A Tesla enfrenta um momento delicado. Além do aumento da concorrência de empresas chinesas, da queda nas vendas de carros elétricos e dos protestos violentos contra a montadora, o número de proprietários negociando os modelos fabricados pela companhia de Elon Musk atingiu recorde.
De todos os veículos trocados nas concessionárias dos EUA por carros novos ou usados até 16 de março, 1,4% eram da Tesla. Este é o maior número de veículos da fabricante de veículos elétricos já registrado, de acordo com dados do site de compras de carros dos EUA Edmunds.
Polêmicas envolvendo a figura de Musk estão por trás do movimento
Em março do ano passado, apenas 0,4% de todos os veículos comercializados eram Teslas. Este número subiu para 0,8% em janeiro deste ano e 1,2% em fevereiro, indicando um movimento constante de proprietários trocando os veículos.
O movimento tem sido registrado em meio a uma onda de críticas por conta da aproximação entre Musk e Donald Trump. O bilionário é criticado por promover, a pedido do presidente, cortes de funcionários do governo dos EUA, além do encerramento de contratos de financiamento de programas humanitários ao redor do mundo.
Tesla vive momento delicado (Imagem: Trygve Finkelsen/Shutterstock)
Uma série de protestos, inclusive marcados por atos de violência, foram registrados nas últimas semanas nos EUA. Em alguns deles, manifestantes colocaram fogos em veículos da Tesla. Segundo Jessica Caldwell, chefe de insights da Edmunds, as trocas fazem parte deste cenário. As informações são do The Washington Post.
A fidelidade à marca está se tornando um ponto de interrogação maior, pois fatores como o crescente envolvimento público de Elon Musk no governo, as preocupações com a depreciação da Tesla e sua crescente saturação nas principais áreas metropolitanas deixam alguns proprietários de longa data se sentindo desconectados da marca.
Trump nomeou Musk para um posto na Casa Branca (Imagem: bella1105/Shutterstock)
Demanda por veículos da Tesla desacelerou
A parcela de pessoas que consideram comprar um novo Tesla também caiu.
De acordo com a Edmunds, em fevereiro, 1,8% dos compradores de carros no site estavam pensando em comprar um novo modelo da empresa de Musk.
Isso representa a menor proporção desde outubro de 2022.
O número atingiu o pico de 3,3% no final de novembro de 2024.
Ainda de acordo com o levantamento, quando os consumidores trocam um Tesla, a maioria está comprando modelos elétricos ou híbridos, inclusive de montadoras rivais.
O CEO da Tesla, Elon Musk, prometeu grandes novidades sobre o robotáxi Cybercab e o robô humanoide Optimus durante reunião supresa com funcionários na quinta-feira (20). Ainda na reunião, transmitida ao vivo, o bilionário pede aos funcionários para “segurarem suas ações” da empresa.
Musk animou seus funcionários enquanto a reputação pública da Tesla despenca, observou o Business Insider. Isso se reflete no valor das ações da empresa, que caiu 50% de dezembro de 2024 para cá.
Fabricação ‘revolucionária’ de Cybercabs, legiões de Optimus: as promessas de Musk em reunião na Tesla
Sobre o Cybercab, Musk afirmou que um “processo revolucionário de fabricação” está em andamento, capaz de construir um robô-táxi em “menos de cinco segundos”. Seria como uma “linha de produção de eletrônicos de consumo em alta velocidade”, disse o CEO da Tesla.
Musk afirmou que um “processo revolucionário de fabricação” está em andamento na Tesla para trazer modelos de Cybercab ao mundo (Imagem: Divulgação/Tesla)
Vale lembrar: a Tesla revelou o Cybercab em seu evento “We, Robot” em outubro de 2025. E Musk disse que as pessoas poderiam comprar um por US$ 30 mil (aproximadamente R$ 172 mil) até 2026.
Musk também disse que a empresa precisará criar uma máquina de fundição muito grande. Este parece ser o processo de “gigacasting” que a empresa desenvolvia, mas aparentemente desistiu em 2024.
