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IAs estão mudando nossos cérebros (e consumindo muita água)

No mundo corporativo, geralmente, as pessoas gostam de ter respostas e, se baseadas em dados, ainda melhor. No entanto, para além da mentalidade data driven, existe outra habilidade que está adormecida dentro de nós: fazer boas perguntas.

Vanessa Mathias e Luciana Bazanella, cofundadoras da White Rabbit, explicaram a importância desse pensamento crítico na palestra “Reimaginação Radical: Questione a Comunicação“, no evento Spotlight, realizada no dia 18 de fevereiro em comemoração dos 20 anos do Olhar Digital.

Em meio a um cenário de mudanças aceleradas, que se intensificam com a criação e popularização de inteligências artificiais, Vanessa e Luciana incentivaram os participantes a questionarem o papel da comunicação nos próximos anos.

Leia também:

Quais são os principais desafios da comunicação no futuro?

As palestrantes enumeraram alguns dos principais desafios que a comunicação enfrenta. O primeiro, claro, foi sobre IA. Mais precisamente, sobre os efeitos da IA na capacidade cognitiva humana.

“Nosso cérebro perde realmente a capacidade de atenção e concentração“, destacou Vanessa, alertando para as consequências do uso intensivo da tecnologia. Afinal, hoje ainda não sabemos todas as mudanças que a IA provoca, inclusive as físicas.

Ainda no quesito IA, elas destacaram a pegada ambiental da tecnologia – algo que pode passar despercebido no uso do dia a dia. No entanto, a inteligência artificial consome enormes quantidades de recursos: “100 palavras no ChatGPT equivalem a um litro de água. Eu não consigo mais escrever sem imaginar litros de água se esvaindo”, revelou Luciana.

Outro ponto certeiro da análise foi sobre o papel da publicidade na cultura de consumo desenfreado. As especialistas destacaram que é fundamental questionar quais produtos realmente fazem sentido para um mundo mais sustentável. “Será que estamos criando um mercado de produtos que nem deveriam existir?”, provocou Luciana.

Questione também: passo a passo

Como é possível observar, os problemas que Luciana e Vanessa levantaram não apenas afetam o setor hoje, mas também devem se intensificar ainda mais nos próximos anos.

Por isso, é importante que você também saiba fazer perguntas e estar confortável em não necessariamente ter respostas. Você quer experimentar?

Para você poder participar, você deve usar as três perguntas que as palestrantes ensinaram:

  • Comece fazendo perguntas com “por que”: essas são as perguntas que questionam a nossa realidade.
  • Avance para as perguntas com “como”: essas são as perguntas mais práticas.
  • Por fim, use as perguntas com “e se…”: essas são as perguntas para liberar a capacidade criativa e abrir as possibilidades.

Confira algumas perguntas que surgiram no dia do evento:

  • Por que o publicitário tem medo da mudança?
  • Por que as pessoas dizem se importar com o futuro, mas não fazem nada no hoje?
  • Como a gente pode influenciar as empresas a parar de priorizar o crescimento?
  • Como respeitar a ética e evitar plágios na inteligência artificial?
  • E se uníssemos a criatividade com a inteligência artificial sem perder a autenticidade?
  • E se os reptilianos estiverem entre nós?

No encerramento, as especialistas reforçaram que a comunicação do futuro não pode se basear apenas em tendências, mas deve considerar o impacto social, ambiental e cognitivo. “O futuro começa com as perguntas que fazemos hoje”, concluíram.

Spotlight: 20 anos do Olhar Digital

O evento Spotlight foi realizado em 18 de fevereiro de 2025, na Unibes Cultural, em São Paulo, para celebrar os 20 anos do Olhar Digital. Na ocasião, 30 renomados profissionais foram convidados para discutir as tendências e o impacto da inteligência artificial na economia criativa, comunicação e publicidade.

O objetivo foi proporcionar um espaço de aprendizado, networking e reflexões sobre as transformações previstas para 2025.

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Sinfonia do futuro: como a IA está compondo a nova era da música

Em um mundo onde a tecnologia redefine constantemente os limites da criatividade, a música não poderia ficar de fora. No Spotlight, evento que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, Johnny Bolzan, produtor musical, DJ e criador de conteúdo, apresentou uma visão inovadora sobre o uso da inteligência artificial (IA) na música, mostrando como essa tecnologia já está transformando a forma como a música é criada e consumida.

“O que eu vou falar é algo que está no presente, sempre vai estar no futuro, mas também sempre esteve no passado, que é a ressignificação da música”, afirma Johnny, destacando que a IA não é apenas uma ferramenta futurística, mas sim uma evolução natural do processo de criação musical.

Do salão à nuvem: a evolução do consumo musical

Johnny começou traçando um panorama histórico da evolução do consumo musical, desde os salões da nobreza até a era do streaming e da IA generativa. Ele destaca como cada avanço tecnológico, desde a impressão de partituras até a criação de softwares de produção musical, abriu novas possibilidades para a criação e o consumo de música.

“A gente entrou na época do streaming, do algoritmo, cada um está na sua bolha, cada um tem sua playlist feita para você, a música é feita para o streaming hoje em dia, até a gente chegar no momento da inteligência artificial generativa, que você escreve um simples prompt de texto e ela te dá uma música”, explica Johnny, mostrando como a IA generativa representa um novo marco na história da música.

A IA generativa representa um novo marco na história da música. (Imagem: João Neto/Reprodução)

A IA como ferramenta de ressignificação musical

Johnny explora o conceito de ressignificação musical, mostrando como artistas ao longo da história reinterpretaram obras existentes para criar algo novo. Ele cita exemplos como Tom Jobim, que se inspirou em Chopin para criar “Insensatez”, e Daft Punk, que utilizou samples de Eddie Johns em “One More Time”.

(Imagem: João Neto/Reprodução)

“Esse processo acontece desde que a música é música, e a mesma coisa pode ser feita com inteligência artificial”, afirma Johnny, mostrando como a IA pode ser utilizada para ressignificar músicas existentes e criar novas obras originais.

Como funciona o processo criativo com IA

Johnny compartilha o processo de criação de uma música utilizando diversas ferramentas de IA, desde a geração da letra com ChatGPT até a criação da melodia com Suno e a separação dos canais da música com Moisés.

Ele destaca ainda a importância da intervenção humana em cada etapa do processo, desde a engenharia de prompts até a escolha dos samples e a interpretação vocal.

“A grande conclusão que a gente chega é que o futuro da música não é só na inteligência artificial ou na próxima tecnologia que vai vir, mas sim como os artistas, os produtores vão ressignificar o uso dessa plataforma”, explica Johnny, enfatizando que a IA é uma ferramenta que pode ser utilizada para potencializar a criatividade humana.

