A Microsoftrevelou nesta segunda-feira (03) um novo assistente de IA de voz para médicos, o Dragon Copilot. A tecnologia une ferramentas anteriores em um único lugar, e pode ajudar o setor de saúde a agilizar processos demorados, como redação de encaminhamentos e resumos de consultas.
A IA tem previsão de lançamento já para os próximos meses.
Empresa adquiriu empresa responsável pelos modelos em 2021 (Imagem: LCV/Shutterstock)
Dragon Copilot será focado em atividades médicas
A tecnologia foi batizada de Dragon Copilot e é uma união do Dragon Medical One, que conta com recursos de ditado por voz, e do DAX Copilot, capaz de escuta ativa em ambientes para ajudar a produzir relatórios de consultas.
Segundo a Microsoft, o assistente de IA pode ajudar médicos a obter informações de saúde mais rapidamente, e redigir notas, encaminhamentos e resumos de uma consulta de forma automática.
De acordo com a CNBC, um estudo de outubro do Google Cloud mostrou que médicos gastam cerca de 28 horas por semana apenas em tarefas administrativas, como documentação. O objetivo da IA é reduzir esse número.
Por meio dessa tecnologia, os médicos poderão se concentrar no paciente em vez do computador, e isso levará a melhores resultados e, em última análise, a melhores cuidados de saúde para todos.
Dr. David Rhew, diretor médico global da Microsoft, em um briefing com a imprensa
Como falamos, a big tech já contava com o Dragon Medical One e o DAX Copilot, ferramentas da empresa Nunance Communications voltadas para assistência médica. A Microsoft comprou a operação por cerca de US$ 16 bilhões em 2021.
O investimento mostra a tentativa das companhias de ajudar profissionais da saúde a diminuir a carga de trabalhando usando IA. O DAX Copilot, por exemplo, recebeu mais de 3 milhões de usuários de 600 organizações em fevereiro.
Investimentos em IA de saúde mostram guinada da tecnologia nesse setor (Imagem: LALAKA/Shutterstock)
Como usar o Dragon Copilot
O assistente de IA está disponível por meio de aplicativo móvel, navegador e desktop. Segundo a Microsoft, ele oferece integração com registros eletrônicos de saúde;
Com ele, será possível fazer perguntas em voz alta e receber respostas específicas, como “O paciente estava sentido dor de ouvido?”. Como a IA escutou tudo, pode responder. Também é possível fazer perguntas mais amplas, como possíveis sugestões de tratamento;
A Microsoft não revelou quanto custa para operar o Dragon Copilot, mas disse que os preços são “competitivos”;
O modelo estará disponível nos Estados Unidos e no Canadá a partir de maio. Nos meses seguintes, chegará à Holanda, França, Alemanha e Reino Unido.
Em uma palestra para o evento Spotlight, que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, a pesquisadora Carla Mayumi Albertuni compartilhou com o público as suas descobertas sobre como os brasileiros têm reagido à influência dos softwares de Inteligência Artificial. Dentre muitos temas, a pesquisa explora até o interesse das pessoas em se casar com uma IA e questiona se deveríamos ou não ter esse direito. Vamos nos aprofundar nesse assunto curioso (e um tanto peculiar) nos próximos parágrafos.
Mayumi justifica a importância da pesquisa não somente devido ao crescimento e difusão acelerados das IAs, mas também pela humanização cada vez maior de avatares e assistentes virtuais — os quais resguardam, como um dos principais papéis, o de nos fazer pensar que falamos com um humano e não com uma máquina.
Essas e outras discussões podem ser acessadas na pesquisa realizada pela Talk Inc., que você confere na íntegra clicando aqui.
Para quem tem pressa:
A pesquisadora Carla Mayumi Albertuni, sócia da Talks Inc., realizou uma pesquisa na sociedade brasileira que visa entender o quão profunda é a influência das IA nos cidadãos;
Após entrevistar mais de mil brasileiros, a pesquisa coletou dados que informam que 1 em cada 10 pessoas usa a IA como um fiel conselheiro;
E também levantou debates importantes, como o questionamento se devemos ou não ter o direito de casarmos com uma IA: uma pergunta baseada no aumento de laços emocionais que os humanos desenvolvem com inteligências artificiais.
Como exemplo para contextualizar o tema, a pesquisadora traz como background o filme HER (2013), que narra a história de um escritor solitário que se apaixona pela voz de um sistema operacional em seu computador. Embora parecesse um tema muito futurístico para a época em que foi lançado, hoje parece estar muito mais próximo da realidade.
E cada vez mais a gente vai ter a sensação de que a gente está falando com um humano, com uma pessoa. Porque os avatares vão ficar cada vez mais reais. As vozes vão ficar cada vez mais parecidas. O jeito de falar, a linguagem, a nossa língua vai ser falada por esses seres artificiais.
— Carla Mayumi Albertuni, pesquisadora e curadora de conteúdo
Um depoimento que demonstra essa realidade foi o de um brasileiro chamado Cristian: ele contou a Mayumi, em um programa sediado pela Globo, que utilizou o ChatGPT como principal consultor de informações após descobrir que seu filho nasceria com Autismo.
Para além de buscar informações sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), ele também aproveitou a conversa imersiva com o chatbot para desabafar e descreveu a IA como sua “grande conselheira e amiga”.
Carla Mayumi Albertuni em palestra para o evento Spotlight que comemorou os 20 anos do Olhar Digital (Reprodução: João Neto)
Segundo o relato compartilhado na palestra realizada no Spotlight, “ele conversava com a IA, chorava, ele ajudava a mulher e aconselhava a mulher a partir do que ele estava aprendendo [com o ChatGPT]“.
