ao-1024x683

Aço do futuro alia sustentabilidade e economia

Um estudo publicado esta semana na revista ACS Energy Letters apresenta um avanço promissor rumo a uma indústria siderúrgica mais limpa. A pesquisa propõe uma nova forma de produzir ferro – principal componente do aço – sem depender de carvão ou altas temperaturas, dois grandes vilões das emissões globais de carbono.

Em poucas palavras:

  • Cientistas desenvolveram um novo método para produzir ferro sem usar carvão nem altas temperaturas;
  • A técnica usa eletricidade para extrair ferro do minério, reduzindo emissões e operando de forma mais limpa;
  • No laboratório, o processo funcionou bem com materiais puros, mas os minérios naturais são mais complexos;
  • Para entender esse impacto, os pesquisadores testaram partículas com diferentes estruturas internas;
  • As partículas porosas permitiram uma produção mais rápida e eficiente do que as densas;
  • Com essa velocidade, o processo pode competir com o modelo tradicional e ajudar a tornar a siderurgia mais limpa.

Parte essencial da vida moderna, o aço hoje está em construções, carros, eletrodomésticos, pontes e maquinários. No entanto, seu processo de fabricação, baseado em altos-fornos alimentados por carvão, torna a siderurgia uma das indústrias mais poluentes do mundo. A produção de ferro, etapa inicial dessa cadeia, é responsável por grande parte dessas emissões.

Presente em quase tudo ao nosso redor, o aço se tornou indispensável no cotidiano moderno – de edifícios e veículos a eletrodomésticos, pontes e equipamentos industriais. Crédito: Giulio_Fornasar – Shutterstock

Processo usa eletricidade na produção do aço ecológico

Com a demanda por aço crescendo no mundo inteiro, cientistas buscam alternativas que mantenham a produtividade sem comprometer o meio ambiente. Nesse cenário, pesquisadores da Universidade de Oregon (OSU), nos EUA, apostam na eletroquímica como solução.

Liderada pelo químico Paul Kempler, a equipe desenvolveu um processo que usa eletricidade para extrair ferro do óxido de ferro, um tipo comum de minério. Esse método opera em temperaturas mais baixas e sem o uso de combustíveis fósseis. Além disso, gera cloro como subproduto – uma substância valiosa para outras aplicações industriais.

No laboratório, a técnica funcionou bem com materiais puros. Mas os minérios naturais são mais complexos, com variações de forma, composição e estrutura. Para levar a ideia do laboratório à indústria, era preciso entender como esses fatores interferem na eficiência do processo eletroquímico.

Foi isso que os pesquisadores se propuseram a investigar. Eles criaram partículas de óxido de ferro com composições semelhantes, mas com arquiteturas internas diferentes (algumas porosas, outras densas) e testaram seu desempenho na produção de ferro.

O resultado foi claro: porosidade faz diferença. As partículas porosas permitiram uma produção de ferro mais rápida e eficiente. Isso ocorre porque elas têm uma maior área de superfície interna, o que facilita as reações químicas envolvidas no processo eletroquímico.

Já as partículas densas limitaram a quantidade de ferro produzida e tornaram o processo mais lento. “Com as partículas realmente porosas, conseguimos fazer ferro rapidamente em uma pequena área”, explicou Andrew Goldman, coautor do estudo, em um comunicado. “As densas não conseguem atingir a mesma velocidade”.

É a forma e a porosidade, não o tamanho, das partículas de óxido metálico que importam para a eficiência na fabricação eletroquímica de ferro. Crédito: Paul A. Kempler et. al. / ACS Energy Letters

Leia mais:

Eficiência na fabricação reduz custos

Essa velocidade de produção é um fator decisivo para viabilizar a tecnologia em escala industrial. Grandes usinas eletroquímicas são caras de construir, e sua rentabilidade depende da rapidez com que produzem materiais. Se o ferro puder ser fabricado de forma ágil e constante, o investimento se paga mais rapidamente.

Usando as partículas porosas, a equipe estima que o ferro pode ser produzido por menos de US$600 (em torno de R$3,5 mil) por tonelada métrica – um valor comparável ao do processo tradicional, que usa carvão. Isso mostra que a eletroquímica pode ser competitiva não só ambientalmente, mas também economicamente.

Além disso, melhorias futuras podem reduzir ainda mais os custos. A equipe pretende aperfeiçoar o design dos eletrodos e explorar novos materiais porosos como matéria-prima. O objetivo é aumentar a eficiência, diminuir o consumo de energia e ampliar a escala do processo.