(Imagem: João Neto/Reprodução)

Johnny destaca ainda a importância da interpretação vocal humana em um contexto de crescente uso de IA na música. Ele explica que, apesar da possibilidade de utilizar clones de voz gerados por IA, ele optou por convidar uma cantora para interpretar a música, buscando trazer nuances e emoções que apenas uma voz humana pode transmitir.

“Quando você começa a trabalhar muito com essas ferramentas generativas, você vê que tudo uma hora fica meio parecido. Parece que é a mesma voz cantando em toda a música”, observa Johnny, ressaltando a importância de preservar a individualidade e a expressividade na música.

Leia mais:

O que esperar do futuro da música

Johnny conclui sua apresentação com uma reflexão sobre o futuro da música, destacando que a IA não é uma ameaça à criatividade humana, mas sim uma ferramenta que pode ser utilizada para expandir os horizontes da criação musical. Ele convida os artistas a explorarem as possibilidades da IA, buscando novas formas de ressignificar a música e criar obras inovadoras.

“O futuro da música não é só na inteligência artificial ou na próxima tecnologia que vai vir, mas sim como os artistas, os produtores vão ressignificar o uso dessa plataforma, como eles vão conversar entre plataformas, ter um estudo prévio muito claro do que eles querem, para onde querem chegar, para ressignificar essas ferramentas e trazer algo de fato novo”, finaliza Johnny, convidando a todos a participarem da construção de um futuro musical onde humanos e máquinas se unem em uma sinfonia de criatividade e inovação.

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Salve Games: iniciativa usa IA para promover inclusão social entre jovens

Em palestra realizada durante o Spotlight, evento que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, o especialista em inovação e criatividade Alexandre de Maio destacou como a inteligência artificial e os games estão revolucionando não só o mercado audiovisual, mas, também, a educação e a cultura.

Durante sua fala, o empreendedor, que fundou a Salve Games – empresa criada para levar tecnologia e oportunidades a comunidades periféricas – e é um dos sócios do portal Catraca Livre, ressaltou a importância de aproveitar a nova era digital para reduzir desigualdades.

Especialista destacou como a IA e os games estão revolucionando não só o mercado audiovisual, mas, também, a educação e a cultura (Imagem: João Pires de Oliveira Dias Neto)

Leia, a seguir, os principais pontos abordados em sua palestra:

Democratizando a IA na periferia

Há cerca de dois anos, o empresário decidiu usar o conhecimento que já possuía para aproveitar a onda da IA e a democratização no universo dos games. “Decidi montar uma empresa com olhar voltado para a periferia, para a inclusão. Assim nasceu a Salve Games, reunindo amigos e uma equipe de periferia para produzir games e videoclipes com inteligência artificial”, explicou.

Segundo ele, a tecnologia, por si só, pode ampliar desigualdades, mas, se utilizada com a estratégia correta, abre novas portas para pessoas que, normalmente, não teriam acesso a esse mercado. “Toda nova tecnologia tende a causar mais desigualdade, mas a gente usa essa ferramenta para trazer novas pessoas para o mercado e promover inclusão”, ressaltou.

Revolução dos conteúdos audiovisuais e games com IA

  • Segundo Maio, a Salve Games tem investido em diversas ferramentas de IA inovadoras – como Kling, Runway e Pica – para dar vida a projetos audiovisuais e games que chamam a atenção tanto de artistas quanto de grandes gravadoras;
  • “Começamos a usar a IA para produzir vídeos e teasers para as redes sociais. Um exemplo é o trabalho feito para o artista N.P., que está prestes a lançar um novo disco. Para ele, a IA tem facilitado a criação de um visualizer impactante, essencial para quem não dispõe de grandes estruturas de produção”, contou o empreendedor;
  • Além do audiovisual, a empresa já está produzindo mais de oito jogos, inclusive, desenvolvidos em Unreal Engine 5, uma das principais tecnologias para games da atualidade;
  • Um dos projetos que tem ganhado destaque é um game ambientado na periferia, que já atraiu a atenção de uma gravadora internacional;
  • “Um dos jogos que estamos fazendo coloca em evidência um artista com dez a 15 anos de estrada, o Da Lua, que, com o game, finalmente, recebe o destaque merecido”, comentou.

Projetos culturais e educacionais inovadores

Entre os projetos de maior repercussão da empresa de Maio está o “Zumbis dos Palmares”, game que recria o icônico parque dos Palmares no universo do “Fortnite“.

Com o intuito de resgatar a memória de Zumbi dos Palmares e oferecer experiência educativa, o projeto conta com narrativas que ensinam sobre a economia e a política local. “Fomos a Palmares e reconstruímos o local no ‘Fortnite’. O game, desenvolvido em parceria com a Feira Preta, traz modo educativo que permite aos jogadores entenderem a história e a cultura do espaço”, destacou o especialista.

Alexandre de Maio com um microfone na mão direita e falando
Salve Games tem investido em diversas ferramentas de IA inovadoras para dar vida a projetos audiovisuais e games (Imagem: João Pires de Oliveira Dias Neto)

Outro projeto inovador é o “RealFest“, onde a equipe transformou um curso de educação financeira e gestão cultural em experiência interativa dentro do “Fortnite”.

Em parceria com o Banco Pan, o projeto proporcionou aulas presenciais para alunos de periferia convertidas em níveis e desafios no jogo.

Cada aula virou uma fase dentro do game e isso aumentou significativamente o engajamento dos alunos, pois sabiam que a prova final aconteceria de forma interativa no ‘Fortnite’”, explicou.

Olhar para o futuro

A trajetória da Salve Games mostra como a tecnologia pode ser aliada das causas sociais e da educação, abrindo caminhos para que talentos da periferia ganhem visibilidade e acesso a oportunidades antes restritas a grandes centros.

“Estamos num processo de homologação com grandes gravadoras, buscando usar as ferramentas da IA de forma segura e responsável, para que o trabalho de videoclipes e produções audiovisuais seja feito com ética e qualidade”, finalizou o empreendedor.

Essas iniciativas da Salve Games e outras empresas com objetivos similares mudam a realidade de inúmeros jovens, além de descobrir talentos. Essa revolução, segundo o fundador, “vence o processo de usar os games como alavancador de assuntos importantes” e abre novo capítulo na democratização digital no Brasil.

Quem é Alexandre de Maio?

Alexandre de Maio é um dos principais especialistas em inovação e criatividade do Brasil, além de fundador da Salve Games.

Ele compartilha sua expertise sobre como a tecnologia está revolucionando o processo de criação artística, com ênfase no impacto transformador na música e nos videogames. Reconhecido por sua capacidade de integrar inovação com expressão artística, Alexandre de Maio é uma referência no cenário atual de novas tecnologias no entretenimento.

