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Humanos antigos conviveram com animais gigantes no Brasil

Um artigo publicado na Revista Brasileira de Paleontologia revela novas pistas sobre a convivência de humanos antigos com animais extintos de grande porte no Brasil. O foco do estudo está nos Toxodontes, gigantes da megafauna sul-americana que viveram durante o Pleistoceno. A análise de fósseis indica que essas espécies podem ter interagido diretamente com grupos humanos.

A descoberta foi possível a partir de materiais coletados nos anos de 1980 no Vale do Ribeira, em São Paulo. Uma reavaliação detalhada desses fósseis mostra que os dentes desses animais podem ter sido usados como adornos. A pesquisa envolveu especialistas em paleontologia, arqueologia e biologia evolutiva.

Em poucas palavras:

  • Humanos antigos conviveram com grandes mamíferos do Pleistoceno chamados Toxodontes no Vale do Ribeira;
  • Fósseis mostram marcas de corte feitas por humanos, indicando uso dos dentes como ornamentos ou objetos rituais;
  • Os dentes analisados revelaram sinais de doenças ligadas à fome e mudanças ambientais;
  • Foi identificado um fóssil juvenil de Toxodon platensis, raro no registro sul-americano;
  • A presença de Mixotoxodon larensis no sudeste amplia sua distribuição geográfica conhecida;
  • O estudo indica que humanos também usavam a megafauna em práticas culturais, além da caça;
  • Fósseis antigos, reexaminados com novas técnicas, ajudam a entender o passado e prevenir futuras extinções.
Ilustração da provável aparência dos Toxodontes, em comparação com fóssil registrado no século 20. Créditos: Arte sobre imagens de Otenio Abel/Wiki Commons e Robert Bruce Horsfall/Wiki Commons via Jornal da USP

“A maioria dos espécimes já encontrados se localizavam no nordeste do Brasil e em outros países, como Colômbia, Bolívia e Venezuela”, explica o primeiro autor do artigo, Paulo Ricardo de Oliveira Costa, aluno de Iniciação Científica no Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH) do Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo, ao Jornal da USP.

O estudo reforça que humanos e megafauna coexistiram entre o fim do Pleistoceno e o início do Holoceno. Costa afirma que esta é a primeira confirmação de interações diretas entre humanos e Toxodontes na região de São Paulo. As espécies analisadas foram Toxodon platensis e Mixotoxodon larensis.

Pesquisa revela hábitos e saúde dos Toxodontes

A equipe utilizou fósseis dentários para investigar doenças que afetaram esses animais, além de possíveis intervenções humanas. As análises mostraram alterações no esmalte dos dentes, indicando episódios de estresse fisiológico durante a vida dos animais. Essas marcas sugerem períodos de fome ou mudanças climáticas.

Uma das contribuições inéditas do estudo foi a identificação de um indivíduo jovem de T. platensis, o que é raro no registro fóssil sul-americano. Isso amplia o conhecimento sobre as fases de desenvolvimento dos Toxodontes. A descoberta ocorreu em cavernas da região, como o Abismo Ponta de Flecha e o Abismo do Juvenal.

A região do Vale do Ribeira tem grande importância pois é uma das poucas áreas de exploração paleontológica no estado de São Paulo. Créditos: Mapa do artigo/modificado de Ghilardi et al., 2011 via Jornal da USP

Em alguns fósseis, foi possível identificar hipoplasia dentária, condição causada por falhas na formação do esmalte. Essa alteração está ligada a períodos de escassez alimentar, muito comuns entre grandes mamíferos herbívoros. Essas marcas funcionam como uma espécie de “diário biológico” dos animais.

Segundo o pesquisador Artur Chahud, membro da equipe, as mudanças na vegetação da região (de campos abertos para floresta) podem ter impactado a disponibilidade de alimentos, o que reforça a ideia de que o clima e o ambiente influenciaram diretamente a sobrevivência dos animais da megafauna.