Já em relação ao robô Optimus, Musk disse que o robô estaria entre os produtos que levariam o valor da Tesla a novas alturas. Os outros produtos seriam o Cybercab e o software autônomo da Tesla, utilizado para o recurso Full Self-Driving (leia-se: piloto automático) dos veículos da marca.
Robô Optimus estará em operação plena em 2025, promete Elon Musk (Imagem: Divulgação/Tesla)
“É algo tão profundo e não há comparação com nada no passado”, disse Musk. Ele afirmou que a Tesla pode produzir cerca de cinco mil robôs Optimus em 2025.
“Acho que literalmente construiremos uma legião, pelo menos uma legião, de robôs este ano. E, provavelmente, dez legiões no próximo ano”, disse o bilionário. Promessas, promessas, promessas.
“Há três anos, este é o carro que integra nossa família – um verdadeiro sonho“, como afirma Ben Kilbey à BBC enquanto exibe seu reluzente TeslaModel Y, de um branco perolizado.
Ben é um entusiasta declarado dos veículos elétricos. À frente de uma empresa de comunicação que promove negócios sustentáveis no Reino Unido, ele conta que chegou o momento de vender o Model Y, motivado pelo seu descontentamento com as atitudes de Elon Musk, CEO da Tesla. Em especial, Ben repudia a forma como Musk lidou com a dispensa de funcionários do governo dos EUA.
“Não apoio a polarização nem comportamentos desprovidos de empatia. Existem maneiras de agir sem excluir ou desmerecer as pessoas” , explica Ben, reforçando seu desagrado com atitudes depreciativas.
Musk possui várias tarefas e tem dificuldade em gerir tudo (Imagem: Frederic Legrand – COMEO/Shutterstock)
Essa postura se insere em movimento mais amplo de contestação às atitudes de Musk, que ganhou força desde que o executivo passou a comandar o controverso Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), responsável por reduzir os gastos do governo federal.
Além disso, Musk se envolveu em política internacional, participando de um vídeo em comício do partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) antes das eleições parlamentares, e promovendo ataques online contra políticos britânicos, incluindo o primeiro-ministro Keir Starmer. Para alguns críticos, essas ações ultrapassaram todos os limites.
Manifestantes se reuniram em frente a diversas concessionárias da Tesla, não só nos EUA, mas, também, no Canadá, Reino Unido, Alemanha e Portugal. Embora a maioria dos protestos tenha sido pacífica, houve episódios de vandalismo envolvendo showrooms, estações de recarga e veículos – com alguns carros incendiados em incidentes isolados na França e na Alemanha.
Nos Estados Unidos, o Tesla Cybertruck – a caminhonete metálica de design angular – tornou-se alvo especial do sentimento anti-Musk. Diversos vídeos nas redes sociais mostram o veículo pichado com suásticas, coberto de lixo ou até utilizado como rampa de skate.
O presidente dos EUA, Donald Trump, foi rápido em demonstrar apoio à Tesla, permitindo que a empresa exibisse seus carros em frente à Casa Branca e anunciando sua intenção de adquirir um. Segundo ele, os ataques violentos aos showrooms deveriam ser tratados como “terrorismo doméstico”.
Musk, por sua vez, respondeu de forma enfática: “Esse nível de violência é insano e profundamente errado”, enfatizou em entrevista à Fox News, destacando que a Tesla fabrica apenas carros elétricos e não merece tais agressões.
Ainda é difícil mensurar exatamente o impacto dessas controvérsias sobre o desempenho da Tesla – e até que ponto as opiniões de Musk, bem como seu envolvimento com o governo Trump, possam ter afetado a marca e afastado alguns consumidores tradicionais de veículos elétricos. Se esse for o caso, resta saber se a Tesla conseguirá manter sua trajetória de sucesso enquanto Musk permanece à frente dela.