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Empresário decidiu usar o conhecimento que já possuía para aproveitar a onda da IA e a democratização no universo dos games (Imagem: João Pires de Oliveira Dias Neto)

Spotlight

Como a inteligência artificial vai mudar o futuro do mercado? O evento Spotlight, que celebra os 20 anos do Olhar Digital, trouxe 30 especialistas renomados do setor para responder essa pergunta em diferentes frentes. As palestras e painéis abordaram desde as melhores práticas na geração de conteúdo até técnicas para monetizar seu trabalho.

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Temos mais empatia e confiança com IA do que com outras pessoas, diz especialista

A inteligência artificial mudou a forma como o mercado pensa e produz conteúdo. Qual o impacto disso na prática? Quais os riscos? Esse foi o assunto do painel “Impactos da IA na criação de conteúdo: a nova era da influência?”, que aconteceu durante o Spotlight, evento que comemorou os 20 anos do Olhar Digital.

Quem conduziu a conversa foi Cris Dias, ex-executivo do Facebook e do Buzzfeed, e criador e apresentador do podcast Boa Noite Internet. Ele contou com a presença de Carla Mayumi, sócia e pesquisadora da Talk INC; Fátima Pissarra, empresária e CEO da Mynd; e Alexandre Kavinski, fundador da i-Cherry e líder de inteligência artificial da WPP Brasil.

Painel abriu os debates em grupo no Spotlight (Imagem: João Neto/Reprodução)

A mensagem também depende do receptor

Antes de começar a conversa, Domenico Massareto, fundador da Rain (IA especialista em marketing e publicidade), passou para dar um recado em vídeo. Ele lembrou de algo que ouviu de um professor ainda na faculdade: 50% da comunicação está no receptor.

Os criadores de conteúdo e profissionais da área planejam e projetam o possível impacto da produção, mas, quando colocam o trabalho no mundo, os consumidores também têm uma intenção própria ao receber a mensagem. Ou seja, metade é a intenção do produtor com aquele conteúdo e metade é o que efetivamente chega ao receptor.

Diante disso, Massareto questiona: o que as pessoas vão fazer com a IA? Ele destaca que, apesar da intenção do produtor, 50% está na mão de quem recebe aquele conteúdo, o que torna tudo mais complexo.

Domenico Massareto mandou um recado em vídeo (Imagem: João Neto/Reprodução)

Expectativa x realidade de inteligência artificial

É com esse questionamento que os convidados começam o debate. Dias ainda provoca: diante do deslumbramento com a IA, qual a realidade do uso da tecnologia nas profissões de cada um?

Carla Mayumi, que trabalha com pesquisa de comportamento de mercado, destaca o cenário fora do Brasil, onde esses aplicativos de inteligência artificial são muito difundidos. Para ela, uma realidade preocupante são os apps que replicam comportamentos humanos, como conversas e interações. Isso porque as pessoas – principalmente as mais jovens – tendem a criar certo relacionamento com a tecnologia e “podem ir por caminhos perigosos”.

Mayumi cita pesquisas recentes que apontaram que usuários tendem a ter interações com mais confiança e empatia com as IAs do que com outras pessoas.

Já Fátima Pissarra, que trabalha com influenciadores, menciona que toda semana chegam vídeos fakes, desde propagandas de sites de apostas até bancos. E isso é perigoso:

Toda semana chega vídeo fake de influenciador. Isso é perigoso e, ao mesmo tempo, o Instagram diminui cada vez menos o controle [dos conteúdos fake]. Está um mar revolto e acho que vai piorar. Isso pode evoluir para as fake news, se não tiver controle… e não vejo controle.

Fátima Pissarra

Já Alexandre Kavinski lembra que “novas tecnologias trazem problemas inéditos. São complicados, mas são desafios que teremos que encarar”.

Fátima Pissara destacou falta de moderação com conteúdos falsos no Instagram (Imagem: João Neto/Reprodução)

Como incentivar o uso saudável da IA?

Nem tudo é negativo. Os especialistas contam como incentivam o uso saudável da inteligência artificial em suas equipes.

Kavinski, que é líder de IA da WPP Brasil, contou que começou com uso embrionário, a nível de aprendizado, no RH. Para isso, a empresa conta com uma personalidade de IA para resolver dúvidas – mas claro, com apoio humano. Ele lembra que, como as perguntas direcionadas ao RH muitas vezes são repetidas entre si, é fácil treinar a tecnologia para aprender e dar essas respostas, agilizando a resolução.

Pissarra menciona a agilidade e facilidade na produção de conteúdo. Antes de gravar uma campanha, por exemplo, é preciso maquiar, arrumar cabelo e fazer testes de câmera com o influenciador. Já com a tecnologia, basta fazer alguns vídeos e treinar a IA para que faça o resto, o que diminui o número de diárias de gravação e agiliza a produção.

Cris Dias traz um ponto importante a se refletir: a principal vantagem no produto final com a IA não é a qualidade, mas sim a quantidade.

Alexandre Kavinski contou sobre o uso de IA no RH da WPP Brasil (Imagem: João Neto/Reprodução)

Como estará a IA daqui 10 anos?

Alexandre Kavinski destaca o potencial da IA no futuro. Ele contou que grava tudo que fala hoje em dia para que, quando falecer, os filhos possam conversar com ele. Isso também vale para a produção de conteúdo:

Dados são muito importantes para a IA. Em 10 anos, acredito que as marcas terão seus próprios influenciadores de IA que carregam a característica da marca e são construídos de acordo com o perfil específico de cada público.

Alexandre Kavinski

Ele dá o exemplo da Magalu, do Magazine Luíza. Mas lembra: a tecnologia não consegue reproduzir tudo que é humano, e nós ainda temos valor.

Fátima analisa o setor da Música. Ela comenta como a IA consegue analisar canções de sucesso e criar o próximo ‘hit’ musical. No entanto, a IA não tem a conexão com o público que um artista humano tem. Mas também chama atenção para outro ponto: talvez essa geração ainda não enxergue esse potencial de conexão que ela menciona, mas as crianças já estão humanizando a tecnologia.

Carla Mayumi acredita que, no futuro, seres sintéticos estarão respondendo pesquisas de mercado (Imagem: João Neto/Reprodução)

Leia mais:

Mayumi leva a conversa para o setor de pesquisa de mercado. Ela lembra que, poucos anos atrás, qualquer trabalho exigia um esforço de coletar respostas, separá-las e analisá-las manualmente. Agora, a própria IA já faz boa parte do trabalho de organização cabe aos humanos analisar os resultados.

