O CEO da Tesla, Elon Musk, prometeu grandes novidades sobre o robotáxi Cybercab e o robô humanoide Optimus durante reunião supresa com funcionários na quinta-feira (20). Ainda na reunião, transmitida ao vivo, o bilionário pede aos funcionários para “segurarem suas ações” da empresa.
Musk animou seus funcionários enquanto a reputação pública da Tesla despenca, observou o Business Insider. Isso se reflete no valor das ações da empresa, que caiu 50% de dezembro de 2024 para cá.
Fabricação ‘revolucionária’ de Cybercabs, legiões de Optimus: as promessas de Musk em reunião na Tesla
Sobre o Cybercab, Musk afirmou que um “processo revolucionário de fabricação” está em andamento, capaz de construir um robô-táxi em “menos de cinco segundos”. Seria como uma “linha de produção de eletrônicos de consumo em alta velocidade”, disse o CEO da Tesla.
Musk afirmou que um “processo revolucionário de fabricação” está em andamento na Tesla para trazer modelos de Cybercab ao mundo (Imagem: Divulgação/Tesla)
Vale lembrar: a Tesla revelou o Cybercab em seu evento “We, Robot” em outubro de 2025. E Musk disse que as pessoas poderiam comprar um por US$ 30 mil (aproximadamente R$ 172 mil) até 2026.
Musk também disse que a empresa precisará criar uma máquina de fundição muito grande. Este parece ser o processo de “gigacasting” que a empresa desenvolvia, mas aparentemente desistiu em 2024.
Já em relação ao robô Optimus, Musk disse que o robô estaria entre os produtos que levariam o valor da Tesla a novas alturas. Os outros produtos seriam o Cybercab e o software autônomo da Tesla, utilizado para o recurso Full Self-Driving (leia-se: piloto automático) dos veículos da marca.
Robô Optimus estará em operação plena em 2025, promete Elon Musk (Imagem: Divulgação/Tesla)
“É algo tão profundo e não há comparação com nada no passado”, disse Musk. Ele afirmou que a Tesla pode produzir cerca de cinco mil robôs Optimus em 2025.
“Acho que literalmente construiremos uma legião, pelo menos uma legião, de robôs este ano. E, provavelmente, dez legiões no próximo ano”, disse o bilionário. Promessas, promessas, promessas.
Nesta sexta-feira (21), o Pentágono deve apresentar a Elon Musk os planos militares dos Estados Unidos para um eventual conflito com a China, segundo informaram dois altos funcionários estadunidenses nesta quinta-feira (20) ao The New York Times.
Outra fonte do jornal afirmou que a apresentação terá foco na China, sem, contudo, revelar mais detalhes. Um quarto funcionário confirmou a presença de Musk no Pentágono na sexta-feira (21), mas também não forneceu informações adicionais.
Conceder a Musk acesso a alguns dos segredos militares mais bem guardados do país representaria ampliação significativa de seu já extenso papel como conselheiro do presidente Donald Trump e líder na iniciativa de redução de gastos e eliminação de pessoas e políticas consideradas indesejáveis pelo governo.
Essa situação também evidencia as questões relativas aos conflitos de interesse envolvendo Musk, visto que ele atua em diversas áreas da burocracia federal enquanto continua à frente de empresas que são importantes contratadas pelo governo. Nesse contexto, o bilionário e CEO de SpaceX e Tesla é um dos principais fornecedores do Pentágono e possui investimentos financeiros expressivos na China.
Bilionário está ganhando cada vez mais poderes (Imagem: Frederic Legrand – COMEO/Shutterstock)
Musk e os planos militares mais bem guardados do mundo
Os chamados planos de guerra do Pentágono, conhecidos no meio militar como O-plans ou planos operacionais, estão entre os segredos mais protegidos das Forças Armadas;
Se um país estrangeiro soubesse como os Estados Unidos planejam lutar contra ele, poderia fortalecer suas defesas e corrigir suas vulnerabilidades, reduzindo, significativamente, a eficácia desses planos;
A apresentação ultrassecreta sobre o plano de guerra contra a China consiste em cerca de 20 a 30 slides, nos quais se expõe como os Estados Unidos conduziria um conflito dessa natureza;
Segundo autoridades que têm conhecimento do assunto, o material abrange desde os primeiros sinais e alertas sobre a ameaça chinesa até as diversas opções de alvos a serem atingidos, em determinado período, que seriam submetidos à decisão do presidente Trump.
Um porta-voz da Casa Branca não respondeu a e-mail do Times que pedia esclarecimentos sobre o objetivo da visita, como ela foi organizada, se o presidente tinha ciência da mesma e se isso suscitaria dúvidas quanto a conflitos de interesse. A administração não informou se Trump assinou termo de isenção de conflito de interesses para Musk.
Poderes (quase) ilimitados
Após a publicação da reportagem, Sean Parnell, o principal porta-voz do Departamento de Defesa, afirmou, em comunicado: “O Departamento de Defesa está entusiasmado em receber Elon Musk no Pentágono na sexta-feira. Ele foi convidado pelo secretário Hegseth e está apenas visitando.”
O encontro ressalta o duplo papel extraordinário desempenhado por Musk, que, além de ser o homem mais rico do mundo, recebeu amplos poderes do presidente Trump.
Musk possui autorização de segurança e o secretário de Defesa, Pete Hegseth, pode decidir quem tem acesso às informações sobre o plano. Entretanto, compartilhar muitos detalhes técnicos com Musk é questão à parte.
De acordo com os oficiais, o secretário Hegseth, o almirante Christopher W. Grady, presidente interino do Estado-Maior Conjunto, e o almirante Samuel J. Paparo, comandante do Comando Indo-Pacífico, estão programados para apresentar a Musk os detalhes do plano dos EUA para conter a China em caso de conflito militar.
