Onfim deixou um presente para o futuro sem saber que o faria. Esse é o nome da criança de sete anos que desenhou um autorretrato em um trabalho escolar que sobreviveu às intempéries dos últimos 800 anos.
Na fina casca de bétula, a representação em figuras de espetos de um cavaleiro matando um inimigo a cavalo, segurando uma arma. Logo acima, é possível ver o exercício do alfabeto cirílico, com as letras A B B G D E E Z, além da assinatura ОНѲИМЄ.
O rabisco foi encontrado na cidade de Novgorod, um estado medieval eslavo oriental que mais tarde se tornou parte da Rússia, como explica reportagem do Live Science. O sítio fica 160 quilômetros ao sul de São Petersburgo, onde funcionava um grande centro comercial e, por consequência, tinha altas taxas de alfabetização.
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Coleção preciosa sobre o passado
Conhecida como Gramota No. 200, a descoberta faz parte de uma série de desenhos encontrados em cascas de bétula, antecessor do papel e que era arranhado com instrumentos de metal ou ossos. Os primeiros textos nesse tipo de material foram identificados por arqueólogos em 1951 — até hoje, mais de 1,2 mil deles foram escavados.
A maioria tem o tamanho de um cartão-postal e, segundo o historiador russo Valentin Yanin, mais de 20 mil deles escondem histórias nos solos úmidos e argilosos de Novgorod. O baixo teor de oxigênio, aliás, é o que favorece a boa preservação dos materiais.

O autorretrato foi catalogado em um projetado da organização russa sem fins lucrativos Rukopisnye Pamiatniki Drevneï Rusi (Monumentos de manuscritos da antiga Rússia), intitulado Drevnerusskie Berestianye Gramoty (Gramoty de casca de bétula, em russo antigo), como informou uma reportagem da revista Cabinet.
Outros dois desenhos foram atribuídos a Onfim: Gramota No. 199 e Gramota No. 203. Em um deles, é retratada uma cena aparentemente fantasiosa, com as palavras espaçadas: ГИ ПОМОЗИ РАБУ СВОЄМУ ОНѲИМУ (“Senhor, ajuda teu servo Onfim!”, na tradução).
O post Onfim: a criança do autorretrato de 1260 que sobreviveu na Rússia apareceu primeiro em Olhar Digital.