Para ela, o que pode acontecer no futuro são os “seres sintéticos”. Ou seja, talvez em alguns anos a tecnologia não esteja somente participando da coleta e organização de dados, mas será possível treinar IAs para responder essas pesquisas.

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Você tem ideia da força dos podcasts no Brasil?

O podcast se consolidou como um dos formatos mais influentes no cenário da comunicação digital, especialmente no Brasil, onde o consumo deste conteúdo vem crescendo de maneira acelerada. 

Em uma palestra realizada durante o Spotlight, evento em comemoração aos 20 anos do Olhar Digital, Bruno Martins, Head de Criação e Projetos Originais do Grupo Farol,  especialista em desenvolvimento e criação de formatos originais para a TV e o digital, discutiu o impacto dos podcasts no mercado de influenciadores e na chamada “Creators Economy“. 

Ele detalhou o crescimento do formato desde a sua introdução no Brasil em 2004, abordando os aspectos que o tornaram um poderoso meio de influência na sociedade e a forma como ele se conecta diretamente com o público. Para Martins, o podcast se tornou uma forma de mídia única, capaz de gerar grandes engajamentos e mudar opiniões, se tornando um protagonista nas estratégias de marketing de influência.

“Podcasts que movem massas: a nova era de ouro do áudio”, palestra ministrada por Bruno Martins no evento Spotlight. Crédito: João Neto

Principais pontos abordados na palestra:

1. Marketing de Influência no Brasil e América Latina 

Em 2018, o gasto com marketing de influência na América Latina era baixo, mas a tendência de crescimento tem sido constante. Segundo dados apresentados por Martins, o investimento previsto para 2027 pode chegar a 500 bilhões de reais mundialmente. O Brasil, com sua vasta população e adoção rápida de novas tecnologias, se destaca como um dos maiores consumidores de podcasts no mundo.

2. O podcast como fenômeno de influência 

Criado no início dos anos 2000 com a junção do iPod e a tecnologia de Broadcast, o podcast se transformou em uma das formas mais eficazes de comunicação. Com a proximidade e a autoridade gerada por seus apresentadores, os podcasts passaram a influenciar decisões de compra e formar comunidades de ouvintes altamente engajadas.

3. A pesquisa que revelou o poder do podcast 

O palestrante relatou que, em uma pesquisa da Magna em parceria com a Vox Media, 79% dos entrevistados disseram que consideram os podcasts mais confiáveis do que outros conteúdos das mídias sociais. Além disso, 75% dos participantes afirmaram que mudaram de opinião após ouvir um episódio de podcast, destacando o poder de persuasão desse formato.

4. A tradição do podcast no Brasil 

Segundo Martins, o Brasil entrou na onda do podcast em 2004, com o lançamento do programa Digital Minds, que marcou o início dessa tendência no país. Hoje, diversos programas populares fazem sucesso nesse estilo, sendo um reflexo de como o Brasil se tornou um dos líderes mundiais no consumo desse tipo de conteúdo.

5. A capacidade de viralização e baixo custo de produção 

O podcast, apesar de sua produção simples em comparação com outras formas de mídia, tem um enorme potencial de viralização. Martins destacou que um corte de podcast pode atingir milhões de visualizações nas redes sociais com um custo muito baixo em relação ao retorno que gera, comparado a outras produções audiovisuais de grande porte.

6. O engajamento e a comunidade criada pelos podcasts 

Os podcasts criam comunidades de ouvintes extremamente engajados, como exemplificado com o público do “Benjamin Mutu”, apresentado por Benjamin Bach, voltado ao público esportivo. Cada episódio atrai novos ouvintes, e as discussões geradas nos chats ao vivo e nas redes sociais ampliam ainda mais o engajamento. “A comunidade gerada em torno dos podcasts é um dos maiores diferenciais desse formato”, disse Martins durante a palestra.

Bruno Martins, palestrante do evento Spotlight, falando sobre o formato podcast. Crédito: João Neto

Você está dentro de uma comunidade que você gosta, ouvindo o apresentador que você gosta falar. Então, isso é muito mais aceitável do que uma publicidade que aparece no seu feed, de maneira aleatória. Você buscou aquele conteúdo, você está mais apto a receber aquela informação.

Bruno Martins, Head de Criação e Projetos Originais do Grupo Farol

7. O papel dos podcasts na jornada do consumidor 

Os podcasts não apenas geram conscientização sobre produtos e serviços, como também reforçam a autoridade e promovem o “endorsement“, ou endosso, por meio da credibilidade dos apresentadores. O formato cria uma relação de confiança com o ouvinte, sendo altamente eficaz em campanhas de branding e fidelização, mesmo que a conversão direta seja mais difícil.

Palestrante aborda o impacto cultural e social dos podcasts

Além de revolucionar a forma como consumimos conteúdo, os podcasts também se tornaram um fenômeno cultural no Brasil. De acordo com o relatório do Spotify, o país é líder mundial em consumo semanal de podcasts, com 39,7% de usuários recorrentes. 

Martins destacou que esse hábito é especialmente forte entre os jovens da geração Z, 79% dos quais afirmam que os podcasts proporcionam um tema de conversa com amigos e familiares. “Ouvir um podcast é como assistir ao último episódio de uma série. É uma conversa que todos têm, e isso torna o podcast uma parte importante da cultura atual”.

Mais do que a capacidade de engajar e criar comunidades, os podcasts também têm um forte impacto na construção de confiança, segundo Martins. Ele citou um estudo que revelou que 63% dos ouvintes de podcasts já compraram um produto ou serviço anunciado durante um episódio. Para o palestrante, embora o podcast não seja a melhor ferramenta para conversões imediatas, ele é crucial para a construção da confiança de longo prazo, um componente essencial da jornada do consumidor.

A era do improviso cede espaço para uma atuação especializada, que demanda mensuração precisa, gestão estruturada e repertório técnico. A pressão do mercado, que exige cada vez mais profissionalismo, impulsiona para outro nível aqueles que atuam no backstage. Profissionalizar essa base é essencial para sustentar o futuro desse ecossistema. Se antes era tudo na base do improviso, hoje o backstage formado por quem planeja, analisa e faz a roda girar, precisa ser cada vez mais especializado.

Bruno Martins, Head de Criação e Projetos Originais do Grupo Farol

O futuro do formato no Brasil e no mundo

Apesar de seu crescimento e eficácia, o mercado de podcasts enfrenta desafios. A concorrência no Brasil é intensa, e os produtores precisam ser cada vez mais criativos para se destacar. 

“É um mercado que exige muita criatividade e inovação”, disse Martins. “Por isso, no Grupo Farol, estamos sempre em busca de novas formas de conectar com o público e criar conteúdos que façam diferença na vida das pessoas”.