Planos operacionais para contingências importantes, como uma guerra com a China, são extremamente complexos para quem não possui vasta experiência em planejamento militar. Devido à sua natureza técnica, geralmente, os presidentes recebem apenas os contornos gerais do plano e não o documento completo. Ainda não está claro quantos detalhes Musk desejará ou precisará conhecer.
Segundo autoridades próximas ao assunto, Hegseth recebeu parte da apresentação sobre o plano de guerra contra a China na semana passada e outra parte na quarta-feira (19).
Não ficou claro qual foi o motivo para conceder a Musk uma apresentação tão sensível. Ele não faz parte da cadeia de comando militar, nem é conselheiro oficial de Trump em questões militares relacionadas à China.
Entretanto, existe possível razão para que o bilionário precise conhecer certos aspectos do plano de guerra. Se Musk e sua equipe de redução de custos do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês) pretendem cortar o orçamento do Pentágono de forma responsável, eles podem necessitar saber quais sistemas de armas o Pentágono planeja utilizar em eventual conflito com a China, explana o Times.
Por exemplo, considere os porta-aviões. Reduzir a produção futura desses navios poderia economizar bilhões de dólares, recursos que poderiam ser investidos em drones ou outras armas. Contudo, se a estratégia de guerra dos EUA depende do uso inovador dos porta-aviões para surpreender a China, desativar navios existentes ou interromper a produção de novos pode comprometer esse plano.
Preparo para conflito com a China e gastos militares astronômicos
O planejamento para uma guerra com a China tem sido preocupação constante no Pentágono há décadas, muito antes de um confronto com Pequim se tornar opinião consolidada no Congresso. Os Estados Unidos estruturaram suas Forças Aéreas, Marinha e Forças Espaciais — e, mais recentemente, também os seus Marines e Exército — com a possibilidade de conflito com os chineses em mente.
Críticos afirmam que o setor militar investiu demais em sistemas caros e de grande porte, como caças e porta-aviões, e de menos em drones de médio alcance e defesas costeiras. No entanto, para que Musk possa reorientar os gastos do Pentágono, ele precisa saber quais equipamentos o setor militar pretende utilizar e para qual finalidade.
O bilionário já chegou a defender que o Pentágono pare de adquirir itens de alto custo, como os caças F-35, fabricados por um de seus concorrentes na área de lançamentos espaciais, a Lockheed Martin, em programa que custa aos Estados Unidos mais de US$ 12 bilhões (R$ 67,94 bilhões) por ano.
Por outro lado, os amplos interesses empresariais de Musk tornam seu acesso a segredos estratégicos sobre a China uma questão séria, do ponto de vista ético. Autoridades afirmam que as revisões dos planos de guerra contra a China têm dado ênfase à atualização das estratégias de defesa contra ataques espaciais. A China desenvolveu um conjunto de armas capazes de atingir satélites dos EUA.
Embora as constelações de satélites Starlink de baixa órbita, de propriedade de Musk, sejam consideradas mais resilientes do que os satélites convencionais, ele pode ter interesse em saber se os Estados Unidos conseguiriam proteger seus satélites em conflito com os asiáticos.
Participar de uma sessão ultrassecreta sobre a ameaça chinesa, ao lado de alguns dos mais altos funcionários do Pentágono e das Forças Armadas dos EUA, seria oportunidade extremamente valiosa para qualquer contratada de defesa que deseje fornecer serviços ao setor militar.
O líder do DOGE poderia, assim, obter insights sobre novas tecnologias que o Pentágono possa vir a necessitar e que a SpaceX, onde ele continua atuando como CEO, poderia oferecer.
Embora contratadas que trabalham em projetos relacionados ao Pentágono, geralmente, tenham acesso a certos documentos de planejamento de guerra – mas somente após sua aprovação –, executivos individuais, raramente, conseguem acesso exclusivo a altos funcionários do Pentágono para apresentação desse tipo, conforme afirmou Todd Harrison, pesquisador sênior do American Enterprise Institute, que se dedica à estratégia de defesa, ao Times.
“Musk participando de uma apresentação de planejamento de guerra?” afirmou Harrison. “Conceder ao CEO de uma única empresa de defesa um acesso exclusivo pode servir de base para protestos contratuais e configura verdadeiro conflito de interesses.”
A SpaceX já recebe bilhões de dólares do Pentágono e de agências de inteligência para ajudar os Estados Unidos a construir novas redes de satélites militares, com o objetivo de enfrentar as crescentes ameaças militares da China. A empresa espacial lança a maioria desses satélites militares a bordo de seus foguetes Falcon 9, que decolam de bases militares estabelecidas pela empresa na Flórida (EUA) e na Califórnia (EUA).
Além disso, a empresa já recebeu centenas de milhões de dólares do Pentágono, que, atualmente, depende fortemente da rede de comunicações via satélite da Starlink (cuja dona é a SpaceX) para transmitir dados de militares ao redor do mundo.
Elon Musk, dono de seis empresas, incluindo a Tesla, garantiu US$ 13 bilhões em contratos federais nos últimos cinco anos. Com Trump no poder, sua influência no governo só cresce (Imagem: bella1105/Shutterstock)
Em 2024, a SpaceX foi contemplada com, aproximadamente, US$ 1,6 bilhão (R$ 9,05 bilhões) em contratos com a Força Aérea. Esse valor não inclui os gastos classificados que o Escritório Nacional de Reconhecimento investe na empresa para a construção de nova constelação de satélites de baixa órbita, destinada a espionagem contra a China, Rússia e outras adversárias.
Trump já propôs a criação de novo sistema militar, denominado Golden Dome, sistema de defesa antimísseis baseado no Espaço que remete às iniciativas do presidente Ronald Reagan (cujo sistema “Star Wars” nunca foi totalmente concretizado).
A percepção de ameaças de mísseis vindos da China — seja de armas nucleares, mísseis hipersônicos ou mísseis de cruzeiro — foi um dos principais motivos que levaram Trump a assinar ordem executiva recente, instruindo o Pentágono a iniciar os trabalhos sobre o Golden Dome.
