A ideia de que plantas “choram” e afastam mariposas pode parecer poética e intrigante, mas será que tem algum fundo de verdade? A ciência está começando a desvendar os segredos da comunicação vegetal, revelando um mundo complexo de sinais químicos e bioacústicos.
O que dizem as plantas, será que choram em silêncio? E o que pensar sobre as mariposas que evitam plantas “estressadas”? Para responder esses questionamentos, precisamos voltar para 2019, quando pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, surpreenderam o mundo com uma pesquisa singular.
O estudo publicado detectou sons ultrassônicos emitidos por plantas de tomate e tabaco em situações de estresse, como falta de água ou poda. Esses sons, inaudíveis para o ouvido humano, seriam uma forma de comunicação entre as plantas ou um sinal de seu estado de sofrimento.
É importante ressaltar que essa pesquisa ainda é recente e controversa. Alguns cientistas questionam a metodologia utilizada e a interpretação dos resultados. No entanto, o estudo abre portas para novas investigações sobre a comunicação vegetal e a possibilidade de que as plantas emitam sinais de “choro” em situações de estresse.
Mariposas evitam depositar ovos nas que emitam “sons de estresse”
Outro estudo interessante, publicado na revista Science em 2023, revelou que mariposas fêmeas evitam colocar seus ovos em plantas que emitem “sons de estresse”. Pesquisadores da Universidade de Massachusetts Amherst, nos Estados Unidos, descobriram que plantas de repolho, quando atacadas por lagartas, emitem vibrações que se propagam pelo ar e são percebidas por outras plantas. Essas vibrações servem como um sinal de alerta, induzindo as plantas vizinhas a produzir substâncias químicas de defesa.
As mariposas, por sua vez, são capazes de detectar esses “sons de estresse” e evitam colocar seus ovos nas plantas que os emitem, buscando plantas mais saudáveis para suas larvas. Essa descoberta demonstra que as plantas não apenas se comunicam entre si, mas também são capazes de interagir com outros organismos através de sinais bioacústicos.
Mas o que significa tudo isso?
As pesquisas sobre a comunicação vegetal ainda estão em seus estágios iniciais, mas já revelam um mundo fascinante de interações complexas entre as plantas e o ambiente.
A possibilidade de que as plantas emitam sinais de “choro” em situações de estresse e que as mariposas evitem plantas “estressadas” nos leva a questionar nossa compreensão sobre a inteligência vegetal e a importância da comunicação no mundo natural.
Também devemos lembrar que as plantas são seres vivos complexos, capazes de sentir e responder a estímulos do ambiente. A comunicação vegetal é apenas uma das muitas formas pelas quais as plantas interagem entre si e com outros organismos.
Ao desvendar os segredos da comunicação vegetal, podemos aprender mais sobre a natureza e talvez até mesmo encontrar novas formas de aplicar esse conhecimento em áreas como a agricultura e a medicina.
Há um debate acalorado na comunidade científica sobre a interpretação dos resultados e as metodologias utilizadas. Um dos principais problemas é a tendência de antropomorfizar as plantas, ou seja, atribuir-lhes características e comportamentos humanos, como “choro”, “inteligência” e “consciência”.
Essa visão pode levar a interpretações errôneas dos resultados e dificultar a compreensão da complexidade da comunicação vegetal. As plantas são organismos vivos com suas próprias formas de sentir e responder ao ambiente, que são diferentes das dos humanos e dos animais.

(Imagem: oticki / Shutterstock)
As metodologias utilizadas em algumas pesquisas sobre comunicação vegetal são questionadas por outros cientistas. Há dúvidas sobre a precisão dos equipamentos utilizados para detectar os sinais emitidos pelas plantas, a forma como os experimentos são conduzidos e a interpretação dos resultados.
Alguns cientistas argumentam que os sons ultrassônicos detectados em plantas estressadas podem ser apenas ruídos aleatórios ou vibrações causadas por fatores externos, e não necessariamente uma forma de comunicação.
A cavitação x choro das plantas
A cavitação é um fenômeno físico que ocorre quando a pressão em um líquido diminui, fazendo com que bolhas de vapor se formem e “implodam”. Esse processo libera energia na forma de ondas de pressão, que podem ser detectadas como sons.
