Semana passada, a Meta obteve uma decisão judicial que impedia a denunciante Sarah Wynn-Williams de promover seu livro de memórias, Careless People: A Cautionary Tale of Power, Greed, and Lost Idealism. Mas a vitória da Meta pode ter gerado problemas maiores para a empresa.
Lançado em 11 de março, o livro detalha a experiência de Wynn-Williams trabalhando na Meta entre 2011 e 2017, fazendo críticas à liderança da empresa e sua relação com a desinformação, além de acusar o Facebook de se aproximar de regimes autoritários.
A Meta, por sua vez, rejeitou essas alegações, chamando o livro de uma mistura de acusações desatualizadas e falsas alegações sobre seus executivos.
Tentativa de boicotar o livro gerou efeito contrário
Para tentar reduzir a disseminação de Careless People, a Meta acusou Wynn-Williams de violar um acordo de não depreciação assinado com a empresa, o que levou a uma decisão judicial.
Como resultado, um árbitro emitiu uma ordem temporária que proibia a autora de promover ou distribuir pessoalmente o livro.
No entanto, a tentativa de silenciamento acabou gerando o efeito oposto: como em muitos casos históricos, quando se tenta esconder algo, isso só aumenta a curiosidade do público.
O livro rapidamente ganhou atenção e subiu para o terceiro lugar na lista de mais vendidos da Amazon.
Livro que relata problemas internos da Meta está subindo nas vendas – Imagem: Divulgação
Atualmente, Careless People está não apenas entre os mais vendidos na Amazon, mas também lidera a categoria Política e Ciências Sociais. Vários leitores no Goodreads, plataforma online para avaliar livros já lidos, comentaram que decidiram comprar e ler o livro justamente porque a Meta tentou silenciá-lo.
Embora o livro tenha sido lançado há menos de uma semana, já acumula mais de 300 avaliações no Goodreads, com uma média de 4,56 estrelas. Além disso, cerca de 12.800 pessoas marcaram o livro como desejado, o que já gerou inúmeros leitores potenciais.
Apesar de ser improvável que todos esses leitores realmente já tenham terminado de ler o livro, o fato é que muitos já ouviram falar de Careless People e das alegações que a Meta está tentando minimizar. Para a gigante da tecnologia, esse aumento no interesse é, provavelmente, um resultado indesejado, e pode já ser um reflexo negativo de sua tentativa de impedir a promoção do livro.
Sarah Wynn-Williams trabalhou no departamento de políticas públicas da Meta por seis anos, de 2011 a 2017. Agora, a ex-executiva coloca a boca no trombone com uma perspectiva privilegiada sobre momentos conturbados na controladora do Instagram, Facebook e WhatsApp.
Seu novo livro “Careless People” evidencia a influência das redes sociais no genocídio dos muçulmanos Rohingya em Mianmar, discute o papel do Facebook na campanha eleitoral do presidente Donald Trump em 2016, e traça breves perfis do CEO Mark Zuckerberg, a ex-COO Sheryl Sandberg e o recém-nomeado Chief Global Affairs Officer Joel Kaplan.
Em uma nota enviada à CNN, o porta-voz da Meta, Nkechi Nneji, afirmou que as acusações são falsas. “Oito anos atrás, Sarah Wynn-Williams foi demitida por desempenho ruim e comportamento tóxico, e uma investigação na época determinou que ela fez alegações enganosas e infundadas de assédio”, disse. “Desde então, ela tem sido paga por ativistas anti-Facebook e isso é simplesmente uma continuação desse trabalho.”
Livro traça perfis de grandes chefões da Meta (Imagem: Divulgação)
Para Wynn-Williams, que foi recentemente entrevistada pela NBC News, as pessoas “merecem saber como essa grande e poderosa empresa realmente é”, justificando o motivo pelo qual decidiu publicar o livro mesmo com as negativas da empresa. Antes de trabalhar para a Meta, ela atuou como diplomata da Nova Zelândia na capital americana.
Eleição polêmica
Em um dos capítulos, a autora sugere que Kaplan foi o grande arquiteto da venda de anúncios políticos no Facebook. Em 2014, o executivo, que tinha acabado de se tornar vice-presidente de política pública global, teria contratado uma equipe para encorajar os políticos a comprar espaços na plataforma.
“A ideia é que, se os políticos dependerem do Facebook para vencer eleições, eles estarão menos propensos a fazer qualquer coisa que possa prejudicar o Facebook”, escreveu. Kaplan, aliás, é hoje o grande lobista da rede social em Washington, DC. “Isso significa que as decisões sobre discurso político, conteúdo e algoritmo passam por Joel”, diz o livro.
