O primeiro satélite de uma rede financiada pelo Google com o objetivo de monitorar incêndios florestais estabeleceu contato com a Terra. O dispositivo foi lançado da Base da Força Espacial de Vandenberg, na Califórnia, nos Estados Unidos.
A rede FireSat utiliza inteligência artificial para analisar dados em tempo real e compará-los com registros históricos. Isso permite diferenciar queimadas reais de interferências, como reflexos de luz ou falhas técnicas.
Dados poderão ser utilizados por bombeiros do mundo todo
Novos lançamentos de satélites da Earth Fire Alliance, organização sem fins lucrativos criada para coordenar o projeto, estão previstos para 2026.
A expectativa é que a constelação completa, com mais de 50 unidades, deve estar operando até 2030.
Até o momento, o Google investiu US$ 13 milhões (cerca de R$ 73 milhões) no projeto.
A ideia é impulsionar o uso da IA na prevenção de incêndios florestais.
De acordo com a gigante da tecnologia, os dados do sistema serão disponibilizados gratuitamente para bombeiros e equipes de emergência ao redor do mundo, inclusive no Brasil.
Comparação entre precisão de satélites atuais e da constelação FireSat para vasculhar queimadas e incêndios florestais (Imagem: reprodução/Google)
Iniciativa promete revolucionar monitoramento de incêndios florestais
Uma série de testes preliminares com fogueiras domésticas demonstrou a alta precisão do sistema. Pesquisadores chegaram a equipar um avião com sensores para avaliar o desempenho e também tiveram resultados positivos.
Segundo o Google, uma das maiores dificuldades no trabalho de combate a incêndios envolve o monitoramento. Imagens de alta resolução costumam ter baixa frequência de atualização, enquanto as atualizações mais rápidas geralmente oferecem baixa definição.
Até o momento, o Google investiu US$ 13 milhões no projeto (Imagem: Tada Images/Shutterstock)
Em alguns casos, os dados podem demorar até 12 horas para serem renovados, o que prejudica qualquer tipo de ação contra as queimadas. O novo sistema, no entanto, promete atualizar as imagens a cada 20 minutos, cobrindo qualquer ponto do planeta.
Os incêndios florestais urbanos têm se tornado cada vez mais comuns devido ao crescimento desordenado das cidades, às mudanças climáticas e ao aumento de eventos extremos, como secas prolongadas e ondas de calor.
Embora o fogo em si represente um perigo imediato, a perigosa fumaça gerada em um incêndio florestal urbanos pode ser ainda mais prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente. Diferente da fumaça de incêndios em áreas naturais isoladas, a fumaça de incêndios florestais urbanos contém uma combinação ainda mais tóxica de partículas finas, metais pesados e compostos químicos nocivos.
O que são incêndios florestais urbanos?
Os incêndios florestais urbanos ocorrem em áreas onde há uma sobreposição entre vegetação natural e estruturas urbanas, como casas, edifícios e indústrias. Diferente dos incêndios em florestas remotas, esses incêndios apresentam um risco ampliado porque além da vegetação seca, o fogo consome materiais de construção, plásticos, produtos químicos industriais e outros resíduos urbanos.
Isso resulta em uma combustão mais complexa e em uma fumaça altamente tóxica, que pode afetar não apenas os moradores locais, mas também cidades vizinhas, dependendo da direção dos ventos.
Esses incêndios são particularmente difíceis de combater, pois a proximidade com áreas habitadas aumenta os riscos para bombeiros e moradores, além de dificultar a contenção das chamas. O crescimento urbano próximo a florestas e a falta de planejamento adequado tornam essas regiões altamente vulneráveis a incêndios catastróficos.
Por que a fumaça de incêndios florestais urbanos é tão perigosa?
Qualquer bombeiro vai responder para você que em um incêndio o que mata, muitas vezes não é nem o fogo e nem as altas temperaturas. O maior inimigo da vida em um incêndio é a fumaça. O fogo é definido como o decaimento rápido de um combustível que gera calor e luz, o que sobra, a fuligem é então projetada pelo ar quente e se espalha pelos ambientes.
Essas partículas de fuligem em contato com a mucosa das vias respiratórias do corpo humano vão causar uma série de problemas já que não absorvidas pelo corpo. Asfixia, queimaduras graves, intoxicação e envenenamento são apenas alguns dos problemas causados pela inalação de fumaça.
Pessoas com doenças, como asma e bronquite, são mais vulneráveis aos efeitos da fumaça causada por incêndios. Imagem: JOURNEY STUDIO7 / Shutterstock
A perigosa fumaça de um incêndio florestal urbano contém uma mistura de partículas finas (PM2.5 e PM10), gases tóxicos e produtos químicos perigosos, tornando-a extremamente prejudicial para a saúde humana.
Diferente da fumaça de incêndios em áreas exclusivamente florestais, a queima de materiais urbanos adiciona componentes altamente nocivos ao ar, como metais pesados, dioxinas e compostos orgânicos voláteis (COVs).
A combustão de materiais urbanos libera gases tóxicos, como monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e dióxido de enxofre (SO₂).
O monóxido de carbono reduz a capacidade do sangue de transportar oxigênio, levando a sintomas como tontura, fadiga e, em casos graves, morte por asfixia. Já os óxidos de nitrogênio podem provocar inflamações pulmonares e aumentar o risco de infecções respiratórias.