Em plantas, a cavitação pode ocorrer no xilema, tecido responsável por transportar água e nutrientes das raízes para as folhas. Quando a planta está sob estresse hídrico, a pressão dentro do xilema diminui, o que pode levar à formação de bolhas de vapor e à cavitação.
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A relação com o “choro” das plantas
É possível que a cavitação seja um dos mecanismos responsáveis pelos sons ultrassônicos detectados em plantas em situações de estresse. As bolhas de vapor, ao implodirem, geram vibrações que se propagam pelos tecidos vegetais e podem ser captadas por equipamentos sensíveis.
No entanto, é importante ressaltar que a pesquisa sobre a comunicação vegetal ainda é um campo em desenvolvimento e controverso. A cavitação é apenas uma das possíveis explicações para os sons emitidos pelas plantas, e outros mecanismos podem estar envolvidos.
Além da cavitação, outras hipóteses para o “choro” das plantas incluem:
- Movimento da seiva: o fluxo de água e nutrientes pelo xilema pode gerar vibrações que são detectadas como sons.
- Ruptura de células: o estresse hídrico pode levar à ruptura de células vegetais, liberando líquidos e gases que geram sons.
- Comunicação acústica: algumas plantas podem ser capazes de se comunicar através de vibrações sonoras, como forma de alertar sobre perigos ou coordenar o crescimento.
Apesar de alguns estudos terem demonstrado a capacidade das plantas de se comunicarem através de sinais químicos e bioacústicos, ainda faltam evidências concretas sobre como esses sinais são produzidos, percebidos e interpretados pelas plantas.
Os mecanismos moleculares e fisiológicos envolvidos na comunicação vegetal ainda são pouco compreendidos, o que dificulta a aceitação generalizada dos resultados.

Um dos princípios fundamentais da ciência é a capacidade de replicar os resultados de um estudo. No entanto, algumas pesquisas sobre comunicação vegetal têm apresentado dificuldades em replicar os resultados obtidos por outros cientistas, o que gera dúvidas sobre a validade das descobertas.
As pesquisas sobre comunicação vegetal podem ter aplicações comerciais em áreas como a agricultura, o que pode gerar conflitos de interesse e influenciar na interpretação dos resultados. A pesquisa científica deve ser conduzida de forma ética e transparente, para evitar que interesses comerciais interfiram na busca pela verdade.
Apesar das controvérsias, esse tipo de pesquisa é um campo promissor que pode revolucionar a nossa compreensão sobre o mundo natural. Entender como as plantas se comunicam entre si e com o ambiente abre portas para o desenvolvimento de novas tecnologias e práticas agrícolas mais eficientes e sustentáveis.
É possível que alguns desses animais consigam ouvir o “choro” das plantas. Entre eles, destacam-se:
Morcegos: os morcegos utilizam a ecolocalização para se orientar e caçar, emitindo sons ultrassônicos e detectando os ecos que retornam. É possível que eles também sejam capazes de ouvir os sons emitidos pelas plantas.
Ratos: os ratos também possuem uma audição mais aguçada que a dos humanos, captando sons em frequências mais altas. Eles podem ser capazes de ouvir o “choro” das plantas e utilizar essa informação para encontrar alimento ou evitar plantas doentes.
Mariposas: as mariposas fêmeas evitam colocar seus ovos em plantas que emitem “sons de estresse, que parecem que choram”. Isso sugere que as mariposas ouvem esses sons e se afastam, escolhendo plantas mais saudáveis para suas larvas.
De todo modo, se os estudos mostrarem que as plantas emitem sinais de “estresse” quando estão sob ataque de pragas, doenças ou deficiência de nutrientes, podem ajudar no campo da agricultura. Não é simplesmente saber que as plantas choram e afastam mariposas, por exemplo. Ao monitorar esses sinais, os agricultores podem identificar problemas na lavoura antes que se tornem graves, permitindo uma ação mais rápida e precisa.
Apesar do grande potencial, a aplicação da comunicação vegetal na agricultura ainda enfrenta desafios. É preciso desenvolver tecnologias que permitam monitorar os sinais das plantas de forma precisa e eficiente, além de aprofundar o conhecimento sobre os mecanismos moleculares e fisiológicos envolvidos na comunicação vegetal.
Porém, se as pesquisas avançarem nesse campo, os benefícios serão inúmeros, como equilíbrio dos ecossistemas, resiliência a mudanças climáticas, interação com outros organismos, que são funções exercidas pelas plantas.
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