Tesla: uma história de transformação
Há cerca de 20 anos, a Tesla era apenas uma pequena startup no Vale do Silício, com equipe reduzida e grandes sonhos de revolucionar a indústria automobilística;
Hoje, a marca é líder global em vendas de veículos elétricos, com imensas fábricas espalhadas pelo mundo e é reconhecida por demonstrar que os carros elétricos podem ser rápidos, potentes, divertidos e práticos;
Musk, o principal rosto da empresa, impulsionou essa transformação desde que se juntou à Tesla em 2004, atuando como presidente e principal financiador, e assumiu o cargo de CEO quatro anos depois;
Sob sua liderança, a Tesla se tornou pioneira ao colocar os veículos elétricos no mercado de massa, incentivando outros fabricantes a investirem na tecnologia e aumentando a conscientização sobre o tema.
É impressionante recordar que, não muito tempo atrás, os veículos elétricos eram vistos como lentos, sem graça e com autonomia limitada. O lançamento do Tesla Model S em 2012, com desempenho comparável ao de um carro esportivo e autonomia superior a 400 quilômetros, foi crucial para mudar essa percepção e impulsionar o crescimento acelerado do setor.
Hoje, a Tesla não se limita a produzir automóveis. A empresa investe fortemente em sistemas de direção autônoma, com o objetivo de lançar frotas de robô-táxis sem motorista. Também expandiu sua atuação para o armazenamento de energia e está desenvolvendo um robô humanoide, batizado de Optimus.
Assim como Steve Jobs se tornou sinônimo da Apple, Musk encarna a marca, sempre presente em eventos e lançamentos, e possui uma legião de admiradores. Contudo, recentemente, o executivo também ganhou notoriedade por difundir suas opiniões políticas por meio do X, enquanto a própria Tesla enfrenta desafios cada vez maiores.
Apesar das dificuldades, o Model Y foi o veículo mais vendido no ano passado (Imagem: Artistic Operations/Shutterstock)
Desafios e queda nas vendas
Embora o Model Y tenha sido o carro mais vendido do mundo no último ano, as vendas totais da Tesla caíram pela primeira vez em mais de uma década, passando de 1,81 milhão para 1,79 milhão de unidades. Mesmo que o declínio seja pequeno, em uma empresa orientada para o crescimento, essa redução, acompanhada de queda no lucro anual, já serve de alerta.
O início deste ano foi especialmente complicado na Europa, onde os novos registros de veículos caíram 45% em janeiro de 2024 em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em fevereiro, os principais mercados europeus novamente registraram declínios, com exceção do Reino Unido, que teve aumento de 21% nas vendas, e a Austrália. Paralelamente, as remessas dos carros fabricados na China – destinados tanto ao mercado interno quanto ao externo – sofreram queda de mais de 49% no mesmo período.
No começo de março, o analista Joseph Spak, do UBS, previu queda de 5% nas vendas globais da Tesla para este ano, contrariando as expectativas de crescimento de 10%. Essa previsão provocou queda brusca de 15% no valor das ações em um único dia, contribuindo para desvalorização de 40% desde o início do ano.
Pesquisa realizada pela Morning Consult Intelligence aponta que as atitudes de Musk têm prejudicado a Tesla, principalmente na União Europeia (UE) e no Canadá, embora não tenham o mesmo impacto na China, um dos maiores mercados da empresa.
Nos EUA, a situação é mais complexa, pois muitos consumidores aprovam os cortes nos gastos do governo promovidos pelo DOGE, mas a pesquisa ressalta que Musk pode estar afastando compradores de alta renda, colocando a Tesla em desvantagem frente a outros concorrentes.
A Tesla não comentou sobre a queda nas vendas em resposta às indagações da BBC. Entretanto, especialistas acreditam que os problemas enfrentados pela empresa vão além das controvérsias envolvendo a imagem de seu CEO.
Inovação estagnada e concorrência crescente
A linha atual de modelos da Tesla, que já foi considerada revolucionária, hoje, parece perder seu brilho. O Model S, lançado em 2012, e o Model X, em 2015, já não surpreendem como antes. Mesmo os mais recentes e acessíveis Model 3 e Model Y começam a parecer desatualizados em mercado cada vez mais competitivo.
