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Por que é tão difícil prever desastres naturais?

Em um mundo onde eventos climáticos extremos, terremotos, enchentes e incêndios florestais se tornam cada vez mais frequentes, a prever desastres deveria ser uma prioridade constante.

No entanto, mesmo em regiões onde esses eventos são recorrentes, muitas comunidades, governos e até indivíduos ainda enfrentam grandes dificuldades para se preparar adequadamente.

Essa dificuldade não se resume à falta de informação ou de recursos financeiros, mas envolve uma série de fatores sociais, psicológicos e estruturais que tornam a prevenção e a preparação um desafio constante.

Por que é tão difícil estar preparado para desastres?

Deslizamento de terra causado por fortes chuvas na praia de Boiçucanga, cidade de São Sebastião, SP, no Carnaval de 2023. Imagem: Nelson Antoine – Shutterstock

Prever desastres exige não apenas planejamento técnico e logístico, mas também uma mudança cultural profunda, na qual a prevenção é valorizada tanto quanto a resposta emergencial.

No entanto, a natureza humana tende a minimizar riscos futuros e priorizar problemas imediatos. Esse comportamento, somado a políticas públicas muitas vezes reativas e a desigualdades socioeconômicas, cria um cenário em que a preparação eficaz raramente é colocada em prática da forma como deveria.

Subestimação do risco

Um dos fatores mais comuns que dificultam a preparação é a chamada normalização do risco. Comunidades que vivem em áreas propensas a inundações, furacões ou incêndios florestais frequentemente se acostumam com esses eventos e passam a considerá-los parte da rotina.

Esse fenômeno psicológico leva à minimização da gravidade dos riscos e reduz a percepção de urgência para adotar medidas preventivas. Em outras palavras, muitas pessoas acreditam que “da outra vez deu certo, então dessa vez também vai dar”.

Custos e prioridades econômicas

Preparar-se adequadamente para desastres demanda investimentos significativos, seja em infraestrutura, sistemas de alerta precoce, treinamentos comunitários ou criação de planos de evacuação.

Em regiões de baixa renda ou em comunidades já sobrecarregadas por problemas diários, a preparação para um evento que pode ou não ocorrer no futuro acaba sendo vista como um luxo. Governos e cidadãos frequentemente direcionam seus recursos para necessidades mais imediatas, como saúde, educação e segurança, deixando a preparação para desastres em segundo plano.

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Falta de coordenação e informação

(Imagem: Alaskagirl8821/Shuttestock)

Prever desastres de uma forma eficaz, depende de uma comunicação clara e eficiente entre diferentes níveis de governo, organizações de resposta e a população. Em muitos casos, essa coordenação é falha, gerando informações contraditórias, planos desconectados da realidade local ou falta de clareza sobre o que cada pessoa ou entidade deve fazer antes, durante e após o evento. Isso cria um ciclo de desinformação que enfraquece a preparação e gera confusão em momentos críticos.

Distância entre ciência e tomada de decisão

Os avanços científicos em previsão de desastres e modelagem climática são notáveis, mas frequentemente essas informações não chegam aos tomadores de decisão de forma acessível e prática.

Políticos e gestores públicos nem sempre possuem o conhecimento técnico necessário para interpretar dados científicos ou para integrá-los em políticas públicas efetivas. Essa desconexão entre ciência e gestão pública é uma barreira significativa para a criação de estratégias preventivas eficazes.

Desigualdade e vulnerabilidade social

A preparação para desastres também está diretamente relacionada ao nível de vulnerabilidade social. Populações de baixa renda geralmente vivem em áreas de risco, como encostas ou margens de rios, em habitações precárias e com acesso limitado a serviços públicos.

Essas comunidades são as mais afetadas por desastres e, ao mesmo tempo, as menos preparadas para enfrentá-los. A falta de acesso à informação, transporte seguro e recursos financeiros agrava ainda mais essa situação.

Tendência à resposta reativa

Carros destruídos por enchentes no Rio Grande do Sul. Crédito: Maurício Tonetto/Secom RS

Historicamente, a maior parte dos investimentos governamentais em desastres é direcionada à resposta e reconstrução, e não à prevenção. Esse modelo reativo, embora essencial em emergências, perpetua um ciclo de vulnerabilidade: a cada novo evento, os mesmos problemas se repetem, sem que sejam feitas mudanças estruturais para minimizar os impactos futuros.

