half-ice-half-fire-figure-hr-1024x661

Estado inédito “meio gelo, meio fogo” é descoberto em matéria exótica

Uma pesquisa publicada na revista Physical Review Letters revelou um novo estado exótico da matéria dentro de outro já conhecido. A descoberta ocorreu em um composto magnético identificado em 2016, chamado de fase “meio fogo, meio gelo”, encontrado no material Sr₃CuIrO₆, que contém estrôncio, cobre, irídio e oxigênio. 

Agora, cientistas do Laboratório Nacional de Brookhaven (BNL), nos EUA, identificaram o estado oposto: a fase “meio gelo, meio fogo”, na qual os elétrons trocam seus padrões de comportamento.

O conceito-chave para entender essas fases é a frustração magnética, que descreve como as interações entre partículas vizinhas podem gerar estados instáveis. Pequenas alterações podem desencadear mudanças significativas, propagando-se como uma reação em cadeia. 

No estado “meio fogo, meio gelo”, os elétrons no cobre permanecem desordenados, como chamas agitadas, enquanto os do irídio se mantêm organizados, criando uma estrutura magnética estável.

A inversão desse estado parecia impossível, pois o modelo matemático usado para descrever essa transição não previa mudanças espontâneas de fase. No entanto, os pesquisadores descobriram que, sob certas condições de temperatura, o sistema se reorganiza. Esse efeito resulta na formação da fase “meio gelo, meio fogo”, em que os elétrons do cobre se ordenam e os do irídio passam a se comportar de forma caótica.

Diagrama mostra uma interpretação gráfica dos estados “meio gelo, meio fogo” e “meio fogo, meio gelo” (à esquerda). O gráfico à direita mostra a mudança de entropia magnética no plano do campo magnético (h) versus temperatura (T). O ponto preto na temperatura zero indica onde o estado meio fogo e meio gelo aparece. A linha tracejada indica onde o estado meio gelo e meio fogo se esconde. Crédito: Laboratório Nacional de Brookhaven

Diferença está na organização dos elétrons

A principal diferença entre esses estados está na organização dos elétrons nos dois elementos. No estado original, o cobre é caótico e o irídio é estável. No estado inverso, o papel de cada um se inverte. Essa descoberta é relevante porque a manipulação precisa dessas transições pode ser aplicada em tecnologia quântica, como na criação de qubits ajustáveis, fundamentais para a computação quântica.

Os materiais magnéticos exibem diversas configurações. Em imãs convencionais, os elétrons giram na mesma direção, criando um campo magnético forte. Já em materiais como Sr₃CuIrO₆, há duas populações de elétrons com comportamentos distintos, formando estados de magnetismo misto. A fase “meio fogo, meio gelo” pode ser induzida por um campo magnético externo, causando uma reorganização nos spins dos elétrons.

O problema era que essa fase, por si só, não sugeria aplicações práticas, pois as mudanças de estado não eram facilmente controláveis. Como os qubits dependem da manipulação dos spins dos elétrons, a existência de uma fase reversível poderia abrir novas possibilidades para o desenvolvimento de dispositivos quânticos. Essa reversibilidade era a peça que faltava para compreender o comportamento desse material.

Leia mais:

Matéria pode ter mudança de fase controlada

A descoberta da fase “meio gelo, meio fogo” preenche essa lacuna. Os pesquisadores observaram que, em uma faixa estreita de temperatura, ocorre uma transição espontânea entre os dois estados. Isso significa que é possível controlar rigorosamente as mudanças de fase, tornando o material mais útil para aplicações tecnológicas avançadas.

Embora o estudo represente um avanço significativo, ainda há muito a ser explorado. Os pesquisadores planejam investigar se esse fenômeno ocorre em outros sistemas, especialmente aqueles com spins quânticos e outras interações complexas.

Alexei Tsvelik (à esquerda) e Weiguo Yin (Kevin Coughlin), descobridores do novo estado da matéria. Crédito: Laboratório Nacional de Brookhaven

“Encontrar novos estados com propriedades físicas exóticas – e ser capaz de entender e controlar as transições entre esses estados – são problemas centrais nos campos da física da matéria condensada e da ciência dos materiais”, disse Weiguo Yin, físico do BNL, em um comunicado. “Resolver esses problemas pode levar a grandes avanços em tecnologias como computação quântica e spintrônica”.

Para Alexei Tsvelik, também do BNL e parceiro de Yin na pesquisa, as novas descobertas “podem abrir uma nova porta para entender e controlar fases e transições de fase em certos materiais”.

