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Estudo revela como o ambiente molda o vocabulário

Pesquisadores identificaram uma conexão direta entre o ambiente em que uma sociedade vive e as palavras mais frequentes em seu vocabulário. Um novo estudo analisou 616 idiomas, tanto atuais quanto extintos, e revelou padrões que relacionam o clima e a geografia de uma região com a variedade de termos usados para descrever certos conceitos.

A pesquisa traz à tona o exemplo clássico sobre o idioma inuíte possuir dezenas de palavras para descrever neve. Os dados mostram que essa variedade de fato existe, especialmente no Inuktitut do Canadá Oriental, que liderou o ranking de vocabulários relacionados à neve.

Idiomas de alguns dos lugares mais frios do mundo se destacam pelo vocabulário relacionado a neve (Imagem: Ganna STRYZHEKIN / iStock)

O estudo foi publicado na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

Neve, amor e cavalos: os conceitos com mais variações linguísticas

A equipe de pesquisadores da Universidade de Melbourne e da Universidade da Califórnia, Berkeley, utilizou um conjunto digital com 1.574 dicionários bilíngues, todos traduzindo para o inglês. A partir disso, quantificaram quantas palavras diferentes cada idioma tem para determinados conceitos.

Um dos achados mais marcantes foi a confirmação de que as línguas inuítes realmente possuem um vocabulário incomum para neve. O idioma Inuktitut do Canadá Oriental inclui termos como kikalukpok (caminhar barulhento sobre neve dura) e apingaut (a primeira neve do ano). As outras duas variantes inuítes no estudo — o Inuktitut do Canadá Ocidental e o Inupiatun do Alasca — também ficaram entre os primeiros colocados.

Além disso, outras línguas do Alasca, como Ahtena, Dena’ina e Central Alaskan Yupik, também aparecem com grande variedade de termos para neve. O escocês (Scots) também chamou atenção, com expressões como doon-lay (queda intensa de neve), feughter (queda leve e repentina) e fuddum (neve soprada intermitentemente).

Contexto ambiental influencia vocabulário

O estudo mostrou ainda que o ambiente afeta não apenas os sons usados nas línguas, mas também os conceitos mais detalhados que os falantes desenvolvem. Isso pode ser observado no contraste entre lugares frios, que têm muitas palavras para neve, e regiões com mais aranhas perigosas, onde pode haver uma necessidade maior de distinções léxicas para esses animais.

No caso da chuva, o padrão não se repetiu. Mesmo em regiões onde ela é rara, como para os falantes de East Taa, há palavras específicas para expressar a importância da precipitação. Entre os exemplos estão termos como lábe ||núu-bâ, uma forma honorífica de se dirigir ao trovão para pedir chuva, e |qába, que se refere a um ritual de aspersão de água ou urina com o mesmo objetivo.

Cheiros, danças e outras curiosidades

O levantamento apontou ainda que idiomas oceânicos, como o marshallês, contêm mais termos associados a cheiros — incluindo distinções como “cheiro de sangue” ou “cheiro de peixe que permanece nas mãos”. Já palavras relacionadas à dança aparecem em maior número em regiões com populações pequenas, sugerindo que esse tipo de expressão cultural é mais valorizado em sociedades menores.

Outros padrões também chamaram atenção: idiomas como latim, italiano, vietnamita, espanhol e hindi têm mais palavras para amor, enquanto línguas como francês, alemão, cazaque e mongol se destacam no vocabulário sobre cavalos.

Cavalos
Francês, alemão, cazaque e mongol se destacam pelo vocabulário sobre cavalos (Imagem: Kwadrat / Shutterstock.com)

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Ferramenta interativa e limitações do estudo

Como parte dos resultados, os pesquisadores disponibilizaram uma ferramenta interativa para que usuários possam explorar quais conceitos são mais presentes em determinados idiomas. É possível inserir um idioma ou uma palavra-chave e verificar onde ela aparece com mais frequência. No português brasileiro, por exemplo, a palavra-chave mais destacada é tempo.

No entanto, os próprios autores alertam que o estudo tem limitações importantes, como a dependência de dicionários, que podem incluir palavras explicativas e não necessariamente de uso comum. Também chamam atenção para o risco de reforçar estereótipos culturais, caso os dados sejam interpretados de forma literal.

“Nossos resultados correm o risco de perpetuar estereótipos potencialmente prejudiciais se forem tomados ao pé da letra”, destacaram os pesquisadores em comunicado.

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Por que algumas pessoas têm a “língua presa”?

A fala é uma das principais formas de comunicação humana, e qualquer dificuldade nesse processo pode impactar a qualidade de vida de uma pessoa. Um problema comum, mas frequentemente subestimado, é a chamada “língua presa”.

Muitas pessoas já ouviram esse termo, mas poucos sabem realmente o que ele significa e como pode afetar o dia a dia. A condição pode variar de um leve incômodo até dificuldades mais sérias na articulação das palavras, além de influenciar a mastigação e a deglutição.