O panorama futuro do podcast é promissor, com previsões de que o formato continue crescendo tanto em audiência quanto em investimentos publicitários. Com a ascensão da creators economy, os podcasts têm um papel central no marketing de influência e devem continuar se diversificando para atender a diferentes nichos de mercado. 

Martins destacou que, além de produções de entretenimento e esportes, o podcast se expandiu para áreas como negócios, saúde e educação, com uma audiência cada vez mais diversificada.

Podcast é um formato que já está inserido no dia a dia do povo brasileiro. Já figura como uma das maiores fontes de informação e entretenimento dos brasileiros. E assim continuará por muito tempo.

Bruno Martins, Head de Criação e Projetos Originais do Grupo Farol

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Como criadores estão reinventando o marketing com tecnologia e IA

Com o marketing de influência projetado para atingir impressionantes 139 bilhões de dólares em investimentos anuais até 2030, uma questão se destaca: como as marcas podem navegar neste vasto oceano de oportunidades e alcançar resultados significativos?

Nohoa Arcanjo, CEO e cofundadora da Creators Platform LLC, trouxe luz a essa questão em sua palestra no Spotlight 2025, evento que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, explorando o potencial dos criadores de nicho, da IA (inteligência artificial) e desmistificando a ideia de que o marketing de influência ainda é sinônimo de caos.

“Em 2025, não estamos mais aqui discutindo se o marketing de influência funciona ou não. A ideia é entendermos como vamos destravar a próxima evolução”, afirma Nohoa – destacando a necessidade de evoluir as estratégias e abraçar as mudanças do mercado.

O poder dos micro e nano criadores como propulsores de confiança e conversão

Enquanto o Brasil ostenta 20 milhões de criadores de conteúdo, apenas 1% deles ultrapassa a marca de 100 mil seguidores. Nohoa argumenta que é preciso ir além dos grandes influenciadores e explorar o vasto potencial dos micro e nano criadores: “O poder está na base. É por isso que estamos falando de micro e nano criadores que conectam melhor e geram mais confiança na audiência”.

Dados apresentados pela especialista reforçam essa tese: criadores de nicho geram cerca de 60% mais engajamento e quatro vezes mais conversão em vendas, além de desfrutarem da confiança de 90% dos consumidores.

Nohoa Arcanjo nos convida a repensar o papel dos criadores de nicho e a abraçar as novas possibilidades. (Imagem: João Neto/Reprodução)

A chave para esse sucesso reside na capacidade desses criadores de construir comunidades engajadas e relevantes. Nohoa destaca a importância de considerar a comunidade como um pilar fundamental da estratégia de influência: “A gente sempre tem a marca, a gente tem os criadores, mas a gente tem que olhar também para as comunidades desses criadores, para as audiências deles”.

Identificar valores comuns com a audiência é o que gera influência genuína, permitindo que a marca se torne parte ativa da conversa.

Gerenciar um squad gigante de micro e nano criadores, no entanto, pode ser desafiador, com dificuldades como fragmentação de informações, ROI incerto e complexidade operacional. Nohoa aponta a tecnologia como a solução para superar esses obstáculos: “Tecnologia é o diferencial para organizar toda essa escalada”.

Plataformas de busca inteligente, métricas em tempo real e inteligência artificial na criação de conteúdo são ferramentas que permitem otimizar o processo e alcançar resultados mais expressivos.

Diversidade como vetor de conexão e fidelização

Em um mundo cada vez mais consciente da importância da diversidade, Nohoa ressalta que abraçar a pluralidade também é uma estratégia inteligente: “Diversidade é sempre uma boa ideia”. Pesquisas mostram que 57% dos consumidores são mais fiéis a marcas que promovem grupos minoritários, e 80% dos consumidores brasileiros acreditam que a comunicação diversa demonstra respeito.

Com tecnologia, estratégia e um olhar atento para as comunidades, as marcas podem transformar o caos em escala e alcançar resultados. (Imagem: João Neto/Reprodução)

Leia mais:

Dados, comunidade, criadores e IA: o futuro da influência

Nohoa vislumbra um futuro onde a chamada influência 4.0 é impulsionada por dados, comunidade, criadores e inteligência artificial: “O marketing de influência hoje, ele é sobre tecnologia. E quem não se adaptar vai ficar invisível de verdade”.

A IA, por exemplo, surge como ferramenta de otimização de conteúdo, permitindo a criadores e marcas a otimização de conteúdos e alcance de melhores resultados.

“O marketing de influência hoje, ele é sobre tecnologia. E quem não se adaptar vai ficar invisível de verdade”, diz a especialista. (Imagem: João Neto/Reprodução)

Cases de sucesso

Nohoa compartilhou ainda alguns cases de sucesso que ilustram o poder dos criadores de nicho e a importância de estratégias inovadoras.

  • A Glossier, marca de beleza que transformou clientes em influenciadores, alcançou um valuation de 1,2 bilhões de dólares em cinco anos.
  • A Samsung, com uma campanha que incentivou a busca no Google por informações sobre seu celular dobrável, aumentou as buscas em 600% e as vendas em 35%.
  • E a CeraVe, com uma estratégia que gerou dúvidas sobre a origem da marca, aumentou as buscas em 2.200% e as vendas em 25%.

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“As big techs comeram o modelo de negócio” da mídia, diz especialista

No dia 18 de fevereiro foi realizado o Spotlight, evento de celebração dos 20 anos do Olhar Digital que reuniu 30 especialistas renomados para comentar o futuro da tecnologia e suas aplicações. Uma das apresentações tratou do estado atual e futuro imediato dos veículos de mídia dentro de um mundo cada vez mais conectado.

Edward Pimenta, Diretor de Novos Negócios na Editora Globo, foi o responsável por traçar um panorama do estado atual da mídia, considerando especialmente as evoluções e transformações da última década. E, para começar, ele lembrou de um episódio envolvendo o The New York Times, um dos maiores jornais do mundo.

Relatório vazado do NYT indicou caminho a ser seguido

“Com o pomposo nome de Innovation Report, o documento, redigido por um grupo de 40 executivos da empresa, comandado pelo publisher A. J. Sulzberger, criticava que o jornal não conseguia se adaptar ao ambiente digital”, disse Pimenta.

Na época, novos players conquistavam espaço e deixavam a “velha” mídia de lado. Nomes como Huffington Post e BuzzFeed, criados por e para um público que já cresceu dentro da internet, representavam uma ameaça à liderança de veículos tradicionais como o NYT.