Brasil preserva sinais de convívio humano com megafauna

A maior surpresa da pesquisa foi o registro de marcas de corte em dois dentes de T. platensis. Segundo os autores, as incisões foram feitas por humanos após a morte do animal, o que representa um forte indício de que o dente foi removido intencionalmente, possivelmente para servir como enfeite ou objeto ritual.

Costa destaca que, embora já existam registros de caça e consumo de megafauna em outros países da América do Sul, evidências desse tipo eram inéditas no Brasil. Isso torna a descoberta ainda mais relevante, ao confirmar uma interação mais próxima entre humanos e esses grandes mamíferos.

Além disso, um dos dentes analisados representa o registro mais ao sul da espécie M. larensis, alterando a compreensão da distribuição geográfica do grupo. Antes, não se imaginava que essa espécie tivesse vivido no sudeste brasileiro.

Maria Mercedes Martinez Okumura, coordenadora do estudo, ressalta que o Vale do Ribeira é um dos poucos locais do país com ocupação humana contínua nos últimos 10 mil anos. Segundo ela, os humanos do passado não apenas se alimentavam da fauna local, como também a utilizavam em rituais e na produção de artefatos.

Para Okumura, pesquisas como essa vão além da identificação de espécies fósseis. O objetivo também é entender como as sociedades antigas interagiam com o ambiente ao redor e como essas relações moldaram a cultura e a sobrevivência desses grupos.

No final do Pleistoceno, mais de uma centena de espécies de grandes mamíferos foram extintos, incluindo mamutes, preguiças-gigantes e tigres dentes-de-sabre. Créditos: Júlio Lacerda/Wiki Commons via Jornal da USP

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Estudos antigos ganham nova vida com tecnologia moderna

Parte dos fósseis analisados na pesquisa pertence a coleções científicas da USP, como o Museu de Zoologia e o Instituto de Geociências. Muitos desses materiais foram coletados há décadas, mas só agora estão sendo reexaminados com novas técnicas.

“Esses acervos são fundamentais. Mesmo materiais antigos ainda oferecem respostas sobre o passado e ajudam a desenvolver novas perguntas científicas”, defende Okumura. Ela também alerta para a necessidade de preservar os museus e suas coleções, que muitas vezes sofrem com o descaso.

Chahud reforça que os fósseis servem para entender os animais, mas também para reconstruir o ambiente em que viviam. Segundo ele, as informações obtidas podem indicar como o clima e o habitat mudaram ao longo do tempo.

Esse tipo de estudo se insere na chamada Paleobiologia da Conservação, área da ciência que utiliza registros do passado para compreender o funcionamento dos ecossistemas antes da ação humana. O objetivo é evitar extinções futuras, com base em lições do que já ocorreu.

Para Costa, mudanças ambientais que afetaram os animais do passado podem voltar a ocorrer – por isso, conhecer essas histórias é essencial para planejar o futuro. A interação entre humanos e megafauna no Brasil é apenas uma peça de um quebra-cabeça maior sobre a evolução da vida no planeta.

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Primeiros humanos passaram pela Era Glacial com técnica “avançada” para a época

Pesquisadores de Viena (Áustria) e do Algarve (Portugal) realizaram grande descoberta, capaz de nos ajudar a entender como os primeiros seres humanos enfrentaram a fase mais fria da Era Glacial. No caso, eles acharam três lareiras misteriosas. A novidade foi publicada na Geoarcheology.

A descoberta é muito importante, pois, até hoje, não tínhamos nenhuma evidência bem preservada desse período mais extremo da Era Glacial, impedindo, assim, que pudéssemos entender nossa evolução durante o frio mega extremo.

Primeiros humanos e a Era Glacial

  • No estudo, os pesquisadores da Universidade de Viena (Áustria) e do Algarve (Portugal) utilizaram técnicas geoarqueológicas consideradas inovadoras para encontras as três lareiras, localizadas na Ucrânia;
  • Essas lareiras seriam do auge do inverno, conhecido como Último Máximo Glacial, ocorrido entre 26,5 mil e 19 mil anos atrás. No período, as temperaturas na atual Europa caíram e permaneceram entre −26,6 °C e −20 °C;
  • Por meio da tecnologia empregada, foi possível ter mais informações sobre o Homo sapiens. Contudo, a ausência de outras lareiras deixou os cientistas atônitos.
Fogo era alimentado, especialmente, por madeira de abetos (Imagem: Divulgação/Universidade de Viena)

Ao Interesting Engineering, William Murphree, principal autor do estudo e geoarqueólogo da Universidade do Algarve, questionou: “A maior parte das evidências foi destruída pelo congelamento e degelo alternados do solo, típicos de uma era glacial? Ou será que as pessoas não encontraram combustível suficiente durante o Último Máximo Glacial? Não usaram o fogo, mas recorreram a outras soluções tecnológicas?