A língua presa pode ser diagnosticada ainda na infância e, dependendo do grau de limitação dos movimentos da língua, pode exigir acompanhamento fonoaudiológico ou até intervenção cirúrgica. Compreender por que essa condição ocorre e quais são as opções de tratamento é essencial para quem busca melhorar a fala e outras funções relacionadas à língua.

Por que algumas pessoas têm a “língua presa”?

A “língua presa” é um termo popular para uma condição chamada anquiloglossia. Trata-se de uma alteração congênita caracterizada por um frênulo lingual curto ou rígido, que limita os movimentos da língua.

O frênulo lingual é a membrana que conecta a parte inferior da língua ao assoalho da boca. Quando essa estrutura é muito curta ou espessa, a mobilidade da língua fica prejudicada, impactando funções como a fala, a mastigação e a deglutição.

Comparativo entre as condições (Imagem: BebêCare/Reprodução)

O que causa a língua presa?

A anquiloglossia ocorre devido a um desenvolvimento incompleto do frênulo lingual durante a gestação. Embora as causas exatas ainda não sejam totalmente compreendidas, acredita-se que fatores genéticos possam influenciar essa condição, uma vez que ela pode ocorrer em várias pessoas da mesma família.

Essa condição pode variar em gravidade. Algumas pessoas apresentam um leve encurtamento do frênulo e não sofrem impactos significativos na fala ou alimentação. No entanto, casos mais graves podem dificultar a articulação de sons, especialmente aqueles que exigem maior mobilidade da língua, como “r”, “l” e “d”.

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Quais os impactos da língua presa?

A anquiloglossia pode afetar diferentes aspectos da vida de uma pessoa, dependendo da gravidade da condição. Os principais impactos incluem:

  • Dificuldade na fala: algumas crianças e adultos com língua presa têm dificuldade para pronunciar certos fonemas, o que pode prejudicar a comunicação e até gerar insegurança.
  • Problemas na amamentação: em bebês, a limitação do movimento da língua pode dificultar a sucção do leite materno, tornando a amamentação menos eficiente e causando desconforto tanto para a mãe quanto para o bebê.
  • Complicações na mastigação e deglutição: como a língua auxilia na movimentação dos alimentos dentro da boca, a limitação dos seus movimentos pode tornar a mastigação e a deglutição mais difíceis.
  • Higiene bucal comprometida: a restrição dos movimentos da língua pode dificultar a remoção de resíduos de alimentos dos dentes e gengivas, aumentando o risco de cáries e doenças gengivais.
  • Impacto na qualidade de vida: dificuldades na fala podem causar frustração, baixa autoestima e até problemas sociais, especialmente em crianças que podem ser alvo de brincadeiras e bullying na escola.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da anquiloglossia pode ser feito logo nos primeiros meses de vida, por meio de uma avaliação clínica feita por pediatras, fonoaudiólogos ou dentistas. Em alguns casos, o problema só se torna evidente quando a criança começa a falar e demonstra dificuldades na pronúncia de determinadas palavras.

O profissional de saúde pode utilizar escalas de avaliação para medir a gravidade da anquiloglossia, considerando fatores como mobilidade da língua, presença de dificuldades na alimentação e impacto na fala.

(Imagem: Gameta/Divulgação)

Quais são os tratamentos para a língua presa?

O tratamento da anquiloglossia depende da gravidade do caso. Algumas pessoas conseguem desenvolver estratégias para contornar as limitações da língua sem necessidade de intervenção. No entanto, quando o problema interfere na fala ou na alimentação, algumas opções de tratamento podem ser consideradas:

1. Terapia fonoaudiológica

A fonoaudiologia é a primeira abordagem para muitos casos de língua presa. O profissional pode indicar exercícios para melhorar a mobilidade da língua e ajudar na articulação dos fonemas. Esse tratamento pode ser suficiente para casos mais leves ou moderados.

2. Frenotomia

A frenotomia é um procedimento simples e rápido, realizado geralmente em bebês, no qual o frênulo lingual é cortado para liberar a língua. A recuperação é rápida e o procedimento raramente apresenta complicações.

3. Frenectomia

Nos casos mais graves, especialmente em crianças mais velhas e adultos, pode ser necessária uma frenectomia. Esse procedimento cirúrgico envolve um corte mais profundo no frênulo e pode ser feito com bisturi ou laser. A recuperação exige um período de cicatrização e exercícios de reabilitação para restaurar a mobilidade da língua.

A cirurgia de língua presa dói?

A frenotomia, realizada em bebês, é um procedimento minimamente invasivo e quase indolor, sendo feito sem anestesia ou apenas com anestesia tópica. Já a frenectomia, realizada em crianças maiores e adultos, pode causar um leve desconforto nos primeiros dias, mas a dor geralmente é controlada com analgésicos simples e o processo de cicatrização é rápido.

É possível prevenir a língua presa?

Por ser uma condição congênita, a língua presa não pode ser evitada. No entanto, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para minimizar seus impactos e evitar problemas na fala e na alimentação.

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