Edward Pimenta comenta o estado atual da mídia. (Imagem: João Neto Foto)

“O vazamento também expôs a estratégia do Times para retomar a liderança na audiência e o caminho para crescer suas receitas de publicidade e assinaturas digitais”, afirmou Pimenta. Dez anos depois, lembra o palestrante, o New York Times conta com 10 milhões de assinantes em todo o mundo. Ou seja, o recado foi entendido, e o jornal conseguiu se adaptar para o ambiente digital.

As transformações dos últimos 30 anos

A partir de meados dos anos 90, com a popularização da internet comercial, a imprensa começou a ser profundamente transformada. E não apenas do ponto de vista de conteúdo ou de negócios, mas muito além disso.

“O que se viu nos últimos 30 anos foi uma aguda transformação da indústria da mídia, o surgimento de uma nova influência e a inversão dos polos de autoridade,” disse o executivo.

As big techs conquistaram a publicidade e transformaram a mídia

Quando pensamos no impacto das chamadas “Big Techs” nos negócios globais, é fato que elas ajudaram a transformar inúmeras indústrias. E a mídia é uma delas.

“O fato é que as big techs comeram o modelo de negócio de diversas indústrias, e não foi diferente com a mídia,” disse Pimenta. “90% do bolo publicitário mundial está nas mãos de um duopólio [em referência a Google e Meta]. Os publishers estão brigando pelos 10% que restam”.

“A mídia mudou de mãos”, afirma Pimenta. Ele lembra que Jeff Bezos comprou o Washington Post, um tradicional jornal dos EUA responsável pelo furo do escândalo que ficou conhecido como Watergate e resultou na renúncia do então presidente Richard Nixon.

Edward Pimenta, diretor de novos negócios da Editora Globo
Edward Pimenta comenta o estado atual da mídia. (Imagem: João Neto Foto)

A influência de um magnata das big techs teve seu lado positivo: uma nova plataforma de publicação, desenvolvida a partir de uma parceria de engenheiros e jornalistas, se tornou produto para ser exportado para outros veículos do mundo inteiro.

Mas também há um lado negativo. “A interferência do dono na linha editorial levanta uma dúvida sobre o futuro do Post,” diz Pimenta, em referência a um episódio durante as eleições dos EUA em 2024 quando Bezos teria impedido a publicação de um editorial favorável à candidatura de Kamala Harris.

O impacto da inteligência artificial

“A inteligência artificial já impactou profundamente a indústria do publishing,” afirma Pimenta. Ele lembra que, atualmente, mais da metade de todo o conteúdo disponível na web não é feito por humanos, o que levanta até teorias como a da “internet morta”.

E, mais do que isso, a IA transforma o papel do próprio jornalista dentro da imprensa. “Nós, jornalistas e marqueteiros, fomos treinados a produzir conteúdo para ser encontrado. Nós contamos histórias que as pessoas buscam e descobrem coisas,” afirma.

“O aumento exponencial da capacidade computacional pode fazer com que a inteligência artificial entregue às pessoas aquilo que elas nem sabe que querem, mas querem. E o próprio conceito de busca pode lentamente deixar de existir.”

Edward Pimenta, Diretor de Novos Negócios da Editora Globo

O que fazer?

Edward Pimenta também deu algumas sugestões do que pode ser feito dentro desse ambiente de constante transformação tecnológica e avanço de inteligência artificial.

  1. Agir estrategicamente: Antecipar as mudanças e estruturar modelos de crescimento.
  2. Autocrítica: Reconhecer o que não funciona e evoluir.
  3. Talentos: O maior ativo da mídia é quem produz conteúdo relevante.
  4. Diversificação de receita: Não depender de um único modelo de negócios.
  5. Foco na audiência: Estar onde o público está, com formatos e linguagens adequadas.
  6. Inteligência artificial: Utilizá-la para ampliação das habilidades, sem preguiça ou mesquinhez.

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IA produz conteúdo original? E os direitos autorais? Especialistas opinam

O Olhar Digital comemorou 20 anos no evento Spotlight, que explorou os efeitos da inteligência artificial no mercado. A palestra Criatividade e Tecnologia: O papel da IA no Futuro da atenção abordou o papel da tecnologia no mercado da atenção e informação, como na produção de conteúdo e no jornalismo. Por exemplo, a IA produz conteúdo original? E como lidar com os direitos autorais dessa produção?

Especialistas opinaram. Entre eles, Guilherme Ravache, empreendedor e colunista do Valor Econômico; Rafaela Lotto, sócia e head da empresa de influenciadores YOUPIX; Flávio Moreira, jornalista de estratégia e inovação no mercado de mídia e atual Coordenador de Parcerias e Estratégia do InfoMoney; e Pyr Marcondes, investidor, jornalista e sócio sênior do Pipeline Group.

Painel reuniu especialistas do setor de influência e jornalismo (Imagem: João Neto/Reprodução)

Big techs estão vivendo momento importante com IA

Guilherme Ravache, que mediou a conversa, começou o papo com uma analogia interessante: com a inteligência artificial, as big techs estão vivendo um momento semelhante ao da popularização da internet, quando o jornalismo impresso teve que se adaptar para o ambiente digital. Agora, é a vez das empresas de tecnologia se reinventarem. Nesse processo, elas terão que investir muito dinheiro – e possivelmente perderão muito dinheiro.

Mas estaria o mercado saturado dessa inovação?

Para Rafaela Lotto, que trabalha com influenciadores, a IA surgiu como um elemento a se prestar atenção, mas veio acompanhado de um certo alarmismo (como a possibilidade de substituição de trabalhadores humanos pelas máquinas). Ela tranquiliza:

Olhamos para o aspecto humano da influência. O influenciador coloca o contexto em um produto ou marca de uma forma que nenhuma outra mídia consegue. O mercado está saturado da influência? Não está saturado do conteúdo, mas sim do conteúdo igual.

Rafaela Lotto

Ela cita os resultados de uma pesquisa que conduziu no âmbito interno de YOUPIX. Um dos destaques foi que as pessoas se sentem menos incentivadas a consumir um conteúdo criado por IA. Ou seja, ao mesmo tempo que a tecnologia permite aumentar a criação e outros processos, não chega a ser uma ameaça aos humanos. Lotto a enxerga como uma forma de aumentar a produção.

Rafaela Lotto enxerga IA como aliada, mas que não substitui humanos (Imagem: João Neto/Reprodução)

IA x conteúdo de qualidade

O aumento da produção não significa qualidade. No jornalismo, isso é algo a se pensar.

Flávio Moreira destaca que, considerando que o Brasil é um país grande e que nem sempre as notícias chegam em todos os lugares, uma produção de menos qualidade feita com IA, mas que chegue em mais lugares, está cumprindo um papel que o jornalismo não conseguiu.