Já Philip R. Nigst, coautor do estudo e arqueólogo da Universidade de Viena, disse, em nota, que “o fogo não servia apenas para manter o calor; também era essencial para cozinhar, fazer ferramentas e para reuniões sociais”.

As lareiras encontradas deram luz ao período sombrio da Era Glacial, já que nossos antepassados precisavam de calor para seguirem vivos, mas poucas informações sobre como conseguiam viver naquela época estão disponíveis atualmente.

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Encontrando o fogo antigo

Os sinais da existência de fogo nas lareiras antigas só foram encontrados a partir de análises microestatigráficas, micromorfológicas e colorimétricas. As três lareiras são simples, planas e movidas a lenha, mas com tamanhos distintos.

Uma delas, maior e mais espessa que as demais, gerava temperaturas mais altas. Outra descoberta interessante é que o fogo atingiu 600 °C. Isso, segundo os pesquisadores, mostra como o Homo sapiens dominava esse elemento da natureza.

Nigst complementou: “As pessoas controlavam perfeitamente o fogo e sabiam como usá-lo de diferentes maneiras, dependendo da finalidade do fogo. Mas nossos resultados também mostram que esses caçadores-coletores usavam o mesmo local em diferentes épocas do ano durante suas migrações anuais.”

Ainda segundo as análises dos cientistas, a técnica adotada pelos humanos da época para alimentar o fogo era a partir de madeira, especialmente de abetos. Outras possibilidades abarcam a inclusão de ossos ou gordura, uma vez que nossos antepassados que viveram a Era Glacial queimavam ossos de animais até que ficassem crocantes no pico da temperatura.

Outra imagem em plano aberto das lareiras
Descobertas também atestam que nossos antepassados tinham bom domínio de temperatura (Imagem: Divulgação/Universidade de Viena)

Marjolein D. Bosch, uma das autoras e zooarqueóloga da Universidade de Viena, da Academia Austríaca de Ciências e do Museu de História Natural de Viena, explicou que, “atualmente, estamos investigando se eles foram usados ​​como combustível ou se foram queimados acidentalmente“.

Sendo assim, os cientistas podem ter dado importante passo rumo ao entendimento desse misterioso período para nossa própria história, bem como os Homo sapiens evoluíram sua tecnologia para escapar do frio extremo.

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Como o CAPTCHA diferencia robôs de humanos

O CAPTCHA é um teste de segurança usado para verificar se o usuário é humano e não um robô. Sua sigla significa, em tradução livre, “Teste de Turing Público Completamente Automatizado para Diferenciar Computadores e Humanos”, e tem como objetivo principal proteger sites contra spam e descriptografia de senhas.

A proposta é exibir um desafio que é fácil para humanos, mas difícil para máquinas, como inserir letras distorcidas, clicar em imagens específicas ou até mesmo completar um quebra-cabeça simples. É muito provável que você já tenha se deparado com um desses testes ao navegar pela internet, principalmente em sites e plataformas que precisam de segurança.

Contudo, você já parou para pensar em como o CAPTCHA faz para diferenciar quem é humano e quem é bot nos sites? Confira abaixo na matéria.

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Como o captcha sabe quem é humano e quem não?

A resposta simples para essa questão é: depende do método. O mais comum deles é chamado de reCAPTCHA, que cria uma caixinha que diz “eu não sou um robô”, do qual o usuário precisa clicar para confirmar. Entretanto, essa frase é simbólica, já que o CAPTCHA não precisaria de nada escrito para funcionar. Além disso, o próprio clique não faz diferença nesse momento.

