Toda semana, no Programa Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos duas imagens que representam dois pontos de vista do mesmo eclipse. Confiram:
Eclipse lunar visto da Terra
Crédito: Nyêrdson Ferreira
A primeira imagem traz um fantástico registro do eclipse da madrugada desta sexta, 14 de março. Durante um eclipse lunar total, a Lua passa entre a Terra e o Sol e, da perspectiva da Terra, é possível ver a sombra do nosso planeta sendo projetada na Lua, como podemos ver nessa foto feita de São José de Piranhas, PB. Durante um eclipse, a Lua ganha tonalidade avermelhada porque uma pequena parte da luz vermelha do Sol é refratada na atmosfera da Terra e atinge nossa vizinha cósmica, tingindo sua superfície temporariamente.
Podemos ver um pouco deste fenômeno na segunda imagem desta semana. Enquanto está acontecendo um eclipse lunar total por aqui, lá na Lua, é a Terra que bloqueia o disco solar, formando uma espécie de “Eclipse Solar Terrestre”. E foi justamente esse fenômeno que foi registrado pela primeira vez hoje pela Blueghost, da empresa Firefly, atualmente pousada no Mare Crisium. Na imagem, é possível notar o anel de luz que se forma em torno da Terra momentos antes do início da totalidade do eclipse. Esse anel é justamente a visão da luz do Sol refratada na atmosfera da Terra. É essa luz, tênue e avermelhada que pinta a Lua durante um eclipse.
Você sabia que o Brasil pode ter um papel fundamental na sobrevivência dos astronautas na Lua? Desde 2021, o país faz parte do Acordo Artemis, um compromisso internacional que define regras para a exploração espacial. Entre elas, garantir o uso pacífico da Lua, compartilhar descobertas científicas e padronizar tecnologias (como usar o mesmo tipo de tomada, por exemplo).
Mais de 50 países já aderiram, como França, Japão e Reino Unido. Mas, como será a participação brasileira nessa empreitada? Em um workshop da NASA, foi decidido que cada nação contribuiria com sua maior especialidade. Para nós, a resposta foi clara: agricultura.
Saiba como o Brasil vai participar do Programa Artemis, da NASA, que visa estabelecer uma presença humana permanente na Lua. Crédito: Vadim Sadovski/Shutterstock
Se o Brasil já é o celeiro do mundo, por que não ser o celeiro do espaço? Em 2023, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) firmaram uma parceria histórica, criando a rede Space Farming Brasil. O objetivo? Desenvolver tecnologia para cultivar alimentos fora da Terra.
Cientistas, engenheiros e até chefs brasileiros estão trabalhando para criar espécies resistentes e técnicas inovadoras. O que plantamos aqui pode alimentar astronautas na Lua e, no futuro, até em Marte.
Para saber mais sobre a nossa participação no Programa Artemis, que visa estabelecer uma base permanente na Lua, não perca o Olhar Espacial desta sexta-feira (7), que vai receber a astrobióloga Rebeca Gonçalves (membro do Space Farming Brasil).
A astrobióloga Rebeca Gonçalves é a convidada desta sexta-feira (14) do Programa Olhar Espacial. Crédito: Arquivo Pessoal
Primeira brasileira a publicar um estudo sobre agricultura espacial, ela é graduada em Biologia pela Universidade de Bristol, na Inglaterra, com mestrado em Astrobiologia pela Universidade de Wageningen, na Holanda, reconhecida como a melhor instituição em estudos agrícolas do mundo.
Rebeca já trabalhou na Agência Espacial Europeia (ESA), no setor de comunicação para missões espaciais comerciais a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), onde organizou um programa extensivo de estudos espaciais em parceria com a Universidade Internacional do Espaço e a NASA.
Apresentado por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros – BRAMON e coordenador nacional do Asteroid Day Brasil, o programa é transmitido ao vivo, todas às sextas-feiras, às 21h (horário de Brasília), pelos canais oficiais do veículo no YouTube, Facebook, Instagram, X (antigo Twitter), LinkedIn e TikTok.
Na antiguidade, o mistério e a aparente imprevisibilidade dos eclipses intrigavam a humanidade. Sua natureza desconhecida levou as primeiras civilizações a desenvolverem interpretações místicas do fenômeno, associando-o a monstros cósmicos devorando a Lua ou a manifestações divinas de repreensão. Mas, se hoje podemos aguardar ansiosamente o espetáculo do eclipse lunar de 14 de março, é porque, há muito tempo, nossos ancestrais desvendaram um código secreto dos eclipses — um padrão “oculto” que lhes permitiu prever esses eventos com precisão. Esse padrão é conhecido como o Ciclo de Saros.