No entanto, há o lado contrário: “em locais onde o conteúdo é servido, a qualidade faz diferença”, afirma. Ele também lembra a importância de não ter apenas um “conteúdo commodity” para conquistar mercado.

Já para Pyr Marcondes, a questão não é necessariamente a qualidade. A IA está presente desde a produção até a edição, distribuição e comercialização. A questão é: o quanto os leitores conseguem perceber a diferença. Ele chama atenção para a importância de manter a qualidade mesmo usando inteligência artificial, com um processo de edição ou revisão refinado.

Ravache aproveitou para emendar uma questão em alta atualmente: devemos nos preocupar com a IA? Marcondes, que usa a tecnologia ativamente em seu dia a dia para produção de conteúdo, tem uma resposta ampla: depende. Para quem enxerga a IA como um bônus, ela pode ser boa, não um motivo de medo. Já quem não a vê assim, pode não sobreviver no mercado – e aí está o problema.

Depende quem tem medo e o quanto você está preparado. É inevitável, acho que temos todos que nos adaptar.

Pyr Marcondes

Flávio Moreira analisou IA no âmbito do jornalismo (Imagem: João Neto/Reprodução)

Inteligência artificial produz conteúdo original?

Ravache lembra que, com a inteligência artificial, o valor do produto muda. Estaria a IA produzindo conteúdo original? E isso é bom ou ruim?

Para Flávio Moreira, se os produtores treinarem a tecnologia para produzir conteúdo original a seu favor, chegará um momento que a máquina vai se retroalimentar e nada mais será original. Seria um paradoxo. Ele dá um exemplo: se o Google começar a oferecer um resultado pronto baseado em um site, mas sem necessidade do usuário clicar no link, o buscador estaria ‘matando’ o modelo de negócio do site. Porém, se o site ‘morrer’, o Google não terá mais conteúdo para exibir.

Nesse sentido, Rafaela Lotto destaca a importância de um conteúdo autêntico, que dialogue com o público. No caso dos influenciadores, não adianta produzir mais, se o público não se sentir conectado.

O algoritmo vai servir aquilo que a audiência gosta de receber… que muitas vezes é o que dialoga com o público pela autenticidade. A cópia pela cópia, ou pela IA, não é original. Por que um vídeo funciona mais do que outro? Não ter cara de publicidade funciona muito melhor. A capacidade do criador de conteúdo é criar comunidade, algo que a IA não faz.

Rafaela Lotto

Ela também destaca a criatividade do criador brasileiro, algo que a IA não consegue alcançar. A vantagem da tecnologia é permitir exponenciar a criatividade.

Leia mais:

Já Pyr Marcondes acredita em uma espécie de ‘terceira via’. Ela cita uma situação curiosa: ele usa chatbots rotineiramente para produzir textos personalizados. Certo dia, foi viajar e pediu dicas para a IA. Quando voltou de viagem, a ferramenta perguntou qual foi a parte favorita do passeio e ele respondeu que havia sido a miscigenação cultural. Então, a IA sugeriu que ele se aprofundasse no tema em um artigo para as redes sociais. Marcondes teve uma nova ideia: pediu que a própria ferramenta escrevesse esse artigo, o qual, no final, ele editou antes de publicar.

Ele destaca como os humanos têm criatividade e como a IA tem criatividade, de jeitos diferentes. Em ambos os casos, as produções são originais, ainda que de formas diferentes. No entanto, se trabalharmos em conjunto com a tecnologia (como ele fez), podemos criar um terceiro tipo de criatividade.

Pyr Marcondes acredita na união entre humanos e IA para produção de conteúdo original (Imagem: João Neto/Reprodução)

E onde ficam os direitos autorais?

Rafaela lembra como, no âmbito da publicidade e da produção de conteúdo para influenciadores, direitos autorais são pouco regulados. Isso porque é praticamente impossível definir o “dono de um conteúdo”. Flávio concorda: o jornalismo tem o mesmo problema. Até hoje, não definimos, dentro da profissão, quem é o “dono da notícia”.

Ambos acreditam que a IA pode ajudar a identificar quem foi o primeiro a produzir tal conteúdo ou o fez com mais detalhamento. Ainda assim, não temos uma definição de autoria exata.

Já Pyr defende que, com tanto conteúdo disponível, chega um momento em “perdemos a capacidade de identificar originalidade”. E quando identificarmos, o que faremos? Para ele, direito autoral é uma “discussão perdida”.

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Devemos ter o direito de nos casar com uma IA? Brasileiros divergem

Em uma palestra para o evento Spotlight, que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, a pesquisadora Carla Mayumi Albertuni compartilhou com o público as suas descobertas sobre como os brasileiros têm reagido à influência dos softwares de Inteligência Artificial. Dentre muitos temas, a pesquisa explora até o interesse das pessoas em se casar com uma IA e questiona se deveríamos ou não ter esse direito. Vamos nos aprofundar nesse assunto curioso (e um tanto peculiar) nos próximos parágrafos.

Mayumi justifica a importância da pesquisa não somente devido ao crescimento e difusão acelerados das IAs, mas também pela humanização cada vez maior de avatares e assistentes virtuais — os quais resguardam, como um dos principais papéis, o de nos fazer pensar que falamos com um humano e não com uma máquina.

Essas e outras discussões podem ser acessadas na pesquisa realizada pela Talk Inc., que você confere na íntegra clicando aqui.

Para quem tem pressa:

  • A pesquisadora Carla Mayumi Albertuni, sócia da Talks Inc., realizou uma pesquisa na sociedade brasileira que visa entender o quão profunda é a influência das IA nos cidadãos;
  • Após entrevistar mais de mil brasileiros, a pesquisa coletou dados que informam que 1 em cada 10 pessoas usa a IA como um fiel conselheiro;
  • E também levantou debates importantes, como o questionamento se devemos ou não ter o direito de casarmos com uma IA: uma pergunta baseada no aumento de laços emocionais que os humanos desenvolvem com inteligências artificiais.

Como exemplo para contextualizar o tema, a pesquisadora traz como background o filme HER (2013), que narra a história de um escritor solitário que se apaixona pela voz de um sistema operacional em seu computador. Embora parecesse um tema muito futurístico para a época em que foi lançado, hoje parece estar muito mais próximo da realidade.

E cada vez mais a gente vai ter a sensação de que a gente está falando com um humano, com uma pessoa. Porque os avatares vão ficar cada vez mais reais. As vozes vão ficar cada vez mais parecidas. O jeito de falar, a linguagem, a nossa língua vai ser falada por esses seres artificiais.

— Carla Mayumi Albertuni, pesquisadora e curadora de conteúdo

Um depoimento que demonstra essa realidade foi o de um brasileiro chamado Cristian: ele contou a Mayumi, em um programa sediado pela Globo, que utilizou o ChatGPT como principal consultor de informações após descobrir que seu filho nasceria com Autismo.