O sistema atual de verificação leva em conta o comportamento do usuário na página. (Imagem: Rokas Tenys/Shutterstock)

O que importa de fato é a forma pelo qual o mouse se move em direção à caixinha: um bot provavelmente andaria com o cursor em uma linha reta, enquanto os humanos fazem caminhos mais orgânicos para confirmar a caixinha. Com isso, percebemos que o site analisa nossos movimentos antes mesmo do clique.

Esse tipo de CAPTCHA foi introduzido pelo Google em 2014, e é baseado em comportamento, sendo um dos métodos mais eficazes para identificar bots e humanos. Há ainda uma versão mais nova desse método lançada em 2018, e nem mesmo exige uma caixinha. Chamado de reCAPTCHA v3, o sistema monitora todo o comportamento do usuário na página, decidindo se ele se assemelha mais a um robô ou uma pessoa.

Por exemplo: em um site de compras online, um usuário que tenta milhares de senhas diferentes para fazer login, ou posta centenas de reviews nos produtos, possui um comportamento provavelmente de um bot. Porém, alguém que é capaz de navegar entre as diferentes categorias do site, comparando preços e demorando antes de selecionar um produto, provavelmente é apenas um ser humano indeciso.

Sendo assim, o reCAPTCHA avalia cada interação dando uma nota para elas, indicando se é mais ou menos suspeita. Caso o comportamento seja estranho, o site pode pedir outro tipo de ação do usuário, como a autenticação em dois fatores, que é mais um jeito de proteger o site de ataques cibernéticos.

As versões iniciais do sistema

O conceito do captcha faz referência ao teste criado pelo matemático Alan Turing no ano de 1950, no qaul os voluntários precisavam distinguir se estavam conversando com um humano ou com uma máquina. Na versão mais atual, o jogo virou: o computador precisa acertar se o usuário é uma pessoa de verdade ou um bot.

No começo dos anos 2000, o CAPTCHA apresentava letras e números distorcidos, que somente humanos eram capazes de identificar. O avanço das técnicas de visão computacional e o reconhecimento de imagens fizeram com que as máquinas também passassem a distingui-las.

Com isso, os textos foram ficando cada vez mais distorcidos para dificultar a compreensão dos bots, o que acabou fazendo com que fossem irreconhecíveis até mesmo para humanos. Por isso, essa versão do teste deixou de fazer sentido, sendo substituído.

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Os robôs começaram a conseguir identificar o sistema de letras e números distorcidos usado anteriormente, sendo necessário usar outro. (Imagem: VectorHot/Shutterstock)

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Linhagem humana teve separação misteriosa há 1,5 milhão de anos

Por muito tempo, acreditou-se que a evolução da nossa espécie ocorreu de forma linear, partindo de um único grupo ancestral. No entanto, a complexidade da evolução humana sempre desafiou essa ideia. Agora, um estudo da Universidade de Cambridge revelou uma divisão inesperada na nossa história evolutiva, sugerindo que a população humana se separou há 1,5 milhão de anos e se unificou novamente apenas 300 mil anos atrás.

A pesquisa, baseada na análise do DNA humano moderno, indica que uma dessas populações isoladas deixou uma herança genética mais forte do que a outra. “A questão sobre nossas origens sempre intrigou a humanidade”, afirma o geneticista Trevor Cousins, primeiro autor do estudo publicado na revista Nature Genetics.

Análise do DNA humano moderno identificou isolamento genético em nossa linhagem (Imagem: Billion Photos/Shutterstock)