Quando plásticos, tintas e produtos industriais pegam fogo, liberam substâncias tóxicas, incluindo metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio, além de compostos orgânicos voláteis e dioxinas. Esses elementos são altamente tóxicos e podem causar danos ao sistema nervoso, além de estarem associados a um maior risco de câncer.
Danos para a saúde e o meio ambiente
(Imagem: eley archive / Shutterstock.com)
Estudos mostram que a exposição contínua à fumaça de incêndios urbanos aumenta o risco de ataques cardíacos, arritmias e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Isso ocorre porque a inflamação causada pelas partículas finas e pelos gases tóxicos afeta a circulação sanguínea e pode levar à formação de coágulos.
Além disso, a exposição prolongada pode comprometer o sistema imunológico, tornando o organismo mais suscetível a infecções e doenças crônicas.
Além disso, essa fumaça contém substâncias que contribuem para o agravamento do efeito estufa e podem impactar ecossistemas inteiros, prejudicando a qualidade do solo e da água. Isso acontece porque partículas tóxicas podem se depositar em rios e lagos, contaminando a água utilizada para consumo e irrigação.
Diante desses riscos, especialistas recomendam medidas preventivas, como evacuações rápidas, uso de máscaras adequadas (como N95), filtros de ar em ambientes fechados e monitoramento constante da qualidade do ar.
Além disso, políticas públicas voltadas para o manejo responsável das áreas de interface entre florestas e cidades podem ajudar a reduzir a incidência desses incêndios e seus impactos devastadores.
Autoridades do Japão seguem preocupadas com um incêndio florestal na cidade de Ofunato, na região de Iwate, na costa nordeste do país. O fogo começou na quarta-feira (26) e continua se espalhando para algumas áreas de mata.
Na última atualização, mais de 80 casas e edifícios foram danificados e cerca de 3.200 pessoas foram afetadas pela tragédia – 2.000 fugiram para outras cidades e 1.200 foram transferidas para abrigos. Pelo menos uma pessoa morreu.
Um porta-voz da agência japonesa para gestão de desastres disse que o governo ‘ainda avalia a magnitude do incêndio, mas que já é possível afirmar que ele é o maior desde 1992’.
Nessa data, o fogo destruiu 1.030 hectares da pequena Kushiro, que fica na ilha de Hokkaido. O episódio deste ano, porém, já é pior. Segundo informações da imprensa local, o incêndio atual já se espalhou por mais de 2.100 hectares.
Uma das principais preocupações é com a velocidade com que o fogo se espalha. A área atingida quase dobrou em relação à última sexta-feira (28).
Especialistas explicam que esses incêndios florestais de grandes proporções têm duas explicações principais: a falta de chuva e o vento forte que sopra nesta época do ano.
É verdade que o número de casos de incêndio no Japão diminuiu desde o pico na década de 1970.
Os últimos 3 anos, porém, mostram uma tendência de alta – e a causa é climática.
Os meteorologistas afirmam que esse é o inverno mais seco desde que o governo começou as medições da atual série histórica, em 1946.
Ofunato registrou apenas 2,5 mm de chuva em fevereiro.
Esse número fica muito abaixo da média dos anos anteriores, que foi de 41 mm para o mesmo período.
O primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, prometeu mobilizar quantos bombeiros e agentes forem necessários para tentar limitar os danos.
De acordo com a imprensa local, mais de 2 mil pessoas atuam, neste momento, no combate às chamas.
O alívio, no entanto, não virá de mãos humanas, mas sim da natureza.
A agência meteorológica espera que neve caia nos próximos dias – e que, por causa do calor, ela vire chuva nesse processo.
O Japão é conhecido por suas grandes metrópoles, a alta tecnologia e, mais recentemente, pelos frequentes incêndios florestais – Imagem: Savvapanf Photo/Shutterstock
As mudanças climáticas e os incêndios florestais
Além dessa seca descomunal em fevereiro, o Japão vem sofrendo com outros problemas climáticos nos últimos tempos. O ano de 2024, por exemplo, foi o mais quente da história da ilha. Já 2023 foi marcado por uma sequência de mais de 1.300 incêndios florestais, concentrados no período de fevereiro a abril.
Outros países também vivem uma realidade parecida. Você deve se lembrar de notícias sobre grandes incêndios florestais recentes no Chile, nos Estados Unidos, na Grécia, no Canadá, na Espanha e na Itália.
São episódios cada vez mais comuns e que, segundo especialistas, ocorrem por causa das mudanças climáticas. Um estudo publicado na revista Nature em 2023 afirma que o aquecimento global deve aumentar a frequência de incêndios florestais “extremos” em 25%.
Os pesquisadores examinaram uma série de casos de 2003 a 2020 e usaram Inteligência Artificial para analisar a ligação entre temperaturas mais altas, condições mais secas e os incêndios de propagação mais rápida.
As mudanças climáticas afetam países do mundo todo (e não têm data para irem embora) – Imagem: tete_escape/Shutterstock
A tese se mostrou verdadeira na prática. Os episódios dos anos seguintes provaram que os incêndios florestais extremos se tornaram mais comuns. Infelizmente, esse último do Japão não foi o primeiro nem será a última tragédia do tipo no ano.