mesmo estado ou em estados diferentes sobre o mesmo projeto. Especialistas consultados pela agência afirmaram que isso tem inflado as perspectivas de demanda de energia.
O tamanho gigantesco desses empreendimentos e o sigilo das informações relacionadas a eles complica ainda mais a situação e dificulta na hora de prever a demanda futura.
James Richmond, CEO da e2Companies, uma provedora de sistemas de gerenciamento de energia, explicou. Imagine que três grandes empresas consultem uma concessionária, que se prepara para atender essa demanda. No final, apenas uma delas vai para frente com o projeto e as outras duas desistem.
O resultado pode ser uma insegura generalizada no setor, prejudicando consumidores (como as casas e estabelecimentos na região) com fornecimento instável ou aumento de preços.
Data centers podem não ser mais prioridade (Imagem: Caureem/Shutterstock)
Riscos dos data centers
Diante do sigilo dos projetos e da incerteza sobre se eles realmente sairão do papel, algumas empresas passaram a receber as solicitações somente após a assinatura de um acordo – com uma espécie de garantia ou carta de crédito. É o caso da PPL.
Outra preocupação é que as big techs podem abandonar os projetos, já que eles são caros e levam anos para ficarem prontos. A desistência pode aumentar a insegurança nesse setor e até as taxas de juros.
Como o Olhar Digital reportou recentemente, uma ‘mudança de rota’ em massa pode atingir o setor de tecnologia com as tarifas de Donald Trump. Isso porque as big techs se comprometeram a construir a infraestrutura, mas, com as novas taxas, podem dar prioridade para mudanças mais urgentes. Confira os detalhes aqui.
Os estados dos EUA estão começando a ficar cientes dessa demanda inflada e das perspectivas preocupantes para geração de energia elétrica.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou novas tarifas para produtos importados. A taxação já está afetando o setor de tecnologia no país e deve atrapalhar uma das metas fundamentais do governo estadunidense este ano: a expansão dos data centers.
Essa infraestrutura é essencial para o desenvolvimento de inteligência artificial, mas depende de peças que estarão sujeitas às novas tarifas. O resultado? Os investimentos e esforços nesse sentido devem desacelerar.
Big techs do setor, como Apple, Amazon e Nvidia, já sentiram os efeitos da medida. Saiba mais aqui.
Big techs já estão sentindo os efeitos do anúncio (Imagem: Ascanio/Shutterstock)
Tarifas de Trump devem atrapalhar expansão dos data centers
Trump anunciou tarifas entre 10% e 49%. Nações europeias (20%), China (34%), Índia (26%) e nações asiáticas (como o Vietnã, com 46%) estão entre as principais afetadas.
A medida impactou as big techs estadunidenses, causando quedas expressivas na bolsa de valores. Apesar de estarem nos EUA, as empresas dependem de produtos importados, como peças, e algumas até produzem seus dispositivos internacionalmente, como a Apple (com o iPhone, por exemplo).
A taxação também deve impactar a expansão dos data centers. Os chips semicondutores estão isentos das tarifas, mas, segundo a Reuters, os Estados Unidos planejam impostos adicionais específicos para essa categoria de produtos.
Consultada pela agência de notícias, Gil Luria, analista da DA Davidson, avaliou que os equipamentos usados nos data centers com certeza ficarão mais caros. Outros analistas também afirmaram que os custos para construção dessas infraestruturas aumentarão. O impacto na expansão ainda não está claro.
Trump chamou tarifaço de “independência econômica” dos EUA (Imagem: Chip Somodevilla – Shutterstock)
Data centers estavam nos planos do governo Trump
No início do ano, Donald Trump anunciou investimentos pesados na construção de infraestrutura tecnológica, uma das metas da segunda gestão do republicano.
O projeto Stargate foi o principal: o empreendimento – em conjunto com a OpenAI, SoftBank Group e Oracle – prevê US$ 500 bilhões para 20 data centers no país. O objetivo é ultrapassar as nações rivais na corrida de IA.
Para Luria, isso já era improvável antes. Com as tarifas, “é altamente improvável” que o investimento bilionário se concretize.
Segundo os analistas, mesmo que os chips sigam isentos de taxação, as placas de circuito nos quais eles são vendidos não estão isentos. Ou seja, de qualquer forma, a tarifa seria aplicada. Para se ter uma ideia do impacto econômico disso, só no ano passado, dados da Bernstein estimaram importações de máquinas de processamento em cerca de US$ 200 bilhões, vindas principalmente do México, Taiwan, China e Vietnã.