Mesmo o simples planejamento e construção dos primeiros componentes do sistema deverá custar dezenas de bilhões de dólares, segundo autoridades do Pentágono, o que, provavelmente, abrirá grandes oportunidades de negócio para a SpaceX, que já fornece lançamentos de foguetes, estruturas de satélites e sistemas de comunicação de dados baseados no Espaço, todos necessários para o Golden Dome.
Em paralelo, Musk tem sido alvo de investigações conduzidas pelo auditor-geral do Pentágono sobre possíveis descumprimentos relacionados à sua autorização de segurança ultrassecreta.
Essas investigações tiveram início no ano passado, após reclamações de funcionários da SpaceX junto a órgãos governamentais, que alegaram que Musk e outros membros da empresa não estariam reportando, adequadamente, contatos ou conversas com líderes estrangeiros.
Antes do final da administração Biden, autoridades da Força Aérea iniciaram sua própria revisão, após questionamentos de senadores democratas, que afirmaram que Musk não estava cumprindo os requisitos para a autorização de segurança.
De fato, a Força Aérea havia negado pedido de Musk para obter autorização de segurança de nível ainda mais elevado, o chamado Special Access Program – destinado a programas ultrassecretos –, alegando riscos de segurança associados ao bilionário.
A importância da SpaceX para o Pentágono chegou a tal ponto que o governo chinês passou a considerar a empresa uma extensão das Forças Armadas dos Estados Unidos.
Um artigo, intitulado “Militarização do Starlink e Seu Impacto na Estabilidade Estratégica Global”, foi publicado no ano passado por uma universidade chinesa de defesa, conforme tradução realizada pelo Center for Strategic and International Studies.
Além disso, Musk e Tesla – empresa de veículos elétricos sob seu controle – mantêm forte dependência da China, onde opera uma das principais fábricas da montadora, em Xangai. Inaugurada em 2019, essa instalação de última geração foi construída com autorização especial do governo chinês e, atualmente, responde por mais da metade das entregas globais da Tesla.
No ano passado, a empresa informou, em registros financeiros, que possuía acordo de empréstimo de US$ 2,8 bilhões (R$ 15,85 bilhões) com bancos chineses para despesas de produção.
Em público, Musk tem evitado críticas a Pequim e demonstrado disposição para colaborar com o Partido Comunista Chinês. Em 2022, ele escreveu coluna para a revista da Administração do Ciberespaço da China – órgão de censura do país – enaltecendo suas empresas e suas missões de aprimorar a humanidade.
Nesse mesmo ano, o bilionário afirmou ao The Financial Times que a China deveria receber algum controle sobre Taiwan, sugerindo a criação de “zona administrativa especial para Taiwan que fosse razoavelmente aceitável”, comentário que irritou políticos da ilha independente. Na mesma entrevista, Musk também destacou que Pequim exigiu garantias de que ele não venderia a Starlink na China.
No ano seguinte, durante conferência de tecnologia, Musk chegou a se referir à ilha democrática como “parte integrante da China que, de forma arbitrária, não faz parte da China”, comparando a situação entre Taiwan e China à relação entre Havaí e Estados Unidos.
No X, que ele mesmo administra, Musk, frequentemente, elogia a China, afirmando que o país é, “de longe”, líder mundial em veículos elétricos e energia solar, além de elogiar seu programa espacial por ser “muito mais avançado do que se imagina”. Ele também tem incentivado visitas ao país e manifestado abertamente sua crença em aliança inevitável entre Rússia e China.
“Há três anos, este é o carro que integra nossa família – um verdadeiro sonho“, como afirma Ben Kilbey à BBC enquanto exibe seu reluzente TeslaModel Y, de um branco perolizado.
Ben é um entusiasta declarado dos veículos elétricos. À frente de uma empresa de comunicação que promove negócios sustentáveis no Reino Unido, ele conta que chegou o momento de vender o Model Y, motivado pelo seu descontentamento com as atitudes de Elon Musk, CEO da Tesla. Em especial, Ben repudia a forma como Musk lidou com a dispensa de funcionários do governo dos EUA.
“Não apoio a polarização nem comportamentos desprovidos de empatia. Existem maneiras de agir sem excluir ou desmerecer as pessoas” , explica Ben, reforçando seu desagrado com atitudes depreciativas.
Musk possui várias tarefas e tem dificuldade em gerir tudo (Imagem: Frederic Legrand – COMEO/Shutterstock)
Essa postura se insere em movimento mais amplo de contestação às atitudes de Musk, que ganhou força desde que o executivo passou a comandar o controverso Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), responsável por reduzir os gastos do governo federal.
Além disso, Musk se envolveu em política internacional, participando de um vídeo em comício do partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) antes das eleições parlamentares, e promovendo ataques online contra políticos britânicos, incluindo o primeiro-ministro Keir Starmer. Para alguns críticos, essas ações ultrapassaram todos os limites.
Manifestantes se reuniram em frente a diversas concessionárias da Tesla, não só nos EUA, mas, também, no Canadá, Reino Unido, Alemanha e Portugal. Embora a maioria dos protestos tenha sido pacífica, houve episódios de vandalismo envolvendo showrooms, estações de recarga e veículos – com alguns carros incendiados em incidentes isolados na França e na Alemanha.
Nos Estados Unidos, o Tesla Cybertruck – a caminhonete metálica de design angular – tornou-se alvo especial do sentimento anti-Musk. Diversos vídeos nas redes sociais mostram o veículo pichado com suásticas, coberto de lixo ou até utilizado como rampa de skate.
O presidente dos EUA, Donald Trump, foi rápido em demonstrar apoio à Tesla, permitindo que a empresa exibisse seus carros em frente à Casa Branca e anunciando sua intenção de adquirir um. Segundo ele, os ataques violentos aos showrooms deveriam ser tratados como “terrorismo doméstico”.
