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Mares e rios na maior lua de Saturno se comportam de maneira estranha

Um estudo publicado no Journal of Geophysical Research: Planets traz novas informações sobre Titã, lua de Saturno. A pesquisa revela que, apesar de ter rios e mares de metano líquido, o maior satélite natural do planeta dos anéis surpreende por não apresentar deltas – aquelas formações onde os rios encontram mares ou lagos, comuns na Terra. Isso chamou a atenção de cientistas que esperavam encontrar essas estruturas sedimentares por lá.

No nosso planeta, os deltas se formam a partir do acúmulo de sedimentos carregados pelos rios até suas desembocaduras. Além daqui, Titã é o único lugar conhecido no Sistema Solar com líquidos fluindo em sua superfície. No entanto, em vez de água, Titã tem metano e etano em estado líquido compondo lagos, mares e rios gelados.

Imagem composta mostra uma visão infravermelha da lua Titã, de Saturno, obtida pela sonda Cassini, da NASA, durante o sobrevoo “T-114” da missão, em 13 de novembro de 2015. Crédito: NASA

Pesquisadores procuraram deltas na lua gigante de Saturno, mas não encontraram nenhum. Sam Birch, professor da Universidade Brown e líder do estudo, diz que a ausência dessas estruturas é um mistério. “Se há rios e sedimentos, esperamos deltas. Mas Titã é diferente”, afirmou o pesquisador em um comunicado, ressaltando como esse ambiente ajuda a testar o que sabemos sobre geologia.

A importância dos deltas vai além da paisagem: eles reúnem sedimentos de áreas amplas e podem guardar pistas sobre o clima, a geologia e até indícios de vida passada. Por isso, a ausência dessas formações em Titã é decepcionante para os cientistas. “Deltas preservam a história de um planeta, e esperávamos encontrar isso lá”, disse Birch.

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Buracos misteriosos são revelados em imagens de radar da lua Titã

Boa parte do que sabemos sobre Titã vem da missão Cassini, da NASA, que sobrevoou aquela lua e usou um radar de abertura sintética (SAR) para enxergar através da densa atmosfera. A sonda identificou canais e grandes áreas planas que indicam a presença de líquidos, reforçando a ideia de que há rios e mares em atividade por lá.

Como o metano líquido não reflete bem nas imagens de radar, fica difícil identificar claramente as margens dos lagos e mares. Para superar esse problema, a equipe criou simulações em computador, substituindo a água da Terra por metano, para entender melhor como Titã deveria parecer aos sensores da Cassini.

Terra vista pelo instrumento de radar da sonda Cassini Saturn da NASA. Para entender quais formas de relevo em Titã poderiam ser vistas pelo radar da Cassini, os pesquisadores analisaram as formas de relevo conhecidas da Terra através da perspectiva da Cassini. A imagem inferior é como a Costa do Golfo dos EUA teria parecido para a Cassini. (Crédito da imagem: Birch Lab/Brown University)

Essas imagens simuladas mostraram claramente os deltas da Terra sob condições semelhantes às de Titã, o que ajudou os cientistas a interpretar melhor os dados reais. Ainda assim, mesmo com essa comparação, os deltas continuaram ausentes na superfície da lua, o que levanta novas perguntas sobre como os rios e mares de metano de lá se comportam.

Além disso, os dados revelaram detalhes inesperados, como buracos misteriosos nos fundos de lagos e canais profundos cortando o terreno submerso. “Nada disso era o que esperávamos”, disse Birch. “Mas é isso que torna Titã tão fascinante para a ciência: ela sempre surpreende”.

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Encontrar vida em lua de Saturno é como procurar “agulha no palheiro”

Um dos lugares mais promissores para existência de vida alienígena é Titã, uma das luas de Saturno. Com lagos, rios e até mares de metano e etano líquidos na superfície, além de um oceano aquático subterrâneo, esse mundo gelado tem intrigado cientistas há décadas como um ambiente propício para a vida fora da Terra.