O post Estado inédito “meio gelo, meio fogo” é descoberto em matéria exótica apareceu primeiro em Olhar Digital.

image-2

Como seria a Antártida sem gelo? Este novo mapa tem a resposta

Você já se perguntou como seria a Antártida sem suas inconfundíveis camadas de gelo e neve? Graças a uma equipe de pesquisadores do British Antarctic Survey (o BAS, instituto de pesquisas polares do Reino Unido), foi criado um novo mapa que nos permite visualizar esse cenário em detalhes.

Entenda:

  • Pesquisadores criaram um novo mapa da Antártida sem suas camadas de gelo e neve;
  • Desde 2001, a equipe já criou outros dois modelos, mas o mapa recente é o mais detalhado;
  • Chamada de Bedmap3, a novidade reúne 60 anos de dados combinados a modelos de computador sofisticados;
  • O novo mapa deve apoiar estudos sobre como o gelo da Antártida reage ao aquecimento global.

Os cientistas do BAS usaram o equivalente a seis décadas de dados coletados com satélites, navios, aeronaves e até mesmo trenós puxados por cães. As leituras foram então combinadas a modelos de computador sofisticados, gerando o chamado Bedmap3. 

Mapa Bedmap3 mostra o que está por baixo das camadas de gelo e neve da Antártida. (Imagem: Pritchard, H. et al.; Scientific Data)

Não foi o primeiro mapa desse tipo criado pela equipe da BAS: desde 2001, os pesquisadores já criaram outros dois modelos – mas o novo é o mais rico em detalhes até então. 

Leia mais:

Mapa da Antártida sem gelo pode apoiar pesquisas climáticas

O Bedmap3 cobre desde as montanhas mais altas aos cânions mais profundos da Antártida, com usos que vão muito além da cartografia. Como aponta a equipe em um estudo publicado na Scientific Data, o novo mapa também pode revelar detalhes sobre a mecânica da Antártida – incluindo o impacto de rios de água quente no gelo.

Pedaço de geleira despencando no mar por conta das mudanças climáticas
Novo mapa deve apoiar estudos sobre o impacto do aquecimento global no gelo da Antártida. (Imagem: Steve Allen/Shutterstock)

“Esta é a informação fundamental que sustenta os modelos de computador que usamos para investigar como o gelo fluirá pelo continente conforme as temperaturas sobem. Imagine despejar xarope sobre um bolo de rocha – todos os caroços, todas as saliências, determinarão para onde o xarope irá e quão rápido”, diz Hamish Pritchard, autor principal do estudo. “E assim é com a Antártida: algumas cristas vão segurar o gelo fluindo; as cavidades e os pedaços lisos são onde esse gelo pode acelerar.”

O Bedmap3 deve ajudar a Ciência a compreender como a Antártida responde ao aquecimento global. “O que o Bedmap3 está nos mostrando é que temos uma Antártida um pouco mais vulnerável do que pensávamos anteriormente”, completa Peter Fretwell, coautor da pesquisa.

O post Como seria a Antártida sem gelo? Este novo mapa tem a resposta apareceu primeiro em Olhar Digital.

Rio-atmosfrico-no-Hemisfrio-Norte-1024x576

Rios atmosféricos intensos podem estar repondo o gelo da Groenlândia

A camada de gelo da Groenlândia é a maior massa congelada do Hemisfério Norte, tendo uma espessura de cerca de 3 mil metros. Nas últimas décadas, ela está derretendo e preocupando os cientistas. Porém, um grupo de pesquisadores descobriu que os rios atmosféricos, um fenômeno climático que se pensava derreter a neve, estão ajudando a repor esse manto gelado.

Esses fluxos na atmosfera são normalmente associados ao transporte de calor e umidade de baixas latitudes para o Ártico. Na maioria dos casos, isso acaba por intensificar o derretimento de gelo.

No entanto, em março de 2022, um rio atmosférico intenso liberou 16 bilhões de toneladas de neve na Groenlândia. Isso foi o suficiente para compensar a perda anual de gelo da camada em 8%, relata o estudo.

Rios atmosféricos no Pacífico Central (imagem: NOAA / Wikimedia Commons)

A quantidade de neve fresca também foi responsável por recarregar o manto gelado do inverno. Essa nova carga de material congelado aumentou o albedo da neve e atrasou o início do derretimento em quase duas semanas.

“Fiquei surpreso com a quantidade de neve que foi despejada na camada de gelo em um período tão curto”, disse o coautor do estudo Alun Hubbard, glaciologista de campo nas Universidades de Oulu, Finlândia, e da Universidade Ártica de Tromsø, Noruega.

Uma grande nevasca mudou tudo

O Ártico aqueceu quatro vezes mais do que a média global desde 1980. As temperaturas mais altas devido às mudanças climáticas significam mais chuva, menos neve e um degelo mais intenso

Com isso, espera-se que os rios atmosféricos aumentem de tamanho, sejam mais frequentes e tenham intensidade acentuada em respostas as mudanças do clima. Essa alteração é preocupante, pois caso a camada de gelo da Groenlândia derreta, o nível do mar subiria mais de sete metros.