A ex-executiva também denunciou casos de assédio sexual por parte de Kaplan. Ela conta que era instada a fazer videoconferências semanais mesmo enquanto estava de licença-maternidade. E que o executivo aparecia “esparramado na cama em vez de no escritório” durante as reuniões.
Ex-executiva descreveu atuação de Joel Kaplan nas eleições americanas de 2016 (Imagem: Meta/Divulgação)
O Facebook investe no país do sudeste asiático desde seu lançamento, em 2012, por causa do potencial de usuários ativos. Mas a estratégia agressiva para entrar no mercado acabou alimentando uma grande divisão política durante o genocídio do grupo minoritário predominantemente muçulmano Rohingya do país, segundo a autora.
“Nenhum dos líderes seniores… pensou o suficiente sobre isso para colocar em prática os tipos de sistemas que precisaríamos, em Mianmar ou outros países”, escreveu Wynn-Williams no livro, refletindo sobre a crise. “Eles aparentemente não se importaram. Esses foram pecados de omissão. Não foram as coisas que eles fizeram; foram as coisas que eles não fizeram”.
Em 2018, a plataforma admitiu que não fez o suficiente para impedir que sua plataforma fosse usada para alimentar a violência no país. A empresa chegou a criar uma equipe exclusiva para lidar com questões regionais, inclusive com a remoção de conteúdos falsos.
“Se não abordarmos o que foi encoberto, repetiremos os erros do Facebook”, escreveu Wynn-Williams no final do livro.
Os maiores bilionários do mundo experimentaram um efeito de euforia do mercado de ações no período pré-posse de Donald Trump, o que mudou de forma abrupta nas últimas semanas. Segundo o famoso índice de bilionários do Bloomberg, cinco magnatas: incluindo Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, viram suas fortunas combinadas despencarem desde 17 de janeiro, data que antecedeu a posse do presidente.
O otimismo que tomou conta dos investidores após a eleição de Trump, alimentado pela expectativa de políticas favoráveis aos negócios, impulsionou recordes históricos. Empresas como a Tesla, de Elon Musk, experimentaram um crescimento vertiginoso, com suas ações quase dobrando de valor. A Meta, de Mark Zuckerberg, também registrou ganhos significativos.
No entanto, a realidade pós-posse se mostrou bem diferente. O S&P 500, um índice que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos, sofreu uma queda de quase 7%, impactado por demissões em massa no setor público e pela incerteza gerada pelas políticas tarifárias de Trump.
Quem perdeu mais com o ‘efeito Trump’?
As empresas que impulsionaram a riqueza dos bilionários foram as mais afetadas, perdendo um valor de mercado combinado de US$ 1,43 trilhão.
Elon Musk, que detinha a maior fortuna já registrada no índice de bilionários, sofreu a maior perda individual, com seu patrimônio líquido diminuindo em US$ 145 bilhões.
A queda nas vendas da Tesla na Europa e na China, impulsionada pela desilusão dos consumidores com o apoio de Musk a políticos de extrema direita, contribuiu para essa perda.
Jeff Bezos, que havia demonstrado abertura ao novo governo Trump após um período de desentendimentos, viu sua fortuna diminuir em US$ 31 bilhões, com as ações da Amazon caindo 15%.
Sergey Brin, cofundador do Google, perdeu US$ 23 bilhões, enquanto Mark Zuckerberg, da Meta, viu sua fortuna diminuir US$ 8 bilhões.
Elon Musk sofreu a maior perda individual desde a posse de Trump. (Imagem: Frederic Legrand – COMEO/Shutterstock)
A reviravolta financeira serve como um lembrete da volatilidade do mercado de ações e da influência que eventos políticos podem exercer sobre a economia global. A era Trump, que inicialmente prometia prosperidade para os mais ricos, agora se revela um período de incertezas e desafios para a elite financeira.
Uma ex-diretora de políticas globais da Meta revelou ao The Washington Post que a empresa estaria disposta a ir ao extremo para conquistar a aprovação do Partido Comunista Chinês e levar a rede social a milhões de internautas na China. Segundo a denúncia, a big tech chegou a desenvolver um sistema de censura que permitiria controlar e suprimir opiniões dissidentes.
De acordo com Sarah Wynn-Williams, que atuava na equipe responsável pelas políticas voltadas para a China, a empresa planejava entregar ao governo chinês o controle de todo o conteúdo publicado no país.