Atualmente, sabemos que os eclipses ocorrem quando o Sol, a Terra e a Lua se alinham no espaço. Quando a Lua está entre a Terra e o Sol, ela oculta temporariamente o astro-rei, provocando um eclipse solar. Já quando a Terra fica entre o Sol e a Lua, sua sombra se projeta sobre a superfície lunar, criando um eclipse lunar. Mas, sem o conhecimento astronômico que temos hoje, nossos antepassados recorreram a explicações míticas e sobrenaturais para interpretar esses fenômenos.
Essa percepção começou a mudar graças à invenção da escrita pelos sumérios, mais de três mil anos antes de Cristo. Exímios observadores do céu, eles registraram a ocorrência de eclipses em tablets de argila por vários séculos, descrevendo com detalhes a data, a hora, a posição no céu e as características de cada fenômeno.
Tablets de argila da Suméria, que registra a ocorrência de eclipses – Créditos: Museu Britânico
Foi analisando esses registros que, por volta do ano 600 a.C., astrônomos babilônios identificaram, provavelmente pela primeira vez, um padrão oculto nos eclipses. Eles perceberam que eventos com características semelhantes se repetiam em intervalos regulares de 223 meses sinódicos — o tempo entre duas Luas Novas consecutivas. Esse período equivale a 6.585,32 dias, ou aproximadamente 18 anos, 11 dias e 8 horas. A descoberta permitiu aos babilônios prever eclipses, um conhecimento crucial para sua organização social e religiosa. Por lá, durante um eclipse, era comum coroar temporariamente um rei substituto, que depois era sacrificado, para que ele herdasse toda a má sorte que o fenômeno supostamente traria ao verdadeiro governante.
Esse conhecimento, uma verdadeira joia da astronomia antiga, foi transmitido a outras culturas, e os gregos souberam aproveitá-lo de maneira brilhante. O Mecanismo de Anticítera, um verdadeiro computador astronômico construído pelos gregos entre 150 e 100 anos antes de Cristo, era capaz de prever os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas no céu com uma precisão impressionante. O mecanismo conta com um conjunto de engrenagens que reproduz o período de 223 meses sinódicos, permitindo a previsão de eclipses.
Fragmento Mecanismo de Anticítera, um antigo computador astronômico construído pelos gregos entre 150 e 100 a.C – Fonte: wikimedia.org
Mas o Mecanismo de Anticítera revelou que os gregos possuíam um conhecimento ainda mais refinado, permitindo-lhes decifrar o mistério do Ciclo de Saros.
Naquela época, acreditava-se que a Terra era o centro do Universo e que todos os astros do firmamento giravam ao seu redor. Na Grécia antiga, os astrônomos perceberam que o Sol percorria seu caminho viajando entre as constelações em uma linha imaginária que recebeu o nome de eclíptica, porque é sobre ela que acontecem os eclipses. O caminho da Lua no céu tem uma inclinação de cerca de 5° em relação à eclíptica. Devido a essa inclinação, os eclipses não ocorrem todos os meses, apenas quando a Lua cruza a linha da eclíptica no momento em que está aproximadamente na direção do Sol ou na direção oposta a ele.
Isso acontece apenas duas vezes por ano, em um período chamado temporada de eclipses, no qual podem ocorrer até três eclipses, sejam eles lunares ou solares. Mas para saber quando e como esse alinhamento vai acontecer, é preciso conhecer alguns conceitos um pouco mais complexos. A chave está na dança celestial entre a Terra, a Lua e o Sol. Ao identificar com precisão os passos dessa dança, os gregos desvendaram a mecânica por trás do Ciclo de Saros.
Em seu movimento ao redor da Terra, a Lua apresenta alguns ciclos que caracterizam seu movimento:
mês sinódico, é o período de 29,53 dias entre duas luas novas consecutivas,
mês dracônico, de 27,21 dias, que é o tempo que ela leva para cruzar a eclíptica no mesmo ponto de sua órbita,
mês sideral, de 27,32 dias, definido pelo tempo em que a Lua leva para retornar ao mesmo ponto no céu em relação às estrelas, e
mês anomalístico, que é o período de 27,55 dias entre duas passagens consecutivas da Lua por seu perigeu.
