Depois de passar por Mercúrio, Vênus e Júpiter, a Lua vai fazer a penúltima “parada” da “turnê mensal” de março pelos planetas do Sistema Solar visitando Marte – em um fenômeno conhecido como conjunção astronômica.
Segundo o guia de observação InTheSky.org, isso acontece às 21h27 (horário de Brasília) deste sábado (8). De São Paulo, o par estará visível na direção norte do céu das 18h45 à 0h36 do dia seguinte – o que significa que o momento da conjunção poderá ser observado.
O par não caberá no campo de visão de um telescópio, mas será visível a olho nu ou através de binóculos.
Configuração do céu no momento da conjunção entre a Lua e Marte neste sábado (8). Crédito: SolarSystemScope
Enquanto a Lua estará em magnitude de -12.3, a de Marte será de -0.1, com ambos na constelação de Gêmeos. Quanto mais brilhante um objeto parece, menor é sua magnitude (relação inversa). O Sol, por exemplo, que é o corpo mais brilhante do céu, tem magnitude aparente de -27.
O último planeta a receber a “visita” da Lua neste mês será Saturno (28). Essa série de conjunções que o satélite faz mensalmente ocorre porque ele orbita a Terra aproximadamente no mesmo plano em que os planetas orbitam o Sol, chamado plano da eclíptica.
O característico tom avermelhado de Marte sempre chamou atenção, evocando associações com deuses e a operações bélicas. Na mitologia grega, Ares, o deus da guerra, era frequentemente ligado a essa cor. Curiosamente, a estrela mais brilhante da constelação de Escorpião, Antares, ganhou esse nome por sua tonalidade avermelhada, que remete a Ares, significando “Anti-Ares”.
Representação artística do Planeta Vermelho. Crédito: Sergei Voevitko – Shutterstock
Mais tarde, com o domínio romano na Europa, Ares foi renomeado como Marte, nome que também foi dado ao planeta e permanece em uso até hoje.
A tonalidade vermelha marciana é resultado de uma combinação de fatores complexos. E essa interação se dá entre a composição da superfície do planeta, sua atmosfera e fenômenos geológicos. Saiba mais aqui.
Em 2017, o filme “Vida” trouxe a história de seis astronautas que são surpreendidos pela primeira forma de vida encontrada fora da Terra. A equipe coletou amostras no solo de Marte e realizou as análises dentro da estação espacial. Mal sabiam eles que a criatura ganharia capacidades inimagináveis — e um desfecho trágico.
É coisa de cinema, sim, mas que não está tão longe assim de ser realidade. A preocupação com possíveis efeitos colaterais de amostras coletadas em Marte existe. E motivou uma equipe da Universidade de Tóquio (Japão) a criar métodos para detectar vida.
O momento não poderia ser melhor, já que as agências espaciais planejam trazer rochas de Marte para a Terra para estudo nos próximos anos. A NASA, por exemplo, anunciou, recentemente, iniciativas para o Mars Sample Return, que buscam designs inovadores para reduzir o custo, o risco e a complexidade da missão, prevista para a década de 2030.
Amostras de Marte são coletadas pelo robô Rover (Imagem: Divulgação/NASA)
O cuidado não se restringe à Marte: na época do programa Apollo, os astronautas que pisaram em solo lunar passavam por procedimentos de descontaminação e, até mesmo, quarentenas, só por precaução.
O método criado pelo Departamento de Ciências da Terra e Planetárias da Universidade de Tóquio teve como base rochas antigas ricas em micróbios da Terra, análogas às rochas de Marte que deverão ser trazidas pelos astronautas.
“Nós criamos a espectroscopia óptica fototérmica infravermelha (O-PTIR), que teve sucesso onde outras técnicas não tinham precisão ou exigiam muita destruição das amostras”, explica o professor associado Yohey Suzuki, que participou da pesquisa.
O equipamento lança luz infravermelha sobre amostras com camadas externas removidas e cortadas em fatias. Embora ligeiramente destrutivo, ele deixa bastante material intacto para outros tipos de análises, segundo o cientista.
Análise de rochas com o método O-PTIR (Imagem: Reprodução)
Um laser verde, então, capta sinais da amostra onde foi exposta à luz infravermelha. Com isso, os pesquisadores podem obter imagens de detalhes tão pequenos quanto meio micrômetro, o suficiente para discernir quando uma estrutura é parte de algo vivo.
