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Estado inédito “meio gelo, meio fogo” é descoberto em matéria exótica

Uma pesquisa publicada na revista Physical Review Letters revelou um novo estado exótico da matéria dentro de outro já conhecido. A descoberta ocorreu em um composto magnético identificado em 2016, chamado de fase “meio fogo, meio gelo”, encontrado no material Sr₃CuIrO₆, que contém estrôncio, cobre, irídio e oxigênio. 

Agora, cientistas do Laboratório Nacional de Brookhaven (BNL), nos EUA, identificaram o estado oposto: a fase “meio gelo, meio fogo”, na qual os elétrons trocam seus padrões de comportamento.

O conceito-chave para entender essas fases é a frustração magnética, que descreve como as interações entre partículas vizinhas podem gerar estados instáveis. Pequenas alterações podem desencadear mudanças significativas, propagando-se como uma reação em cadeia. 

No estado “meio fogo, meio gelo”, os elétrons no cobre permanecem desordenados, como chamas agitadas, enquanto os do irídio se mantêm organizados, criando uma estrutura magnética estável.

A inversão desse estado parecia impossível, pois o modelo matemático usado para descrever essa transição não previa mudanças espontâneas de fase. No entanto, os pesquisadores descobriram que, sob certas condições de temperatura, o sistema se reorganiza. Esse efeito resulta na formação da fase “meio gelo, meio fogo”, em que os elétrons do cobre se ordenam e os do irídio passam a se comportar de forma caótica.

Diagrama mostra uma interpretação gráfica dos estados “meio gelo, meio fogo” e “meio fogo, meio gelo” (à esquerda). O gráfico à direita mostra a mudança de entropia magnética no plano do campo magnético (h) versus temperatura (T). O ponto preto na temperatura zero indica onde o estado meio fogo e meio gelo aparece. A linha tracejada indica onde o estado meio gelo e meio fogo se esconde. Crédito: Laboratório Nacional de Brookhaven

Diferença está na organização dos elétrons

A principal diferença entre esses estados está na organização dos elétrons nos dois elementos. No estado original, o cobre é caótico e o irídio é estável. No estado inverso, o papel de cada um se inverte. Essa descoberta é relevante porque a manipulação precisa dessas transições pode ser aplicada em tecnologia quântica, como na criação de qubits ajustáveis, fundamentais para a computação quântica.

Os materiais magnéticos exibem diversas configurações. Em imãs convencionais, os elétrons giram na mesma direção, criando um campo magnético forte. Já em materiais como Sr₃CuIrO₆, há duas populações de elétrons com comportamentos distintos, formando estados de magnetismo misto. A fase “meio fogo, meio gelo” pode ser induzida por um campo magnético externo, causando uma reorganização nos spins dos elétrons.

O problema era que essa fase, por si só, não sugeria aplicações práticas, pois as mudanças de estado não eram facilmente controláveis. Como os qubits dependem da manipulação dos spins dos elétrons, a existência de uma fase reversível poderia abrir novas possibilidades para o desenvolvimento de dispositivos quânticos. Essa reversibilidade era a peça que faltava para compreender o comportamento desse material.

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Matéria pode ter mudança de fase controlada

A descoberta da fase “meio gelo, meio fogo” preenche essa lacuna. Os pesquisadores observaram que, em uma faixa estreita de temperatura, ocorre uma transição espontânea entre os dois estados. Isso significa que é possível controlar rigorosamente as mudanças de fase, tornando o material mais útil para aplicações tecnológicas avançadas.

Embora o estudo represente um avanço significativo, ainda há muito a ser explorado. Os pesquisadores planejam investigar se esse fenômeno ocorre em outros sistemas, especialmente aqueles com spins quânticos e outras interações complexas.

Alexei Tsvelik (à esquerda) e Weiguo Yin (Kevin Coughlin), descobridores do novo estado da matéria. Crédito: Laboratório Nacional de Brookhaven

“Encontrar novos estados com propriedades físicas exóticas – e ser capaz de entender e controlar as transições entre esses estados – são problemas centrais nos campos da física da matéria condensada e da ciência dos materiais”, disse Weiguo Yin, físico do BNL, em um comunicado. “Resolver esses problemas pode levar a grandes avanços em tecnologias como computação quântica e spintrônica”.

Para Alexei Tsvelik, também do BNL e parceiro de Yin na pesquisa, as novas descobertas “podem abrir uma nova porta para entender e controlar fases e transições de fase em certos materiais”.

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Luz é transformada em um “supersólido” pela 1ª vez

Supersólidos não são exatamente uma novidade, mas dessa vez os cientistas foram além. Pela primeira vez, a luz foi transformada em um estado da matéria que é sólido e líquido ao mesmo tempo — abrindo portas para novos estudos da física.

Os resultados mostram que é possível atingir esse estado com técnicas mais simples, aprimorando o desenvolvimento de tecnologias em óptica e materiais quânticos. O artigo foi publicado na revista científica Nature pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNR) da Itália

Historicamente, supersólidos dependem de temperaturas extremamente baixas para se formarem, a -273,15 graus Celsius. Isso porque o frio reduz o estado de energia das partículas para o mínimo possível, evitando que elas “saltem” de um lado para outro.

Novo método facilita estudos dos efeitos da mecânica quântica na organização da matéria (Imagem: Nadya So/iStock)

Assim, quando a situação “se acalma”, a temperatura não mais impede a observação de como as partículas interagem umas com as outras. Assim, é possível estudar os pequenos efeitos da mecânica quântica na organização da matéria.

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Qual é a novidade?

Dessa vez, os cientistas combinaram características de sólidos e superfluidos para transformar luz em um estado supersólido. Eles utilizaram um semicondutor específico e um laser para criar quasipartículas, chamadas polaritons.

Ilustração do mecanismo que leva à formação do supersólido (Imagem: Reprodução)

Essas partículas formadas pela interação entre luz e matéria podem viajar em velocidades antes impossíveis. Elas se organizaram em uma estrutura cristalina de forma espontânea, mantendo a capacidade de fluir sem atrito.

Na prática, o experimento criou uma maneira manipulável de atingir o estado da matéria que é sólido e líquido concomitantemente. Isso pode trazer diversos avanços para a computação quântica, supercondutores, entre outras áreas da eletrônica e fotônica.

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