A geoquímica Hannah Bailey, autora principal do estudo e pesquisadora na Universidade de Oulo, estava trabalhando em Svalbard em março de 2022 quando o fluxo atmosférico atingiu a ilha. Chuvas pesadas caíram sobre o local por dias, transformando a camada de neve do inverno em um atoleiro.

Um estacionamento com motos de neve em Longyearbyen, Svalbard
Um estacionamento com motos de neve em Longyearbyen, Svalbard
(Imagem: Schwarz Weiss / Wikimedia Commons)

Escavações na neve revelam o passado

Um ano depois, Bailey e Hubbard foram em busca de estudar traços do evento no sudeste da Groenlândia. Ambos queria compreender o impacto da nevasca no manto congelado.

Lá, a cerca de 2 mil metros acima do nível do mar, o frio é suficiente para que a neve se acumule ano após ano. Ela se comprime em camadas mais densas, chamadas de firn, e eventualmente se compacta em gelo glacial.

Nessa área, o grupo cavou um grande buraco no manto congelado e coletou amostras de 15 metros de firn. Nelas estão registrados quase uma década de acúmulo de neve.

Manto de neve da Groenlândia
Manto de neve da Groenlândia, a maior massa congelada do Hemisfério Norte. (Imagem: InformationToKnowledge / Wikimedia Commons)

A equipe usou isótopos de oxigênio e a densidade de diferentes camadas para calcular o perfil de idade e as taxas de acumulação da neve. Eles então compararam os dados climáticos e de tempo na área no mesmo período.

“Usar amostragem de núcleo de firn de alta elevação e análise isotópica nos permitiu localizar a queda de neve extraordinária deste rio atmosférico”, disse Bailey. 

Rios atmosféricos podem ajudar a camada congelada

O rio atmosférico atingiu Svalbard com chuvas intensas. Mas, a 2 mil quilômetros de distância, trouxe neve em abundância para o sudeste da Groenlândia. Somente no dia 14 de março, 11,6 bilhões de toneladas de neve caíram sobre a camada de gelo. Cerca de 4,5 bilhões de toneladas se adicionaram ao montante nos dias seguintes.

Após três dias, a nevasca trouxe neve suficiente para compensar a perda de massa da camada de gelo em 8% no ano hidrológico de 2021-2022. Com a adição de neve fresca, o início do derretimento do gelo no verão atrasou cerca de 11 dias, apesar das temperaturas da primavera terem ficado acima da média, segundo diz o estudo.

Gelo da Groenlândia derretendo
Gelo da Groenlândia derretendo (Imagem: NASA ICE)

Leia mais:

“Infelizmente, a camada de gelo da Groenlândia não será salva pelos rios atmosféricos”, disse Hubbard. “Mas o que vemos neste novo estudo é que, ao contrário das opiniões predominantes, sob as condições certas, os rios atmosféricos podem não ser todas más notícias.”

É necessário mais pesquisas para se compreender os efeitos complexos dos rios atmosféricos na Groenlândia. Porém, se o aquecimento global continuar, toda a precipitação desses fluxos cairá como chuva, agravando a perda de gelo, explica e conclui Bailey.

O post Rios atmosféricos intensos podem estar repondo o gelo da Groenlândia apareceu primeiro em Olhar Digital.

superficie_lua-1024x574

Lua pode ter mais gelo do que se imaginava; entenda

Um estudo já revisado por pares aponta que a Lua pode ter gelo em mais locais das regiões polares lunares do que se pensava até então. Isso se dá, pois há grandes, mas altamente localizadas, variações na temperatura da superfície lunar.

Publicado na Communications Earth & Environment, a pesquisa foi baseada em medições diretas realizadas, em 2023, na superfície de nosso satélite natural, pela missão indiana Chandranyaan-3.

Por que o gelo na Lua é tão importante para a humanidade?

  • A resposta mais simples é porque, com as missões futuras que nos levarão de volta à Lua (como a Artemis) e, até, uma possível povoação de nosso satélite natural, será necessário ter gelo o suficiente para nos prover água;
  • O estudo indica que há probabilidade de haver formação de gelo em área da Lua diretamente afetada pela temperatura de sua superfície;
  • Segundo o EurekAlert, até então, as únicas medições diretas da superfície foram realizadas na década de 1970, por meio das missões Apollo;
  • Mas tais missões pousaram perto do equador lunar, a milhares de quilômetros dos prováveis locais de pouso da Artemis no futuro. Além disso, são regiões nas quais a inclinação do terreno pouco tem efeito na temperatura.
Regiões com menor inclinação já podem ser suficientes para acumular gelo próximo à superfície (Imagem: arte.inteligente1/Shutterstock)

Leia mais:

Estudo em si

As análises da nova pesquisa foram realizadas por Durga Prasad e colegas. Elas foram feitas em cima de leituras de temperatura da superfície lunar e a profundidade de dez centímetros.

