Reverter o envelhecimento humano é possível? Descoberta revolucionária quer provar isso

Será possível reprogramar nossos genes para nos tornarmos jovens novamente? Uma descoberta revolucionária na pesquisa sobre longevidade pode estar prestes a ser testada em humanos.

Em 2016, um experimento realizado no Salk Institute, em San Diego (EUA), marcou ponto de virada para os cientistas que sonham em “curar” a morte.

O estudo envolveu camundongos geneticamente predispostos a viver intensamente e morrer precocemente – animais com uma forma de progeria, doença que acelera o envelhecimento.

Reversão da velhice a partir da reprogramação de nossos genes parece ser possível (Imagem: Billion Photos/Shutterstock)

Normalmente, esses roedores se tornam grisalhos, frágeis e falecem em cerca de sete meses, bem abaixo dos dois anos de vida dos camundongos de laboratório convencionais.

Os pesquisadores do Salk, então, adotaram estratégia ousada: injetaram, nos animais, um vírus portador de quatro genes capazes de “reprogramar” o DNA e, assim, rejuvenescer todas as células de seus corpos. O método permitia controlar externamente a ativação e a desativação desses genes, garantindo a segurança e o efeito desejado.

O resultado foi impressionante – os camundongos viveram 30% mais tempo, indicando melhoria significativa, embora ainda não tenha alcançado a expectativa de uma vida normal para a espécie.

Corrida pela reprogramação celular e reverter envelhecimento humano

  • Esse avanço impulsionou nova era na corrida pela longevidade;
  • Gigantes da tecnologia e investidores de risco passaram a direcionar bilhões de dólares para laboratórios que exploram a técnica, conhecida como reprogramação celular;
  • Experimentos semelhantes foram realizados não apenas com camundongos, mas, também, com vermes e macacos, despertando a esperança de que essa abordagem possa, um dia, transformar a saúde humana;
  • Defensores da reprogramação celular a veem como a estratégia mais promissora para ampliar a expectativa e a qualidade de vida;
  • Segundo Sharon Rosenzweig-Lipson, diretora científica da Life Biosciences, empresa de biotecnologia, já há planos para submeter à Food and Drug Administration (FDA) um pedido de aprovação para os primeiros testes em humanos de uma versão dessa técnica.

Apesar dos avanços, a técnica enfrenta sérios desafios. Durante diversos experimentos com animais, foram observados efeitos colaterais preocupantes, como o surgimento de tumores monstruosos e, até, mortes.

Esses tumores – conhecidos como teratomas – se formam quando células reprogramadas perdem sua identidade e se transformam em aglomerados desordenados, capazes de desenvolver estruturas incomuns, como dentes em regiões inesperadas.

Em entrevista ao The Washington Post, Paul Knoepfler, professor na Universidade da Califórnia (EUA), alerta que “teratomas fazem parte do processo e são indicativo que a reprogramação está ocorrendo”, evidenciando o dilema que os pesquisadores precisam superar para garantir a segurança em seres humanos.

Método alternativo (e mais seguro)

Buscando método mais seguro, cientistas de Harvard desenvolveram variante da técnica, direcionada especificamente para o nervo óptico. Em estudo inovador, camundongos com lesão semelhante a um AVC ocular foram tratados com um vírus contendo apenas três dos fatores de Yamanaka (responsáveis por reverter células envelhecidas a um estado jovem), omitindo o fator mais associado ao surgimento de câncer.

Esses genes foram programados para serem ativados apenas na presença do antibiótico doxiciclina, permitindo que a reprogramação ocorresse de forma parcial e controlada, mantendo a identidade celular e evitando o risco de teratomas.

Os resultados, publicados na Nature em dezembro de 2020, foram animadores: muitos dos camundongos apresentaram regeneração do nervo óptico danificado sem a formação de tumores. O renomado geneticista David Sinclair, envolvido no estudo, destacou a empolgação com os achados, que levaram Harvard a licenciar a tecnologia para a Life Biosciences.

Em abril de 2023, a empresa anunciou resultados positivos em macacos submetidos a essa técnica, com melhorias na visão e alterações epigenéticas que indicavam rejuvenescimento das células nervosas.

Rumo aos testes em humanos

Em dezembro de 2023, representantes da Life Biosciences se reuniram com o FDA para discutir a aplicação da reprogramação parcial em pacientes com AVC ocular – condição rara, mas devastadora, que afeta cerca de seis mil adultos por ano nos Estados Unidos e não possui tratamento eficaz.

Se aprovado, o protocolo consistirá em injetar, de forma controlada, os fatores Yamanaka nos olhos dos voluntários, utilizando o antibiótico para ligar ou desligar os genes conforme necessário. A expectativa é que esse método possa tornar as células do nervo óptico mais jovens ao nível epigenético, promovendo a recuperação da visão sem causar tumores.

Camundongo na mão de uma pessoa e colocando uma das patas no dedo da pessoa
Testes em camundongos de laboratório foram impressionantes (Imagem: Aleksandr Pobeda/Shutterstock)

Corrida pela longevidade e desafios éticos

Enquanto empresas e laboratórios disputam a liderança nessa nova fronteira da biotecnologia, a promessa de reverter o envelhecimento gera tanto entusiasmo quanto controvérsia.

Investimentos bilionários e a corrida pela imortalidade atraem tanto a atenção de grandes financiadores quanto críticas de especialistas, que apontam para os riscos e as inúmeras questões não resolvidas – como os efeitos a longo prazo, os custos dos tratamentos e quem realmente se beneficiaria dessas inovações.

Críticos, como o pesquisador Charles Brenner, alertam que “não creio que seja possível a reprogramação em humanos, mesmo que parcial, sem efeitos colaterais graves”, ressaltando o risco de induzir células a se transformarem em câncer.

Outros questionam por que algumas células respondem ao processo enquanto outras não e se a intervenção deveria ser aplicada em órgãos específicos ou de forma sistêmica.

Estudos recentes, como o conduzido pela Universidade de Stanford (EUA) em março de 2024, já demonstraram que a reprogramação parcial pode ter efeitos adversos, como inflamação cerebral, mesmo quando aplicada de forma localizada.

Tais descobertas reforçam a cautela entre os cientistas, que, apesar de enxergarem potencial na técnica, se preocupam com a rapidez com que os experimentos avançam rumo aos testes em humanos.

Apesar dos desafios, a corrida pela reprogramação celular continua, com a expectativa de que, em breve, os primeiros ensaios clínicos em humanos possam inaugurar era no combate ao envelhecimento e às doenças relacionadas.

Empresas, como a Life Biosciences, estão otimistas que, com protocolos mais seguros e direcionados, a ciência poderá, um dia, reverter os efeitos do tempo – ou, ao menos, desacelerar o processo de envelhecimento e melhorar a qualidade de vida.

Enquanto a promessa de um futuro com células rejuvenescidas permanece em aberto, a busca por respostas continua, despertando tanto a esperança quanto o ceticismo de cientistas e do público.

Em meio a essa corrida pelo “elixir da juventude”, a comunidade científica se vê diante de um dos maiores desafios da biotecnologia moderna: transformar um avanço extraordinário em um tratamento seguro e acessível para a humanidade.

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