“Demonstramos que nosso novo método pode detectar micróbios de rochas basálticas de 100 milhões de anos. Mas precisamos estender a validade do instrumento para rochas basálticas mais antigas, com cerca de dois bilhões de anos, semelhantes às que o rover Perseverance em Marte já coletou”, ponderou Suzuki.
A técnica foi avaliada pelo Comitê Internacional de Pesquisa Espacial (COSPAR, na sigla em inglês), que desenvolveu um conjunto de protocolos para aqueles envolvidos na obtenção, transporte e análise de rochas de Marte com o objetivo de evitar contaminação.
Recentemente, o rover Perseverance, da NASA, identificou minerais inesperados na superfície de Marte, levantando novas hipóteses sobre o passado do Planeta Vermelho. Ao analisar rochas pálidas usando laser, o veículo explorador revelou altos níveis de alumínio associados à caulinita, um mineral que na Terra se forma apenas em ambientes quentes e úmidos.
A descoberta foi feita por uma equipe liderada pelo cientista Roger Wiens, da Universidade de Purdue, nos EUA, e publicada na revista Communications Earth & Environment. A presença da caulinita sugere que Marte pode ter sido muito mais quente e úmido do que se imaginava, condições essenciais para o desenvolvimento da vida como a conhecemos.
“Na Terra, esses minerais aparecem em locais com chuvas intensas e temperaturas elevadas ou em áreas de atividade hidrotermal, como fontes termais”, explica Wiens em um comunicado. “Isso indica que essas rochas ficaram submersas em água por um longo período, algo surpreendente para um planeta frio e seco como Marte”.
Representação artística do rover Perseverance na cratera Jazero. Crédito: Merlin74 – Shutterstock
Wiens tem décadas de experiência com rovers marcianos e foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da SuperCam, o instrumento no topo do Perseverance que analisou as rochas. Criada em colaboração com cientistas dos EUA e da França, a SuperCam combina diferentes técnicas para estudar a composição química da superfície do planeta.
Rochas “flutuantes” de Marte foram examinadas a laser
As primeiras amostras dessas rochas chamaram a atenção logo que o Perseverance pousou, mas só foram analisadas mais tarde. Os cientistas encontraram algumas dessas formações isoladas sobre o solo, sem conexão com o leito rochoso abaixo. Esse tipo de rocha, chamado de “flutuante”, pode ter sido deslocado de sua região original por processos geológicos ou impactos antigos.
Quando a SuperCam disparou seu laser nessas rochas, os pesquisadores perceberam que havia algo inédito em Marte. “Essas formações são muito diferentes de tudo o que já vimos”, afirma Wiens. “São um mistério que estamos tentando desvendar”.
Imagens coloridas SuperCam RMI mostrando vários tipos de texturas dos minerais encontrados em Marte. Crédito: Royer, C., Bedford, C.C., Johnson, J.R. et al.
A equipe aprofundou as análises e identificou mais de quatro mil dessas rochas espalhadas pela cratera Jezero, local explorado pelo Perseverance. Além da caulinita, algumas delas continham espinélio de alumínio, um mineral que pode se formar em condições vulcânicas ou metamórficas. Os cientistas ainda investigam se o espinélio se originou a partir da caulinita ou se os dois minerais coexistiram em algum processo geológico desconhecido.
Minerais encontrados podem confirmar água líquida no passado do planeta
A presença desses minerais reforça a hipótese de que Marte já teve água líquida em abundância. “As grandes perguntas sobre Marte giram em torno da água“, diz Wiens. “Quanto tempo ela esteve presente? Para onde foi? Parte dela pode ainda estar retida na estrutura dos minerais”.
Detecção de rochas flutuantes em tons claros e transversais do rover. Crédito: Royer, C., Bedford, C.C., Johnson, J.R. et al.
Os cientistas sabem, por observações orbitais, que há depósitos de caulinita na borda da cratera Jezero. Agora, com o Perseverance explorando essa região, a equipe busca a origem exata das rochas analisadas. “Estudar essas amostras no local nos ajuda a entender melhor o ambiente marciano do passado e sua possível habitabilidade”, afirma Candice Bedford, coautora do estudo.
Essas descobertas são fundamentais para guiar futuras missões na busca por sinais de vida extraterrestre. A relação entre a água e a formação desses minerais pode fornecer pistas valiosas sobre a evolução de Marte e até mesmo sobre a origem da vida na Terra. O que foi descoberto pelo rover da NASA pode ser um passo importante para responder à pergunta: Marte já abrigou vida?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a manifestar o desejo de levar astronautas americanos para Marte. Ele já havia dito algo nessa linha no discurso de posse, em janeiro deste ano, durante a campanha eleitoral e agora em participação numa sessão conjunta do Congresso americano.