Essas medições foram realizadas pelo ChaSTE, experimento de sonda de temperatura no módulo de pouso Vikram da Chandrayaan-3, cujo pouso ocorreu na borda da região polar sul (aproximadamente 69° sul).

Com as análises, os pesquisadores identificaram temperaturas díspares na região. Enquanto uma encosta que está voltada para o Sol atingiu pico de 82 °C, durante a noite, caiu para −168,1 °C. Contudo, foi acusada temperatura de pico mais baixa, de 59 °C, em região plana que se encontra a cerca de um metro do módulo de pouso.

Os dados coletados foram utilizados pelos especialistas para derivar um modelo de como o ângulo de inclinação afeta a temperatura da superfície em altitudes lunares mais altas e semelhantes ao local de pouso do módulo.

Esse modelo determinou que, para inclinações voltadas para o Sol e em direção ao polo mais próximo, bastaria uma inclinação de 14° para o local ser frio o bastante para acumular gelo perto da superfície.

Tal situação, diz o artigo, é similar às condições existentes nos polos lunares, bem como as que se encontram nos locais de pouso da Artemis, que levará tripulantes, próximo ao polo sul lunar.

Em suma, os autores sugerem que as regiões da Lua nas quais o gelo pode se formar podem existir em maior número e mais fáceis de se acessar do que se acreditava até então.

Lua cheia refletida na água
Água será crucial para as missões tripuladas da Artemis e possível povoamento da Lua (Imagem: slowmotiongli/Shutterstock)

O post Lua pode ter mais gelo do que se imaginava; entenda apareceu primeiro em Olhar Digital.

derretimento-de-geleira

Planeta em alerta: gelo marinho desaparece e temperaturas disparam

Fevereiro de 2025 registrou um marco preocupante para o clima global: a menor extensão de gelo marinho já observada, de acordo com dados do observatório europeu Copernicus (C3S).

Este evento crítico ocorreu em paralelo com o terceiro mês de fevereiro mais quente da história, intensificando os alertas sobre as rápidas mudanças climáticas que afetam o planeta.

Mínimos históricos nas regiões polares

A extensão do gelo marinho atingiu níveis sem precedentes no início de fevereiro, mantendo-se abaixo dos recordes anteriores. No Ártico, a cobertura de gelo ficou 8% abaixo da média, marcando o menor valor já registrado para o mês e o terceiro mês consecutivo de recordes negativos.

Na Antártida, a situação é igualmente alarmante, com a cobertura de gelo 26% abaixo da média, a quarta menor já registrada.

Evento crítico ocorreu em paralelo com o terceiro mês de fevereiro mais quente da história. (Imagem: Steve Allen/Shutterstock)

Temperaturas globais em ascensão

A sequência de temperaturas recordes, observada nos últimos dois anos, persiste. Fevereiro de 2025 registrou uma temperatura média global de 13,36 °C, um aumento de 0,63 °C em relação à média de 1991–2020.

O mês também ultrapassou em 1,59 °C os níveis pré-industriais, referência para o Acordo de Paris, com 19 dos últimos 20 meses registrando temperaturas acima deste limite.

Termômetro marcando temperaturas altas em montagem para ilustrar calor e aquecimento global
Inverno no hemisfério norte foi o segundo mais quente já registrado. (Imagem: Quality Stock Arts/Shutterstock)

O aumento das temperaturas e o degelo acelerado têm consequências vastas. O inverno no hemisfério norte foi o segundo mais quente já registrado, com anomalias de temperatura evidentes em diversas regiões, incluindo o norte da Escandinávia, Islândia, Alpes, Ártico, partes da América do Sul e Oceania.

A temperatura da superfície do mar também atingiu um recorde para fevereiro, com 20,88°C, e recordes locais foram observados no Golfo do México e no Mar Mediterrâneo. As alterações climáticas também impactam os padrões de precipitação, com secas e chuvas intensas em diversas partes do globo, além de eventos climáticos extremos como furacões e ciclones.

Leia mais:

Alerta para o futuro

  • Os dados divulgados pelo Copernicus reforçam a urgência de ações globais para mitigar as mudanças climáticas.
  • A redução do gelo marinho e o aumento das temperaturas globais são sinais claros da aceleração do aquecimento global, com impactos diretos em ecossistemas e comunidades ao redor do mundo.
  • A necessidade de transição para energias renováveis, redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas torna-se cada vez mais crucial para garantir um futuro sustentável.

O post Planeta em alerta: gelo marinho desaparece e temperaturas disparam apareceu primeiro em Olhar Digital.