Um novo olhar sobre a evolução humana

  • A evolução é frequentemente representada por uma árvore genealógica, onde cada espécie compartilha um ancestral comum.
  • Mas essa representação pode ser simplista demais, pois as populações nem sempre evoluem de forma independente.
  • Em muitos casos, grupos que se separaram podem se misturar novamente, tornando o processo ainda mais complexo.
  • “A troca genética entre grupos provavelmente desempenhou um papel essencial na formação de novas espécies ao longo da história”, explica Cousins.
  • Junto com os geneticistas Aylwyn Scally e Richard Durbin, ele propôs que esse tipo de dinâmica pode ter influenciado fortemente a evolução de Homo sapiens.
  • Estudos anteriores já indicavam que humanos modernos tiveram contato com Neandertais e Denisovanos, resultando em traços genéticos compartilhados.
  • A nova pesquisa utiliza um modelo estatístico para estimar a probabilidade de certos genes terem se originado de um ancestral comum, sem interferência de seleção natural.
  • Os cientistas analisaram dados do 1000 Genomes Project e do Human Genome Diversity Project, revelando que nossa linhagem passou por um período de separação e reunião que alterou profundamente nossa composição genética.

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O impacto da divisão na genética humana

Logo após a divisão entre duas populações ancestrais, uma delas passou por um severo gargalo genético, com uma drástica redução no tamanho populacional. “Esse grupo encolheu para um número muito pequeno de indivíduos e levou um milhão de anos para se recuperar“, afirma Scally.

No entanto, esse mesmo grupo se tornou o principal contribuinte para o DNA dos humanos modernos, representando cerca de 80% da nossa herança genética. Além disso, parece ter sido dessa população que surgiram os ancestrais diretos dos Neandertais e Denisovanos. Por outro lado, a segunda população, que compõe cerca de 20% do DNA humano moderno, deixou traços específicos ligados ao desenvolvimento cerebral e processamento neural.

Cada população identificada no estudo deixou traços importantes nos humanos modernos (Imagem: frank60 / Shutterstock.com)

Isso sugere que a mistura genética ocorrida há 300 mil anos teve um impacto significativo na evolução da nossa espécie. “Embora essa população menor tenha deixado uma contribuição menor no genoma humano moderno, alguns de seus genes podem ter sido cruciais para a nossa evolução”, destaca Cousins.

Os cientistas agora defendem que a ideia de uma evolução linear e bem definida entre espécies é simplista demais. “O que estamos descobrindo é que a evolução humana foi muito mais interconectada do que imaginávamos”, conclui Cousins.

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Fragmentos faciais de mais de um milhão de anos reescrevem a história da evolução humana

Pesquisadores anunciaram uma descoberta surpreendente nas montanhas da Sierra de Atapuerca, no norte da Espanha. Fragmentos fossilizados da face de um hominídeo – apelidado de “Pink”, em referência à banda Pink Floyd – foram datados entre 1,1 e 1,4 milhão de anos, tornando-se os restos faciais mais antigos já encontrados na Europa Ocidental.

Os restos, que correspondem a porções da face esquerda de um adulto, foram descobertos em 2022 na caverna conhecida como Sima del Elefante (“Fosso do Elefante”), um dos sítios arqueológicos mais emblemáticos da região, que já revelou evidências de antigos crânios humanos e até de práticas de canibalismo. A pesquisa, divulgada na Nature, contou com o esforço de uma equipe multidisciplinar, que extraiu várias toneladas de sedimento do local para análise.

Costela de pequeno animal com marcas de corte recuperada no nível TE7 da Sima del Elefante (Serra de Atapuerca, Burgos, Espanha) (Imagem: Maria D. Guillen/Iphes-Cerca)

Fragmentos que antecedem o Homo antecessor

  • Segundo os estudos, os ossos de “Pink” são significativamente mais antigos do que os restos atribuídos ao Homo antecessor, espécie, até então, considerada a mais antiga presente no local;
  • Com traços primitivos semelhantes aos do Homo erectus – especialmente na estrutura nasal plana e subdesenvolvida –, o hominídeo foi classificado provisoriamente como Homo affinis erectus, indicando relação próxima com o já conhecido “homem ereto”;
  • Essa designação também abre a possibilidade de que “Pink” possa pertencer a uma espécie ainda não identificada.

A arqueóloga Rosa Huguet, uma das autoras do estudo, ressaltou que o achado “introduz um novo ator na história da evolução humana na Europa”. Já María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Investigación sobre la Evolución Humana, destacou, ao The Washington Post, que “os traços faciais de ‘Pink’ posicionam-no num espaço evolutivo entre os hominídeos mais antigos da África do Sul, com idades estimadas entre 3,4 e 3,7 milhões de anos, e o Homo antecessor, com cerca de 860 mil anos”.

