Temos mais empatia e confiança com IA do que com outras pessoas, diz especialista

A inteligência artificial mudou a forma como o mercado pensa e produz conteúdo. Qual o impacto disso na prática? Quais os riscos? Esse foi o assunto do painel “Impactos da IA na criação de conteúdo: a nova era da influência?”, que aconteceu durante o Spotlight, evento que comemorou os 20 anos do Olhar Digital.

Quem conduziu a conversa foi Cris Dias, ex-executivo do Facebook e do Buzzfeed, e criador e apresentador do podcast Boa Noite Internet. Ele contou com a presença de Carla Mayumi, sócia e pesquisadora da Talk INC; Fátima Pissarra, empresária e CEO da Mynd; e Alexandre Kavinski, fundador da i-Cherry e líder de inteligência artificial da WPP Brasil.

Painel abriu os debates em grupo no Spotlight (Imagem: João Neto/Reprodução)

A mensagem também depende do receptor

Antes de começar a conversa, Domenico Massareto, fundador da Rain (IA especialista em marketing e publicidade), passou para dar um recado em vídeo. Ele lembrou de algo que ouviu de um professor ainda na faculdade: 50% da comunicação está no receptor.

Os criadores de conteúdo e profissionais da área planejam e projetam o possível impacto da produção, mas, quando colocam o trabalho no mundo, os consumidores também têm uma intenção própria ao receber a mensagem. Ou seja, metade é a intenção do produtor com aquele conteúdo e metade é o que efetivamente chega ao receptor.

Diante disso, Massareto questiona: o que as pessoas vão fazer com a IA? Ele destaca que, apesar da intenção do produtor, 50% está na mão de quem recebe aquele conteúdo, o que torna tudo mais complexo.

Domenico Massareto mandou um recado em vídeo (Imagem: João Neto/Reprodução)

Expectativa x realidade de inteligência artificial

É com esse questionamento que os convidados começam o debate. Dias ainda provoca: diante do deslumbramento com a IA, qual a realidade do uso da tecnologia nas profissões de cada um?

Carla Mayumi, que trabalha com pesquisa de comportamento de mercado, destaca o cenário fora do Brasil, onde esses aplicativos de inteligência artificial são muito difundidos. Para ela, uma realidade preocupante são os apps que replicam comportamentos humanos, como conversas e interações. Isso porque as pessoas – principalmente as mais jovens – tendem a criar certo relacionamento com a tecnologia e “podem ir por caminhos perigosos”.

Mayumi cita pesquisas recentes que apontaram que usuários tendem a ter interações com mais confiança e empatia com as IAs do que com outras pessoas.

Já Fátima Pissarra, que trabalha com influenciadores, menciona que toda semana chegam vídeos fakes, desde propagandas de sites de apostas até bancos. E isso é perigoso:

Toda semana chega vídeo fake de influenciador. Isso é perigoso e, ao mesmo tempo, o Instagram diminui cada vez menos o controle [dos conteúdos fake]. Está um mar revolto e acho que vai piorar. Isso pode evoluir para as fake news, se não tiver controle… e não vejo controle.

Fátima Pissarra

Já Alexandre Kavinski lembra que “novas tecnologias trazem problemas inéditos. São complicados, mas são desafios que teremos que encarar”.

Fátima Pissara destacou falta de moderação com conteúdos falsos no Instagram (Imagem: João Neto/Reprodução)

Como incentivar o uso saudável da IA?

Nem tudo é negativo. Os especialistas contam como incentivam o uso saudável da inteligência artificial em suas equipes.

Kavinski, que é líder de IA da WPP Brasil, contou que começou com uso embrionário, a nível de aprendizado, no RH. Para isso, a empresa conta com uma personalidade de IA para resolver dúvidas – mas claro, com apoio humano. Ele lembra que, como as perguntas direcionadas ao RH muitas vezes são repetidas entre si, é fácil treinar a tecnologia para aprender e dar essas respostas, agilizando a resolução.

Pissarra menciona a agilidade e facilidade na produção de conteúdo. Antes de gravar uma campanha, por exemplo, é preciso maquiar, arrumar cabelo e fazer testes de câmera com o influenciador. Já com a tecnologia, basta fazer alguns vídeos e treinar a IA para que faça o resto, o que diminui o número de diárias de gravação e agiliza a produção.

Cris Dias traz um ponto importante a se refletir: a principal vantagem no produto final com a IA não é a qualidade, mas sim a quantidade.

Alexandre Kavinski contou sobre o uso de IA no RH da WPP Brasil (Imagem: João Neto/Reprodução)

Como estará a IA daqui 10 anos?

Alexandre Kavinski destaca o potencial da IA no futuro. Ele contou que grava tudo que fala hoje em dia para que, quando falecer, os filhos possam conversar com ele. Isso também vale para a produção de conteúdo:

Dados são muito importantes para a IA. Em 10 anos, acredito que as marcas terão seus próprios influenciadores de IA que carregam a característica da marca e são construídos de acordo com o perfil específico de cada público.

Alexandre Kavinski

Ele dá o exemplo da Magalu, do Magazine Luíza. Mas lembra: a tecnologia não consegue reproduzir tudo que é humano, e nós ainda temos valor.

Fátima analisa o setor da Música. Ela comenta como a IA consegue analisar canções de sucesso e criar o próximo ‘hit’ musical. No entanto, a IA não tem a conexão com o público que um artista humano tem. Mas também chama atenção para outro ponto: talvez essa geração ainda não enxergue esse potencial de conexão que ela menciona, mas as crianças já estão humanizando a tecnologia.

Carla Mayumi acredita que, no futuro, seres sintéticos estarão respondendo pesquisas de mercado (Imagem: João Neto/Reprodução)

Leia mais:

Mayumi leva a conversa para o setor de pesquisa de mercado. Ela lembra que, poucos anos atrás, qualquer trabalho exigia um esforço de coletar respostas, separá-las e analisá-las manualmente. Agora, a própria IA já faz boa parte do trabalho de organização cabe aos humanos analisar os resultados.

Para ela, o que pode acontecer no futuro são os “seres sintéticos”. Ou seja, talvez em alguns anos a tecnologia não esteja somente participando da coleta e organização de dados, mas será possível treinar IAs para responder essas pesquisas.

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