Segundo Stephanie Valdez Streaty, diretora de insights de mercado na Cox Automotive, a única novidade significativa foi o lançamento da Cybertruck – modelo ainda de nicho –, e as atualizações no Model Y não geraram grande repercussão.
Peter Wells, diretor do Centro de Pesquisa do Setor Automotivo da Universidade de Cardiff (País de Gales), observa que a falta de inovação na linha de produtos pode ser um dos principais entraves para a Tesla, sugerindo que Musk deveria buscar novas direções.
A concorrência vem de diversos lados. Fabricantes tradicionais, como Kia e Hyundai, estão investindo fortemente na transição para veículos elétricos e ganhando reputação pela qualidade de seus carros movidos a bateria.
Simultaneamente, uma série de novas marcas chinesas, como BYD, Xpeng e Nio, está emergindo – oferecendo desde modelos com excelente desempenho e preços competitivos até veículos sofisticados focados no segmento de luxo e tecnologia de ponta. Valdez Streaty destaca que os incentivos e subsídios na China têm impulsionado essas empresas, representando ameaça significativa não só para a Tesla, mas para todo o setor.
Essa ameaça foi evidenciada em meados de março, quando a BYD anuncioudesenvolvimento de sistema de carregamento ultrarrápido que promete fornecer 400 quilômetros de autonomia em apenas cinco minutos, superando a capacidade da rede de supercarregadores da Tesla.
Lançamento da Cybertruck foi o que mais movimentou o mercado da empresa nos últimos anos (Imagem: Mike Mareen/Shutterstock)
Durante as teleconferências de resultados da Tesla, Musk enfatizou suas prioridades no desenvolvimento de veículos autônomos. Em janeiro, ele afirmou que um serviço de robô-táxi estaria operando no Texas (EUA) até junho, o que gerou ceticismo entre analistas, lembrando promessas similares feitas em 2019, quando Musk previu um milhão de Teslas capazes de operar como táxis autônomos.
Enquanto isso, o sistema Full Self Driving (FSD) da Tesla ainda requer que o motorista permaneça atento o tempo todo. Jay Nagley, da consultoria Redspy, critica a repetição dessas promessas, afirmando que, a cada ano, surge uma nova garantia de que os carros autônomos estão chegando – mas eles parecem nunca se materializar.
A situação levanta uma questão: será que Musk está realmente conseguindo conciliar todas as suas atividades? A Tesla precisa de uma liderança forte e focada, mas o CEO, atualmente, divide sua atenção entre diversos empreendimentos – como o X, a empresa de inteligência artificial (IA) xAI e a companhia espacial SpaceX, que, recentemente, enfrentou problemas com os lançamentos do foguete Starship.
Em entrevista à Fox Business, quando questionado sobre como consegue administrar tantas responsabilidades, Musk respondeu: “Com grande dificuldade”.
Peter Wells ressalta que é complicado identificar até que ponto Musk está diretamente envolvido nas decisões estratégicas da Tesla, como o posicionamento de produtos e a localização de fábricas. Se ele é o responsável por essas escolhas fundamentais, é imprescindível que a liderança seja 100% comprometida e tenha profundo conhecimento do setor automotivo.
Desde sua entrada na empresa, o controle de Musk na Tesla tem sido inquestionável. Atualmente, ele permanece como o maior acionista individual, com participação de 13% – avaliada em mais de US$ 95 bilhões (R$ 537,9 bilhões, na conversão direta) – equivalente às somas combinadas de gigantes do investimento, como Vanguard e Blackrock, enquanto outras instituições, como State Street Bank e Morgan Stanley, mantêm participações menores.
Para os investidores, embora as recentes quedas no preço das ações tenham sido desagradáveis, o valor atual ainda está quase 30% acima do registrado há um ano, e o declínio recente apenas compensou o crescimento acentuado observado após as eleições, que, praticamente, dobrou o valor de mercado da empresa.