Infraestrutura é essencial para o desenvolvimento de IA (Imagem: Caureem/Shutterstock)
Mesmo que o governo siga em frente com os investimentos nos data centers, as big techs (que, um dia depois do anúncio, já estão tendo prejuízos) podem reavaliar seus gastos:
De acordo com Abhishek Singh, sócio da empresa de pesquisa Everest Group, as gigantes do setor deverão reorganizar seus investimentos, provavelmente deixando a expansão de lado e direcionando os gastos para prioridades a curto prazo, como proteção de compras e terceirização;
A AMD, fabricante de processadores e placas, disse que está “avaliando os detalhes e quaisquer impactos [das tarifas] em nosso ecossistema mais amplo de clientes e parceiros”;
A Intel, Nvidia e TSMC (de chips) recusaram o pedido de comentário da Reuters. As big techs também não se pronunciaram;
De acordo com Luria, a expectativa é que a Microsoft e Amazon adotem uma abordagem mais cautelosa em relação aos data centers;
As novas taxas também devem impactar os negócios em nuvem das companhias.
Enquanto as ações da Tesla enfrentam uma queda nas últimas semanas, Elon Musk tem se concentrado discretamente em expandir sua presença em supercomputação de IA. Sua startup, xAI, está construindo um data center em Atlanta, que contará com 12.000 GPUs da Nvidia, essenciais para a computação de IA.
Embora seja menor que o projeto “Colossus” em Memphis, que terá 100.000 GPUs, a construção do centro em Atlanta faz parte de uma tendência crescente de construção de data centers no setor de IA, que, apesar de grande em escala, tem recebido pouca atenção pública.
A expansão silenciosa de infraestruturas de IA levanta questões sobre o controle e impacto ambiental dessas instalações, como alerta um artigo do site Fast Company.
Empresas de tecnologia querem mais data centers e vão precisar gastar mais energia, mas esses planos podem causar danos mais altos ao meio ambiente (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)
Falta transparência sobre os impactos ambientais de data centers
Data centers consomem grandes quantidades de água, e, em locais como Memphis, onde a escassez de água é uma preocupação, isso gera um grande impacto.
A xAI já firmou um acordo para usar águas residuais recicladas no resfriamento do data center, mas a transparência com as comunidades locais é limitada, e os impactos ambientais podem ser graves, incluindo o aumento das emissões de carbono.
Além disso, o crescimento dessa infraestrutura de supercomputação pode ser questionado. O lançamento do modelo DeepSeek, mais eficiente em termos de recursos, sugere que o futuro da IA poderia ser menos dependente de recursos do que muitos acreditam.
Isso levanta a dúvida sobre a real necessidade de projetos gigantescos como o de Musk. As comunidades que hospedam esses centros podem pagar um alto preço, seja em termos ambientais ou sociais, enquanto a necessidade desses data centers permanece incerta.
É crucial a aplicação de uma supervisão rigorosa e uma abordagem responsável na expansão de data centers para garantir um desenvolvimento sustentável e transparente.
Elon Musk e a xAI estão expandindo sua influência em instalações de computação de IA, sem sabermos as consequências ambientais dessa participação (Imagem: QubixStudio / Shutterstock.com)
Eles são gigantes silenciosos que guardam praticamente tudo o que fazemos na internet. Agora, os data centers se tornaram líderes dos investimentos no setor de serviços em São Paulo, atraindo quase R$ 40 bilhões em recursos para construção e expansão. É a nova aposta da economia digital no Brasil.
Segundo o Jornal da USP, três gigantes americanas estão por trás dos principais investimentos em data centers no Estado. A CloudHQ colocou R$ 15,6 bilhões na construção de seis prédios em Paulínia. A Microsoft veio logo atrás, com R$ 14,7 bilhões para expandir sua estrutura de nuvem e inteligência artificial. E a Scala, do grupo Digital Bridge, destinou mais de R$ 6 bilhões para crescer ainda mais no campus Tamboré, em Barueri.
Esses aportes fazem parte dos cerca de R$ 102 bilhões anunciados para o setor de serviços paulista entre 2020 e 2024. Os números, levantados pela Fundação Seade, mostram São Paulo se consolidando como um polo estratégico para a infraestrutura tecnológica do país.
Não são só os gringos: empresas brasileiras também estão apostando alto no futuro digital
Além das multinacionais, o setor nacional também entrou na corrida pelos dados. A Takoda, braço da Tivit, vai desembolsar R$ 2 bilhões para construir um novo complexo de data centers em Hortolândia. O investimento reforça o peso de São Paulo como ponto central da infraestrutura tecnológica do país — e, de quebra, da América Latina.