Um estudo publicado este mês no periódico científico The Planetary Science Journal reforça essa possibilidade – com uma ressalva. A vida pode sim existir em Titã, segundo os autores, mas em quantidades muito menores do que se imaginava. Isso mudaria as expectativas para futuras buscas por sinais biológicos nessa lua.

O destaque de Titã em relação a outras luas geladas está em sua riqueza de compostos orgânicos. Em um comunicado, o coautor do estudo Antonin Affholder, pesquisador da Universidade do Arizona, nos EUA, disse que essa abundância sempre sugeriu que não faltariam fontes de alimento para sustentar a vida. Mas a realidade, segundo ele, pode ser mais limitada.

Conceito artístico de um lago no pólo norte da lua Titã, de Saturno, ilustra bordas elevadas e características semelhantes a muralhas, tais quais vistas pela sonda Cassini, da NASA. Crédito: NASA / JPL-Caltech

Potencial da lua Titã para abrigar vida é relativo 

A sonda Huygens, da Agência Espacial Europeia (ESA), pousou em Titã em 2005 como parte da missão Cassini, da NASA. Ela atravessou a espessa atmosfera da lua e identificou reações químicas causadas pela luz solar, capazes de formar moléculas complexas – algumas com potencial para originar a vida.

Essas moléculas orgânicas, em teoria, cairiam na superfície e, com o tempo, penetrariam no subsolo até o oceano escondido. Lá, poderiam criar condições habitáveis. Mas esse “potencial” depende de vários fatores, como a quantidade real de compostos que conseguem atravessar a crosta gelada.

O estudo mostra que nem todas as moléculas presentes na superfície serviriam como alimento. E o intercâmbio entre o oceano e a superfície é limitado. Isso reduz drasticamente a possibilidade de uma biosfera ativa e abundante. A equipe sugere uma abordagem mais cautelosa para avaliar a habitabilidade de Titã.

Para entender melhor essa possibilidade, os cientistas usaram simulações baseadas em bioenergética. Essa técnica estima a energia necessária para que seres vivos produzam e quebrem moléculas. Eles apostaram em um processo simples e conhecido: a fermentação, que não depende de oxigênio.

Imagem composta mostra uma visão infravermelha de Titã, lua de Saturno, da espaçonave Cassini, da NASA, adquirida durante um sobrevoo a 10 mil km de distância, em 13 de novembro de 2015. A vista apresenta as regiões paralelas, escuras e cheias de dunas chamadas Fensal (ao norte) e Aztlan (ao sul). Crédito: NASA / JPL / Universidade do Arizona / Universidade de Idaho

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Vida em toda a lua de Saturno reunida seria menor que um cachorro

A fermentação é uma forma de metabolismo usada por microrganismos, como bactérias, para transformar açúcares em compostos mais simples. Por não precisar de oxigênio, esse processo seria ideal em um ambiente como Titã, onde o gás é praticamente inexistente.

Os pesquisadores se perguntaram: será que micróbios fermentadores poderiam viver ali? Usando como exemplo a glicina, o aminoácido mais simples e comum no Sistema Solar, as simulações mostraram que a vida poderia surgir, mas com uma população microscópica.

A quantidade de matéria orgânica que realmente chega ao oceano subterrâneo parece ser muito pequena. Na melhor das hipóteses, Titã poderia abrigar apenas alguns quilos de microrganismos – o equivalente ao peso de um cachorro pequeno – espalhados por todo o oceano.

Isso significaria, na prática, menos de uma célula por litro de água em todo o oceano. Apesar da riqueza química de Titã, boa parte desses compostos talvez nunca chegue onde a vida poderia surgir. Assim, a vida por lá seria escassa e extremamente difícil de detectar.

Se existir algum organismo vivo em Titã, ele seria quase invisível para nossos instrumentos atuais. Isso torna as missões futuras ainda mais desafiadoras – como tentar encontrar uma agulha no palheiro, concluem os autores do estudo.

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