Pedidos pela saída de Musk
Hoje, a Tesla é avaliada em mais de 100 vezes seus lucros, múltiplo muito superior ao de concorrentes, como Ford, General Motors (GM) e Toyota, o que indica que os investidores continuam depositando grandes expectativas em avanços tecnológicos e crescimento acelerado.
No entanto, Jay Nagley observa que a empresa está sendo valorizada como se dominasse tanto o mercado de veículos elétricos quanto o futuro dos robô-táxis e carros autônomos – cenários que parecem cada vez mais distantes diante da crescente força dos fabricantes chineses.
Embora os principais investidores não estejam se mobilizando por mudanças imediatas, alguns críticos, como o gerente de fundos de investimento Ross Gerber, chegaram a pedir a renúncia de Musk.
Especialistas, por sua vez, acreditam que a Tesla se beneficiaria enormemente de uma nova liderança. Matthias Schmidt, da consultoria Schmidt Automotive Research, defende que um novo CEO seria “a melhor solução para a empresa neste momento”, eliminando a “contaminação tóxica” associada a Musk, resolvendo os conflitos de interesse ligados ao seu cargo no DOGE e permitindo dedicação integral ao negócio automotivo.
Peter Wells conclui que a Tesla precisa urgentemente de alguém com sólida experiência no setor, capaz de racionalizar as operações e orientar a empresa rumo à nova fase de crescimento.
Concorrência de chinesas, como a BYD, e de outras montadoras, é outro problema para a Tesla (Imagem: ssi77/Shutterstock)
Em suma, enquanto a Tesla segue sua trajetória como líder mundial em veículos elétricos, os desafios impostos pela estagnação de sua linha de produtos, a intensa concorrência internacional e as controvérsias envolvendo seu carismático – porém polêmico – CEOlevantam dúvidas sobre a continuidade desse sucesso.
A resposta para o futuro da empresa pode depender, em grande parte, de renovação na liderança e de foco mais concentrado no setor automotivo.
O Cybertruck foi um dos principais lançamentos dos últimos anos da Tesla. Existia grande expectativa pela chegada da picape elétrica ao mercado, mas o modelo tem ficado conhecido pelas constantes falhas e necessidades de reparo.
E isso acaba de acontecer mais uma vez. A montadora de carros elétricos de Elon Musk anunciou que irá realizar um novo recall, o oitavo envolvendo o veículo desde o seu lançamento, no final de novembro de 2023.
Acabamento do veículo pode se soltar
No total, 46.096 Cybertrucks fabricados entre novembro de 2023 e fevereiro deste ano precisarão passar por reparos. A empresa detectou um problema que está fazendo com que pedaços do acabamento de metal se soltem, gerando risco de acidentes.
Tesla vem enfrentando “dores de cabeça” por conta do modelo (Imagem: Trygve Finkelsen/Shutterstock)
A Tesla informou que tomou conhecimento do problema no início de janeiro a partir de uma série de reclamações de clientes. A produção e as entregas da picape chegaram a ser interrompidas nos últimos dias por conta da situação.
Segundo a montadora, “o Cybertruck é equipado com um aplique cosmético ao longo do exterior do veículo, um conjunto composto por uma estampagem de aço eletrorrevestido unida a um painel de aço inoxidável com adesivo estrutural”. Nos veículos afetados, este painel pode acabar se separando do veículo.
A Tesla tem sido alvo de uma série de protestos violentos nos Estados Unidos nas últimas semanas. A situação tem gerado preocupação e, por conta disso, as autoridades norte-americanas já falam em atos de “terrorismo”.
O movimento “Tesla Takedown” tem como objetivo expressar o descontentamento com o papel de Elon Musk dentro da Casa Branca. O empresário foi um dos principais apoiadores de Donald Trump na campanha eleitoral e hoje chefia o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).
Veículos foram incendidos
Nos últimos dias, houve registro de Cybertrucks incendiados, balas e coquetéis molotov disparados contra showrooms da Tesla e outros ataques a propriedades da empresa. Nesta terça-feira (18), um novo caso de violência aconteceu em Las Vegas.