Musk, por sua vez, respondeu de forma enfática: “Esse nível de violência é insano e profundamente errado”, enfatizou em entrevista à Fox News, destacando que a Tesla fabrica apenas carros elétricos e não merece tais agressões.
Ainda é difícil mensurar exatamente o impacto dessas controvérsias sobre o desempenho da Tesla – e até que ponto as opiniões de Musk, bem como seu envolvimento com o governo Trump, possam ter afetado a marca e afastado alguns consumidores tradicionais de veículos elétricos. Se esse for o caso, resta saber se a Tesla conseguirá manter sua trajetória de sucesso enquanto Musk permanece à frente dela.
Tesla: uma história de transformação
Há cerca de 20 anos, a Tesla era apenas uma pequena startup no Vale do Silício, com equipe reduzida e grandes sonhos de revolucionar a indústria automobilística;
Hoje, a marca é líder global em vendas de veículos elétricos, com imensas fábricas espalhadas pelo mundo e é reconhecida por demonstrar que os carros elétricos podem ser rápidos, potentes, divertidos e práticos;
Musk, o principal rosto da empresa, impulsionou essa transformação desde que se juntou à Tesla em 2004, atuando como presidente e principal financiador, e assumiu o cargo de CEO quatro anos depois;
Sob sua liderança, a Tesla se tornou pioneira ao colocar os veículos elétricos no mercado de massa, incentivando outros fabricantes a investirem na tecnologia e aumentando a conscientização sobre o tema.
É impressionante recordar que, não muito tempo atrás, os veículos elétricos eram vistos como lentos, sem graça e com autonomia limitada. O lançamento do Tesla Model S em 2012, com desempenho comparável ao de um carro esportivo e autonomia superior a 400 quilômetros, foi crucial para mudar essa percepção e impulsionar o crescimento acelerado do setor.
Hoje, a Tesla não se limita a produzir automóveis. A empresa investe fortemente em sistemas de direção autônoma, com o objetivo de lançar frotas de robô-táxis sem motorista. Também expandiu sua atuação para o armazenamento de energia e está desenvolvendo um robô humanoide, batizado de Optimus.
Assim como Steve Jobs se tornou sinônimo da Apple, Musk encarna a marca, sempre presente em eventos e lançamentos, e possui uma legião de admiradores. Contudo, recentemente, o executivo também ganhou notoriedade por difundir suas opiniões políticas por meio do X, enquanto a própria Tesla enfrenta desafios cada vez maiores.
Apesar das dificuldades, o Model Y foi o veículo mais vendido no ano passado (Imagem: Artistic Operations/Shutterstock)
Desafios e queda nas vendas
Embora o Model Y tenha sido o carro mais vendido do mundo no último ano, as vendas totais da Tesla caíram pela primeira vez em mais de uma década, passando de 1,81 milhão para 1,79 milhão de unidades. Mesmo que o declínio seja pequeno, em uma empresa orientada para o crescimento, essa redução, acompanhada de queda no lucro anual, já serve de alerta.
O início deste ano foi especialmente complicado na Europa, onde os novos registros de veículos caíram 45% em janeiro de 2024 em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em fevereiro, os principais mercados europeus novamente registraram declínios, com exceção do Reino Unido, que teve aumento de 21% nas vendas, e a Austrália. Paralelamente, as remessas dos carros fabricados na China – destinados tanto ao mercado interno quanto ao externo – sofreram queda de mais de 49% no mesmo período.
No começo de março, o analista Joseph Spak, do UBS, previu queda de 5% nas vendas globais da Tesla para este ano, contrariando as expectativas de crescimento de 10%. Essa previsão provocou queda brusca de 15% no valor das ações em um único dia, contribuindo para desvalorização de 40% desde o início do ano.
Pesquisa realizada pela Morning Consult Intelligence aponta que as atitudes de Musk têm prejudicado a Tesla, principalmente na União Europeia (UE) e no Canadá, embora não tenham o mesmo impacto na China, um dos maiores mercados da empresa.
Nos EUA, a situação é mais complexa, pois muitos consumidores aprovam os cortes nos gastos do governo promovidos pelo DOGE, mas a pesquisa ressalta que Musk pode estar afastando compradores de alta renda, colocando a Tesla em desvantagem frente a outros concorrentes.
A Tesla não comentou sobre a queda nas vendas em resposta às indagações da BBC. Entretanto, especialistas acreditam que os problemas enfrentados pela empresa vão além das controvérsias envolvendo a imagem de seu CEO.
Inovação estagnada e concorrência crescente
A linha atual de modelos da Tesla, que já foi considerada revolucionária, hoje, parece perder seu brilho. O Model S, lançado em 2012, e o Model X, em 2015, já não surpreendem como antes. Mesmo os mais recentes e acessíveis Model 3 e Model Y começam a parecer desatualizados em mercado cada vez mais competitivo.
Segundo Stephanie Valdez Streaty, diretora de insights de mercado na Cox Automotive, a única novidade significativa foi o lançamento da Cybertruck – modelo ainda de nicho –, e as atualizações no Model Y não geraram grande repercussão.
Peter Wells, diretor do Centro de Pesquisa do Setor Automotivo da Universidade de Cardiff (País de Gales), observa que a falta de inovação na linha de produtos pode ser um dos principais entraves para a Tesla, sugerindo que Musk deveria buscar novas direções.
A concorrência vem de diversos lados. Fabricantes tradicionais, como Kia e Hyundai, estão investindo fortemente na transição para veículos elétricos e ganhando reputação pela qualidade de seus carros movidos a bateria.