A proposta incluía a instalação de um “editor-chefe” encarregado de decidir o que seria removido – com o poder de desativar toda a plataforma em momentos de “agitação social”. Essa informação consta em reclamação de 78 páginas apresentada à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) em abril de 2024 e obtida exclusivamente por veículos jornalísticos.
Mark Zuckerberg passou a adotar discurso favorável aos EUA após posse de Donald Trump (Imagem: Rokas Tenys/Shutterstock)
A denúncia também aponta que, pressionada por um alto funcionário chinês, a Meta chegou a acatar a ideia de reprimir a conta de um conhecido dissidente chinês radicado nos Estados Unidos, numa tentativa de facilitar sua entrada no lucrativo mercado da China.
Contudo, quando questionados sobre essas iniciativas, executivos da empresa teriam “empacado” as respostas, fornecendo informações imprecisas ou enganosas a investidores e autoridades reguladoras.
Wynn-Williams, demitida em 2017 e que deve lançar uma autobiografia nesta semana, apresentou à SEC documentos internos da Meta que corroboram seus relatos.
Em um dos memorandos, ela afirma que os líderes da empresa sofreram intensa pressão por parte de autoridades chinesas para que os informações dos usuários fossem armazenados em centros de dados locais, o que facilitaria o acesso do Partido Comunista às informações pessoais dos cidadãos.
Para Katitza Rodriguez, diretora de políticas globais de privacidade na Electronic Frontier Foundation, essa prática “transforma os controles governamentais rigorosos em instrumentos de censura, vigilância e repressão”.
Meta a favor da China?
Por anos, a Meta posicionou a China como inimiga da internet livre e aberta;
Em 2019, o cofundador e CEO da empresa, Mark Zuckerberg, alertou que o país estava “exportando sua visão da internet para outros países”;
No ano seguinte, o então vice-presidente de assuntos globais, Nick Clegg, lamentou que governos estivessem seguindo o exemplo chinês ao isolar suas redes do restante do mundo;
Além disso, a empresa financiou organizações, como a American Edge, que promoveram campanhas críticas contra China e TikTok, aplicativo de origem chinesa e de propriedade da ByteDance;
O discurso anti-China da empresa se intensificou recentemente, especialmente após a ascensão do assistente de inteligência artificial (IA) DeepSeek, que ganhou destaque nas lojas de aplicativos em janeiro;
Em publicação no Threads, o diretor global de assuntos da Meta, Joel Kaplan, afirmou que a empresa colaboraria com o governo dos EUA para manter o país na vanguarda da IA e assegurar que os padrões globais da tecnologia fossem baseados em valores compartilhados – e não na visão chinesa;
Em janeiro, Zuckerberg chegou a anunciar parceria com o presidente dos EUA, Donald Trump, para “revidar contra governos que vêm atacando empresas estadunidenses e pressionando por mais censura”, ressaltando que “a China já impediu o funcionamento de nossos aplicativos no país”.
Para Wynn-Williams, “uma das maiores prioridades do presidente Trump é que o Ocidente vença essa corrida crítica da IA, mas, por muitos anos, a Meta trabalhou em conluio com o Partido Comunista Chinês, repassando-lhes informações sobre os avanços tecnológicos e mentindo a respeito disso. As pessoas merecem saber a verdade”.
Em resposta, o porta-voz da Meta, Andy Stone, afirmou que “não é segredo” o interesse da empresa em operar na China – algo amplamente divulgado há mais de uma década –, mas que, no final das contas, optaram por não dar continuidade às ideias exploradas, conforme anunciado por Zuckerberg em 2019.
Há dez anos, empresa trabalhou para agradar ao governo chinês e, assim, participar do mercado tech local (Imagem: kovop/Shutterstock)
Projeto Aldrin
Há cerca de dez anos, a Meta enxergava a China como oportunidade inexplorada e extremamente lucrativa, com milhões de usuários de internet disponíveis – número que, segundo alguns, superava o do mercado estadunidense.
Na época, vendedores chineses já compravam anúncios no Facebook, por meio de revendedores, para atingir clientes no exterior.
Em e-mail de 2014, Zuckerberg teria afirmado a executivos, como a COO Sheryl Sandberg e o ex-chefe de comunicação e políticas públicas Elliot Schrage, que expandir a presença do Facebook na China era fundamental para cumprir a missão da empresa de conectar o mundo e que era preciso iniciar esforços intensivos para isso.
O interesse de Zuckerberg pelo país ficou evidente publicamente. Ele chegou a escrever um prefácio para o livro “The Governance of China”, do secretário do Partido Comunista Chinês e atual presidente da China, Xi Jinping, e exibia uma cópia do volume em sua mesa durante uma visita de Lu Wei, então vice-chefe do departamento de propaganda do partido.