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Implicações e conexões evolutivas

O achado traz importantes evidências de que hominídeos já exploravam a Europa Ocidental durante o início do Pleistoceno, período que se estende de aproximadamente 2,6 milhões a 781 mil anos atrás.

Especialistas, como o paleontólogo Eric Delson, do American Museum of Natural History e que não participou do estudo, enfatizam, à ABC News, que “é a primeira vez que encontramos restos significativos com mais de um milhão de anos na Europa Ocidental”, comprovando que os ancestrais humanos já faziam excursões para esse continente há muito tempo.

Ademais, as comparações entre os fósseis de Atapuerca e os encontrados em regiões tão distantes quanto Indonésia e África reforçam a ideia de que as populações de hominídeos estavam interligadas geograficamente.

Segundo Rick Potts, diretor do Smithsonian’s Human Origins Program, em entrevista à ABC News, esses primeiros visitantes da Europa podem ter chegado à região vindo do Leste, ainda que não haja evidências de que tenham se estabelecido permanentemente por lá.

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Dra. Rosa Huguet, pesquisadora do Iphes-Cerca e professora da Universidade Rovira i Virgili, primeira autora do artigo (Imagem: Maria D. Guillen/Iphes-Cerca)

Novas perspectivas e pesquisas futuras

A descoberta dos fragmentos faciais de “Pink” não só amplia o conhecimento sobre a diversidade dos hominídeos que habitaram a Europa, como também suscita novas questões sobre os caminhos migratórios e as interações entre as diversas populações ancestrais. As condições ambientais do passado, com florestas úmidas e cursos d’água próximos à caverna, provavelmente favoreceram a ocupação do território por nossos antepassados.

Os pesquisadores já planejam novas expedições para explorar níveis mais profundos da Sima del Elefante, na expectativa de encontrar outros vestígios que possam lançar luz sobre essa complexa e fascinante história da evolução humana.

Com cada nova descoberta, como a de “Pink”, nossa compreensão sobre os primórdios da humanidade se torna mais rica e detalhada, revelando que a trajetória de nossos ancestrais foi repleta de surpresas e conexões inesperadas entre diferentes regiões do mundo.

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Robôs, agora, pensam como humanos; entenda como

Robôs, agora, vão ter a capacidade de pensar como seres humanos. O método, desenvolvido pela Universidade de Columbia (EUA) e divulgado na Nature, permite que os autômatos desenvolvam raciocínio e adaptação em tempo real.

Os cientistas desenvolveram máquinas com autoconsciência que não dependem de pré-programação para tomar ações. Elas apenas precisam assistir aos próprios movimentos para entender a estrutura e replicá-los.

Robô desenvolvido pela Universidade de Colúmbia (Imagem: Reprodução/YouTube/Columbia Engeneering)

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Como funciona o robô autoconsciente

  • Esse novo estudo aumenta a capacidade de robôs funcionarem de forma independente, reduzindo a necessidade de intervenção humana;
  • Essas novas inteligências artificiais (IAs) utilizam de informação visual para construir um modelo interno de seu corpo e funcionamento;
  • A IA observa os movimentos realizados e os armazena por meio de uma câmera;
  • O método foi desenvolvido se baseando na habilidade humana de assistir aos próprios movimentos para melhorar em determinadas habilidades.

Os pesquisadores desenvolveram algorítimo que utiliza redes neurais para analisar a movimentação dos robôs. Além disso, permite as máquinas detectarem e corrigir falhas em seu funcionamento, tudo isso sem auxílio de humanos.

Essa nova tecnologia promete se tornar essencial para uma nova geração de robôs industriais que vão operar em fábricas e outros ambientes de trabalho. A autoconsciência vai ajudar os autômatos a operar, de maneira eficiente, sem a necessidade de intervenção humana.