Simultaneamente, uma série de novas marcas chinesas, como BYD, Xpeng e Nio, está emergindo – oferecendo desde modelos com excelente desempenho e preços competitivos até veículos sofisticados focados no segmento de luxo e tecnologia de ponta. Valdez Streaty destaca que os incentivos e subsídios na China têm impulsionado essas empresas, representando ameaça significativa não só para a Tesla, mas para todo o setor.
Essa ameaça foi evidenciada em meados de março, quando a BYD anuncioudesenvolvimento de sistema de carregamento ultrarrápido que promete fornecer 400 quilômetros de autonomia em apenas cinco minutos, superando a capacidade da rede de supercarregadores da Tesla.
Lançamento da Cybertruck foi o que mais movimentou o mercado da empresa nos últimos anos (Imagem: Mike Mareen/Shutterstock)
Durante as teleconferências de resultados da Tesla, Musk enfatizou suas prioridades no desenvolvimento de veículos autônomos. Em janeiro, ele afirmou que um serviço de robô-táxi estaria operando no Texas (EUA) até junho, o que gerou ceticismo entre analistas, lembrando promessas similares feitas em 2019, quando Musk previu um milhão de Teslas capazes de operar como táxis autônomos.
Enquanto isso, o sistema Full Self Driving (FSD) da Tesla ainda requer que o motorista permaneça atento o tempo todo. Jay Nagley, da consultoria Redspy, critica a repetição dessas promessas, afirmando que, a cada ano, surge uma nova garantia de que os carros autônomos estão chegando – mas eles parecem nunca se materializar.
A situação levanta uma questão: será que Musk está realmente conseguindo conciliar todas as suas atividades? A Tesla precisa de uma liderança forte e focada, mas o CEO, atualmente, divide sua atenção entre diversos empreendimentos – como o X, a empresa de inteligência artificial (IA) xAI e a companhia espacial SpaceX, que, recentemente, enfrentou problemas com os lançamentos do foguete Starship.
Em entrevista à Fox Business, quando questionado sobre como consegue administrar tantas responsabilidades, Musk respondeu: “Com grande dificuldade”.
Peter Wells ressalta que é complicado identificar até que ponto Musk está diretamente envolvido nas decisões estratégicas da Tesla, como o posicionamento de produtos e a localização de fábricas. Se ele é o responsável por essas escolhas fundamentais, é imprescindível que a liderança seja 100% comprometida e tenha profundo conhecimento do setor automotivo.
Desde sua entrada na empresa, o controle de Musk na Tesla tem sido inquestionável. Atualmente, ele permanece como o maior acionista individual, com participação de 13% – avaliada em mais de US$ 95 bilhões (R$ 537,9 bilhões, na conversão direta) – equivalente às somas combinadas de gigantes do investimento, como Vanguard e Blackrock, enquanto outras instituições, como State Street Bank e Morgan Stanley, mantêm participações menores.
Para os investidores, embora as recentes quedas no preço das ações tenham sido desagradáveis, o valor atual ainda está quase 30% acima do registrado há um ano, e o declínio recente apenas compensou o crescimento acentuado observado após as eleições, que, praticamente, dobrou o valor de mercado da empresa.
Pedidos pela saída de Musk
Hoje, a Tesla é avaliada em mais de 100 vezes seus lucros, múltiplo muito superior ao de concorrentes, como Ford, General Motors (GM) e Toyota, o que indica que os investidores continuam depositando grandes expectativas em avanços tecnológicos e crescimento acelerado.
No entanto, Jay Nagley observa que a empresa está sendo valorizada como se dominasse tanto o mercado de veículos elétricos quanto o futuro dos robô-táxis e carros autônomos – cenários que parecem cada vez mais distantes diante da crescente força dos fabricantes chineses.
Embora os principais investidores não estejam se mobilizando por mudanças imediatas, alguns críticos, como o gerente de fundos de investimento Ross Gerber, chegaram a pedir a renúncia de Musk.
Especialistas, por sua vez, acreditam que a Tesla se beneficiaria enormemente de uma nova liderança. Matthias Schmidt, da consultoria Schmidt Automotive Research, defende que um novo CEO seria “a melhor solução para a empresa neste momento”, eliminando a “contaminação tóxica” associada a Musk, resolvendo os conflitos de interesse ligados ao seu cargo no DOGE e permitindo dedicação integral ao negócio automotivo.
Peter Wells conclui que a Tesla precisa urgentemente de alguém com sólida experiência no setor, capaz de racionalizar as operações e orientar a empresa rumo à nova fase de crescimento.
Concorrência de chinesas, como a BYD, e de outras montadoras, é outro problema para a Tesla (Imagem: ssi77/Shutterstock)
Em suma, enquanto a Tesla segue sua trajetória como líder mundial em veículos elétricos, os desafios impostos pela estagnação de sua linha de produtos, a intensa concorrência internacional e as controvérsias envolvendo seu carismático – porém polêmico – CEOlevantam dúvidas sobre a continuidade desse sucesso.
A resposta para o futuro da empresa pode depender, em grande parte, de renovação na liderança e de foco mais concentrado no setor automotivo.
A Tesla tem sido alvo de uma série de protestos violentos nos Estados Unidos nas últimas semanas. A situação tem gerado preocupação e, por conta disso, as autoridades norte-americanas já falam em atos de “terrorismo”.
O movimento “Tesla Takedown” tem como objetivo expressar o descontentamento com o papel de Elon Musk dentro da Casa Branca. O empresário foi um dos principais apoiadores de Donald Trump na campanha eleitoral e hoje chefia o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).
Veículos foram incendidos
Nos últimos dias, houve registro de Cybertrucks incendiados, balas e coquetéis molotov disparados contra showrooms da Tesla e outros ataques a propriedades da empresa. Nesta terça-feira (18), um novo caso de violência aconteceu em Las Vegas.
Pelo menos cinco veículos foram danificados, sendo dois deles completamente consumidos pelas chamas, de acordo com o Departamento de Polícia Metropolitana da cidade. Também foram feitas pichações nas portas do prédio com a palavra “Resist” (resistir em português).
A procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, condenou os episódios e afirmou que o Departamento de Justiça já acusou várias pessoas pelos incidentes. Ela chamou os protestos de “terrorismo doméstico” e prometeu combater os crimes.
Em publicação no X (antigo Twitter), Elon Musk compartilhou o vídeo do ato de vandalismo registrado em Las Vegas e lamentou os ataques. Ele disse que “a Tesla só faz carros elétricos e não fez nada para merecer esses ataques malignos”.
This level of violence is insane and deeply wrong.
Tesla just makes electric cars and has done nothing to deserve these evil attacks. https://t.co/Fh1rcfsJPh
Trump nomeou Musk para um posto na Casa Branca (Imagem: bella1105/Shutterstock)
Participação de Musk no governo dos EUA é motivo de protesto
Os protestos contra a Tesla são motivados pela aproximação entre Musk e Trump.
O bilionário é criticado por promover, a pedido do presidente, cortes de funcionários do governo dos EUA, além do encerramento de contratos de financiamento de programas humanitários ao redor do mundo.
Manifestações pacíficas já ocorreram em diversas concessionárias e fábricas da empresa na América do Norte e na Europa.
Além disso, alguns donos de modelos da fabricante de veículos elétricos prometeram vender os carros ou colaram adesivos de protesto contra o CEO neles.
No entanto, nas últimas semanas, alguns atos de vandalismo foram registrados.
Desde a compra do X (então Twitter) por Elon Musk, em 2022, a rede social perdeu valor de mercado. Uma nova avaliação de investidores nesta semana apresentou uma reviravolta: a plataforma voltou a ser avaliada em US$ 44 bilhões, mesmo valor pago pelo bilionário na aquisição.
De acordo com uma reportagem do Financial Times, a valorização veio depois de rodadas de negociação com investidores. Já segundo a Bloomberg, o próprio Musk poderia estar envolvido nisso.
X chegou a ter quedas de 80%, mas se recuperou (Imagem: rafapress/Shutterstock)
X voltou ao valor bilionário de antes
Elon Musk pagou US$ 44 bilhões (mais de R$ 250 bilhões, na cotação atual) pela compra do Twitter em 2022. Desde então, a empresa saiu da bolsa de valores e parou de divulgar esse tipo de dado.
Em setembro de 2024, a Fidelity, uma das investidoras do X (como foi renomeado), estimou que o valor da plataforma teria caído quase 80% em relação ao que Musk pagou.
Em uma reviravolta impressionante após rodadas de negociação, a rede social parece ter se recuperado da ‘crise’r. Um dos motivos para isso pode ser a reeleição de Donald Trump, que é aliado de Musk. Outro é que os investidores endividados após a aquisição inicial do X pelo bilionário finalmente conseguiram vender suas dívidas.
Elon Musk pode ter dado uma ajudinha, com investimentos milionários (Imagem: Frederic Legrand/Shutterstock)
Elon Musk deu uma ajudinha no X
Segundo a Bloomberg, além dos US$ 44 bilhões pagos pela compra, Elon Musk teria investido mais US$ 150 milhões (cerca de R$ 853 milhões, na cotação atual) em participações minoritárias do X;
A informação foi revelada no relatório anual de 2024 da empresa saudita Kingdom Holding, que investe na plataforma desde 2011 (e se manteve, mesmo depois da compra);
Ainda de acordo com a companhia, Musk já detinha 74% da empresa – e estava disposto a investir ainda mais.
Nas últimas semanas, membros do conselho e executivos da Tesla, em resposta à queda nas ações da empresa, venderam milhões de dólares em ações, conforme registros apresentados à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC).
Desde fevereiro, quatro altos executivos da Tesla se desfizeram de mais de US$ 100 milhões em ações.
Um dos primeiros a realizar essa venda foi James Murdoch, ex-aliado de Elon Musk e filho do magnata Rupert Murdoch, que, como membro do conselho da Tesla desde 2017, vendeu cerca de US$ 13 milhões em ações no dia 10 de março.
A venda coincidiu com uma queda acentuada nas ações da Tesla, que experimentaram o maior declínio em um único dia em cinco anos.
Executivos se desfazendo de ações
Murdoch exerceu opções de ações para comprar 531.787 ações que estavam programadas para expirar em 2025, e a venda foi realizada para cobrir o custo dessa operação.
Além dele, Kimbal Musk, irmão de Elon Musk e também membro do conselho, vendeu 75.000 ações no valor aproximado de US$ 27 milhões no mês passado.
Robyn Denholm, presidente do conselho, foi outro executivo que se desfez de uma grande quantidade de ações, vendendo mais de US$ 75 milhões em duas transações realizadas nas últimas cinco semanas, conforme mostram os registros federais.
A Tesla teve uma queda de quase 50% no valor das ações desde dezembro – Imagem: Milos Ruzicka/Shutterstock
Essas vendas foram realizadas como parte de um plano de vendas predeterminado, o que é comum para evitar a percepção de negociação com base em informações privilegiadas.
Essas movimentações ocorreram em um momento de turbulência para a Tesla, com as ações da empresa caindo quase 50% desde o pico de meados de dezembro.
Especialistas sugerem que, embora as vendas de ações possam refletir preocupações pessoais financeiras dos executivos, elas também podem indicar que alguns dos insiders acreditam que as ações estão supervalorizadas ou alcançaram um preço justo.
No entanto, como explicou Jay Ritter, professor de finanças da Universidade da Flórida, um plano de venda predeterminado, como o adotado por Denholm, é uma prática comum e não deve ser interpretado como um sinal negativo em relação às perspectivas da empresa.
Essas vendas geraram preocupações entre acionistas e fundos de pensão, com alguns pedindo a Elon Musk que dedicasse mais atenção à gestão da Tesla, ao invés de focar em seus esforços governamentais, como os cortes de gastos no recém-criado Departamento de Eficiência Governamental.