O papel da memória coletiva

Com o tempo, mesmo desastres de grande magnitude tendem a ser esquecidos por gerações que não os vivenciaram diretamente. Essa perda de memória coletiva enfraquece o senso de urgência e a disposição de investir em prevenção. Para que a preparação se torne parte da cultura de uma sociedade, é necessário manter viva a lembrança dos eventos passados e suas lições.

A preparação para desastres não é apenas uma questão técnica, mas também social, psicológica e política. Enfrentar esse desafio exige mudança de mentalidade em todos os níveis da sociedade, combinada com investimentos consistentes em educação, infraestrutura e redução de desigualdades. Somente assim será possível transformar a cultura de resposta em uma cultura de prevenção.

Com informações de Columbia Climate School.

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Satélite da Nasa vai mudar o jogo na resposta a eventos climáticos

A Nasa está trabalhando em satélites autônomos alimentados por IA que podem operar sem supervisão humana para aprimorar o monitoramento de desastres. Isso pode aprimorar o processamento de imagens em tempo real e acelerar a tomada de decisões — quando se trata do clima, cada segundo importa.

A nova empreitada da agência espacial americana é o Dynamic Targeting, um sistema controlado por IA que permite que os satélites processem dados de imagem a bordo. O equipamento foi desenvolvido em parceria com a startup de inteligência de satélites Ubotica, sediada na Irlanda.

A tecnologia foi testada recentemente durante os incêndios florestais em Los Angeles, nos Estados Unidos, e no período das enchentes históricas de Valência, na Espanha.

Sistema com mediu extensão das enchentes em Valência (Imagem: Nasa/Divulgação)

O sistema foi integrado ao satélite CogniSAT-6, equipado com a plataforma Live Earth Intelligence (LEI) e emparelhado com o SPACE:AI, que permite o processamento de dados de forma autônoma e a transmissão de insights para a Terra em minutos.

No caso da Espanha, o modelo executado a bordo estimou que 21% da região observada estava submersa, fornecendo uma avaliação imediata da gravidade da enchente. Em comparação, os sistemas tradicionais podem levar dias para que os dados brutos completos sejam baixados.

“Esta demonstração tecnológica destaca o papel vital dos satélites inteligentes, autônomos e habilitados por IA no fornecimento de dados críticos em tempo real para auxiliar na mitigação de desastres e, finalmente, salvar vidas”, disse Fintan Buckley, CEO da Ubotica.

Caso a captura de imagem seja prejudicada pela cobertura de nuvens, o sistema de IA alerta os demais satélites para tentarem novamente, eliminando a necessidade de os operadores remarcarem os equipamentos manualmente.

A Ubotica já trabalhou com a Nasa em outro projeto para aplicar o processamento de imagens orientado por IA a bordo da Estação Espacial Internacional. Em 2022, a startup fechou um contrato de US$ 632.000 com o Jet Propulsion Lab para criar o Dynamic Targeting.

Nasa monitorou incêndios florestais na Califórnia no início do ano (Imagem: Nasa/Divulgação)

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Corrida geopolítica

Esse tipo de tecnologia não é novidade do outro lado do mundo, na China. O país asiático já incorporou sistemas de IA para observação da Terra com os satélites Tiantuo e Zhuhai, operados em parceria com a empresa Zhuhai Orbita.

Satélites autônomos auxiliam não só na resposta a desastres climáticos, mas também podem fornecer inteligência estratégica sobre mudanças ambientais, segurança marítima e até movimentos militares.

A Nasa e a Ubotica estão trabalhando em conjunto com agências de defesa nos Estados Unidos e na Europa para proteger ativos marítimos, como cabos submarinos e parques eólicos offshore, além da detecção de atividades suspeitas de embarcações.

“É importante proteger a vasta rede de cabos de comunicação subaquáticos de alta velocidade, pois eles frequentemente estão sujeitos a danos acidentais ou deliberados”, disse Buckley ao site Fast Company. “A chave é identificar e avisar as embarcações antes que qualquer dano ocorra e, se um incidente acontecer, rastrear e responsabilizar o infrator.” 

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