Pelo menos cinco veículos foram danificados, sendo dois deles completamente consumidos pelas chamas, de acordo com o Departamento de Polícia Metropolitana da cidade. Também foram feitas pichações nas portas do prédio com a palavra “Resist” (resistir em português).
A procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, condenou os episódios e afirmou que o Departamento de Justiça já acusou várias pessoas pelos incidentes. Ela chamou os protestos de “terrorismo doméstico” e prometeu combater os crimes.
Em publicação no X (antigo Twitter), Elon Musk compartilhou o vídeo do ato de vandalismo registrado em Las Vegas e lamentou os ataques. Ele disse que “a Tesla só faz carros elétricos e não fez nada para merecer esses ataques malignos”.
This level of violence is insane and deeply wrong.
Tesla just makes electric cars and has done nothing to deserve these evil attacks. https://t.co/Fh1rcfsJPh
Trump nomeou Musk para um posto na Casa Branca (Imagem: bella1105/Shutterstock)
Participação de Musk no governo dos EUA é motivo de protesto
Os protestos contra a Tesla são motivados pela aproximação entre Musk e Trump.
O bilionário é criticado por promover, a pedido do presidente, cortes de funcionários do governo dos EUA, além do encerramento de contratos de financiamento de programas humanitários ao redor do mundo.
Manifestações pacíficas já ocorreram em diversas concessionárias e fábricas da empresa na América do Norte e na Europa.
Além disso, alguns donos de modelos da fabricante de veículos elétricos prometeram vender os carros ou colaram adesivos de protesto contra o CEO neles.
No entanto, nas últimas semanas, alguns atos de vandalismo foram registrados.
Elon Musk sempre deixou claro a sua intenção de disponibilizar um serviço de táxi sem motorista através dos veículos da Tesla. No entanto, a falta de licenças de operação e outras exigências regulatórias representaram entraves importantes.
Agora, a empresa recebeu uma boa notícia. A Comissão de Serviços Públicos da Califórnia, nos Estados Unidos, concedeu uma licença para a operação, embora isso não signifique que o serviço poderá ser disponibilizado.
Serviço deverá ser prestado com motoristas
Apesar de positiva para a Tesla, licença concedida pelas autoridades não é exatamente o que Musk pretendia. A autorização permite que a empresa opere um serviço de táxi a partir de veículos com motoristas.
Num primeiro momento, apenas os próprios funcionários da empresa de veículos elétricos poderão utilizar o serviço, como uma forma de teste. No futuro, é possível que o público em geral também tenha acesso aos táxis.
Elon Musk deseja oferecer serviço de táxi autônomo nos EUA (Imagem: kovop/Shutterstock)
Mesmo que isso aconteça, no entanto, não estaria liberado o transporte sem motorista. Isso porque a companhia de Musk precisa receber permissão de outro regulador estadual, o Departamento de Serviços Motorizados, para oferecer passeios sem motorista.
O problema é que, segundo as autoridades norte-americanas, este pedido não foi feito até o momento. A Tesla não se manifestou oficialmente sobre o assunto. As informações são do portal Wired.
Nas últimas semanas, membros do conselho e executivos da Tesla, em resposta à queda nas ações da empresa, venderam milhões de dólares em ações, conforme registros apresentados à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC).
Desde fevereiro, quatro altos executivos da Tesla se desfizeram de mais de US$ 100 milhões em ações.
Um dos primeiros a realizar essa venda foi James Murdoch, ex-aliado de Elon Musk e filho do magnata Rupert Murdoch, que, como membro do conselho da Tesla desde 2017, vendeu cerca de US$ 13 milhões em ações no dia 10 de março.
A venda coincidiu com uma queda acentuada nas ações da Tesla, que experimentaram o maior declínio em um único dia em cinco anos.