Montadora de Elon Musk vive momento complicado (Imagem: Kittyfly/Shutterstock)
Após andar em um Tesla Model S, o presidente Trump prometeu comprar um, seguido por Sean Hannity, um apresentador da Fox News nos EUA, declaradamente conservador, que também adquiriu um Model S Plaid para apoiar a montadora.
Essa movimentação surge em meio à reação conservadora às ações de Elon Musk, com o objetivo de atrair consumidores republicanos e independentes, devido ao boicote crescente de liberais à Tesla após o apoio de Musk a Trump.
No entanto, analistas acreditam que essa estratégia pode ter um impacto limitado, conforme explica uma matéria do jornal The New York Times.
Apoio de conservadores à Tesla tem impactado nas vendas da montadora (Imagem: Kittyfly/Shutterstock)
Embora os conservadores se voltem mais para a Tesla, os dados mostram uma queda significativa no interesse dos democratas pela marca desde que Musk comprou o Twitter e apoiou Trump. Atualmente, há mais compradores republicanos do que democratas interessados nos veículos da Tesla.
Tesla com imagem arranhada
Especialistas indicam que a queda nas vendas da Tesla é largamente atribuída às declarações e comportamentos de Musk.
Mesmo sendo líder de mercado de veículos elétricos, a Tesla viu uma redução de 5,6% nas vendas nos EUA em 2024.
A imagem da marca, que já foi amplamente apreciada, estaria se deteriorando, especialmente entre os democratas, tornando-se difícil para a montadora recuperar seu apelo sem superar a polarização política que envolve Musk.
Embora conservadores como Trump e Hannity possam ter o poder de influenciar um nicho de consumidores, especialistas duvidam que consigam convencer americanos de classe média, considerando especialmente a contradição entre suas críticas anteriores a carros elétricos e políticas climáticas.
Declarações e posições políticas de Elon Musk, CEO da Tesla, também estariam prejudicando as vendas da montadora (Imagem: Muhammad Alimaki / Shutterstock.com)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu escalar a guerra comercial global ao anunciar a aplicação de tarifas contra todos os países do mundo. No entanto, esta medida está causando preocupação até mesmo nos principais aliados do republicano.
Após manifestação da Tesla pedindo a revisão destas taxações, por medo de que isso aumente os custos de importação de veículos elétricos, outra empresa de Elon Musk adotou um posicionamento semelhante: a SpaceX, dona da rede Starlink.
Tarifas atrapalham operações da Starlink
A empresa alertou a Casa Branca de que as barreiras comerciais podem afetar seu serviço de comunicações via satélite em países estrangeiros.
A companhia argumenta que os concorrentes não enfrentam custos de importação no exterior.
Já a SpaceX precisa pagar a governos estrangeiros pelo acesso ao espectro, taxas de importação sobre equipamentos Starlink e outras taxas regulatórias, que inflacionam “artificialmente” os custos operacionais no exterior.
Por isso, a cobrança de tarifas retaliatórias por outros governos podem inviabilizar os serviços.
Starlink reclama das cobranças feitas por governos estrangeiros (Imagem: Ssi77/Shutterstock)
A Starlink opera em mais de 120 países em todo o mundo. A empresa descreveu os requisitos como uma “barreira comercial protecionista não tarifária”, em uma carta ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA.
Segundo a companhia, “essas políticas anticompetitivas têm sido usadas por operadoras estrangeiras para bloquear ou retardar a SpaceX de fornecer um serviço de melhor qualidade e menor custo aos clientes nesses países”.
Trump nomeou Musk para um cargo na Casa Branca (Imagem: bella1105/Shutterstock)
Lembrando que Musk é um dos principais aliados de Trump. O empresário, inclusive, assumiu um cargo na Casa Branca. Ele chefia o chamado Departamento de Eficiência Governamental, que tem como objetivo reduzir os gastos do governo.
Na madrugada deste sábado (15), Elon Musk, dono da SpaceX, afirmou que a primeira missão do megafoguete Starship a Marte será lançada até o fim de 2026. Em uma publicação no X, o bilionário disse ainda que os primeiros pousos humanos podem ocorrer em 2029, caso tudo ocorra como planejado, “embora 2031 seja mais provável”.
Com 120 metros de altura, o veículo é o maior foguete já construído. Ele é peça-chave nos planos de Musk para tornar Marte um local habitável. No entanto, o projeto ainda enfrenta desafios, já que a nave precisa passar por diversos testes antes de estar pronta para voos interplanetários.
Starship departs for Mars at the end of next year, carrying Optimus.
If those landings go well, then human landings may start as soon as 2029, although 2031 is more likely. https://t.co/JRBB95sgNN
Nos últimos meses, a SpaceX vem testando o Starship, mas os voos ainda apresentam problemas. Na última semana, um dos protótipos explodiu cerca de nove minutos após a decolagem durante o oitavo teste, repetindo a mesma falha ocorrida em janeiro. A empresa informou que analisará os dados para identificar a origem do problema, que envolveu a perda de vários motores.
O primeiro estágio do superfoguete Starship, da SpaceX, que dá nome ao complexo veicular, servirá de módulo de pouso para os humanos em Marte. Crédito: SpaceX
A Administração Federal de Aviação (FAA) exigiu que a SpaceX conduza uma investigação antes de realizar novos testes. A NASA também acompanha os avanços do veículo, já que pretende usá-la como módulo de pouso para a missão Artemis III, que levará astronautas à Lua.
Musk acredita que o Starship será um marco para viagens espaciais e poderá transportar humanos não só à Lua, mas também a Marte, tornando a humanidade “multiplanetária”. Segundo ele, a primeira missão do foguete ao Planeta Vermelho levará a bordo o robô humanoide Optimus, desenvolvido pela Tesla. A ideia é que, no futuro, esse robô possa realizar tarefas do dia a dia e tenha um custo entre US$20 mil e US$30 mil (de R$115 mil a R$170 mil, aproximadamente).