Cristian não está sozinho: a pesquisadora revela em sua pesquisa que 1 em cada 10 brasileiros utiliza os softwares de inteligência artificial como fiel conselheiro. Há pouco tempo, inclusive, publicamos um conteúdo similar, informando como jovens chineses têm usado o DeepSeek para fazer terapia.
Deveríamos ter o direito de casar com uma IA? Público entrevistado responde
Na palestra “IA do jeito brasileiro: transformando o presente“, a pesquisadora Carla Mayumi Albertuni perguntou à audiência do Spolitght: deveríamos ter o direito de nos casar com uma IA?
Votação de cidadãos brasileiros para a seguinte pergunta: deveríamos ter o direito de casar com uma IA? (Divulgação: Talk Inc.)
A pesquisa que engloba esta pergunta foi realizada com mais de mil brasileiros pela empresa Talk Inc., a qual Mayumi é sócia, e analisou de forma quantitativa e qualitativa o jeito como os cidadãos lidam com os diferentes softwares de IA. Em resposta, mais de 50% dos entrevistados respondeu que não devemos ter o direito de casar com uma IA.
Apesar disso, em torno de 31% não demonstrou uma oposição clara quanto ao surgimento de regulamentações que garantissem esse direito de casamento com um software. Ou seja, estariam abertos a analisar e discutir a possibilidade de um brasileiro se casar com uma IA.
Em sua pesquisa, Mayumi destaca como a inteligência artificial já está incrivelmente presente na sociedade brasileira.
Relato de um homem que informa tratar a inteligência artificial como se “estivesse falando com uma pessoa” (Divulgação: Talk Inc.)
O objetivo das conversas tange desde assuntos cotidianos, como discutir sobre o dia a dia, até a troca de confidências e o compartilhamento de conselhos para lidar com problemas no trabalho e vida pessoal.
Apesar da familiaridade crescente dos brasileiros com a IA, e o aumento de laços emocionais desenvolvidos entre humanos e chatbots, surge uma dúvida: até que ponto essa afeição (ou relacionamento) é autêntica?
Esse questionamento fica ainda mais profundo quando refletimos que a IA vai se adaptar à forma como nos comunicamos; isto é, além de se relacionar com uma máquina — que não está viva e, portanto, não é real —, como esperar autenticidade dela se os algoritmos a moldaram da forma como o usuário queria? Ou como ter um relacionamento com um ser que não tem opinião própria?
Mayumi ainda destaca a necessidade de questionar-se sobre até onde devem ir os ‘laços’ que foram desenvolvidos com uma IA. Isso abrange desde a necessidade do ser humano em se conectar aos chatbots até uma possível crise de identidade quando os usuários tentam fazer da IA uma segunda versão de si, mas melhorada.
Atribuições que vários usuários dão às suas IAs favoritas (Divulgação: Talk Inc.)
Esse questionamento também reflete se as informações cedidas pela inteligência artificial são mesmo precisas e baseadas na verdade.
Uma adolescente de 18 anos, moradora de Recife e uma das entrevistadas para a pesquisa, contou que pediu ao ChatGPT uma dieta para implementar uma rotina de déficit calórico.
O resultado foi um desmaio inesperado e um acompanhamento médico devido a um quadro de desnutrição, pois, dentre inúmeros problemas, a dieta fornecida pelo chatbot não fornecia a quantidade correta de gorduras e nutrientes que a adolescente precisava para atingir seu objetivo com saúde.
Essa quebra de expectativa aumenta o debate de que as IAs podem ser melhor utilizadas quando o usuário tem algum letramento sobre o assunto discutido com o chatbot; do contrário, há um risco considerável de cair em desinformação, o que pode ocasionar quadros preocupantes de saúde, por exemplo.
Então, surgem novas dúvidas: se numa conversa simples com a IA já é possível notar erros nas informações compartilhadas, o quão confiável seria para você desenvolver qualquer tipo de laço com ela?
Seja como for, Mayumi destaca que as pessoas aprendem a utilizar os softwares de inteligência artificial por conta própria. Ou seja, não são coordenados por profissionais treinados ou escolas especializadas.
Estatísticas que mostram os benefícios trazidos pela IA, segundo os entrevistados da pesquisa (Divulgação: Talk Inc.)
Nisso, a criatividade desses usuários torna-se o verdadeiro guia na hora de pensar em como utilizar a IA, seja para roteiro de viagens, resumo de filmes, transcrição de vídeos e até para desabafar sobre problemas pessoais — o que, posteriormente, abre espaço para o desenvolvimento de um laço pessoal com o chatbot.
À medida que concluímos esta jornada pelo mundo da IA, fica claro que estamos à beira de uma transformação profunda e irrevogável. A tecnologia, que antes parecia algo distante e controlável, agora é uma extensão de nossa existência, influenciando desde o cotidiano até as mais profundas questões sobre o que significa ser humano.
— Conclusão extraída da pesquisa realizada por Carla Mayumi Albertuni e Talk Inc
Quem é Carla Mayumi Albertuni?
Carla Mayumi Albertuni é pesquisadora, curadora de conteúdo e escritora com paixão por entender e explorar a intersecção entre ciências sociais e tecnologia. Você pode encontrá-la no Instagram e LinkedIn.
Sobre o Spotlight
Como a inteligência artificial vai mudar o futuro do mercado? O evento Spotlight, que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, trouxe 30 especialistas renomados do setor para responder essa pergunta em diferentes frentes. As palestras e painéis abordaram desde as melhores práticas na geração de conteúdo até técnicas para monetizar seu trabalho.