“Vamos conquistar as vastas fronteiras da ciência, e vamos liderar a humanidade para o espaço e fincar a bandeira americana no planeta Marte e até muito além”, afirmou o republicano a deputados e senadores.
“E através de tudo isso, vamos redescobrir o poder incontrolável do espírito americano e vamos renovar a promessa ilimitada do sonho americano”, concluiu Trump em discurso nesta quarta-feira (5).
Na plateia estava outro grande entusiasta dessa ideia: o empresário e agora chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), Elon Musk. Ele já disse mais de uma vez que enviar astronautas a Marte é uma das principais metas para sua empresa de voos espaciais.
A SpaceX, aliás, atualmente transporta gente da NASA de e para a Estação Espacial Internacional (ISS). Além disso, a empresa está construindo um megafoguete gigante Starship para levar o homem de volta à Lua até 2027.
Trump e Musk dividem esse desejo em comum: ambos querem levar os EUA para Marte – Imagem: bella1105/Shutterstock
O quão perto estamos desse objetivo?
Trata-se de uma meta bastante ambiciosa e difícil de ser alcançada.
O site ABC News ouviu alguns especialistas no assunto e eles listaram uma série de desafios que devem ser superados para o sucesso dessa missão.
O primeiro deles é a janela de lançamento: o ideal é esperar que Terra e Marte se alinham em suas órbitas ao redor do Sol.
Isso reduz a distância e a energia necessárias para a viagem.
De acordo com Scott Hubbard, que comandou o programa Mars da NASA nos anos 2000, a próxima janela está a um ano e meio de distância – e a próxima acontece somente 26 meses depois.
Outra dificuldade é o tamanho dessa viagem.
A NASA estima que ela pode durar de 7 a 9 meses na ida, além de um tempo similar na volta.
Somando o período no próprio Planeta Vermelho, estamos falando de uma jornada de quase 3 anos!
Nenhum astronauta ficou tanto tempo assim longe de casa até hoje – e isso implicaria outros problemas.
“Como nos sustentamos? Não podemos reunir todos os recursos que precisamos em uma viagem a Marte e sustentar uma missão longa. Então, vamos ter que descobrir como cultivar a comida que vamos precisar”, pontuou o tripulante da ISS Nick Hague.
Os astronautas também precisariam ser capazes de substituir equipamentos que quebrassem durante a viagem.
E não dá para levar peças de reposição para tudo (a nave ficaria muito pesada).
Uma das soluções seria uma espécie de impressora 3D – mas será que dá pra confiar na tecnologia que temos hoje?
A distância entre Terra e Marte varia de acordo com a posição dos planetas, mas ela é gigantesca de qualquer jeito – Imagem: buradaki / iStock
Problemas de saúde
De acordo com a fisiologista espacial Rihana Bokhari, a viagem também exporia os astronautas a condições que poderiam levar a uma série de problemas de saúde.
Essa lista inclui problemas ósseos e musculares, questões envolvendo saúde mental e até mesmo o risco potencial de câncer.
Outra dificuldade é o tempo de comunicação entre a nave e a base na Terra. Falando ao ABC News, a doutora explicou que encaminhar mensagens de volta ao nosso planeta pode levar cerca de 20 minutos. Tempo suficiente para acontecer uma tragédia.
Outro aspecto que deve ir para o papel é o operacional. Beleza, vamos supor que a equipe tenha chegado a Marte. Todas as informações que temos hoje mostram que o planeta não é habitável. Sua temperatura média é de -64ºC, a atmosfera é muito fina, a radiação é alta e não existe um campo magnético.
Os astronautas, portanto, precisariam construir uma estrutura de suporte de vida muito bem feita. E isso pode ser extremamente complicado – ainda mais depois de uma desgastante viagem de pelo menos 7 meses.
A equipe de astronautas para essa missão a Marte deve ser experiente e estar preparada para enfrentar uma série de dificuldades – Imagem: Divulgação/NASA
Para os especialistas, estamos falando de algo extremamente difícil, mas não impossível. Eles acrescentam que, mais do que recursos e tecnologia de ponta, é preciso ter vontade política. Isso Trump já demonstrou. Basta agora todo o resto… E isso não será nada fácil.