Para além de buscar informações sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), ele também aproveitou a conversa imersiva com o chatbot para desabafar e descreveu a IA como sua “grande conselheira e amiga”.

Carla Mayumi Albertuni em palestra para o evento Spotlight que comemorou os 20 anos do Olhar Digital (Reprodução: João Neto)

Segundo o relato compartilhado na palestra realizada no Spotlight, “ele conversava com a IA, chorava, ele ajudava a mulher e aconselhava a mulher a partir do que ele estava aprendendo [com o ChatGPT]“.

Cristian não está sozinho: a pesquisadora revela em sua pesquisa que 1 em cada 10 brasileiros utiliza os softwares de inteligência artificial como fiel conselheiro. Há pouco tempo, inclusive, publicamos um conteúdo similar, informando como jovens chineses têm usado o DeepSeek para fazer terapia.

Deveríamos ter o direito de casar com uma IA? Público entrevistado responde

Na palestra “IA do jeito brasileiro: transformando o presente“, a pesquisadora Carla Mayumi Albertuni perguntou à audiência do Spolitght: deveríamos ter o direito de nos casar com uma IA?

Votação de cidadãos brasileiros para a seguinte pergunta: deveríamos ter o direito de casar com uma IA?
Votação de cidadãos brasileiros para a seguinte pergunta: deveríamos ter o direito de casar com uma IA? (Divulgação: Talk Inc.)

A pesquisa que engloba esta pergunta foi realizada com mais de mil brasileiros pela empresa Talk Inc., a qual Mayumi é sócia, e analisou de forma quantitativa e qualitativa o jeito como os cidadãos lidam com os diferentes softwares de IA. Em resposta, mais de 50% dos entrevistados respondeu que não devemos ter o direito de casar com uma IA.

Apesar disso, em torno de 31% não demonstrou uma oposição clara quanto ao surgimento de regulamentações que garantissem esse direito de casamento com um software. Ou seja, estariam abertos a analisar e discutir a possibilidade de um brasileiro se casar com uma IA.

Em sua pesquisa, Mayumi destaca como a inteligência artificial já está incrivelmente presente na sociedade brasileira.

Relato de um homem que informa tratar a inteligência artificial como se “estivesse falando com uma pessoa”
Relato de um homem que informa tratar a inteligência artificial como se “estivesse falando com uma pessoa” (Divulgação: Talk Inc.)

O objetivo das conversas tange desde assuntos cotidianos, como discutir sobre o dia a dia, até a troca de confidências e o compartilhamento de conselhos para lidar com problemas no trabalho e vida pessoal.

Apesar da familiaridade crescente dos brasileiros com a IA, e o aumento de laços emocionais desenvolvidos entre humanos e chatbots, surge uma dúvida: até que ponto essa afeição (ou relacionamento) é autêntica?

Esse questionamento fica ainda mais profundo quando refletimos que a IA vai se adaptar à forma como nos comunicamos; isto é, além de se relacionar com uma máquina — que não está viva e, portanto, não é real —, como esperar autenticidade dela se os algoritmos a moldaram da forma como o usuário queria? Ou como ter um relacionamento com um ser que não tem opinião própria?

Leia mais:

Até onde devem ir os ‘laços’ com uma IA?

Mayumi ainda destaca a necessidade de questionar-se sobre até onde devem ir os ‘laços’ que foram desenvolvidos com uma IA. Isso abrange desde a necessidade do ser humano em se conectar aos chatbots até uma possível crise de identidade quando os usuários tentam fazer da IA uma segunda versão de si, mas melhorada.

Atribuições que vários usuários dão às suas IAs favoritas
Atribuições que vários usuários dão às suas IAs favoritas (Divulgação: Talk Inc.)

Esse questionamento também reflete se as informações cedidas pela inteligência artificial são mesmo precisas e baseadas na verdade.

Uma adolescente de 18 anos, moradora de Recife e uma das entrevistadas para a pesquisa, contou que pediu ao ChatGPT uma dieta para implementar uma rotina de déficit calórico.

O resultado foi um desmaio inesperado e um acompanhamento médico devido a um quadro de desnutrição, pois, dentre inúmeros problemas, a dieta fornecida pelo chatbot não fornecia a quantidade correta de gorduras e nutrientes que a adolescente precisava para atingir seu objetivo com saúde.

Essa quebra de expectativa aumenta o debate de que as IAs podem ser melhor utilizadas quando o usuário tem algum letramento sobre o assunto discutido com o chatbot; do contrário, há um risco considerável de cair em desinformação, o que pode ocasionar quadros preocupantes de saúde, por exemplo.

Então, surgem novas dúvidas: se numa conversa simples com a IA já é possível notar erros nas informações compartilhadas, o quão confiável seria para você desenvolver qualquer tipo de laço com ela?

Seja como for, Mayumi destaca que as pessoas aprendem a utilizar os softwares de inteligência artificial por conta própria. Ou seja, não são coordenados por profissionais treinados ou escolas especializadas.

Estatísticas que mostram os benefícios trazidos pela IA, segundo os entrevistados da pesquisa
Estatísticas que mostram os benefícios trazidos pela IA, segundo os entrevistados da pesquisa (Divulgação: Talk Inc.)

Nisso, a criatividade desses usuários torna-se o verdadeiro guia na hora de pensar em como utilizar a IA, seja para roteiro de viagens, resumo de filmes, transcrição de vídeos e até para desabafar sobre problemas pessoais — o que, posteriormente, abre espaço para o desenvolvimento de um laço pessoal com o chatbot.

À medida que concluímos esta jornada pelo mundo da IA, fica claro que estamos à beira de uma transformação profunda e irrevogável. A tecnologia, que antes parecia algo distante e controlável, agora é uma extensão de nossa existência, influenciando desde o cotidiano até as mais profundas questões sobre o que significa ser humano.

— Conclusão extraída da pesquisa realizada por Carla Mayumi Albertuni e Talk Inc

Quem é Carla Mayumi Albertuni?

Carla Mayumi Albertuni é pesquisadora, curadora de conteúdo e escritora com paixão por entender e explorar a intersecção entre ciências sociais e tecnologia. Você pode encontrá-la no Instagram e LinkedIn.

Sobre o Spotlight

Como a inteligência artificial vai mudar o futuro do mercado? O evento Spotlight, que celebrou os 20 anos do Olhar Digital, trouxe 30 especialistas renomados do setor para responder essa pergunta em diferentes frentes. As palestras e painéis abordaram desde as melhores práticas na geração de conteúdo até técnicas para monetizar seu trabalho.

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