Data centers usam IA, resfriamento líquido e edge computing para suportar a demanda digital crescente (Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock)
Mas nem só de servidores vivem os aportes bilionários. Segundo a Fundação Seade, outras áreas do setor de serviços também vão receber atenção. Atividades como redes hospitalares, pesquisa científica, esportes e até aluguel de veículos estão no radar dos investidores, mostrando que o movimento é amplo e vai além do mundo digital.
Mesmo assim, os data centers continuam no centro da disputa. Em tempos de inteligência artificial, internet das coisas e dependência crescente da nuvem, garantir espaço — físico e estratégico — para processar e guardar dados virou prioridade.
Do Morumbi a Campinas: os bilhões também estão fora dos data centers
Nem só de tecnologia vive o pacote de investimentos. Bairros como Morumbi e Mooca, em São Paulo, vão ganhar novos complexos multiuso. Hospitais renomados, como o São Luiz e o Albert Einstein, também estão abrindo unidades na capital e na região metropolitana.
Data centers lideram os R$ 40 bilhões investidos no setor de serviços em SP, com alta demanda por infraestrutura digital e inteligência artificial (Imagem: Caureem/Shutterstock)
A maior parte dos recursos está concentrada na Grande São Paulo e em Campinas, mas outras regiões também foram contempladas. Sorocaba, o interior paulista e projetos que cruzam várias áreas do Estado fazem parte da lista.
Os aportes mostram que o movimento é amplo: saúde, ciência e infraestrutura dividem espaço com a tecnologia na transformação do mapa de São Paulo.
Nos últimos dez anos, a Google investiu pesadamente para substituir as tradicionais baterias de chumbo-ácido que alimentavam seus data centers pelas baterias de íons de lítio. O objetivo não era apenas aumentar a eficiência energética, mas economizar espaço físico.
Recentemente, a gigante de tecnologia alcançou a incrível marca de 100 milhões de células de íons de lítio para fornecer energia para seus servidores. Essas baterias, se você não se lembra, são encontradas massivamente em celulares, veículos elétricos e outros dispositivos eletrônicos.
Em termos de eficiência energética, a substituição das baterias representa uma verdadeira revolução. Afinal, a empresa afirma que as novas células retêm o dobro de energia em comparação com as antigas.
Não menos importante, as baterias de íons de lítio também ocupam metade do espaço. Isso é importante quando consideramos o custo para construir um novo data center. A desenvolvedora JLL, segundo o TechCruch, estima que sejam necessários pelo menos US$ 125 por quase 0,1 m².
Com a mudança, a empresa conseguiu cortar o número de células necessárias em três quartos. Embora seja surpreendente, quando comparamos com a produção de baterias de íons de lítio pela Panasonic, a figura muda um pouco. Desde 2015, a empresa japonesa fabricou mais de 10 bilhões de células.
Por que isso importa, então? O anúncio da Google demonstra uma tendência na prática: os veículos elétricos tornaram as células de íons de lítio mais viáveis e econômicas também para uso industrial, aumentando sua adoção em diversos setores.
Muito além dos data centers
A revolução das baterias não fica restrita ao mundo corporativo. Em residências, famílias já apostam em grandes baterias capazes de armazenar energia solar extra, garantindo eletricidade mesmo em blecautes.
Braços robóticos montam baterias de lítio: alta tecnologia garantindo precisão e eficiência na produção (Imagem: SweetBunFactory/iStock)
Nos acampamentos, geradores barulhentos movidos a combustível perdem espaço para baterias portáteis, mais silenciosas e menos poluentes.
A inovação chega até ao setor médico: células compactas estão substituindo gelo seco no transporte de amostras biológicas, permitindo controle preciso de temperatura e fornecendo dados detalhados durante todo o trajeto.
Números modestos, impacto gigante
Comparada à produção bilionária de células da Panasonic, a quantidade instalada pelo Google parece pequena. Mas números, isoladamente, não contam toda a história.
Linha de produção de baterias de lítio para carros elétricos. (Imagem: to:guteksk7 / iStock)
O que realmente impressiona é como mesmo quantidades menores dessas baterias têm provocado mudanças significativas em setores inesperados, sinalizando uma transformação tecnológica mais ampla.
Esses avanços discretos demonstram que a verdadeira revolução das baterias não depende apenas do volume produzido, mas sim da capacidade delas de influenciar profundamente diferentes áreas da sociedade.