Estes são os planos da SpaceX para o foguete Starship
Exploração da Lua: O Starship fará parte da missão Artemis III, da NASA, e, futuramente, deve levar turistas à Lua. Há também a possibilidade de desenvolver uma base permanente no satélite natural;
Missões a Marte: Musk pretende criar uma colônia autossuficiente em Marte com até um milhão de pessoas. Para viabilizar esse plano, a Starship deverá realizar viagens frequentes entre a Terra e Marte, podendo fazer uso de uma frota de até mil foguetes;
Transporte na Terra: O foguete pode revolucionar o transporte intercontinental, tornando viagens que hoje duram horas em deslocamentos de menos de 60 minutos. Além disso, promete reduzir impactos ambientais e oferecer trajetos mais confortáveis, com menos turbulência do que os aviões convencionais.
Missões a Marte vão enfrentar desafios
Tornar as viagens a Marte uma realidade ainda exige superar muitos desafios. Segundo Annibal Hetem, professor de propulsão espacial da Universidade Federal do ABC (UFABC), ir até o planeta é um desafio muito maior do que uma viagem à Lua.
“A Lua está relativamente próxima, permitindo missões curtas. Já Marte exige um tempo de viagem muito maior, além de lidar com a exposição dos astronautas à radiação espacial”, explicou Hetem ao G1. A jornada pode levar até oito meses, o que impõe riscos à tripulação.
Para contornar essas dificuldades, a SpaceX trabalha em novas versões do Starship, que terão mais potência e capacidade de carga. As atualizações visam reduzir o número de reabastecimentos necessários em órbita antes da viagem a Marte.
Conceito artístico de uma frota de foguetes Starship em direção a Marte, elaborado com Inteligência Artificial. Créditos: Flavia Correia via DALL-E/Olhar Digital
Os modelos 2 e 3 do complexo veicular serão maiores que a versão atual, chegando a 150 metros de altura. Musk revelou alguns detalhes técnicos sobre as novas versões em um evento realizado em abril de 2024, mas ainda não há uma data definida para isso.
Sobre o megafoguete Starship:
Dimensões: 120 metros de altura (contando a nave e o propulsor Super Heavy) e nove metros de diâmetro;
Capacidade: até 100 passageiros;
Reutilização: projetado para ser reutilizável, reduzindo custos de lançamento;
Carga: suporta até 250 toneladas em missões descartáveis ou 150 toneladas em voos reutilizáveis.
Apesar dos desafios, a SpaceX continua avançando com testes e ajustes na Starship. Se os planos de Musk se concretizarem, a humanidade poderá dar os primeiros passos rumo a uma presença permanente fora da Terra.
Os governos de Ucrânia e Rússia podem estar a poucos passos de fechar um cessar-fogo. Mas, que fique claro — é uma trégua, e não o encerramento do conflito, que já dura três anos. Isso implica em novas estratégias militares de ambos os lados.
Para os ucranianos, pode ser momento de rever a dependência dos satélites da Starlink. Recentemente, o CEO da empresa, Elon Musk, afirmou que toda a linha de frente de Kiev entraria em colapso caso o sistema fosse desligado, como relatou o Olhar Digital.
“Para ser extremamente claro, não importa o quanto eu discorde da política da Ucrânia, a Starlink nunca será desligada no país. Sem nossa empresa, os russos poderiam bloquear todas as outras comunicações e nós nunca faríamos tal coisa”, enfatizou.
Ações de operadora da constelação OneWeb subiram após ameaça de Musk (Imagem: EvgeniyShkolenko/iStock)
A Europa até tem plano de lançar sua própria constelação de satélites, a IRIS². O problema é que a rede com 290 dispositivos financiada pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), além de capital privado, não ficará pronta antes de 2030;
Segundo o Ars Technica, a opção que resta ao presidente Volodymyr Zelensky é a constelação OneWeb, -rede de 630 satélites lançados entre 2019 e 2023;
Isso representa um décimo do tamanho da megaconstelação Starlink da SpaceX, mas garante conectividade de alta velocidade;
A reportagem destaca o histórico conturbado da empresa, que passou por uma série de mudanças de propriedade até ser adquirida pela operadora de satélite francesa Eutelsat, em 2023, por US$ 3,4 bilhões (R$ 19,52 bilhões, na conversão direta);
No início do ano, as ações estavam sendo negociadas em baixas históricas a US$ 1,25 (R$ 7,17).;
Mas, desde a ameaça de desligamento da Starlink, os papéis da empresa dispararam, aumentando quatro vezes seu valor, segundo o site;
Os governos britânico e francês possuem, cada um, pouco mais de 10% da empresa.
Empresa prometeu 40.000 novos terminais de nível militar e padrão para Kiev (Imagem: Nzpn/iStock)
Desafios
Para o diretor de pesquisa da Quilty Analytics, Caleb Henry, que está escrevendo um livro sobre a história da OneWeb e foi consultado pelo Ars Technica, o Exército da Ucrânia poderia encontrar alguns obstáculos caso optasse pelos serviços da companhia.
Os soldados não conseguiriam, por exemplo, montar terminais de usuário em drones, como ocorre com sistemas da Starlink, porque os equipamentos da OneWeb são grandes demais para isso, segundo ele.
Ainda assim, a empresa tem se movimentado para tentar ocupar um espaço que pode se abrir futuramente. A Eutelsat já tem satélites de baixa altitude implantados na Ucrânia para dar suporte a “comunicações governamentais e institucionais”.
À Bloomberg, a CEO, Eva Berneke, informou que há plano para fornecer 40 mil terminais de nível militar e padrão para Kiev dentro de “alguns meses”. E que a companhia está considerando usar 35 satélites geoestacionários para fornecer “capacidade adicional” sobre o país.