O Ciclo de Saros é a combinação entre esses quatro períodos. A duração de 18 anos, 11 dias e 8 horas é um múltiplo comum entre eles, equivalentes a aproximadamente 223 meses sinódicos, 242 meses dracônicos, 241 meses siderais e 239 meses anormalísticos. A cada Ciclo de Saros, a Terra, a Lua e o Sol retornam às mesmas posições relativas no espaço, e por isso esse período é o mesmo que separa dois eclipses com as mesmas características.
O mais impressionante é que todos esses ciclos lunares estavam representados com precisão no Mecanismo de Anticítera, evidenciando que os gregos não apenas os compreendiam, mas também conseguiram reproduzi-los mecanicamente, revelando a complexidade da dança cósmica que rege os eclipses.
Reconstrução virtual do Mecanismo de Anticítera, capaz de prever com precisão a ocorrência de eclipses – Créditos: Tony Freeth
O Ciclo de Saros permitiu as primeiras previsões precisas de eclipses na história da astronomia e, surpreendentemente, ainda é usado pelos astrônomos modernos! Claro que, com os avanços da ciência e da tecnologia, as previsões de eclipses hoje são feitas com uma precisão muito maior, levando em conta fatores como a forma da Terra, a influência gravitacional dos planetas e até mesmo os efeitos da relatividade.
Os eclipses que ocorrem em um mesmo Ciclo de Saros fazem parte da mesma “família de eclipses”, mas variações sutis nos períodos lunares fazem com que uma família de eclipses se encerre após 1200 anos, aproximadamente. Cada eclipse de uma mesma família apresenta características semelhantes, como duração e o quão profundamente a Lua adentra a sombra da Terra, por exemplo.
O eclipse lunar total de 14 de março de 2025 pertence ao Ciclo de Saros 123, o 53º membro de uma família de eclipses que ocorrem desde o ano 1087. O último membro dessa família ocorreu em 3 de março de 2007 e, antes dele, em 20 de fevereiro de 1989. Em 25 de março de 2043 haverá outro eclipse semelhante a este e assim por diante, até o ano 2367, quando o último eclipse do Saros 123 se despedirá da humanidade.
Eclipse Lunar de 3 de março de 2007 registrado em Cambridge, Inglaterra – Fonte: wikimedia.org
Os eclipses, esses encontros cósmicos entre a Terra, a Lua e o Sol, são eventos raros e fascinantes, que nos conectam com a beleza do Universo e nos ajudam a compreender a mecânica celeste dos astros. O Ciclo de Saros, uma descoberta genial dos astrônomos babilônios, nos mostra como o conhecimento ancestral e a ciência moderna se complementam, nos permitindo desvendar os segredos do Cosmos e nos maravilhar com sua grandiosa dança celestial. Não perca o eclipse de 14 de março! Para nós, brasileiros, vale lembrar que o próximo eclipse lunar total visível por aqui só acontecerá em 2029.
Toda semana, no Programa Olhar Espacial, exibimos duas imagens astronômicas que se destacaram na semana que passou. E na última semana, apresentamos duas imagens que marcaram a semana da astronautica. Confiram:
Tombou em solo
Sonda Athena tomab ao pousar na Lua. Crédito: Intuitive Machines
A primeira imagem mostra a selfie de despedida do lander Athena IM-2 da Intuitive Machines após um pouso mal sucedido ocorrido no último dia 6 de março. Na imagem, que não deixa de ser espetacular, o módulo lunar é visto deitado de lado, mostrando que algo deu errado em sua tentativa de pousar em uma cratera do Polo Sul da Lua. Pouco depois de chegar à superfície lunar, a Athena coletou alguns dados para a NASA antes de anunciar o fim antecipado da missão nesta sexta-feira. Sem ter como “se levantar”, o módulo não terá como ajustar seus paineis solares para captar energia solar na Lua, e por isso, a missão foi encurtada.
Pouso do propoulsor Super Heavy na plataforma durante 8º voo de teste do megafoguete Starship, da SpaceX. Crédito: SpaceX
Já a segunda imagem traz um registro fantástico do espetacular pouso do foguete Super-Heavy da SpaceX, depois de levar a Starship até os limites do espaço no oitavo voo de teste do conjunto. Mais uma vez, a Starship teve problemas e o sistema de interrupção de voo foi acionado, mas antes disso, todos que acompanhavam o lançamento, puderam se extasiar com a precisão e a beleza do retorno do primeiro estágio, sendo agarrado no ar pelos braços mecânicos do Mechazilla, na base de lançamento em Boca Chica, no Texas. É a terceira vez que a SpaceX realiza esse feito extraordinário, que até pouco tempo atrás, muitos achavam que seria impossível.