Essas máquinas podem reparar os próprios erros e evoluir com base na própria experiência, assim como um ser humano. Até este momento os robôs industriais necessitavam de monitoramento. Agora, com a tecnologia desenvolvida pela Columbia, a interação com pessoas reais será reduzida a quase zero.

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Robôs autoconscientes estarão em fábricas em breve. (Imagem: Figure / Divulgação)

Futuro dessa tecnologia

Além da indústria, essa tecnologia pode impactar diversas áreas, como a medicina e a exploração espacial. Robôs cirúrgicos mais autônomos poderiam tornar procedimentos mais precisos, enquanto robôs enviados ao Espaço poderiam se adaptar a ambientes desconhecidos sem depender de controle humano constante.

No entanto, o avanço levanta questões sobre o futuro do trabalho e a segurança desses sistemas. Com máquinas cada vez mais independentes, especialistas debatem os desafios éticos e os limites dessa tecnologia para garantir que ela beneficie a sociedade sem riscos inesperados.

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Reverter o envelhecimento humano é possível? Descoberta revolucionária quer provar isso

Será possível reprogramar nossos genes para nos tornarmos jovens novamente? Uma descoberta revolucionária na pesquisa sobre longevidade pode estar prestes a ser testada em humanos.

Em 2016, um experimento realizado no Salk Institute, em San Diego (EUA), marcou ponto de virada para os cientistas que sonham em “curar” a morte.

O estudo envolveu camundongos geneticamente predispostos a viver intensamente e morrer precocemente – animais com uma forma de progeria, doença que acelera o envelhecimento.

Reversão da velhice a partir da reprogramação de nossos genes parece ser possível (Imagem: Billion Photos/Shutterstock)

Normalmente, esses roedores se tornam grisalhos, frágeis e falecem em cerca de sete meses, bem abaixo dos dois anos de vida dos camundongos de laboratório convencionais.

Os pesquisadores do Salk, então, adotaram estratégia ousada: injetaram, nos animais, um vírus portador de quatro genes capazes de “reprogramar” o DNA e, assim, rejuvenescer todas as células de seus corpos. O método permitia controlar externamente a ativação e a desativação desses genes, garantindo a segurança e o efeito desejado.

O resultado foi impressionante – os camundongos viveram 30% mais tempo, indicando melhoria significativa, embora ainda não tenha alcançado a expectativa de uma vida normal para a espécie.

Corrida pela reprogramação celular e reverter envelhecimento humano

  • Esse avanço impulsionou nova era na corrida pela longevidade;
  • Gigantes da tecnologia e investidores de risco passaram a direcionar bilhões de dólares para laboratórios que exploram a técnica, conhecida como reprogramação celular;
  • Experimentos semelhantes foram realizados não apenas com camundongos, mas, também, com vermes e macacos, despertando a esperança de que essa abordagem possa, um dia, transformar a saúde humana;
  • Defensores da reprogramação celular a veem como a estratégia mais promissora para ampliar a expectativa e a qualidade de vida;
  • Segundo Sharon Rosenzweig-Lipson, diretora científica da Life Biosciences, empresa de biotecnologia, já há planos para submeter à Food and Drug Administration (FDA) um pedido de aprovação para os primeiros testes em humanos de uma versão dessa técnica.

Apesar dos avanços, a técnica enfrenta sérios desafios. Durante diversos experimentos com animais, foram observados efeitos colaterais preocupantes, como o surgimento de tumores monstruosos e, até, mortes.

Esses tumores – conhecidos como teratomas – se formam quando células reprogramadas perdem sua identidade e se transformam em aglomerados desordenados, capazes de desenvolver estruturas incomuns, como dentes em regiões inesperadas.

Em entrevista ao The Washington Post, Paul Knoepfler, professor na Universidade da Califórnia (EUA), alerta que “teratomas fazem parte do processo e são indicativo que a reprogramação está ocorrendo”, evidenciando o dilema que os pesquisadores precisam superar para garantir a segurança em seres humanos.