Executivos se desfazendo de ações
Murdoch exerceu opções de ações para comprar 531.787 ações que estavam programadas para expirar em 2025, e a venda foi realizada para cobrir o custo dessa operação.
Além dele, Kimbal Musk, irmão de Elon Musk e também membro do conselho, vendeu 75.000 ações no valor aproximado de US$ 27 milhões no mês passado.
Robyn Denholm, presidente do conselho, foi outro executivo que se desfez de uma grande quantidade de ações, vendendo mais de US$ 75 milhões em duas transações realizadas nas últimas cinco semanas, conforme mostram os registros federais.
A Tesla teve uma queda de quase 50% no valor das ações desde dezembro – Imagem: Milos Ruzicka/Shutterstock
Essas vendas foram realizadas como parte de um plano de vendas predeterminado, o que é comum para evitar a percepção de negociação com base em informações privilegiadas.
Essas movimentações ocorreram em um momento de turbulência para a Tesla, com as ações da empresa caindo quase 50% desde o pico de meados de dezembro.
Especialistas sugerem que, embora as vendas de ações possam refletir preocupações pessoais financeiras dos executivos, elas também podem indicar que alguns dos insiders acreditam que as ações estão supervalorizadas ou alcançaram um preço justo.
No entanto, como explicou Jay Ritter, professor de finanças da Universidade da Flórida, um plano de venda predeterminado, como o adotado por Denholm, é uma prática comum e não deve ser interpretado como um sinal negativo em relação às perspectivas da empresa.
Essas vendas geraram preocupações entre acionistas e fundos de pensão, com alguns pedindo a Elon Musk que dedicasse mais atenção à gestão da Tesla, ao invés de focar em seus esforços governamentais, como os cortes de gastos no recém-criado Departamento de Eficiência Governamental.
Montadora de Elon Musk vive momento complicado (Imagem: Kittyfly/Shutterstock)
Após andar em um Tesla Model S, o presidente Trump prometeu comprar um, seguido por Sean Hannity, um apresentador da Fox News nos EUA, declaradamente conservador, que também adquiriu um Model S Plaid para apoiar a montadora.
Essa movimentação surge em meio à reação conservadora às ações de Elon Musk, com o objetivo de atrair consumidores republicanos e independentes, devido ao boicote crescente de liberais à Tesla após o apoio de Musk a Trump.
No entanto, analistas acreditam que essa estratégia pode ter um impacto limitado, conforme explica uma matéria do jornal The New York Times.
Apoio de conservadores à Tesla tem impactado nas vendas da montadora (Imagem: Kittyfly/Shutterstock)
Embora os conservadores se voltem mais para a Tesla, os dados mostram uma queda significativa no interesse dos democratas pela marca desde que Musk comprou o Twitter e apoiou Trump. Atualmente, há mais compradores republicanos do que democratas interessados nos veículos da Tesla.
Tesla com imagem arranhada
Especialistas indicam que a queda nas vendas da Tesla é largamente atribuída às declarações e comportamentos de Musk.
Mesmo sendo líder de mercado de veículos elétricos, a Tesla viu uma redução de 5,6% nas vendas nos EUA em 2024.
A imagem da marca, que já foi amplamente apreciada, estaria se deteriorando, especialmente entre os democratas, tornando-se difícil para a montadora recuperar seu apelo sem superar a polarização política que envolve Musk.
Embora conservadores como Trump e Hannity possam ter o poder de influenciar um nicho de consumidores, especialistas duvidam que consigam convencer americanos de classe média, considerando especialmente a contradição entre suas críticas anteriores a carros elétricos e políticas climáticas.
Declarações e posições políticas de Elon Musk, CEO da Tesla, também estariam prejudicando as vendas da montadora (Imagem: Muhammad Alimaki / Shutterstock.com)
As decisões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão escalando a guerra comercial e gerando incertezas no mercado mundial. Até mesmo aliados do republicano estão preocupados com a situação.
A Tesla, de Elon Musk, alertou que ao cenário pode expor a montadora de carros elétricos a tarifas retaliatórias que também afetariam outros fabricantes de automóveis nos EUA. Lembrando que o bilionário assumiu um cargo na Casa Branca.