Para acelerar essa transição, os pesquisadores firmaram parcerias com engenheiros civis da OSU e com uma empresa especializada em fabricação de eletrodos. Essas colaborações visam transformar a ideia experimental em uma tecnologia comercial viável.

Para Goldman, a pesquisa mostra que é possível conciliar produção industrial e responsabilidade ambiental. “Ainda temos muito a resolver, claro. Mas este trabalho serve como ponto de partida para repensar como soluções industriais podem ser mais sustentáveis”.

Se bem-sucedido, o método pode inaugurar uma nova era para a siderurgia – menos dependente do carvão, mais alinhada às metas climáticas e com menor impacto ambiental. Em um setor historicamente difícil de descarbonizar, esse avanço oferece uma nova perspectiva para um futuro mais limpo.

O post Aço do futuro alia sustentabilidade e economia apareceu primeiro em Olhar Digital.

lixo-espacial-1024x576

Mudanças climáticas podem agravar crise do lixo espacial na órbita da Terra

A crescente emissão de gases de efeito estufa está tornando as camadas superiores da atmosfera mais finas, reduzindo a resistência ao movimento dos objetos em órbita. Isso significa que o lixo espacial demora mais para reentrar na atmosfera e se desintegrar, aumentando a poluição ao redor do planeta. 

Um estudo publicado recentemente na revista Nature Sustainability sugere que, se essa tendência continuar, a capacidade de operação segura de satélites na órbita baixa da Terra pode cair drasticamente até o fim do século.

Desde os anos 1990, cientistas sabem que mudanças climáticas podem reduzir a densidade da atmosfera superior. Com menos resistência do ar, satélites e fragmentos de detritos permanecem no espaço por mais tempo, elevando os riscos de colisões. A longo prazo, isso pode dificultar a operação de novas missões e comprometer a segurança de tecnologias essenciais, como telecomunicações e observação da Terra.

Estima-se que uma tonelada de lixo espacial atravesse a atmosfera da Terra a cada semana. Crédito: Christoph Burgstedt – Shutterstock

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, aprofundaram essa questão e calcularam os efeitos desse fenômeno na segurança do tráfego orbital. O estudo revelou um dado alarmante: até 2100, algumas regiões do espaço poderão comportar até 66% menos satélites do que hoje devido ao acúmulo de detritos.

Leia mais:

Mais emissões, mais lixo espacial em órbita

A descoberta surge em um momento crítico. Empresas como SpaceX e Amazon planejam lançar milhares de satélites para fornecer internet global, mas o aumento de emissões de gases de efeito estufa pode reduzir a capacidade da órbita terrestre de comportar essas megaconstelações. Se nada for feito, algumas regiões já estão próximas do limite de saturação, elevando o risco de colisões em cadeia.

Na pesquisa, os autores analisaram diferentes altitudes e identificaram áreas onde a densidade de satélites já está no limite seguro. Nessas regiões, qualquer novo lançamento pode desencadear eventos de fragmentação, gerando ainda mais lixo espacial e reduzindo ainda mais a segurança orbital. Esse efeito pode levar a um cenário perigoso, no qual uma simples colisão desencadeia reações em cascata, dificultando a exploração e uso comercial do espaço.

Contraste entre planeta, animais e emissões de fumaças
As emissões de gases de efeito estufa reduzem a densidade do ar, prolongando permanência em órbita de satélites e detritos, o que eleva os riscos de colisões e acúmulo de lixo espacial. Crédito: Quality Stock Arts – Shutterstock

Apesar do cenário preocupante, ainda há tempo para agir. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode ajudar a manter a densidade da atmosfera superior, garantindo que o arrasto aerodinâmico continue a remover naturalmente os detritos espaciais ao longo do tempo.

“Nosso impacto na atmosfera nas últimas décadas já está influenciando o futuro da exploração espacial”, alerta Richard Linares, professor do MIT e coautor do estudo, em um comunicado

William Parker, principal autor da pesquisa, reforça: “Com o crescimento no número de satélites, precisamos administrar melhor nossas emissões para evitar um espaço orbital superlotado e repleto de detritos”.

Essa análise reforça a necessidade de ações para conter os impactos das mudanças climáticas, que já estão afetando não apenas a vida na Terra, mas também o futuro da exploração espacial.

O post Mudanças climáticas podem agravar crise do lixo espacial na órbita da Terra apareceu primeiro em Olhar Digital.