Método alternativo (e mais seguro)

Buscando método mais seguro, cientistas de Harvard desenvolveram variante da técnica, direcionada especificamente para o nervo óptico. Em estudo inovador, camundongos com lesão semelhante a um AVC ocular foram tratados com um vírus contendo apenas três dos fatores de Yamanaka (responsáveis por reverter células envelhecidas a um estado jovem), omitindo o fator mais associado ao surgimento de câncer.

Esses genes foram programados para serem ativados apenas na presença do antibiótico doxiciclina, permitindo que a reprogramação ocorresse de forma parcial e controlada, mantendo a identidade celular e evitando o risco de teratomas.

Os resultados, publicados na Nature em dezembro de 2020, foram animadores: muitos dos camundongos apresentaram regeneração do nervo óptico danificado sem a formação de tumores. O renomado geneticista David Sinclair, envolvido no estudo, destacou a empolgação com os achados, que levaram Harvard a licenciar a tecnologia para a Life Biosciences.

Em abril de 2023, a empresa anunciou resultados positivos em macacos submetidos a essa técnica, com melhorias na visão e alterações epigenéticas que indicavam rejuvenescimento das células nervosas.

Rumo aos testes em humanos

Em dezembro de 2023, representantes da Life Biosciences se reuniram com o FDA para discutir a aplicação da reprogramação parcial em pacientes com AVC ocular – condição rara, mas devastadora, que afeta cerca de seis mil adultos por ano nos Estados Unidos e não possui tratamento eficaz.

Se aprovado, o protocolo consistirá em injetar, de forma controlada, os fatores Yamanaka nos olhos dos voluntários, utilizando o antibiótico para ligar ou desligar os genes conforme necessário. A expectativa é que esse método possa tornar as células do nervo óptico mais jovens ao nível epigenético, promovendo a recuperação da visão sem causar tumores.

Camundongo na mão de uma pessoa e colocando uma das patas no dedo da pessoa
Testes em camundongos de laboratório foram impressionantes (Imagem: Aleksandr Pobeda/Shutterstock)

Corrida pela longevidade e desafios éticos

Enquanto empresas e laboratórios disputam a liderança nessa nova fronteira da biotecnologia, a promessa de reverter o envelhecimento gera tanto entusiasmo quanto controvérsia.

Investimentos bilionários e a corrida pela imortalidade atraem tanto a atenção de grandes financiadores quanto críticas de especialistas, que apontam para os riscos e as inúmeras questões não resolvidas – como os efeitos a longo prazo, os custos dos tratamentos e quem realmente se beneficiaria dessas inovações.

Críticos, como o pesquisador Charles Brenner, alertam que “não creio que seja possível a reprogramação em humanos, mesmo que parcial, sem efeitos colaterais graves”, ressaltando o risco de induzir células a se transformarem em câncer.

Outros questionam por que algumas células respondem ao processo enquanto outras não e se a intervenção deveria ser aplicada em órgãos específicos ou de forma sistêmica.

Estudos recentes, como o conduzido pela Universidade de Stanford (EUA) em março de 2024, já demonstraram que a reprogramação parcial pode ter efeitos adversos, como inflamação cerebral, mesmo quando aplicada de forma localizada.

Tais descobertas reforçam a cautela entre os cientistas, que, apesar de enxergarem potencial na técnica, se preocupam com a rapidez com que os experimentos avançam rumo aos testes em humanos.

Apesar dos desafios, a corrida pela reprogramação celular continua, com a expectativa de que, em breve, os primeiros ensaios clínicos em humanos possam inaugurar era no combate ao envelhecimento e às doenças relacionadas.

Empresas, como a Life Biosciences, estão otimistas que, com protocolos mais seguros e direcionados, a ciência poderá, um dia, reverter os efeitos do tempo – ou, ao menos, desacelerar o processo de envelhecimento e melhorar a qualidade de vida.

Enquanto a promessa de um futuro com células rejuvenescidas permanece em aberto, a busca por respostas continua, despertando tanto a esperança quanto o ceticismo de cientistas e do público.

Em meio a essa corrida pelo “elixir da juventude”, a comunidade científica se vê diante de um dos maiores desafios da biotecnologia moderna: transformar um avanço extraordinário em um tratamento seguro e acessível para a humanidade.

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