Tesla manifestou temor com a postura da Casa Branca
Em uma carta enviada para o representante comercial dos EUA, a Tesla disse que “apoia o comércio justo”, mas que o governo Trump deve garantir que as medidas adotadas não “prejudiquem inadvertidamente as empresas norte-americanas”.
Empresa pode ser prejudicada pelo aumento das tarifas sobre veículos elétricos importados para outros países (Imagem: Roschetzky Photography/Shutterstock)
A empresa ainda destacou que “incentiva o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos a considerar os impactos a jusante de certas ações propostas tomadas para lidar com práticas comerciais desleais”.
O documento prossegue afirmando que “os exportadores dos EUA estão inerentemente expostos a impactos desproporcionais quando outros países respondem às ações comerciais de Trump”. Um dos temores é de que a retaliação mundial cause o aumento das tarifas sobre veículos elétricos importados para esses países.
Trump quer usar tarifas para aumentar produção doméstica (Imagem: Chip Somodevilla/Shutterstock)
Futuro preocupa a fabricante de carros elétricos
A manifestação da Tesla ocorre em um momento delicado da empresa.
A fabricante de veículos elétricos tem registrado uma queda na demanda, especialmente na Europa, enquanto vê os concorrentes chineses crescerem rapidamente.
Além disso, as ações da companhia despencaram recentemente.
Nos últimos quatro meses, os papéis da empresa de Musk desvalorizaram mais de 50%.
Isso significa uma perda US$ 800 bilhões (R$ 4,6 trilhões) em capitalização de mercado.
Dessa forma, a Tesla apela para uma estabilização econômica global, o que parece estar cada vez mais distante com as recentes decisões de Trump.
A Tesla não está vivendo o melhor de seus momentos. Além da forte concorrência chinesa, especialmente da BYD, a empresa de Elon Musk agora vê com preocupação o crescimento nas vendas de carros elétricos fabricados por montadoras tradicionais.
Segundo dados do Departamento Federal de Trânsito da Alemanha, a Tesla perdeu espaço no mercado do país europeu nos dois primeiros meses de 2025. Atualmente, ela ocupa apenas o oitavo lugar no ranking das companhias que mais vendem por lá.
Montadoras tradicionais têm recuperado espaço
A marca de Musk registrou uma expressiva queda nas vendas de 71% no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Com isso, foi superada por Volkswagen, BMW, Skoda, Audi, Supra, Mercedes e Hyundai. A fabricante segue à frente apenas da Kia e da Opel no ranking das 10 maiores empresas.
Demanda por carros elétricos da Tesla diminuiu (Imagem: GuoZhongHua/Shutterstock)
Nos primeiros meses do ano, o Tesla Model Y foi o principal destaque da montadora, com 2.014 unidades vendidas. O modelo, que foi o carro elétrico mais vendido do mundo em 2024, agora é o sétimo com maior número de emplacamentos na Alemanha.
A Volkswagen, por sua vez, apresentou um crescimento de 285% nas vendas de carros elétricos nos dois primeiros meses de 2025, galgando três posições no ranking. Já a BMW se manteve na vice-liderança nesta classificação.
Empresa enfrente momento de dificuldades (Imagem: Milos Ruzicka/Shutterstock)
Valor de mercado da Tesla “derreteu”
A diminuição nas vendas de carros elétricos na Alemanha segue uma tendência registrada na Europa e é apenas uma das preocupações da Tesla atualmente.
Isso porque a fabricante viu suas ações despencarem recentemente.
Nos últimos quatro meses, os papéis da empresa de Musk desvalorizaram mais de 50%.
Isso significa uma perda US$ 800 bilhões (R$ 4,6 trilhões) em capitalização de mercado.
Este movimento pode ser explicado pela incerteza do mercado financeiro em relação aos planos do presidente Donald Trump sobre tarifas contra Canadá e México, mercados-chave para fornecedores automotivos.