Em outra ocasião, o CEO proferiu discurso de 20 minutos em mandarim para estudantes universitários e pediu a Xi que concedesse um nome honorário em chinês para sua filha ainda não nascida, conforme noticiado pelo The New York Times.
Segundo a denúncia, por trás dos bastidores, Zuckerberg reuniu uma equipe dedicada à China em 2014 para desenvolver uma versão dos serviços do Facebook que cumprisse a legislação local – ideia com o codinome “Projeto Aldrin”, em homenagem ao astronauta Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua.
A empresa demonstrava grande disposição em atender às exigências do Partido Comunista Chinês. Em julho de 2014, funcionários da Meta teriam preparado um rascunho de carta para que Zuckerberg enviasse a Lu Wei, informando que a empresa já havia cooperado com o Consulado Chinês em São Francisco para “retirar sites terroristas potencialmente perigosos para a China” e oferecendo colaboração mais estreita com todas as embaixadas ou consulados chineses ao redor do mundo. Um porta-voz do consulado, entretanto, afirmou não ter conhecimento da situação.
Para reforçar sua posição nas negociações, os líderes da Meta chegaram a considerar flexibilizar suas rígidas regras de privacidade em benefício do governo chinês. Em agosto de 2014, membros da equipe de privacidade discutiram se deveriam confirmar ao comissário de proteção de dados da Irlanda que os usuários de Hong Kong manteriam os mesmos direitos de privacidade dos estadunidenses e europeus.
Poucos dias após um encontro com a equipe de negociação para a China, esses funcionários demonstraram disposição em reduzir os direitos de privacidade dos usuários de Hong Kong, conforme troca de e-mails interna.
Um dos documentos indicava: “Em troca da permissão para estabelecer operações na China, o Facebook concordará em conceder, ao governo chinês, acesso aos dados dos usuários chineses – incluindo os de Hong Kong.”
Em 2015, as negociações entre a Meta e autoridades chinesas avançaram para a elaboração de um plano mais detalhado de atuação no país.
Em uma das versões do acordo proposto, a Hony Capital, firma chinesa de private equity, seria responsável por avaliar se o conteúdo postado por usuários baseados na China – inclusive estrangeiros em visita – estaria “de acordo com as leis vigentes”, conforme consta em proposta enviada a Lu Wei.
Para dar suporte a essa iniciativa, a Meta desenvolveu sistema de censura especialmente projetado para o mercado chinês, com funcionalidades para detectar, automaticamente, termos restritos e conteúdos populares no Facebook.
Brigas recentes entre chineses e estadunidenses mudaram perspectiva da Meta com relação à China (Imagem: Dilok Klaisataporn/Shutterstock)
A empresa se comprometeu, inclusive, a contratar, pelo menos, 300 moderadores de conteúdo para operar esse sistema. Após a análise do projeto pela Administração do Ciberespaço da China, autoridades manifestaram preocupação de que o governo dos EUA pudesse acessar os dados de usuários chineses armazenados fora do país.
Em 2015, Lu Wei foi afastado de seu cargo e, posteriormente, condenado a 14 anos de prisão por acusações de suborno. Mesmo após a perda de um dos principais aliados regulatórios na China, a Meta seguiu tentando conquistar o mercado chinês.
Em 2017, a empresa lançou, discretamente, alguns aplicativos sociais sob o nome de uma companhia chinesa criada por um de seus funcionários. Na mesma época, após sugestão de Zhao Zeliang – importante regulador de internet no país –, a Meta restringiu a conta do empresário Guo Wengui, crítico ferrenho do governo, numa tentativa de demonstrar disposição para “atender a interesses mútuos”.
Em reunião interna, executivos constataram que a inação em relação à conta de Guo poderia impactar a cooperação com as autoridades chinesas. Mais tarde naquele ano, a empresa retirou uma página ligada a Guo e restringiu seu acesso, alegando violações das regras de conteúdo.
Em 2019, com a administração Trump intensificando sua batalha comercial contra a China, a Meta desistiu de suas ambições no país. Atualmente, a empresa busca se beneficiar da postura firme de Washington ante Pequim.
Em reunião com funcionários realizada neste ano, Zuckerberg afirmou que seus negócios poderiam ganhar se o TikTok fosse proibido nos Estados Unidos. “Eles são um dos nossos principais concorrentes”, disse o CEO, conforme gravação obtida por jornalistas, ressaltando que essa seria uma “carta” estratégica a seu favor.
O que diz a Meta
O Olhar Digital entrou em contato com a Meta e aguarda retorno.